Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) –
3/6/95 – Sábado – p.
Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 3/6/95 — Sábado
Uma espécie de bipolaridade por onde os homens no Céu, com todo convívio com Deus, com Nossa Senhora, etc, também dividem um tanto de atenção para a Terra * Nós, por egocentrismo, temos a tendência de imaginar os Bem-aventurados mais livres de se voltarem para nós do que imaginamos * Nossa Senhora no Céu ama as criaturas terrenas muito mais do que essas criaturas se amam entre si; porém, ama a Deus como ninguém jamais amou * O que é que resta de auto-afirmação da Igreja de sua própria divindade e de sua própria missão? * Nós vivemos da fidelidade à Igreja Uma, Santa, Católica, Apostólica, Romana * Nosso Pai e Fundador desconfia que o “cuadernón” tenha sido recolhido de uma maneira muito ardilosa
Muito desejoso de fazer-se conhecer, mas não recebendo autorização disso de Nossa Senhora.
(Sr. Guerreiro: Sem dúvida.)
Não é?
Fica um tal corte entre os dois mundos, que o Camões dizia: “Alma gentil que te partistes”. Então dizia o seguinte: “Se na eterna mansão para onde partistes memória deste mundo se consente, fique eu…”, como é?
(Sr. Poli: Eu não me lembro mais.)
(Sr. Guerreiro: Eu vou olhar Camões na próxima semana para trazer para o senhor.)
Hahahaha!
(Sr. Guerreiro: É uma forma elegante e nobre de tratar desse assunto.)
Muito bonito.
* Uma espécie de bipolaridade por onde os homens no Céu, com todo convívio com Deus, com Nossa Senhora, etc, também dividem um tanto de atenção para a Terra
Essa expressão, por exemplo, para perguntar… É a questão que estamos tratando aqui, não é? Mas como a expressão “se na eterna mansão para onde partistes memória deste mundo se consente”… quer dizer, se Deus permite, não é?
(Sr. G. Larraín: Mas se a pessoa estivesse muito unida ao senhor, e se de fato tivesse passado uma vida — como o caso da Senhora Dona Lucilia — muito unida ao senhor, nós teríamos a impressão de que há uma continuidade muito grande entre a alma do senhor e o Céu. […] A alma dela, por exemplo, da Senhora Dona Lucilia, a gente vê que toda a vida dela foi um encanto com o senhor e chegando ao Céu aquilo é uma coisa muito permeável, eu creio.)
Em certo sentido sim, mas em outro sentido não. Na seguinte coisa: é que quando a gente no Céu convive com Deus; vê Deus face-a-face sem a interrupção de um segundo; vê Nossa Senhora, fala com Ela; ouvimos a locutio Angelorum; toda a vida do Céu que é uma vida à maneira da vida dessa Terra cheia de ações e de coisas, — por exemplo, como diz São Tomás, os Anjos conversando entre si para saberem através do que Deus faz a título de indícios quais são as intenções de Deus, o que vai acontecer, o que Ele mesmo vai fazer —, acaba sendo uma tal vida, que fica uma espécie de bipolaridade, e de legítima bipolaridade.
(Sr. Poli: Como uma bipolaridade?)
Vamos dizer, o Horacio é o pólo. Eu não tenho dúvida de que ele para nada do mundo olha tanto quanto para nós.
(Sr. Guerreiro: Para o senhor e para essa casa.)
Isso eu não tenho a menor dúvida.
* Nós, por egocentrismo, temos a tendência de imaginar os Bem-aventurados mais livres de se voltarem para nós do que imaginamos
Agora, quanto é que é legítimo e dado a ele olhar para nós, quando ele faz parte da vida do Céu?
(Sr. G. Larraín: Tem que olhar ao senhor como mediador junto a Deus. Portanto, não como uma pessoa que diminui a Deus, mas que mostra a Deus como Deus é. A mediação é isso. Então não é uma coisa assim tão descolada.)
Não, tão descolada não é, mas eu quero mostrar o lado por onde nós, por egocentrismo ou qualquer outra coisa, temos a tendência de imaginá-los mais livres de se voltarem para nós do que nós imaginamos.
(Sr. G. Larraín: Não são tão livres, portanto.)
Não são. Isso é preciso tomar em consideração.
(Sr. G. Larraín: Um comentário bonito eu ouvi do Sr. Átila quando o Dr. Fábio morreu. Ele estava muito aflito e o Sr. Átila disse que ele não compreenderia o Céu sem o senhor. O Sr. Átila disse para ele.)
Para o Fábio?
(Sr. G. Larraín: É. Porque ele falou que ia morrer e o Sr. Átila disse que não, para tratar de tranqüilizá-lo um pouco. Mas uma das razões pela quais o Sr. Átila não se sentia bem na situação em que o Dr. Fábio estava delineando, é que ele não entendia o Céu sem o senhor. […] Como a mediação existe e está tão forte, se compreende que uma pessoa que tenha o nexo que é feito para ter com o senhor se sinta meio como que algo lhe falta no Céu. É nesse sentido, uma coisa meio entre aspas. Isso tem que ser assim.)
É, tem.
(Sr. Guerreiro: Não pode não ser diferente.)
* Nossa Senhora no Céu ama as criaturas terrenas muito mais do que essas criaturas se amam entre si; porém, ama a Deus como ninguém jamais amou
Você imagina, por exemplo, Nossa Senhora no Céu. Ela ama mais as criaturas terrenas do que jamais essas criaturas se amaram umas às outras. Ela tem que acompanhar necessariamente as coisas que se realizam na Terra com um amor de mãe e com um devotamento de mãe incompreensível para nós.
(Sr. Guerreiro: Um vínculo indissociável, não é?)
Sim.
Com isso, tem que ser que Ela, que ama mais a Deus do que ninguém jamais amou, também esteja mais voltada para Deus, para a Santíssima Trindade, do que ninguém; e há uma espécie de bipolaridade assim.
Você imaginar, por exemplo, Nossa Senhora na Alta Idade Média vendo Carlos Magno fazer as cavalgatas dele pela França até à Germânia, da Germânia até à Ibéria…
(Sr. Poli: Cinqüenta e três campanhas.)
Cinqüenta e três campanhas. Você imagine.
Com que afeto Nossa Senhora tem que olhar para isso? E uma vez que ele fosse ao Céu, que alegria de Nossa Senhora com a entrada dele no Céu? Mas também procurando na Terra os homens da Providência para ir ajudando esses homens, e a fazer por esses homens mais do que Ela fez por Carlos Magno.
(Sr. G. Larraín: E esses homens fazer muito mais de cinqüenta e três campanhas que as que fez Carlos Magno. O senhor tem feito muito mais de cinqüenta e três campanhas na vida. E depois numa situação imensamente mais difícil que a de Carlos Magno, de maneira que é tudo muito mais magno.)
Mas essas situações difíceis eu resolvo com muito mais facilidade do que Carlos Magno.
(Sr. G. Larraín: Isso é certo, ninguém duvida.)
Embora algumas situações sejam de uma dificuldade da gente não saber o que dizer.
(Sr. G. Larraín: Por isso é que o senhor está à direita de Carlos Magno.)
* O que é que resta de auto-afirmação da Igreja de sua própria divindade e de sua própria missão?
Você pensar na reunião de hoje à tarde, o que isso abre. Porque a reunião de hoje a tarde… ou tudo aquilo é uma potoca, aquela encíclica não existe, não diz aquilo, ou, se aquilo é daquele jeito, como é que nós podemos escapar de alternativas do outro mundo?
Quando você toma em consideração — e olhe que eu acho que não é o lado mais difícil da questão — que o próprio chefe da Igreja apresenta a Igreja como ela não é…
(Dr. Edwaldo: Apresenta como obstáculo de Deus.)
Apresenta como obstáculo para a realização do plano de Deus.
Quer dizer, se a Igreja for como ela se imaginou… porque ele acaba dizendo que a Igreja se imaginou a si própria como ela não era.
(Dr. Edwaldo: Exatamente. Ao longo de vinte séculos.)
Ao longo de vinte séculos, e que hoje ela descobre como é, e mostra aos povos como ela não era, mas como ela é hoje em dia, etc.
O que é que resta de auto-afirmação de sua própria divindade e de sua própria missão?
Eu não sei se minha pergunta é clara.
(Sr. G. Larraín: Impressionantemente clara e puxadíssima.)
Mas é o problema que se põe.
(Dr. Edwaldo: A mãe de família não era a verdadeira.)
A mãe de família não era a verdadeira.
* Nós vivemos da fidelidade à Igreja Uma, Santa, Católica, Apostólica, Romana
Como pôr esta questão? Porque nós sempre vivemos de nos agarrar a um lambeau qualquer da Igreja, a um resto qualquer da Igreja, mas o que é que vai restar?
(Sr. G. Larraín: Resta o profetismo, nem mais nem menos.)
Como é?
(Sr. G. Larraín: Resta o profetismo.)
Só?
(Sr. G. Larraín: Só? Isso é uma coisa fabulosa!)
Não, porque exatamente nós vivemos da fidelidade à Igreja Uma, Santa, Católica, Apostólica, Romana.
(Sr. G. Larraín: Isso é certo.)
Bem, o que é que é, a não ser nós mesmos, o que é que vai ser a Igreja Uma, Santa, Católica, Apostólica, Romana? É uma coisa admirável e terrível, não é?
(Sr. G. Larraín: Cumpre-se a profecia de Nossa Senhora do Bom Sucesso.)
É.
(Sr. G. Larraín: Porque o “desplomamiento”, e a Igreja qual terna menina nos braços do varão d’Ela fica mais protegida do que nunca. É uma coisa muito bonita. Aliás, seria muito interessante que Ela desse a graça do “cuadernón”.)
* Nosso Pai e Fundador desconfia que o “cuadernón” tenha sido recolhido de uma maneira muito ardilosa
Parece que o cuadernón desapareceu. Eu desconfio que o cuadernón está lá.
(Sr. G. Larraín: A impressão que dá é essa mesmo.)
Ou entregue à Companhia.
(Sr. Guerreiro: A Companhia não ia deixar isso lá assim na mão das freirasinhas, não é?)
Não.
(Sr. P. Roberto: Mas a Companhia tem alguma relação com elas, é?)
A Companhia era diretora espiritual das freirasinhas.
Você está vendo o seguinte, um padre diretor espiritual chegar para a freira e dizer: “Mis hermanitas, eu queria dizer o que é que o nosso Padre Geral em Roma mandou dizer para as senhoras. Com o zelo e a admirável santidade que ele tem, ele mandou dizer que há tanto índio aqui no Equador que de repente o seu convento é invadido. As senhoras são monjitas fracas, não têm meio de resistir a uma invasão de índios e que não pode esse cuadernón continuar na mão das senhoras. Enquanto se aparecer alguma coisa, esse cuadernón pode ser levado através do Rio Amazonas até o Oceano Atlântico e todo esse problema desses índios aqui desaparece. Sem considerar que o Amazonas é uma estrada que faz seu caminho por si, é uma estrada andante, e que é mais ou menos impossível para índios se acercarem de nós no Rio Amazonas e nos conquistarem num barco tripulado por homens. Por causa disso nos dê o cuadernón, que nós daremos de volta quando a situação se amainar”.
Elas dão, e quando a situação amainar elas nem se lembram mais bem do cuadernón.
(Sr. G. Larraín: Nesse sentido, sabe que tem uma coisa bonita aqui, uma coisa muito tocante? É uma foto que me chegou agora no meio de uns livros que me mandaram do Equador. Eu acho que por inadvertência o Sr. Gustavo Ponce deixou dentro. É uma foto do senhor, mas esta foto passou toda a noite da vigília junto ao Coração de Nossa Senhora do Bom Sucesso do dia 30 a 31 de outubro do ano de 1984. Parece que a colocaram por dentro do vestido dela e ficou a foto durante uma noite inteira. De repente Nossa Senhora tocada por isso poderia manifestar-se um pouco nesse sentido. Uma foto, aliás, extraordinária.)
Quer-me acender a luz, meu filho?
Parece que os óculos não estão aí, não é?
(Sr. Poli: Parece que sim, senhor. Pronto, senhor.)
O que é que está escrito aqui?
(Sr. G. Larraín: “Esta foto passou toda a noite da vigília junto ao Coração do Nossa Senhora do Bom Sucesso do dia 30 a 31 de outubro do ano de 1984”. É uma foto do Sr. Gustavo Ponce.)
Essa letra é sua?
(Sr. G. Larraín: Não, é do Sr. Gustavo Ponce. Eu creio que ele tomou a idéia de uma ida que fez o Carlos Antúnez com o Dr. Luizinho a Quito e que deixaram no Coração de Nossa Senhora outra foto do senhor. Mas essa Carlos Antúnez pediu para que ficasse mesmo para sempre e parece que está no coração d’Ela, de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Eu tenho a impressão, porque eu perguntei ao Dr. Luizinho e eles foram no ano de oitenta e um.)
Em oitenta e um?
(Sr. G. Larraín: É. E isto foi três anos…)
Três antes.
(Sr. G. Larraín: Exatamente, três anos antes. Ele com a mesma idéia colocou essa aí. Como o senhor tratou disso e está ligado a toda a questão da Igreja, que mova o Coração de Nossa Senhora o fato de estar o senhor aí. Porque é muito tocante essa imagem. Aliás, a foto é extraordinária. O senhor não vai comentar, mas a foto é absolutamente extraordinária. Se o senhor quiser eu posso deixá-la aqui.)
Não. Fica com você.
(Sr. G. Larraín: Muito obrigado, senhor.)
(Sr. Guerreiro: Essa foto para quem olha coloca várias perguntas)
Como é?
(Sr. Guerreiro: Esta foto quem a vê é levado a fazer algumas perguntas.)
(…)
Há momentos, minha Mãe…
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