Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) –
18/3/95 – Sábado – p.
Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 18/3/95 — Sábado
Já está arquivisto como deve ser nosso relacionamento com o Fundador, entretanto, de nossa parte há coisas que dificultam esse relacionamento * Assim como pode-se analisar o estado de espírito de um cantor enquanto canta, pode-se analisar o de um expositor enquanto faz uma reunião, mas nós não fazemos isso em relação ao Fundador * Nós não penetramos no espírito do Fundador por falta de apetência causada pela preocupação com as próprias coisinhas
Então, por onde é que andamos?
(Sr. G. Larraín: O coronel tinha uma pergunta, uma sugestão.)
(Sr. Poli: Mas o Sr. Gonzalo é o porta-voz da sugestão.)
Diga, meu filho.
(Sr. G. Larraín: Coronel, diga o que o senhor tem e eu digo o outro.)
(Sr. Poli: Normalmente nós apresentamos uma matéria para o senhor. Nós temos matéria para apresentar, mas queria saber se o senhor não tem alguma matéria, algum assunto para tratar, que nos movesse a ser mais do senhor, a ter mais confiança no senhor, a termos como única luz da nossa vida sermos do senhor, estarmos na perspectiva do senhor, ter muita confiança no senhor, sobretudo nos dias trágicos que a gente vê que estão se avizinhando. Se o senhor não teria alguma matéria para tratar, algo nessa linha para conosco.)
(Sr. G. Larraín: Nós nos lembramos muito de um tempo em que os complicados foram menos ruins. Havia uma alegria muito grande de estar com o senhor, estar juntos tratando as coisas do senhor. A degustação da presença do senhor e tudo isso produz um exorcismo muito grande, a gente se sente mais aliviado, se sente outro. Isso é um jogo pelo qual isso de repente vai desaparecendo de modo muito sutil e o coronel por isso é que levantou esse assunto. […] O que o senhor teria para dizer?)
* Já está arquivisto como deve ser nosso relacionamento com o Fundador, entretanto, de nossa parte há coisas que dificultam esse relacionamento
A questão, meu filho, é essa, é que razoavelmente falando, rationabiliter, a gente deveria dizer o seguinte: para conseguir uma atitude “X” de nossa alma em relação a mim, seria preciso apresentar as razões pelas quais a nossa atitude de alma deve ser dez.
Agora, isso já está arquivisto. Isto sendo assim, eu não sei o que dizer. Eu não recuo diante da dificuldade, eu mostro como ela é real.
(Sr. G. Larraín: Está muito claro. O problema que nós estávamos colocando é um pedido que o coronel tinha, porque de repente o senhor poderia dizer algo.)
(…)
* Assim como pode-se analisar o estado de espírito de um cantor enquanto canta, pode-se analisar o de um expositor enquanto faz uma reunião, mas nós não fazemos isso em relação ao Fundador
Quer dizer, tomando a coisa como você expõe, é a seguinte:
Você toma, por exemplo, uma reunião feita hoje à tarde. No que é que essa reunião de hoje à tarde poderia aumentar a união de nossas almas?
(Sr. G. Larraín: Em muita coisa poderia, não é?)
Sim, mas vamos dizer no ponto que você e o coronel falavam. A gente poderia fazer uma distinção entre aquilo que foi dito e o modo que foi dito, que constitui propriamente a reunião, mas nós poderíamos fazer uma análise da alma daquele que está fazendo a reunião enquanto está fazendo a reunião.
Vamos dizer, por exemplo, como um cantor, ele canta. Nós podemos analisar a sonoridade musical, supondo que seja uma canção com letra cantada podemos supor que nós além da sonoridade notamos, então, a letra, mas podemos também ver o esforço daquela alma enquanto vai repassando por ela o que ela diz e ela vai dizendo. Então, o amor dela àquilo que ela está dizendo entra muito em cena projetando uma certa claridade e um certo conhecimento sobre toda a personalidade de quem está cantando.
Poder-se-ia fazer isso com uma RR. Mas eu acho que não existe a menor noção de que isto é assim, e se chegassem a perceber bem não produziria a menor atração.
(Sr. G. Larraín: É uma coisa trágica.)
* Nós não penetramos no espírito do Fundador por falta de apetência causada pela preocupação com as próprias coisinhas
Quer dizer, está bem, então é assim, ele é assim, está bom. E eu com isto? Porque a mim só me interessa eu. É sempre o mesmo ponto de partida: só me interessa a mim e só me interesso eu, a minha pessoa é o tema de todo o meu interesse, o resto não tenho nada com isso.
O que é que me incomoda que ele, portanto, tenha tais coisas, seja de um jeito ou do outro? Isso não desperta em mim a menor simpatia.
Eu até tomo isto aí como uma espécie de cobrança de dívida, que ele acha que eu deveria ser assim, que deveria haver pelo menos algo disto em mim, e eu não tenho vontade, eu sou outro.
(Sr. G. Larraín: É isso mesmo. Quando fica na reunião patente o contrário, não é?)
Pois é, mas pouco incomoda.
Vamos dizer, ficou patente o contrário, está bem, mas eu não tenho avidez disto.
(Dr. Edwaldo: O que é que eu ganho com isso, não é?)
O que é que eu ganho com isso? Não tenho interesse. Isso não me distrai, não me atrai, não tenho nada que ver com isso.
A resposta deveria ser outra, deveria ser:
— Diante de qualquer manifestação de virtude eu não posso tomar essa atitude, porque a virtude de si deve atrair e influenciar a alma reta.
— Isso está bem, em tese eu concordo, mas isso não resolve os problemas que eu trago comigo.
Eu me lembro…
(…)
… tomar a alma dele como é, imaginar ou verificar como ela deveria ser, querê-lo na medida em que ele tem algo do que ele deveria ser e na medida em que há possibilidade de ajudá-lo a ser o que ele deveria ser. Então, é uma amizade que visa uma coisa ideal, que tem uma certa relação com a realidade dele atual. Mas é uma relação tênue, porque entre o ideal dele e a realidade atual dele, o vínculo é muito frouxo.
Não é esse critério que ele tem de amizade…
(…)
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