Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) – 30/7/94 – Sábado – p. 5 de 5

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 30/7/94 — Sábado

Um dia massacrante * Os benefícios que o Sr. Dr. Plinio tem sentido com o novo regime alimentar * Por causa de ter seguido por tanto tempo um regime alimentar muito forte, uma parte do meu bom apetite de outrora eu perdi. Hoje, eu não como como eu comia antigamente * Quando se vai ao médico não se sabe o que ele vai encontrar, e as pessoas os procuram numa total inconsciência dos riscos que correm * Uma descrição do ambiente dos hospitais modernos

(…)

pus em dia a maior parte das minhas orações e vim almoçar.

* Um dia massacrante

Depois do almoço acabei de pôr mais um tanto em dia, deitado, mas sem sesta. Depois vim correndo aqui para ver os recortes.

A revisão prévia desses recortes é uma coisa fatigante, não é tão simples quanto parece. O Fernando fez o trabalho do Armando perfeitamente bem. Ajustamos as coisas e já saímos muito atrasados para o P. Sum. E no caminho eu pus em dia mais algumas coisas. Na volta vim rezando e lá tive reunião depois da nossa reunião, com o Luizinho, com o Rodrigo e…

(Sr. Gonzalo: E com os enjolras, o Santo do Dia.)

Bom, o Santo do Dia e os enjolrinhas. De maneira que foi um dia cheio.

(Sr. Gonzalo: Nós não queremos massacrar ao senhor.)

O meu repouso é nos sábados à noite a minha conversa com os meus “Complicados”. Mas a questão é que para hoje à noite passaria da conta.

(Sr. Gonzalo: Está muito bom.)

Não vamos correr tanto assim também. Se tiverem alguma coisinha para me dizer, alguma coisa, eu estou à disposição.

(Sr. Guerreiro: Se comentava um pouquinho na preparação da reunião que o senhor está assim mais contente, mais disposto…)

Agora?

(Sr. Guerreiro: De uns tempos para cá.)

* Os benefícios que o Sr. Dr. Plinio tem sentido com o novo regime alimentar

Mas eu acho que isso se deve à abolição do regime que eu seguia, que era um regime feroz, em que eu só comia papelão, e o regime seguido pelo nosso bom Ramón León permite de comer bem mais. É outra coisa completamente… Eu acho que se relaciona com isso.

Eu me sinto menos vulnerável às diferenças de temperatura… realmente me sinto melhor.

O Ramón tem atuado muito bem e eu me sinto realmente… por exemplo agora, eu não me sinto nem desfalecido, nem massacrado, nem desanimado. Eu noto que eu estou um pouco largado, mas a essa hora da noite, depois desse dia, não é um absurdo o que eu [diga assim?].

(Sr. Paulo Henrique: E depois os resfriados também…)

Diminuíram muito.

(Sr. Paulo Henrique: Já faz um ano que o senhor tem não um resfriado forte.)

Resfriado forte… eu não tenho boa memória, não posso marcar isto. Mas é um bom espaço de tempo, talvez um ano mesmo.

(Sr. P. Roberto: Nossa Senhora ter pedido ao senhor que durante 30 anos o senhor tenha ficado passando essa fome…)

Para você ver como são as coisas. Sujeito à uma fome de… que eu não me teria sujeito àquilo por virtude, porque acho que não seria virtude eu me sujeitar a uma coisa daquela. Porque o período mais terrível foi entre a morte de mamãe e o meu restabelecimento. O restabelecimento da intervenção cirúrgica no pé, etc., e o período do desastre. Durante quase todo esse tempo quem cozinhava para mim era a cozinheira, uma cozinheira profissional, que equivale a dizer mais ou menos nada. E essas cozinheiras durante muito tempo faziam para mim exclusivamente beef-tea de manhã, consommé à noite e vagem de manhã e um pouquinho de carne — mas sem legume nenhum hein! — carne com um pouquinho daquele papelão à noite.

* Por causa de ter seguido por tanto tempo um regime alimentar muito forte, uma parte do meu bom apetite de outrora eu perdi. Hoje, eu não como como eu comia antigamente

(Sr. P. Roberto: Eu me lembro de ter visto o senhor lá em Amparo, assim com uma coisinha… uma coisa impressionante! Não era nada!)

Não era nada. Não era nada. E o resultado é o seguinte: uma parte do meu bom apetite de outrora eu perdi. Eu hoje não como como eu comia naquele tempo. Mas não é um efeito da idade, é o efeito de passar perto de 30 anos comendo pouco, o organismo se habitua.

(Sr. Gonzalo: São 27 anos.)

Vinte sete anos, em número redondos 30. É uma coisa terrível!

Agora, Nossa Senhora quis isso e quis de minha parte que eu fosse muito consciencioso nisso. E nunca, nunca, nunca dei um passo fora do regime. Essas coisas que diabéticos fazem tantas vezes comer às escondidas um bombom, essas coisas, eu detesto isso. Aliás, não faço tanta questão de bombom.

* Vinte e sete anos sem poder comer pão

Um bom pedaço de pão preto com manteiga, para mim já satisfazia mais do que um bombom. Mas não tinha esse pão preto. Pão nenhum! Você imagina uma pessoa passar 27 anos sem comer pão!

Acontece que eu estabeleci [per modum factum?] e a coisa passou, um jantar à noite aos domingos, no C’a d’Oro. Então farto. Aí eu comia à vontade. Comia massa que era proibido. E os meus médicos — um está aqui — sabiam e não protestaram porque os exames vinham continuamente bons. Eu acabei não fazendo mais exames, que achei também uma outra libertação. Eu ficar naquela espera do exame: vem exame não vem! De repente o último exame estava bom, mas esse aí, o que chega, está em 200 quando o último estava em 81, 85, uma coisa assim. Essas coisas todas são muito desagradáveis.

Nós temos gente, não sei se vocês estão no meu caso, mas dá-se comigo — o meu médico não está assim olhando como está achando plácido o que eu estou dizendo, mas uma coisa que vai muito isso.

* Quando se vai ao médico não se sabe o que ele vai encontrar, e as pessoas os procuram numa total inconsciência dos riscos que correm

Quando a gente vai ao médico, ou o médico vem ver a gente, a gente não sabe o que ele vai encontrar.

(Sr. Gonzalo: Isso é todo tempo. Eu pelo menos, cada consulta é um susto.)

Mas é!

(Dr. Edwaldo: Nem ele sabe.)

Nem ele sabe, não é?

E você vai ao médico e você diz para ele: “Eu estou com um carocinho aqui…”

Bom, isso ele receita primeiro para passar a insônia tanto. Depois tal remédio. E depois dá três ou quatro outros remédios que a gente não sabe bem o que são. No fim ele disse: “Esse carocinho aqui não é comigo, o senhor vai ao instituto do câncer a horas tantas dos dias tais e tais e conversa lá com fulano que é o meu colega, pede para ele examinar um pouco isto e se for preciso uma extraçãozinha, ele mesmo faz”.

Quer dizer, ahahaha!

O senhor vai perguntar se eu vou para a guilhotina ou não vou.

Bom, as pessoas vão para os médicos com uma inconsciência disso…

* Uma descrição do ambiente dos hospitais modernos

(Sr. Gonzalo: É uma coisa medonha. [..] O hospital sírio-libanês hoje, é só tirar “Hospital” e colocar “Hotel sírio-libanês”… todo o sistema dentro é igual a um hotel norte-americano. Uma sala de estar… Eu fui outro dia ver Dr. Milton, e é uma coisa impressionante. É igualzinho a um hotel, não tem nada de hospital.)

Isso não tem seriedade nenhuma. É uma coisa horrorosa.

Mas não sei quem dos nosso foi visitar a mãe do Tatton — deve ter sido o João Clá. A mãe do Tatton você sabe que cortou as duas pernas. Não é uma brincadeira, hein!

(Cel. Poli: Por câncer, senhor?)

Não, é uma história de uma encrenca que dá na circulação das pernas que é preciso cortar.

Deve ser artério-esclerose, não é Edwaldo?

(Dr. Edwaldo: Eu creio que é outra doença, não tenho certeza. Começa a dar gangrena e então tem que cortar.)

Ela tinha ameaça de gangrena, ou teve começo de gangrena.

Ela estava reduzida a um toco de pessoa. Não se se você se imaginou deitado na cama, numa cama que poderia servir para criança, e sem poder virar-se de um lado para o outro na cama a não ser baseado nos braços. É um espanto!

Bem, o hospital de um luxo extraordinário. Tapetes persas por todo lado… ela tinha uma suíte com sala, com não sei o quê — ela era riquíssima! — com não sei mais o quê, etc. Quadros, etc. Isto aqui poderia ser uma sala de estar de um hospital desse, menos rico do que o da mãe dele. E depois a questão é a seguinte: os médicos e tudo o mais também diminuem a seriedade. De maneira que é uma coisa do outro mundo. Mas apesar disso há gente que forma o propósito — é um modo de ser — de não tomar em consideração o futuro, e as coisas aborrecidas eles preferem ser agredidos pela surpresa do que prever então vivem na [ensuciance?] até a hora em que os acontecimentos metem uma tapona e o sujeito vai pelo ar.

Alguém me dirá: “Mas do que é que adianta você estar prevendo o que é que vem a dar o exame?”

Eu preciso saber em que disposição de alma eu me ponho. É evidente!

Mas enfim…

Meu caros, vamos…

Lamento de tê-los feito esperar tanto.

(Sr. Gonzalo: Não, pelo amor de Deus.)

Mas eu queria deixar pelo menos bem combinada uma outra reunião na semana.

(Sr. Gonzalo: Se o senhor puder.)

Sim, está claro.

Meu querido Gonzalo, que Nossa Senhora lhe ajude.

Benedictio…

Então, meu filho.

(Sr. Gonzalo: Se o senhor pudesse… para o Sr. Patrício, para o Sr. João Clá e para Sr. F. Antúnez.)

Pois não.

Então, meu Paulo Henrique, que Nossa Senhora lhe ajude, meu filho.

(Sr. Paulo Henrique: Pelo Sr. Aloisio Torres, Sr. P. Paulo, Sr. N. Fragelli, Sr. Mario Navarro e o Sr. Schelini também que mandou pedir para o senhor.)

(…)

* Algumas providências a serem tomadas em vista de um “motel” que está sendo construído em frente ao Êremo de Elias

gênero de inquilino que ele pode ter, para vocês apresentarem um possível candidato, etc.

(Sr. Guerreiro: Uma alternativa de uso para aquilo.)

Exatamente. Porque do contrário acaba se pondo uma coisa assim lá.

(Sr. P. Roberto: Agora não sei como seria essa alternativa porque são aposentozinhos com banheiro, tipo coisa de…)

Sim, essa porcaria.

(Sr. Guerreiro: Está feito bem em frente da cruz. Naquela cruz que está na esquina em frente é que foi construído essa porcaria. E o fulano que está construindo isso é um fulano conhecido do bairro.)

(Sr. P. Roberto: E já é dono de um outro motel que tem ali por perto, e de um outro também no centro.)

Então é um homem perdido completamente, com o qual não adianta tratar nada.

(Sr. P. Roberto: Desse ponto de vista com ele não.)

Agora, a questão é que eu tenho impressão que esse gênero de casa precisa ter uma licença para funcionar. Saber se é isto e qual é a autoridade que deve dar essa licença para ver se a gente consegue brecar, é uma coisa que pode ter seu interesse.

(Sr. Paulo Henrique: Tem um secretário do Maluf que é amigo nosso, talvez através dele o Dr. P.X. consegue alguma coisa.)

Acho que é até urgente, ouviu?

(Sr. P. Roberto: Então seria melhor falar com Dr. P.X.)

É, ele deve chegar amanhã ou depois de amanhã.

(Sr. Paulo Henrique: O Sr. José Cyro também já esteve lá.)

(Sr. Guerreiro: E abaixo-assinado o senhor uma coisa assim.)

Também. Abaixo-assinado de qualquer forma. Uma abaixo-assinado sintético insinuando que isto é rentável em votos se conseguirem alguma coisa. Se nos derem… Por exemplo: “Os abaixo-assinados ficarão sempre muito gratos e não se esquecerão em qualquer ocasião em que possam servir a vossa excelência…” Qualquer coisa.

Agora, então são duas coisas distintas: é procurar uma autoridade para ver se breca a licença para funcionamento. E outra coisa é o abaixo-assinado.

Então, meu caros…

Meu filho, que Nossa Senhora lhe ajude.

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