Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) – 16/4/94 – Sábado – p. 14 de 14

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 16/4/94 — Sábado

O modo bondoso, paciente e afável com que a graça trata as almas refulgentes supõe, da parte de quem é o responsável por aquela alma, o oposto da atitude militante * No trato bondoso e afetuoso da SDL era que o SDP adquiria força para a luta * O Thau enquanto Thau é uma excelência embora o Thau esteja doente * Comparação entre duas almas: a menos fiel via mais as grandezas da vocação que a mais fiel * “Nossa Senhora me faz ver que eu tendo essa bondade absurda, no momento em que toca num absurdo AEmaluco AF, neste momento a pessoa é tocada pela mão que salva” * A bondade da SDL é uma coisa que não se deixa circunscrever por nenhum pecado, por maior que seja o pecado, cresce a misericórdia * Pela extrema, extremíssima maldade a que se chegou hoje, a via da fidelidade como que não existe * “Fazei vós em mim o que eu não posso nem ter idéia de como é” * A bondade de Nossa Senhora exige de nós uma conduta quase absurda; e quando este imposto foi pago e a gente aceitou o aparentemente absurdo por amor a Ela, nesse momento Ela intervém

(…)

(Sr. Gonzalo: Não sei se está claro.)

Está, está muito claro.

(Sr. Gonzalo: É um pedido um pouco premente, porque a situação nossa fica muito puxada assim como nós estamos.)

Sim.

Hoje à tarde, a respeito da situação da Igreja, etc., eu disse uma série de coisas e essa série de coisas dizia respeito à militância da Igreja.

Entre, meu filho!

Desculpe-me a mão. Como vai você?

(Sr. Guerreiro: Eu que peço mil desculpas para o senhor.)

Está bom?

(Sr. Guerreiro: Houve um pequeno problema de menor ordem, por isso que eu cheguei atrasado.)

Pois não, meu filho.

Olha aqui, tem uma cadeira para você lá ou ali no sofá, conforme você prefira.

A cadeira tem ali junto à escrivaninha.

Meu filho, você prefere ali?

* O modo bondoso, paciente e afável com que a graça trata as almas refulgentes supõe, da parte de quem é o responsável por aquela alma, o oposto da atitude militante

Mas hoje à tarde eu falei muito a respeito da militância da Igreja. Agora, a Igreja é cheia de contrastes harmônicos, esses contrastes harmônicos são dos aspectos mais bonitos que ela tem.

Um contraste harmônico com o que eu disse a vocês hoje à tarde é o modo pelo qual a Igreja sendo militante, etc., quer dizer, mantido tudo quanto eu disse, a Igreja, entretanto, tem uma conduta que é o contraste harmônico com o que eu disse, em relação à certa espécie de almas, que são almas às quais Nossa Senhora dá, em certo momento, uma graça refulgente e elas não correspondem.

Mas, em parte porque essa graça é refulgente, uma não correspondência delas produz um efeito na alma diferente do que produz a recusa à graça na alma em relação a qual a Igreja é militante. Essas almas refulgentes, a graça trata de um modo quase ecumênico de tão bondoso, de tão paciente, de tão afável, etc., que deixa a pessoa quase desconcertada e que supõe da parte de quem é o responsável por aquela alma, o oposto da atitude militante.

(…)

Você vê que para tratá-lo como ele merecia, para tratá-lo na linha militante, é meter um pontapé e jogar pela janela. Mas é uma coisa inteiramente evidente que quem agisse com ele dessa maneira cometia um pecado mortal muito grave.

(Cel. Poli: Houve muitos que quiseram fazer isso e o senhor enfrentou e não deixou. Aí o senhor foi militante.)

Fui, fui militante.

(Cel. Poli: É outro aspecto da…)

Pois é, outro aspecto.

* A Providência quer que o resto de chama acesa nas almas refulgentes, seja tratado com um cuidado, com uma paciência, com uma tolerância e com uma bondade quase absurda

E o que é que tem? É que como resta um toco, um resto de chama acesa nessas almas, a Providência quer que este resto de chama acesa seja tratado com um cuidado e com uma paciência e com uma tolerância, e com uma bondade quase absurda. E é em relação, suponho eu, a essas almas assim que Nosso Senhor disse que não veio acabar com o arbusto partido, nem apagar a lâmpada que ainda fumega. O que quer dizer, que veio para o contrário, veio para recompor o arbusto partido e reacender a lâmpada que ainda fumega.

Isso é um trabalho que leva anos, pode levar uma existência. Mas a Providência quer que a gente leve isso com essa alma, etc., até esse ponto extremo.

E de um modo geral — não é assim de um modo taxativo — há algo disso em todas as almas que tem nossa vocação.

(Cel. Poli: Algo desta…)

Deste modo pelo qual a Providência quer que certas almas sejam chamadas. De maneira que você não vê eu tratar ninguém dentro da TFP com a militância com que eu acho que a Igreja deve tratar os que estão fora dela.

(Cel. Poli: É muito bonito isso, mas também tem outros aspectos porque todas as almas da TFP foram chamadas para uma super militância.)

Super militância.

(Cel. Poli: Algumas até assinaladamente militante.)

* Alguns membros do Grupo pecam contra a militância e por isso ficam reduzidos a arbustos partidos, mas não se deve tratá-los de um modo militante

Algumas pecam contra essa militância e por isso elas ficam reduzidas a arbustos partidos, mas a elas não se deve tratar de um modo militante.

Ou eu me engano muito, ou o que eu disse produziu desde logo um certo efeito benfazejo na maior parte de vocês. Não é? Inclusive vocês tomando isso em consideração lhes fica menos absurdo que eu tenha com cada um de vocês a paciência que tenho. Porque tudo quanto eu disse a respeito da militância da Igreja hoje à tarde, é uma das vias pelas quais vocês confiam em mim e, vamos dizer, a palavra é muito desagradável, mas têm uma certa admiração a mim.

Entretanto, se é verdade que vocês gostam que eu seja assim com o inimigos da Igreja, vocês ficam constritos com essa aparente contradição, porque vocês gostariam que eu pudesse tratá-los como eu trato os inimigos da Igreja e serem tais que lhes faria bem serem tratados assim, e lhes dá uma certa tristeza serem tratados como filhos doentes. Mas de outro lado, vocês vêem que não tem remédio, ou são tratados como filhos doentes ou a coisa não funciona.

* No trato bondoso e afetuoso da Senhora Dona Lucilia era que o Senhor Doutor Plinio adquiria força para a luta

Vamos dizer, por exemplo, mamãe. Mamãe me tratava a mim — eu não era um filho doente — mas a mim ela me tratava como se fosse um filho doente. Quer dizer, arqui-carinhos, arqui-afetos, arqui-bondades, etc., que às vezes eu não merecia, mas ela dava. E, sobretudo, o que me fazia muito bem era notar que eu merecia, mas que se eu não merecesse ela dava do mesmo jeito. Isso me fazia um bem — olha que eu de tocha na mão contra todo o mundo — isso me fazia um bem, dava uma coisa, um ungüento que é só na familiaridade, com esse tipo de bondade que eu adquiria força para a luta.

(Sr. Gonzalo: É isso mesmo. Nós somos todos, filhos disso a toda hora.)

Todos.

Mas a questão é que agora e junto com o que eu estou dizendo, entrou uma graça e essa graça fez vocês sentirem isto melhor do que num pura exposição teórica. E como vocês estão sentindo, vocês compreendem melhor essa posição que fora disso lhes pareceria uma posição muito cheia de contradições de toda ordem e difíceis de explicar internamente para vocês. Então toda essa situação.

Agora, acontece que na medida que uma alma se sinta estúpida e absurdamente bem tratada, nela alguma coisa renasce. E renascendo nela por uma espécie de contágio renasce em todas as outras almas também.

(Sr. Gonzalo: É preciso pelo menos reconhecer essa doença.)

Isso. E depois ver que nessa doença, que não é uma doença, ver uma excelência.

(Sr. Gonzalo: Mas o senhor disse que nos trata assim pelo estado espiritual doentio, desse estado doentio pode sair uma excelência, mas de si não é.)

* O Thau enquanto Thau é uma excelência embora o Thau esteja doente, e a doença do excelente tem que ser tratada de um modo diferente da doença de um outro doente qualquer

Não, o Thau enquanto Thau é uma excelência embora o Thau esteja doente.

(Sr. Gonzalo: Não entendi como entrou o tal enquanto tal.)

O Thau considerado em si. Eu falei em Thau doente.

(Sr. Gonzalo: Perfeitamente, é preciso reconhecer que o Thau está doente.)

Mas a primeira idéia é reconhecer que é uma excelência. Excelência dada, uma excelência enfim, o que você quiser, é a misericórdia, mas é uma excelência. A situação paradoxal é que se trata de uma excelência doente. E a doença do excelente tem que ser tratada de um modo diferente da doença de um outro doente qualquer.

(Sr. Gonzalo: O senhor estava dizendo que deixar-se tratar estupidamente com bondade…)

Indulgência.

(Sr. Gonzalo: Isso faz renascer algo que depois se transmite para os outros.)

Exatamente.

Eu creio que isso, numa palavra, ordena umas tantas coisas que é impossível que na cabeça de vocês, ou pelo menos de alguns de vocês não esteja uma pergunta assim: “por que é que ele já não me disse isso antes, que me resolveria várias coisas?” É que cada coisa tem sua hora, tem seu momento da Providência. A graça no momento está favorecendo que eu diga isto e que vocês tomem como estão tomando. Mesmo tudo quanto eu disse à tarde serve de fundo de quadro para compreender a aparente contradição na minha conduta com as almas e como deve ser vista essa bondade “estúpida”.

(Sr. Gonzalo: E ver isso é que o senhor veria que poderia nascer a conversão da qual o senhor tratava na última reunião?)

É isso.

(Sr. Gonzalo: Essa seria a porta que nós temos fechada?)

* Comparação entre duas almas: a menos fiel via mais as grandezas da vocação que a mais fiel

Tem fechada. Note o seguinte, que por mais que “x”…

(…)

acontece o seguinte, que ele… compare com o Castilho. O Castilho é a correção. E vocês sabem que eu gostava muito dele. Distinguia-o muito, etc., etc., embora não deixasse de notar o que eu notava nele. Vocês sabem que eu senti muito a morte dele, etc.

Mas o outro enormemente menos correto, mas enormemente, a perder de vista, não deixava de ver em mim, ter no Thau dele uma clareza de vistas a meu respeito que o Castilho não tinha. E a razão pela qual em última análise era preciso ter mais compaixão com ele do que com o Castilho.

Numa visão comum o Castilho deveria receber prêmios, medalhas de ouro, e não sei o que, não sei o quê.

(Sr. Guerreiro: Honra ao mérito.)

Honra ao mérito. Mas isto é um lado da coisa. E eu nunca deixei de tributar isso a ele, o número de vezes que eu falei bem dele para vocês, é enorme.

(Sr. Guerreiro: Numa ocasião o senhor comentou que entre um Tutancamon e Dr. Castilho há menos diferença ontológica do que entre Dr. Castilho e os enjolras.)

É, é isso.

(Sr. Guerreiro: É um arqui-elogio isso.)

É isso. E depois ele merecia, pode-se dizer dele quantas vezes se queira isso, porque é a pura verdade. Mas não deixa de ser verdade que uma outra pessoa vê em mim uma coisa que nunca deixou de ver e que o Castilho nunca chegou a ver.

(Sr. F. Antúnez: Mas essa coisa não move a pessoa.)

* Às vezes uma pessoa vê muito da vocação, mas não se move naquela linha, mas o aceitar de ver e aceitar que isto é assim, tem uma generosidade que é um mover na alma

Esta coisa não move a pessoa, mas assim mesmo há uma certa generosidade em ver… o ver, o aceitar de ver, aceitar que isto é assim tem uma generosidade que é um “move”, é um mover no interior, na alma. E assim há várias pessoas.

(Cel. Poli: E em profundidade essa pessoa acabou se entregando mais do que uma pessoa correta.)

Sim.

(Cel. Poli: Que guardou seus esquemas, sua situação familiar, etc.)

Tudo muito corretamente.

(Sr. F. Antúnez: Acontece que o senhor podia esperar mais e melhor do outro veio, do veio que deu uma certa coisa mas que…)

Podia esperar mais e melhor de todos os veios, mas recebo algo e em relação a esse algo eu sou bondoso.

(Sr. Gonzalo: Mas não obstante isso ao mesmo tempo, o senhor disse que por nós sermos assim nós somos os culpados pelo que está acontecendo.)

Sim, mas é preciso ver…

(Sr. Gonzalo: Então como aumentar a posição certa para cortar essa história que está acontecendo como o senhor colocava. […] Cada um podia dizer que foi objeto de mais misericórdia do que o outro.)

(Sr. Guerreiro: É verdade isso.)

(Sr. Gonzalo: É uma coisa do outro mundo.)

É, do outro mundo.

(Sr. Gonzalo: Mesmo assim, o senhor faz o balanço e diz que a situação toda do “estrondo” e de outros problemas se deve à situação nossa. Então que passos nós poderíamos dar, e o senhor está respondendo que é deixar-se tocar mais pela misericórdia, é isso?)

* Há pessoas que são de tal jeito, por causa do tipo de Thau que a Providência lhes quis dar, que só se deixam tocar por um extremo de misericórdia

Não, é uma coisa especial. Isso é muito genérico e não responde a pergunta. É preciso ser mais específico. Então não é dizer “deixar-se tocar mais pela misericórdia”, porque é verdade, mas é uma fórmula que não resolve nada. É preciso ver bem ao caso.

É que há pessoas que estão postas numa situação que a Providência quis assim por causa do tipo de Thau que a Providência quis dar para essas pessoas, e elas são de tal jeito que elas só se deixam tocar por um extremo de misericórdia.

Então, por causa disso, essas pessoas estão numa situação especial, elas quereriam se elas fossem inteiramente generosas, elas pecariam de megalice: “eu sou tal homem que arranjou, e que fez, e que não sei mais o quê, etc., etc.” — pecariam de megalice.

Resultado, Deus faz deles uma espécie de pessoas vamos dizer, inválidas, que, portanto, vivem de precisar dos outros, e que do precisar dos outros caminham na medida em que confiam que os outros cuidarão dele bem.

Só que esses outros que devem cuidar de nós é um grande e infinito Outro, com um “o” maiúsculo, é o próprio Deus. Nós devemos crer que Ele faça por nós o inimaginável porque nos deu um Thau tal, que deve viver disso.

(Sr. Gonzalo: E conduzindo-se assim, o senhor acha que isso pode auxiliar as coisas…)

Pode.

(Sr. Gonzalo: Como o senhor tinha pedido de nós na reunião passada…)

Sim, muito.

(Sr. Gonzalo: Calha profundamente na alma.)

Eu vou dizer a você uma coisa: o tipo de graça que eu vejo a devoção de Nossa Senhora de Genazzano dar, produz esse efeito. Ela coloca a alma nessa postura. Não vem da parte d’Ela esta explicação, mas a postura em que a alma fica posta é essa.

(Sr. Gonzalo: Já o senhor me tinha dito isso, mas a gente fica meio inseguro de tanta bondade.)

Exatamente.

* A pessoa que é tratada com a bondade “absurda” é como uma porta cuja chave foi encontrada: virando a fechadura a porta está aberta e está acabado

Agora, isto posto assim, há uma espécie de humildade e uma aceitação que seja assim, e um caminhar assim, que realmente flexibiliza mais a pessoa, dá à pessoa mais… enfim, nem sei mais o que é que é, mas por onde a pessoa então tratada com essa bondade é como uma porta cuja chave foi encontrada, então virando a fechadura a porta está aberta, está acabado.

(Sr. Gonzalo: E a Senhora Dona Lucilia é muito parecida também.)

Muito, mas muito.

(Sr. Gonzalo: O modo de operar dela e de Nossa Senhora de Genazzano é muito difícil de distinguir um do outro.)

Muito.

(Cel. Poli: Isso sempre houve na Igreja ou é uma graça para essa situação de última hora?)

Descrita como eu estou descrevendo, eu não vi nenhum manual, nenhuma coisa que dissesse. Talvez tenha havido santos com coisas assim mais características ainda, mas eu não vi.

(Sr. Gonzalo: Mas bondade como a que o senhor tem, não teve na História. Se não teve bondade como a do senhor, não teve gente que fosse objeto dessa bondade. A gente vê muito o Coração de Maria, reino de Nossa Senhora, Coração de Jesus muito personificado na misericórdia do senhor.)

É isso.

(Sr. Gonzalo: É uma coisa inimaginável a misericórdia que o senhor tem conosco.)

Você compreende o seguinte, eu poderia me colocar na seguinte perspectiva: “eu vou dar para eles quinze reuniões consecutivas, ou eles correspondem, ou não há razão para supor que em outras 15 eles vão corresponder. Então as minhas noites de sábados eu dou para outros”.

* “Nossa Senhora me faz ver pelo discernimento dos espíritos, que eu tendo essa bondade absurda, no momento em que toca num absurdo AEmaluco AF, neste momento a pessoa é tocada pela mão que salva”

E é curioso que segundo a justiça vocês não teriam direito de reclamar. Mas eu não tenho direito de fazer assim, porque eu vejo qual é a situação e Nossa Senhora me faz ver, pelo discernimento dos espíritos, que eu tendo essa bondade absurda, no momento em que toca num absurdo — eu vou usar uma expressão inadequada — maluco, neste momento a pessoa é tocada pela mão que salva.

(Sr. Guerreiro: E Nosso Senhor procedeu assim de um modo impressionante.)

Com os apóstolos…

(Sr. Guerreiro: São Pedro, por exemplo, o constituiu fundamento da Igreja.)

Isso.

(Sr. Guerreiro: E logo depois ele O trai três vezes. E o conserva.)

Conserva sem nem pôr em dúvida se conservará ou não.

(Sr. Guerreiro: Um olhar que alterou toda traição dele.)

Mas você percebe bem pela narração, que foi um olhar de uma bondade, se pudesse dizer isto, Nosso Senhor está acima desse vocabulário completamente, mas se pudesse dizer assim, uma bondade absurda. O chefe que trai. A vítima que está reduzida aquele estado passa por Ele e recebe um olhar. Nesse olhar ele recebe uma das maiores graças que alguém tenha recebido na História.

Você não acha uma coisa extraordinária?

(Sr. Guerreiro: Uma coisa que é obrigação nossa dizer, nós somos muito objeto desta bondade toda. Mas a gente vê que há uma alma […inaudível] em exprimir essa bondade assim de modo como nunca ninguém viu que é a Senhora Dona Lucilia.)

Foi. Ah, isso não tem dúvida nenhuma.

(Sr. Guerreiro: A bondade vem num aveludado tão sedoso, tão… que a gente tem impressão que ela tem reservatório de bondade meio infinitos.)

* A bondade da Senhora Dona Lucilia é uma coisa que não se deixa circunscrever por nenhum pecado, por maior que seja o pecado, cresce a misericórdia

É uma coisa que não se deixa circunscrever por nenhum pecado, por maior que seja o pecado, cresce a misericórdia.

(Sr. Guerreiro: Aí há uma ilustração da bondade de Nossa Senhora e de Nosso Senhor Jesus Cristo…)

É isso.

(Sr. Guerreiro: … para inspirar a alma do senhor. Ela inspira o senhor.)

É sim, é fora de dúvida.

(Sr. Guerreiro: Se o senhor não tivesse uma mãe como ela, não seria tão fácil o senhor chegar a esses extremos.)

* A teoria comercial do trato

Não, não, não. Nem compreenderia. Porque não dava, a gente, para ser franco, medindo as pessoas como são, no trato umas com as outras elas constroem uma teoria do trato racional que é uma teoria comercial do trato: “você me deu como dedicação como outros valores, você me deu 100, está bom, é muito 100. Mas eu dou a você 100, e não sou obrigado a dar 101. E, portanto, você e eu nos pomos numa condição recíproca de comercialidade”. Isso estraga, arruína. É claro que alguma coisa disso existe, mas certamente não existe, ou existe de um outro modo para as almas privilegiadas.

(Sr. F. Antúnez: É uma coisa que não chego a pegar. Esse binômio do lado empedernimento e a bondade com que o senhor trata, isso também não pode ser uma espécie de fatalidade dentro da vocação.)

Como fatalidade?

(Sr. F. Antúnez: Porque é o que se deu. Uns são os corretos, etc., o senhor fez muito por ele, etc., mas mais longínquo. Para os outros que têm sido mais empedernidos o senhor se desdobra em bondade. O problema é o seguinte: deveria haver uma terceira via que me parece que a via verdadeira seria a via de fidelidade. A gente fica meio assim, porque realmente a gente se sente paralítico para andar nessa via.)

* Pela extrema, extremíssima maldade a que se chegou hoje, a via da fidelidade como que não existe

Pela extrema, extremíssima maldade a que se chegou hoje, a via da fidelidade como que não existe. Você vê por exemplo, uma pessoa que o Gonzalo e você viram mais fotografias, etc., do que eu: a Sor Tereza dos Andes, é uma fidelidade, uma limpeza, uma santidade, mas uma santidade de um modo tal que a gente não diria que ela foi concebida sem pecado original, mas diria que ela foi limpa do pecado original nos primeiros instante do ser dela. Ela teve o pecado original, mas a Providência limpou-a, porque é uma coisa impressionante o que ela é. Ao menos é a impressão que ela me causa.

Agora, você pega, por exemplo, uma pessoa como mamãe, ela é tudo quanto é, mas não chega a causar, por exemplo, essa impressão de uma espécie de pureza arcaica…

(Sr. Gonzalo: Ah não, senhor, aí não tem jeito. Aí a discussão não termina mais, senhor.)

Do outro mundo. É que ela se fosse assim, ou pelo menos se tivesse essa aparência, ela não atrairia tanto os pecadores quanto atrai.

(Sr. F. Antúnez: Se bem que olhando para ela a gente vê tudo isso, senhor.)

Isso é líquido. Mas não atrairia tanto os pecadores.

Para ter uma espécie de forma outrancière de misericórdia, seria preciso que chegasse ao que… as fotografias que o João andou tirando exprimem.

(Sr. Gonzalo: Aí é outra coisa.)

Mas vocês me deixem dizer uma coisa, e daqui a pouco vocês retomam a palavra, porque eu gosto muito que vocês falem.

(Sr. Gonzalo: Um sintoma a mais da bondade do senhor.)

É, mas vamos ao caso.

Eu contei a vocês…

(…)

* As notícias de crise na Igreja lidas na Reunião de Recortes, não obtiveram uma indignação correspondente

você fica vendo que nós temos que considerar esse quadro, no quadro deste fim de civilização, de era e tudo mais em que tudo chegou ao ponto da reunião de hoje à tarde, que é uma coisa do outro mundo, mas do outro mundo.

(Sr. F. Antúnez: E não provoca nenhuma reação, em nenhuma direita nem nada.)

Não sei se você notou hoje à tarde, quando aquilo tudo foi [lido]… não houve uma indignação correspondente.

(Sr. Gonzalo: […] O problema nós temos que ver é o senhor, e quem está sendo objeto disso é o senhor, e tudo isso. Então quando se olha assim como o senhor está dizendo, há uma coisa que… A bondade que o senhor tem é uma bondade que é muito de Nossa Senhora mesmo, e a bondade de Nossa Senhora não houve na Terra que se manifestasse propriamente de modo… E a gente entende muito o que Ela é com a bondade que o senhor tem com todos nós. […] Nós somos objetos de algo muito mais intenso do que foi São Pedro, num certo sentido, porque a Mãe fala de um modo que o filho não fala.)

Não fala.

(Sr. Gonzalo: E essa bondade chegou a um extremo que eu acho que Nosso Senhor tem, mas não manifesta e que Nossa Senhora manifesta no senhor. Se nós aceitássemos isso, aí pareceria que a coisa estaria…)

É possível, mas isto quem sabe é Ela. Há uma hora que é a hora d’Ela, há um toque que é o toque d’Ela, num ponto de nossa alma que é Ela que conhece. E a nós compete é estar fazendo isso.

(…)

* “Fazei vós em mim o que eu não posso nem ter idéia de como é”

Pegar a relíquia do Bem-aventurado [Stephano Belezine?], e não largar nunca. Como quem diz: “fazei vós em mim o que eu não posso nem ter idéia de como é”.

(Sr. Guerreiro: Nós temos que pegar a do senhor, porque a do Belenzine não vai resolver o nosso caso.)

Ah não, aqui é uma comparação, uma analogia.

(Sr. Guerreiro: Temos que pegar a do senhor e a da Senhora Dona Lucilia.)

Não, não tem dúvida, mas no meu caso concreto é. Essas coisas dependem muito de situação concretas.

(Sr. Gonzalo: Quando o senhor recebeu a graça de Genazzano, até aí o senhor tinha sido objeto de muitas graças de Nossa Senhora, mas aí houve algo que foi uma graça mística além das outras, que prometeu algo, mas que o senhor teoricamente conhecia.)

Não. Eu não tinha certeza, eu tinha medo de ter perdido do bonde da minha vocação.

(Sr. Gonzalo: Portanto, não foi um conhecimento da bondade d’Ela, foi um conhecimento da certeza da vocação.)

É isso.

(Sr. Gonzalo: Está muito benfazejo tudo isso.)

E depois é tão real.

(Cel. Poli: E dá suporte. Porque a gente intuía que a Senhora Dona Lucilia tinha uma missão de uma envergadura proporcionada à uma nova era, e a gente vê que ela abrindo essa via para o senhor, e o senhor depois estendendo para nós, ela foi a matriz dessa via..)

É isso, foi isso.

(Cel. Poli: E se essa via é o por onde começa a nova era, ela está no umbral da nova era.)

Sim, é fora de dúvida.

(Cel. Poli: Eu nunca vi isso tão logicamente estruturado como agora.)

Graças a Deus, eu acho que foi muito bom.

E meu Horácio, não diz nada, meu filho?

(Sr. Horácio B.: Eu não digo nada, porque sou meio tímido para falar. Mas fica claríssimo hoje um pouco do que passou a São Pedro quando Nosso Senhor lhe lavou os pés, porque ele não compreendia porque Nosso Senhor levava os pés. Nosso Senhor disse: “ou você deixa lavar os pés, ou você não entra no Céu”. E aí São Pedro respondeu: “então me lave os pés, as mãos e a cabeça”. Assim também nós. Eu não compreendia porque o senhor nos tratava tão bem, mas então se essa é a via, então isso e mais ainda.)

Está muito bom. Muito bom.

(Sr. Horácio B.: Se é assim, está bom, aceito e…)

Isso, isso. Está muito bem.

Eu cortei sua palavra sem querer, meu filho. O que você ia dizer?

(Sr. Guerreiro: A gente vê que se não tivesse sido dado ao senhor uma exemplificação dessa [virtude?] de Nossa Senhora de modo vivo e que vinha no seu próprio sangue, e que a Senhora Dona Lucilia exprimiu isto de Nossa Senhora, a gente vê que o ter recebido isto no próprio sangue adquire uma sujestibilidade, adquire um atrativo, uma conaturalidade com esta virtude que é de Nossa Senhora, mas que se o senhor não tivesse herdado d’Ela, na conaturalidade do senhor para com esta virtude, não teria a grandeza toda que ela tem. E hoje nós vimos melhor… o papel dela nisso tudo é muito extraordinário. […] É uma coisa extraordinária isso.)

Muito.

(Sr. Guerreiro: São virtudes que vêm dos tempos imemoriais da Cristandade e que Nossa Senhora foi aprimorando, enriquecendo, enriquecendo a ponto de vir Ela. E é o que explica que quando houve aquela possessão nos Estados Unidos, o demônio fazia o nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, mas quando era para pronunciar o nome do senhor, dela, e do Livro, aí estourava.)

Parece que ele jogou o Livro de lado.

(Sr. Guerreiro: Então a gente vê que a Santíssima Trindade como que fica indiferente ao seu próprio nome eternamente reconhecido…. [vira a fita]

(Sr. Guerreiro: … se chamar do nome diretamente d’Ela, Ela fica indiferente.)

Mas é bem isso. A gente fica impressionado mas é.

(Sr. Guerreiro: Foi o que Dr. Duncan comentou na Comissão Médica. E que a propósito de toda questão de exorcismo de que o senhor está tratando e deverá tratar com mais profundidade, a gente que… E que uma bondade assim, a gente vê que o demônio fica profundamente incomodado.)

É o contrário da maldade dele. É o contrário.

(Sr. Guerreiro: O extremo oposto.)

É, exatamente, é o contrário dele. Porque ele não é… nós já sabemos.

(Sr. Gonzalo: A Senhora Dona Lucilia é totalmente o segredo de Maria. Ela, o senhor e tudo. Porque isso é um segredo. Levar a bondade a esse extremo é meio misterioso.)

(Sr. Guerreiro: O segredo de Maria no que o senhor tratou hoje à noite, tudo isso tem um papel imenso.)

E que São Luís Grignion de Montfort chama o segredo de Maria para nos salvar. Para nos salvar, quer dizer, é feito para que se obtenha a salvação nem sei de que jeito.

* Por causa da imensidade do abuso e do feitio do Thau de um apóstata, o Senhor Doutor Plinio tem esperança de que ele se converta

Outro dia estava comentando coisas dessas com o Luizinho, e eu estava dizendo uma coisa que eu pensei que ele fosse se escandalizar. Eu disse a ele — à luz dessa conversa não escandaliza:

Não pode haver pessoa que tenha andando pior do que o Siqueirão, é uma coisa do outro mundo, o que ele abusou do João, o que a Providência exigiu do João e indiretamente de mim, de paciência com ele, aquilo, aquilo e aquilo outro, é uma coisa que nem sei o que dizer. Está bom, eu continuo a esperar que ele se converta. Por quê? Por causa da imensidade do abuso dele. E do feitio do Thau dele. Olha que ele não mereceria nem ser olhado.

(Sr. Guerreiro: E depois está com uma espécie de…)

Rabo de cavalo…

(Sr. Guerreiro: Que dá vontade de meter uma bofetada imediatamente.)

É isso. E arranjou aí uma esposa feita lá de borracha, nem sei do quê, e leva para recepção de D. Bertrand, e tem o descoco de entender que o convite que foi para ele por engano, que é um convite mesmo e aparece.

(Sr. Guerreiro: O senhor comentou que ele apareceu porque tinha Thau.)

Foi, foi isso.

(Sr. Gonzalo: Porque tem Thau tem uma coisa interessante aí, o senhor sabe que…)

(…)

* Santa Maria Madalena, que era uma mulher péssima, ao se converter tem uma reação face a Nosso Senhor que Marta, que sempre foi fiel, não soube ter

parece que com Santa Maria Madalena foi assim também. Ela pecou… Ela era irmã de Lázaro e Marta e Maria, não é?, e tinha uma alta condição social. Eles eram meio príncipes de um paisinho ali por perto. Eram muito ricos, como o Evangelho deixa ver, etc. Ela se jogou para fora da situação da família e morava numa torre que era ou tinha sido propriedade dela, e ali era uma fassura. Em certo momento esta mulher péssima vê Nosso Senhor e tem uma reação que Marta não soube ter.

Mas parece que depois de se ter convertido, ela caiu de novo.

(Sr. Guerreiro: Depois de ter conhecido Nosso Senhor. Mas depois da conversão final não.)

(Sr. Gonzalo: Mas da conversão primeira sim. Pelo menos é o que conta esse Pe. Berthe e outros.)

É a tradição.

(Sr. Gonzalo: E depois caiu de novo.)

Caiu de novo…

(Sr. Gonzalo: E pior.

Está bom, é pior, é tudo quanto vocês possam querer, mas Deus deu a ela uma segunda conversão. Resultado: ela estava ao pé da cruz.

(Sr. Gonzalo: Um filipino comentou uma coisa muito bonita outro dia. Porque ela estava ao pé da cruz? Disse que se a gente presta atenção as únicas pessoas foram fiéis a Nosso Senhor, foram aquelas com quem Nossa Senhora fazia apostolado, e que foram as Santas mulheres e São João. E ele perguntava se as pessoas que tivessem a proteção muito especial da Senhora Dona Lucilia se não seriam as que seriam fiéis ao senhor nessa hora de provação. O próprio Sr. João ficou meio paralisado porque não tinha feito esse raciocínio.)

Muito bonito.

(Sr. Gonzalo: Mas era cheio de bênção e uma convicção que não tem jeito. […])

Muito bonito.

* A bondade de Nossa Senhora exige de nós uma conduta quase absurda; e quando este imposto foi pago e a gente aceitou o aparentemente absurdo por amor a Ela, nesse momento Ela intervém

Agora, para continuar a coisa. Vocês querem ver como nós ficamos inteiramente na dependência de Nossa Senhora, e que é na dependência desta forma de misericórdia: eu estou há várias reuniões para dizer a vocês que a nossa reunião há bastante tempo se desviou de seu objetivo inicial, e é verdade, não se pode negar. E que vocês sabem que nós estávamos desviados da finalidade inicial, mas que vocês continuavam friamente, normalmente nessa linha sem se incomodar com mais nada. O que era propriamente um absurdo.

Eu estava para dizer isso a vocês, mas não dizia porque era levado a achar o seguinte: “quem sabe se Nossa Senhora age na alma deles de um modo que eu posso dizer a eles em duas palavras, o que vai representar um risco e uma coisa muito complicada eu dizer em dez reuniões. E no total quem sabe se eles acabam não apreendendo a coisa. Então vamos esperar, esperar e esperar, esperar com paz, esperar com calma, esperar com afeto, que Nossa Senhora um dia intervirá”.

E foi o que eu fiz, eu não fiz a menor insinuação do que eu estou dizendo, simplesmente eu tratei com vocês todas as vezes de maneira a por algum lado estimular isto que ainda restava, chega uma determinada noite Nossa Senhora [intervém?].

Isso é para vocês compreenderem o que é a tal bondade d’Ela que exige de nós uma conduta quase absurda. E quando este imposto foi pago, que a gente aceitou o aparentemente absurdo por amor a Ela, nesse momento…

Não é verdade?

E assim é que se deve fazer.

* Aconteça o que acontecer, nós devemos devotar a Nossa Senhora o tempo que Ela reservou para Si

Bom, então a reunião que vem. Nós não temos a menor certeza de que vamos ter meios de continuar essa matéria, porque vocês vêm com a cabeça em outras coisas, porque… porque, porque, porque… porque não sei, houve uma crise na Igreja e nós estamos tratando da crise da Igreja… mil coisas!

E outra coisa, a coisa vai a tal ponto, que às vezes são temas que é indispensável tratar, e vocês só têm tempo para tratar aqui e apesar disso tudo Nossa Senhora queria que vocês deixassem tempo livre para Ela.

(Sr. F. Antúnez: Perfeitamente.)

Agora, diante dessa situação conservar toda calma, toda confiança, e compreender o fio especial dessa vocação especial, desse Thau especial, que se prolonga e se multiplica de tal e de tal maneira, é uma verdadeira maravilha.

(Sr. Gonzalo: E fica um apelo para compreender que o tema é esse.)

Exatamente.

(Sr. Gonzalo: O contato de alma que produz com o senhor é fabuloso.)

Isso. Isso. Então vocês poderiam dizer que a reunião de hoje à tarde foi benfazeja, eu concordo. Mas em comparação com essa reunião, nem tem comparação. Ou não é assim?

(Sr. Gonzalo: Totalmente.)

* Uma tentação que produz um raciocínio que apenas põe em carne viva feridas que existem

Querem ver outros mistérios?

O Paulo Roberto. Eu quero crer que ele esteja fazendo o retiro dele muito bem. Mas ele ouvindo essa fita, ele é capaz de ter a tentação de achar que ele deveria ter vindo aqui. Mas me diga uma coisa, vocês no lugar dele não teriam essa tentação?

(Cel. Poli: Claro.)

Hein meu “Passer”?

(Sr. F. Antúnez: Perfeitamente.)

Qualquer um de vocês. Então escarafunchar: por que defeito é que não veio, etc., etc., e sair toda uma história que apenas ia pôr em carne viva feridas que existem.

Mas Nossa Senhora quer dele outra coisa, é que ele compreenda que pode haver para o caso nosso, para a via de vocês, pode haver o fato de que para um em certo modo Ela quer que a coisa se faça de certo jeito e que ele tenha isso tudo na fita, tenha tido na reunião, ou tenha depois. Mas que não há castigo nisso, não há nada, há maternalidade, quer ele entenda, quer não entenda.

Eu reputo isso aí uma própria perfeição.

(Sr. Guerreiro: “Há muitas moradas na Casa de meu Pai”.)

Há muitas moradas na Casa de meu Pai”.

Meus filhos! Agradeçamos a Nossa Senhora, não é?

Benedictio…

*_*_*_*_*