Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) –
25/7/92 – Sábado – p.
Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 25/7/92 — Sábado
O SDP pede pesquisa no Cornélio sobre a Glória * Em Deus pode ser feita uma distinção entre seus predicados e sua glória? * A perfeita glória consta de três coisas: que a multidão tenha apreço, que tenha confiança, e que com admiração considere alguém digno de honra” * Os nossos adversários procuram nos encher da ignomínia, mas eles não tomam em consideração que nos enchem de glória * Na Santíssima Trindade a glória seria o fruto do fato de que as três pessoas necessariamente se conhecem a si mesmas e às outras duas, se amam e se admiram * Uma jaculatória para a Bagarre: “Quero realizar essa obra tão perfeitamente, tão intensamente, tão heroicamente que Deus seja glorificado em toda a medida do possível” * O santo, quando não manifesta a sua glória externamente, Deus se incumbe de cobrir com as manifestações d’Ele * Hipóteses sobre a criação de outros universos com seres inteligentes
(…)
… Havia cento e tantas pessoas lá, contando vinte membros do Grupo.
* Notícias do Congresso monarquista em Curitiba
Mas quer dizer que tinha pouco mais ou menos 80 de fora. É um bom número. Para as possibilidades nulas de propaganda que eles têm, porque está tudo fechado, ninguém publica nada, nem nada disso; 80 comparecerem éparpillé mais ou menos no Brasil inteiro, eu acho que é uma coisa que tem uma bela significação. Isso de um lado.
De outro lado, disse que D. Bertrand fez uma conferência e o pessoal começou hoje a cutucar o negócio da TFP. E, Mario, que é muito apimentado no bom sentido da palavra, foi tocando — vocês conhecem aquele jeito dele, não é? Ele roça pelo aventureiro. O Mario foi metendo o pé no negócio. “Que sim, que TFP, por que não, e por que não sei o quê, e coisa e tal. E que afinal de contas não tinha ninguém com preconceitos estáveis contra a TFP e que D. Bertrand fez uma conferência em que ele deitou as cartas sobre a mesa [a respeito] da TFP. Que foi muito franco, muito positivo, etc., etc., e que o pessoal aplaudiu muito. Que o público todo aplaudiu. Que só não aplaudiram dois, que naturalmente tem de olhar agora em cima.
(Sr. Gonzalo: Do senhor ele falou?)
Eu não perguntei, meu filho. Ele não disse, ficava muito mal eu perguntar: “falou de mim?” É uma coisa horrorosa. Mas enfim, disse que o pessoal aplaudiu de pé, etc.
Agora, o Mario me deu…
(…)
… tinha fotografia, mas tinha um arranjo fotográfico que eu não gostei muito, porque tem no canto a coroa, e o resto é uma larga faixa escura. Podia ser diferente. Mas enfim, tinha escrito em cima o seguinte: “sigamos os passos dos Habsburgos”. Isso eu achei…
(Cel. Poli: É alguma coisa.)
É alguma coisa.
Com aquela coroa, etc. Eu dei para D. Luís levar lá. E D. Luís se incumbiu da coisa. Mas não pode ser afixada hoje porque ele levantou-se às sete horas da manhã, o coitado, para chegar cedo a “Curritiba”, mas acontece que na hora de partir o avião, não havia lugar, o lugar dele não estava reservado, porque o funcionário da secretaria monárquica tinha errado e tinha tomado um avião às 8 da noite para ele, uma coisa assim. Uma porcaria dessa.
Então lá arranjaram afinal um outro avião para ele chegar… Ou ele foi de automóvel.
(Cel. Poli: Foi de automóvel.)
Foi de automóvel, chegou muito mais tarde, não teve tempo de mostrar. Mas amanhã vão mostrar a tal coroa.
Acho que com isso nós podíamos dar o assunto…
* Comentário sobre a chegada de D. Luís na Consolação acompanhado dos eremitas: “O meu pé andou no caminho reto e por isso nas assembléias dos justos, eu te bendirei, Senhor”
(Cel. Poli: Só uma coisinha. Eu estava na Consolação e chegou D. Luís para rezar um pouco lá no túmulo. Agora, um pouquinho antes dele chegar, começou a chegar o ônibus dos eremitas. Então chegaram os primeiros assim correndo…)
Eremitas da onde?
(Cel. Poli: Do São Bento e P. Sum. Nesse ínterim ele chegou, então ele veio descendo a rampa, e atrás de um modo muito respeitoso, um pelotão assim de membros do Grupo caminhando assim com gosto de ver ele na frente, e ele andando muito direito assim… A gente via que ali tinha…)
Tinha alguma coisa…
(Cel. Poli: O espírito do senhor estava muito presente.)
Que coisa boa!
(Cel. Poli: E o pessoal, me pareceu, que estava encantado com ele.)
É isso… É eles andarem direito… Há um salmo que diz o seguinte: “Pes meus stetit in directo, in ecclesia benedicat te domine”: “O meu pé andou no caminho reto e por isso nas assembléias dos justos eu te bendirei, Senhor”.
(Cel. Poli: Eu me lembrei muito do senhor ali, porque o senhor gostaria de ver…)
Quer dizer, ninguém tomou a dianteira sobre ele?
(Cel. Poli: Não, não. Pelo contrário, formaram um […inaudível] assim, ele veio caminhando e uma meia lua assim por traz dele, e um pouco envolvendo a ele, mas numa distância dele e acompanhando e olhando assim…)
Bonito! Muito! Otimo!
* O Senhor Doutor Plinio pede pesquisa no Cornélio sobre a Glória
Bem, mas vamos agora passar aos nossos assuntos. Quem é que propõe um assunto? Como é que são as coisas?
(Sr. P. Roberto: Pelo que eu tinha entendido, o senhor no telefonema ontem para mim, que o senhor estaria adiantando o assunto para essa reunião e pedindo uma pesquisa sobre a glória.)
É verdade! O Cornélio.
(Sr. P. Roberto: Então eu fiz alguma coisa, até li para eles. Não sei se era bem isso que…)
É bem isto. Eu queria para um efeito desta reunião e para uma coisa mais larga também. Mas você tendo aí para ler, está perfeito.
(Sr. Gonzalo: O senhor não podia dizer qual é o efeito para a reunião?)
Sim, sim posso.
É o seguinte…
(Sr. Guerreiro: Pode gravar?)
Pode, pode, é assunto estritamente teológico.
Apresenta-se a glória de Deus, estritamente com uma relação. Normalmente. Porque a glória entre os homens parece ser mais do que tudo uma relação. Porque A, B ou C é glorificado, quer dizer, aclamado como possuidor de predicados de ordem intelectual, moral, hoje em dia até futebolístico, relevantes — até futebolístico, eu me exprimi mal, principalmente futebolísticos — relevantes; então entre esse indivíduo e um certo número de outros, se estabelece uma relação de admiração. Alguém tem e, deixa ver, um certo predicado. Outrem vê e admira, e manifesta essa admiração. Feito isto, está dado a glória.
E eu tinha a impressão de que a glória de Deus talvez seja uma coisa a mais do que isso, porque a glória verdadeiramente, antes de ser uma relação, é uma coisa intrínseca. Uma pessoa que tem determinados predicados, ainda que não seja aplaudida nem admirada por ninguém, tem glória desde que esses predicados tenham atingido um certo grau, tem glória. Tem porque ela tem aquilo.
Então, por exemplo, Nosso Senhor Jesus Cristo do alto da Cruz, no auge da ignomínia relacional, Ele entretanto [era] o Rei da glória. E, portanto, a glória antes de tudo é um estado de excelência intrínseco. A relação é uma conseqüência.
Quer dizer, o indivíduo é social, então no convívio com os outros transparece algo dele. Se isso que transparece denota com segurança predicados eminentes, daí decorre uma glória extrínseca. Quer dizer, o reconhecimento que terceiros fazem de que ele tem aquilo. Mas o mais importante é ter aquilo.
Não sei se eu me exprimo bem.
* Em Deus pode ser feita uma distinção entre seus predicados e sua glória?
Agora, aqui entra a pergunta delicada:
Em Deus pode ser feita uma distinção entre seus predicados e sua glória?
Quer dizer, Ele tem todos os predicados e daí Lhe vem uma glória que é algo existente em todos os predicados, mas que não é propriamente nenhum desses predicados, é terceira coisa. E esta terceira coisa o que será?
Este ponto eu achava muito importante para a gente definir bem o reino de Cristo, depois também o Reino de Maria. Porque essas coisas mutatis mutandis se aplicam a todas as relações e a todos os seres.
* A glória extrínseca de Deus foi aumentada pelo simples fato da criação de Nossa Senhora
(Sr. Gonzalo: O senhor parece ser propenso a achar que a glória de Deus é susceptível de ser aumentada, não é?)
A extrínseca é. Certamente […inaudível].
(Sr. Gonzalo: O AX tinha dificuldade com o senhor nesse ponto…)]
Não era só nesse.
(Sr. Gonzalo: Era em tudo. Mas nesse um ponto marcadamente. De que a glória de Deus é susceptível…)
Extrinsecamente susceptível de ser acentuada.
Por exemplo, a glória extrínseca dele, eu sou muitíssimo propenso a admitir que foi aumentada pelo simples fato da criação de Nossa Senhora.
* “Pai, é chegada a hora, glorifica a teu Filho para que teu Filho te glorifique”
Agora, vamos ver o que é que diz o Cornélio.
(Sr. P. Roberto: A pesquisa está um pouco insipiente, porque comecei ontem, e também não sabia bem o que é que o senhor queria. De maneira que eu separei duas fichas aqui que eu consegui fazer, e pedir também que o senhor relevasse um pouco alguma imprecisão da tradução aqui. Mas me parece que… [mudam o microfone de lugar e interrompem a gravação] Não sei se valia a pena começar pela segunda…)
(Sr. Gonzalo: Eu acho melhor começar pela primeira. São dois tipos de fichas […])
(Sr. P. Roberto: Essa primeira é do Evangelho de São João.)
É tudo Cornélio?
(Sr. P. Roberto: Tudo do Cornélio. São só duas.)
Sim.
(Sr. P. Roberto: Então diz assim: “Assim falou Jesus e levantando os olhos ao céu disse: Pai, é chegada a hora, glorifica a teu Filho para que teu Filho te glorifique”.
Aí então vem o comentário do Cornélio:
“Glorifica teu filho. Perguntareis que glória e que glorificação Cristo pede aqui? Essa glória foi a manifestação de Cristo, para que o mundo conhecesse ser ele o Cristo, Filho de Deus, e crendo nEle se justificasse e salvasse. Pois tal era o fim e o escopo da Encarnação e de toda a economia de Cristo, e assim Ele, como explica nesses versículos, onde mostra que essa glória é a manifestação de si e de Deus. Porque Cristo pede que se patenteie ao mundo o desígnio de Deus sobre sua Encarnação, Crucificação e Morte em favor da salvação dos homens. Por isso diz: “glorifica-me enquanto sendo crucificado e morrendo. Glorifica-me através de milagres tais como o terremoto, o eclipse do sol, a ruptura do véu do templo, a ruptura das pedras, a abertura dos sepulcros, como também por uma rápida ressurreição e pela glorificação do meu corpo, e ainda pela Ascenção ao Céu, pelo envio do Espírito Santo, e pela conversão de todos os povos à minha fé, para que a partir dessas coisas, todos os povos creiam que eu sou Deus e o Messias Salvador do mundo, e por esta fé se santifiquem e se tornem bem-aventurados.”
Está muito bem feito, não é? Quando eu digo que o Cornélio é o Cornélio… Não tem conversa, é a segurança, precisão…
(Sr. Paulo Henrique: Tudo muito bem amarrado.)
É, mas sem que você perceba a corda. É uma amarração… Diga lá.
* A perfeita glória consta de três coisas: que a multidão tenha apreço, que tenha confiança, e que com admiração considere alguém digno de honra”
(Sr. P. Roberto: E isso é o que propriamente significa a glória, que não é outra coisa senão a ilustração do nome.)
É o nome tornasse ilustre.
Aqui vem então uma definição: a ilustração de um nome é a glória. Não está nada diferente do que eu disse há pouco, mas é uma fórmula que condensa muito bem.
Se você quisesse me fazer um favor é sublinhar essa história da…
(Sr. P. Roberto: Então vem uma série de citações dos autores antigos. “Donde dizer [Quintilhado?]: A glória é o louvor unânime das qualidade boas”.)
Está bem.
(Sr. P. Roberto: Cícero: “Glória é a fama dos méritos dos homens que com brilho que se espalha sobre muitas e grandes coisas. Quer entre os cidadãos, que na pátria, quer em qualquer classe social.” E ainda Cícero: “A perfeita glória consta de três coisas, a saber: que a multidão tenha apreço, que tenha confiança, e que com admiração considere alguém digno de honra.”)
Está bem feito também.
(Sr. P. Roberto: Depois vem Isidoro que parece que é um gramático. “Chama-se alguém de glorioso em virtude da coroa de ouro que se dá aos vitoriosos.”)
Aqui é mais barato.
(Sr. P. Roberto: “Assim explicam essa glória de Cristo, São Cirilo, São Cipriano, Santo Ilário e São Basílio. E acrescentam Eutílio — eu não sei quem é esse Eutílio: “Esclarece, isto é, notifica ao mundo que por eles livremente e por mero e sumo amor, padeci morte de cruz, pois isso obrigará a todos os povos a me cultuarem e amarem.”
* Os nossos adversários procuram nos encher da ignomínia, mas eles não tomam em consideração que nos enchem de glória. E que quanto maior é a ignomínia, maior é a glória
(Sr. P. Roberto: “Donde se patentear que a glorificação é propriamente a da humanidade de Cristo de sorte que se conheça ser ela unida a Deus e por conseqüência também a da divindade de Cristo, porque esta se deduz daquela. Pois pelo fato de que foi dado a conhecer ao mundo que a humanidade de Cristo era unida a Deus, foi lhe dada também a conhecer que Deus por imensa misericórdia abaixou-se assumindo carne e sofrendo morte de cruz por imenso amor por nós. Moralmente aqui Cristo nos ensina que ignomínia sofrida em seu nome se transforma em glória, e glória tanto maior quanto maiores forem a ignomínia, a cruz e a morte segundo aquela passagem de Filipenses.”)
Aqui tem uma coisa que vale a pena sublinhar, no que diz respeito à ignomínia, porque os nossos adversários procuram nos encher da ignomínia, mas eles não tomam em consideração que nos enchem de glória. E que quanto maior é a ignomínia, maior é a glória.
(Sr. P. Roberto: Então vem a passagem de filipenses: “Fez-se obediente até a morte e morte de Cruz, por isso também Deus o exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todo nome para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e no inferno.”)
Bonito, não é?!
Isso é de São Paulo?
(Sr. P. Roberto: É de São Paulo.)
Muito bonito.
(Sr. P. Roberto: Aí vem uns exemplos. “Assim, São Pedro e São Paulo tendo sido escarnecidos em Roma por Nero e condenados à cruz e à espada como […inaudível] e inimigos do império, alcançaram a suma glória de modo que chegaram a dominar não só em Roma, mas em todo império romano. E São Pedro derrubando a coluna do imperador Trajano e São Paulo a de Antônio, ocupara o seu lugar.”)
Ah, é por isso é que tem em Roma a coluna de São Pedro e a coluna de São Paulo. Eu acho que tinham coluna de Trajano e de Antônio.
(Sr. Paulo Henrique: Essa coluna de trajano ela fica exatamente no Piazza Veneze, bem no centro de Roma. Até o ano 58 esteve Trajano em cima dessa coluna. E a partir daí parece que jogaram um laço em cima do Trajano, derrubaram e colocaram São Pedro em cima dessa coluna.)
Agora, está uma estátua de São Pedro lá?
(Sr. Paulo Henrique: Agora está a de São Pedro desde o ano de 458.)
(Sr. P. Roberto: E nessa de Antônio está a de São Paulo.)
É isso. Você não se lembra onde é?
(Sr. Paulo Henrique: Não. Não.)
Você pode imaginar, para aqueles romanos a impressão vendo cair a estátua de Trajano e levantarem a estátua de São Pedro e colocarem no alto? É uma coisa do outro mundo! Do outro mundo!
(Sr. Guerreiro: A história tem “tournantes” impressionantes.)
Ora!
(Cel. Poli: Retificações.)
Mas depois tem também torções. Porque eu acho que eles têm a intenção de jogar fora essa estátua e pôr não um trajano, mas um tipo qualquer contemporâneo muito inferior ao Trajano.
(Sr. P. Roberto: E de propósito.)
De propósito! De propósito sim.
(Sr. Gonzalo: Mas nós temos a intenção de jogar essa no chão e colocar outra estátua…)
São Pedro! Quem é igual a São Pedro!
(Sr. P. Roberto: Pelo menos outras estátuas têm que ser colocadas.)
Que tal por exemplo, se este prédio sobreviver à Bagarre colocar aqui estátuas de oito pessoas sentadas numa conversa?
(Cel. Poli: Sete deles de joelhos e com cinzas na cabeça.)
Não, não, não…
Mas diga então.
(Sr. P. Roberto: “Obscuramente os gentios perceberam isso. Por isso…)
Perceberam o quê?
(Sr. P. Roberto: Perceberam a glória da ignomínia por terem se abaixado.
“Por isso [Agencilau?], rei de Sparta, tendo sido perguntado: como poderia alcançar a glória perpétua, respondeu: se se despreza a morte. Pois nada de insigne pode se feito por alguém de cuja alma o medo da morte se apossou.”
(Cel. Poli: O que o senhor acha disso?)
Acho muito bem feito.
(Cel. Poli: Mas tem categoria também?)
Não, não tem a categoria das coisas sobrenaturais, mas tem alguma categoria.
(Sr. P. Roberto: “Assim Alexandre, Julio César, Cipião, Marcelo, Aníbal alcançaram a glória bélica pelo desprezo da morte. Assim os espanhóis até hoje têm o seguinte axioma: “o general que seja ávido de glória deve desprezar a morte, de sorte que compre a glória prodigalizando a vida”.)
Ahahaha! Também, também!
(Sr. P. Roberto: “O mesmo dizem mais agudamente os varões apostólicos: a glória se obtém arduamente por caminhos escarpados. Pois o que é a glória terrena diante da celeste? A humana diante da divina? A temporal diante da eterna? Donde, São Paulo dizer: “os sofrimentos desse tempo não são comparáveis à glória futura que se revelará em nós”. Por isso, logo a seguir chama de eterno o peso da glória, porque a Santíssima Trindade glorificará os heróis da virtude, todas as miríades de anjos, todos os exércitos de santos profetas, apóstolos, mártires, confessores e virgens por toda eternidade.” Essa ficha terminou.)
Mas muito boa. Mas não conduz ao ponto.
(Sr. P. Roberto: Agora, essa segunda é um pouco mais técnica.)
Vamos ver.
* A maior glória das perfeições de Deus, é que elas sejam conhecidas pelo próprio Deus, e que Deus se conheça e se ame em si mesmo, pelas perfeições que Ele tem
(Sr. P. Roberto: Uma frase dos Provérbios: “Comigo — com a Sabedoria — estarão as riquezas e a glória, a opulência e a justiça. A glória individual é a companheira e a seguidora de sabedoria, isto é, da virtude. Pois como diz Cícero, a glória é a fama contínua e com louvor a respeito de alguém.)
É [clara notície cum laude??].
(Sr. P. Roberto: “E como diz Santo Agostinho, a glória é a reputação célebre e merecida. Assim, na medida em que houver sabedoria e virtude haverá glória. Pelo que a sabedoria e a virtude divina, que são o próprio Deus, por serem imensas possui uma glória imensa, a saber, em si e na Santíssima Trindade.”)
Aqui toca na coisa. Quer ler de novo, faz favor?
(Sr. P. Roberto: “Pelo que a sabedoria e a virtude divina, que são o próprio Deus, por serem imensas possui uma glória imensa, a saber, em si e na Santíssima Trindade.”)
Você está vendo aqui que há uma certa distinção entre a sabedoria e virtudes divinas, colocadas de um lado, e depois de outro lado a Santíssima Trindade. De maneira que a glória em certo sentido habita… Eu creio que se poderia dizer a coisa seguinte: se a glória é [clara notície cum laude??], não há notícia mais clara — clara aqui não é no sentido físico da palavra, mas do claro, uma metáfora, toma a coisa clara como metáfora para indicar que é muito conhecida, muito notória…
(Sr. P. Roberto: Porque clara é isso mesmo, notória.)
É uma tradução quase tabelionesca do claro notório. É precisamente isto.
Então, clara noticie cum laude é o fato da coisa ser conhecida por muitos. É clara, é notória. Mas conhecida por muitos com louvor.
Agora, então a maior glória das perfeições de Deus, é que elas sejam conhecidas pelo próprio Deus, e que Deus se conheça e se ame em si mesmo, pelas perfeições que Ele tem, isto é a maior glória d’Ele próprio.
(Sr. P. Roberto: Perfeito. É isso que está dito aqui.)
Prossiga então.
* Não há maior glória do que a glória do processo trinitário
(Sr. P. Roberto: “Donde o Pai glorifica essencialmente o Filho e o Espírito Santo, estes por sua vez glorificam ao Pai com infinita glorificação”.)
Isso. O que é a glorificação? Que conhece e louva. As três pessoas da Santíssima Trindade se conhecem e se louvam, e não há maior glória do que essa clara noticie cum laude do processo inter-trinitário. E aqui tem a coisa que eu queria pegar. É que com certeza este conhecimento assim interno, com a glória que eles se prestam, de algum modo transborda para fora, os outros conhecem esta glória que nele nasce da clara noticie dessas pessoas. E aí vem o padrão de toda a glória criada.
Quer dizer, toda a glória só é glória na medida em que se parecem com esta suprema glória. Eu acho que isto deve ser mais ou menos assim.
(Sr. P. Roberto: É isso mesmo. Aqui tem uma palavra que é técnica que não sei traduzir e coloquei em latim mesmo. “[Nocionarite?] porém, o Verbo é a glória do Pai, segunda aquela passagem…)
[Nocionarite?] quer dizer: pela noção.
(Sr. P. Roberto: “… segundo aquela passagem de hebreus: “o qual Filho sendo resplendor de sua glória e a figura de sua substância”.)
Exatamente. Você veja portanto que o Filho — a coisa avança um pouco mais — o Filho parece ser a glória do Pai. Quer dizer, o Filho é a glória do Pai. E da glória… Mas essa glória do Pai é tal que engendra uma pessoa. Porque é das tais coisas… deve ser assim, provavelmente, eu não posso ter certeza, mas é um pouco mais ou menos assim, eu não conheço teologia para fazer nenhuma afirmação. Mas o Pai se conhece a si próprio, e no conhecer-se a si próprio, Ele se ama a si próprio, e Ele conhecendo-se a si próprio, Ele se glorifica a si próprio porque Ele ama aquilo que Ele conhece, Ele faz o louvor daquilo que Ele conhece.
Mas por sua vez o Filho conhece a si próprio no Pai, e sabendo-se a própria figura do Pai, Ele ama também o Pai de tal maneira que Ele é o amor do Pai. Os dois juntos engendram o Divino Espírito Santo que é o amor do Pai e do Filho.
Eu percebo que eu não estou sendo correto, muito claro, mas me parece estar entendendo bem.
(Cel. Poli: Tem alguma imagem natural disso?)
Há uma imagem, como todas coisas pagãs, mal e porca. Mal e porca enquanto pagã, mas que quer dizer alguma coisa nessa direção. E essa imagem é o seguinte: eles falavam de uma espécie de semi-deus extremamente formoso, que se chamava Narciso, e que quando se olhava nas águas — porque eles não tinham espelho — ele via a própria figura, e quando ele via a própria figura, ele se amava tanto que ele se derretia, se não me engano se derretia nas águas, e parece que as águas conservavam assim a figura que se tinha derretido nela, e essa figura voltava… — é uma coisa um pouco parecida com a Trindade.
Realmente você poderia compreender uma coisa assim num pintor de grande talento que se pintasse a si própria na tela, e que olhando para a tela dissesse: “que maravilha!” Haveria uma espécie de interação dos dois. Mas com o pintor e a figura do pintor, tudo é poca, porque o pintor pode amar sua figura, pode conhecê-la e amá-la. Mas a figura não pode conhecer o pintor e não pode amá-la. De maneira que daí não resulta o Divino Espírito Santo e nem nada de parecido.
* Na Santíssima Trindade a glória seria o fruto do fato de que as três pessoas necessariamente se conhecem a si mesmas e às outras duas, se amam e se admiram
(Sr. P. Roberto: E a glória seria o quê?)
Aí não haveria propriamente glória…
(Sr. P. Roberto: Na Santíssima Trindade?)
Na Santíssima Trindade a glória seria o fruto do fato de que as três pessoas necessariamente se conhecem a si mesmas e às outras duas. Se amam e se admiram. E isto é esta espécie de amor e de entendimento, e digamos assim num certo sentido da palavra de culto, que cada uma das duas presta a outra, isto é a glória.
(Sr. P. Roberto: É a tal “clara notície cum laude” aplicada às três pessoas.)
Às três pessoas. Na primeira figura que eu fiz, ela é aplicada à primeira pessoa, O Padre eterno que se ama e gera uma pessoa. Na segunda figura, o Padre eterno e esta pessoa entram num processo de amor. Mas este amor de um por outro e doutro por um, dele procede o Divino Espírito Santo.
É pena que essas coisas não seja explicadas com a clareza competente.
(Sr. Gonzalo: Na Santíssima Trindade, o único que não é fecundo, diz São Luís Grignion de Montfort, é o Espírito Santo, e Ele foi somente fecundo em Nossa Senhora.)
Você pode ter uma idéia criada disso da seguinte maneira: você imagina um grande exército que foi modelado e organizado, etc., etc., segundo a idéia de exército que tem um grande general. E o exército desfila em continência ao general. E depois o general toma o comando do exército e desfila diante do rei. Ou vai para a guerra e leva atrás de si os outros. O general vendo o exército que ele modelou, ele tem em si, no exército, um aumento de amor a si próprio na contemplação do exército.
Agora, de outro lado também, o exército vendo o general compreende melhor qual é a mentalidade de quem o formou a ele, a si próprio, e há uma mistura de alegria por ver no general uma personificação dele. Aí você tem um fragmento disso.
Agora, este mútuo entrain com o general e o exército se amam, se louvam, e estão dispostos a ir para a guerra, e o general avançando na cavalaria o exército vai mais rápido, e o exército indo mais rápido o general avança ainda mais, e a força de ímpeto, de impacto dos dois aumenta, seria uma certa imagem já muito menos adequada do Divino Espírito Santo.
Isso se poderia considerar assim.
Então…
(Sr. P. Roberto: “Pois o Verbo representa e celebra gloriosamente todas as virtudes e perfeições do Pai.”)
Isto. Ele representa mas também celebra. Ele diz ao Pai palavras que glorificam o Pai.
(Sr. Gonzalo: E é preciso dizer.)
É preciso dizer! E depois outra coisa, o dizer não é necessariamente por palavras humanas, Ele diz…
(Sr. Gonzalo: Mas precisa exteriorizar de algum modo, não é ficar “tirolês”.)
Não, não, “tirolês” não.
(Sr. P. Roberto: Mas o Verbo celebra sendo…)
Ele celebra sendo, mas como Ele tem capacidade de se comunicar com o Pai, Ele deve dizer.
(Sr. P. Roberto: “Porém os anjos e os homens por terem um conhecimento criado e pobre de Deus, louvam a Deus pobremente e à maneira de criaturas. Pois em Deus restam resplendores de glória, de dotes e perfeições que os anjos e os homens não conseguem igualar e até mesmo compreender por transcenderem imensamente a inteligência e a capacidade criadas, mesmo dos bem-aventurados.”)
Sim.
* Uma jaculatória para a Bagarre: “Quero realizar essa obra tão perfeitamente, tão intensamente, tão heroicamente que Deus seja glorificado em toda a medida do possível”
(Sr. P. Roberto: “Assim como Deus comunica ao homem uma pequena [porção?] da sua sabedoria e da sua virtude, assim comunica também uma porção de sua glória. Em primeiro lugar comunica-a aos bem-aventurados, donde ser a glória por nós propriamente chamada de glória, e a ela todos devemos esperar não de qualquer modo, mas esforçando-nos por atingir o seu […inaudível]. Porque não deve bastar aos fiéis, principalmente aos sacerdotes e aos religiosos, salvarem a sua alma e assegurarem a glória. Tal é próprio dos ociosos e pusilânimes, mas devem aspirar e esforçar-se por atingir os seus graus supremos, os quais com a graça de Deus, segundo a vocação de cada um, pode se alcançar. De sorte que se igualem aos serafins, aos querubins, ou às dominações, no dizer de São João Crisóstomo.”
(Sr. P. Roberto: Aqui é só aplicação moral.)
É, mas é uma aplicação muito boa. Muito preciosa.
(Sr. P. Roberto: “Em segundo lugar comunica-a aos santos nessa vida, os quais ocupam tanto da sua virtude e santificação, como da dos próximos. E que em todas as coisas esforçam-se para glorificar a Deus. Pelo que o propósito de cada um em qualquer ação, deveria ser o que Santo Inácio, Fundador de nossa sociedade, nos recomenda com palavras e exemplos e como que nos deixou por escrito em testamento: “Ad maiorem Dei gloria”. Diga, portanto, quem quer que seja, para si próprio em qualquer obra: “quero realizar essa obra tão perfeitamente, tão intensamente, tão heroicamente que Deus seja glorificado em toda a medida do possível.”)
Isto é uma jaculatória magnífica!, e que pode servir para nós durante a Bagarre estupendamente.
Mas vocês imaginem por exemplo, que nós ao começarmos uma reunião disséssemos sempre isto, com o Emitte Spiritum tuum, compondo assim uma oraçãozinha. Vocês não acham que seria uma coisa magnífica?
Quer dizer, termos a idéia de estarmos presentes aqui, o tempo inteiro, de um modo que glorifique a Deus o mais possível. Mas o que quer dizer glorifica a Deus?
Seja tão perfeito que se pareça com a perfeição de Deus. De maneira que nossas ações sendo vistas, os outros homens nos glorifiquem e com isso glorifiquem a Deus. Eu acho que é uma coisa…
Quem sabe se valia a pena, você meu filho, me copie esse trechinho depois e aí eu mando bater uns cartões bem arranjados, agradáveis, dignos de manuseio e que se podem distribuir no começo da reunião para todos lerem. Sem embargo que os que quiserem levar consigo, no bolso, etc., tenham outro cartão igual. Mas ter o cartão desse para ser distribuído na reunião… [vira a fita]
* “Qualquer boa obra que negligenciamos, de sua glória privamos não só a nós, mas também o próprio Deus, por toda eternidade”
(Sr. P. Roberto: “… pois a glória de Deus é o princípio e o fim da nossa glória.”)
É isso.
(Sr. P. Roberto: “Pelo que quanto mais pregarmos a glória de Deus, tanto mais aumentaremos a nossa glória, tanto na terra e no tempo, quanto no céu por toda eternidade. Por isso qualquer boa obra que negligenciamos, de sua glória privamos não só a nós, mas também o próprio Deus, por toda eternidade.”
Bonito! Muito bonito.
(Sr. P. Roberto: “Com efeito, tal consideração deve estimular a todos a que não adiem a consecução de nenhuma boa obra, de nenhuma virtude e perfeição, que se possa alcançar com a graça de Deus, pois o que aqui no momento se negligencia perde-se por toda eternidade.)
É isso.
(Cel. Poli: É a seriedade de vida…)
Seriedade de tudo. Tudo é sério! E se tudo não fosse sério seria uma frustração medonha.
(Sr. P. Roberto: “Quanto glória há e haverá por toda eternidade para São Paulo, Santo Atanásio, Santo Agostinho, Santa Cecília, São Sebastião, São Tomás, Santo Inácio, São Francisco Xavier, e para os demais apóstolos, mártires, confessores e virgens! Ambiciona e procura igualá-la.
“Misticamente a glória entre as puras criaturas é como o quinhão próprio na Santíssima Virgem tanto porque Ela é cheíssima de graça e de glória, e contém em si toda a graça e glória de todos os apóstolos, mártires, virgens, homens e anjos, e as transcendem imensamente, quanto porque Ela a comunica copiosamente aos fiéis; porque tal é a vontade de Deus que quis [que] nós só a obtivéssemos por Maria, diz São Bernardo. Por isso os padres celebram a imensidade da glória da Virgem com admiráveis demonstrações de louvor. André de Creta diz…”
A gente fica pasmo lendo o Cornélio, porque entra de repente André de Creta. Quem foi André de Creta? Ele menciona André de Creta com a naturalidade com que você ou eu mencionamos Padre Antônio Vieira. E deve ser um homem que escreveu coisas prodigiosas na Ilha de Creta e que foi célebre em algumas penínsulas da Grécia, e então isso era uma coisa colossal naquele tempo.
(Sr. P. Roberto: “… óh Santa, mais Santa que os santos e tesouro Santíssimo de toda Santidade. Olhando para esse cume imenso de glória, dizia Santo Idelfonso: “assim como é incomparável o que levou em seu seio, inestimável os dons que recebeu, assim são inestimáveis o prêmio e a glória que granjeou, não digo entre as demais virgens sagradas, mas mesmo além de todo os santos.”
Santos e anjos, tudo!
(Sr. P. Roberto: “São João Crisóstomo chama de incomparavelmente mais gloriosa que os serafins. São Pedro Damião mostra a razão pela qual a Virgem é chamada de bela como a lua dizendo: “a Virgem é superior e excede as almas dos santos, dos coros dos anjos, supera os méritos de cada um e o título de todos, seja como for. Que as outras estrelas reluzam, contudo a lua a elas é superior em grandeza e esplendor. Assim a Virgem singular supera ambas as naturezas pela imensidade da graça e pelo fulgor das virtudes”.)
Muito bonito.
(Sr. P. Roberto: Senhor, só deu tempo de traduzir isso.)
É natural. Até me espanto que você tenha conseguido traduzir tudo isso. Agora, você tem cópia disso?
(Sr. P. Roberto: Eu fiz manuscrito por enquanto.)
Se você quiser eu peço para o Gugelmin bater a máquina. Mas se você tiver tempo é melhor que bata você. Pensa um pouquinho.
(Sr. P. Roberto: Como é um trabalho muito grande, eu posso ir copiando e mandando para ele, talvez.)
Está bom.
(Sr. P. Roberto: Porque aí fica mais fácil inclusive para introduzir correções.)
Está muito bom.
Agora, o que valia a pena era a gente pegar dessa reunião, o que interesse, também bater a máquina e pensar… Ficava um trabalhozinho sobre a glória.
* Em Deus a glória não é uma mera relação, ela é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade
(Sr. Gonzalo: Por que razão o senhor estava pensando nesse assunto?)
Exatamente esta noção de que a glória sendo uma coisa tão excelente, não podia ser uma coisa meramente relacional, uma mera relação. Vamos dizer, por exemplo, fulano foi seu colega. Isso é uma relação. Depois pararam de ser colegas, você foi estudar uma coisa, ele foi estudar outra, e acabou. Ficou aquela relação apenas que você teve com ele.
Quando a gente analisa na sua definição, tem a idéia de uma mera relação. Mas quando você vai ver, pela própria excelência dela, ela não pode ser uma mera relação.
Agora, a gente vê o seguinte: que em Deus ela não é uma mera relação, ela é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Quer dizer, pelo que diz aí, eu diria — salvo [melhore judicio?] de um teólogo abalizado etc, etc., — eu diria que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é a glória do Padre Eterno. E que portanto existe uma glória subsistente em si mesma e que não é meramente relacional, da qual são imagens as glórias meramente relacionais que existem entre nós homens. Mas como esta glória meramente relacional tem uma relação com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a glória bem conduzida, de algum modo o aproxima mais da Segunda Pessoa. Está na ordem das coisas.
E então você tendo diante de si uma pessoa cumulada de grande glória, você pode dizer que verdadeiramente em algo não é dizer que ele participe fisicamente, que ele participe palpavelmente da Segunda Pessoa, isso não. Mas ele tem um nexo especial com a Segunda Pessoa enquanto tal.
(Sr. P. Roberto: Toda a questão da monarquia também fica…)
Bem, e em todas as relações convém que apareça com destaque o grau de glória que lhes é próprio, de maneira que por exemplo, na condição de general ou na condição de médico, ou na condição de diplomata, apareçam glórias próprias que se trata de pôr em evidência de modo a glorificar bem o filho que é a matriz e o modelo de toda glória.
* Até a primeira Guerra Mundial, quase todos cargos públicos tinham trajes próprios de glória
E então por exemplo, houve um período em que todos os grandes — esse período foi sobretudo entre o tratado de Viena e mais ou menos fins do século passado, mas ou menos até a primeira Guerra Mundial — em que quase todos os grandes cargos públicos tinham trajes próprios de glória. Os juízes iam julgar com togas próprias, os militares iam servir no quartel com farda própria, o sacerdote com traje próprio. Qual era a necessidade de exteriorizar isto adequadamente?
É a necessidade que há de que a glória intrínseca à cada relação, do juiz com as pessoas que pleiteiem diante dele, advogados, réus, etc., etc. O general com seus soldados, tatatatá, que a tudo isso corresponde uma glória. Por isso também numa família que tenha um mínimo de ordenação, mas um mínimo, o pai não se senta promiscuamente no meio dos filhos, e a mãe também promiscuamente, mas o costume põe uma presidência para o pai ou para a mãe, conforme se queira interpretar a situação, e uma saliência maior junto aos pais, dos filhos mais velhos, e à medida que a mesa vai se esticando, os filhos mais moços. A primogenitura era tão respeitada pelos antigos, que quando Deus mandou as pragas para os animais do Egito, Ele feriu os primogênitos dos egípcios e dos bichos. É uma coisa curiosa.
Então, por tudo isto, uma civilização ruisselante de glórias de alto abaixo até o menor grau, é uma coisa… Por exemplo, os alemães, mais ou menos até a segunda Guerra Mundial tinham um gosto enorme de usar toda a titulatura própria a uma pessoa, que uma pessoa me contou que viu uma carta de correio em cima de uma mesa, dizendo o seguinte: “Senhora, carteiro aposentado, fulano de tal”. Quer dizer, um carteiro aposentado é um mínimo. Mas pode-se ser menos, e no ser menos, na ordem dos carteiros, o carteiro novato é menos em relação ao carteiro aposentado, no ser o primeiro desta ordem existe uma forma de glória. Saber [destrinchar?] a glória própria qualquer coisa, e saber pô-la no destaque, é próprio do Reino de Maria.
E essas coisas todas, só tem nexo com Nosso Senhor. Só valem todo nexo com Ele, porque não tendo nexo com Ele acaba dando em vaidade.
* Comentário sobre uma carta do embaixador francês na Rússia
Eu me lembro uma carta que eu vi de um embaixador da Rússia, para o governo francês. Embaixador da França na Rússia. Dizia mais ou menos isso: “vai haver uma festa, tal, tal e tal, o imperador mandou me convidar para essa festa, mas eu não poderia deixar de ponderar a Vossa Excelência, o quanto o embaixador da França aparece mal aí, porque enquanto todos os outros embaixadores aparecem com fardas chamarré de bordados e ainda com condecorações, uma ordem do governo francês, nos dá a nós embaixadores — era por espírito revolucionário, igualitário — dá-nos a injunção de nunca usarmos nenhuma forma de adorno em nossos trajes. De maneira que quem nos vê pensa que somos de uma empresa funerária que nos mandou comparecer à festa.”
Mas por quê? Porque esta ordem do governo francês, por igualitarismo, despojando o embaixador da França dos ornatos, esta ordem era uma ordem infamante privando de glória a quem, por uma razão profunda que deita raízes na própria Santíssima Trindade, queria e tinha o direito de querer aparecer na glória.
(Sr. Gonzalo: Mas aí é sempre uma glória de relação…)
Sim, mas não mera relação.
* O santo, quando não manifesta a sua glória externamente, Deus se incumbe de cobrir com as manifestações d’Ele
(Sr. Gonzalo: Pessoa se fosse um santo, ele teria a glória intrínseca, mas não seria suficiente…)
Normalmente o santo quando não manifesta a sua glória externamente, Deus se incumbe de cobrir com as manifestações d’Ele. Glorificá-lo. Como fez com Nosso Senhor.
(Sr. Gonzalo: […] mas era necessário essa parte relacional.)
Era indispensável. Não basta.
(Sr. Gonzalo: Senão fica com uma visão meio progressista da coisa de que só vale a glória…)]
Interna.
E para abater a Revolução, é que eu quero essa justificação.
(Sr. P. Roberto: Porque até aqui a glória parecia uma coisa meio atéia…)
Um frou-frou. Laica desde logo. Vaidade.
Então aparece um homem, vamos dizer, respeitável por suas […inaudível], e que vai encomendar a sua vigésima farda de embaixador porque as outras têm se desgastado, e que reclama porque a ponta das folhas de carvalho não está suficientemente bordada a ouro, porque não sei o quê. Fica num velho ridículo. Mas quando se entende que ele está zelando por um princípio ordenativo, ele pode e deve fazer isto à vontade. É obrigação.
(Dr. Edwaldo: São Paulo diz que a vida do homem deve ser um louvor à glória de Deus…)
É isso.
(Dr. Edwaldo: E a coisa deriva daí.)
Pois não. A vida do homem é portanto continuamente fazer algo que dê glória a Deus. Mas inclusive glorificando-se a si próprio. Daí aquela prece de Nosso Senhor: “Glorifica teu Filho”. Há certas horas em que uma pessoa que está segura de não pedir alguma coisa por vaidade, pode dizer: “Pai, glorifica teu filho!”
(Dr. Edwaldo: E pode pecar se não pedir.)
Pode pecar se não pedir.
Quer dizer, é muito bonito, é muito rico em densidade, em toda espécie de coisas.
(Sr. Gonzalo: Na RCR o senhor diz que legitimidade não é fundamentalmente a legitimidade da forma de governo que de si deve ser desejada, etc., mas é aquilo onde em todas as instituições se reflete a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aí então devia se entender realeza como sinônimo de glória.)
Não, a realeza de Nosso Senhor é o mando mais a glória inerente ao mando. Não há portanto uma realeza só com glória e sem mando. E é impossível haver um mando sem glória.
(Sr. Gonzalo: Numa família um pai é legítimo no sentido contra-revolucionário da palavra, na medida em que ele reflete a realeza de Nosso Senhor.)
É claro.
(Sr. Gonzalo: E nisso reflete a glória.)
De tal maneira que se ele servir de suas prerrogativas de pai para combater a Nosso Senhor Jesus Cristo, ele está negando o pátrio poder.
(Sr. Gonzalo: Como que perde a legitimidade.)
Isso, exatamente. Porque onde toda legitimidade está suspensa é nele.
* O que é a glória extrínseca de Deus e a sua razão de ser
(Cel. Poli: Em que medida o homem pode aumentar a glória de Deus? […])
A glória intrínseca de Deus, ele não pode aumentar, a glória extrínseca aumenta.
(Cel. Poli: Mas o que é que vale essa glória extrínseca se para Ele se basta a si mesmo.)
A questão não está bem posta. Porque essa ordem não é para valer, ela existe porque existe. Você toma por exemplo um querubim, belíssimo! Esse querubim porque é belíssimo e santíssimo, ele dá glória a Deus. Ainda que Deus não precise, ele dá glória a Deus. Mas a verdade é que Deus não precisa, absolutamente falando, da glória do querubim, isto é verdade, mas uma vez que Ele criou, Ele não poderia criar um querubim indiferente a que o querubim Lhe dê glória ou não. Porque o querubim, Ele só pode criar para a sua própria glória extrínseca, e portanto, se o querubim não faz isso, a criação d’Ele é mal feita.
(Sr. Gonzalo: Mas em que sentido Deus perde?)
Sim, o caso do demônio, por exemplo.
Com o caso de demônio, satanás, a revolta dos anjos, Ele perde no sentido de que a glória d’Ele extrínseca seria maior se eles tivessem perseverado, e encontra uma reparação no castigo que Ele dá.
(Sr. Guerreiro: Se não houvesse o castigo não haveria essa reparação.)
Não haveria. Essa reparação não é dispensável.
(Sr. Guerreiro: Logo Deus não é indiferente.)
Não, não é, e não pode ser. Porque se Ele se ama a si próprio, e depois se Ela ama aquela criatura, Ele deve querer que aquela criatura o glorifique. Não tem por onde escapar.
(Sr. Guerreiro: Então Deus não sendo glorificado extrinsecamente, Deus criou a Nossa Senhora para que as contas todas ficassem arqui acertadas, não é?)
Arqui acertadas porque Ela sozinha…
(Sr. Gonzalo: O que é esse conceito de extrínseco aí?)
Fora da pessoa de Deus.
(Sr. Gonzalo: Mas não é para ser visto pelos outros…)
Não, de algum modo é para ser visto pelos outros também. Quer dizer, Ele criou mas Ele criou esses seres como fazendo parte de um mesmo universo. E então é necessário que nós conheçamos esse universo. E como o essencial desse universo é que dê glória a Ele, é necessário que nós percebamos como é que esse universo dá glória a Ele.
* Hipóteses sobre a criação de outros universos com seres inteligentes
Agora, o que me parece, sem que eu tenha certeza, mas me parece, é que poderia em tese haver outros universos que nós não conheçamos.
(Sr. Guerreiro: De criaturas inteligentes?)
De criaturas inteligentes, que nós não conheçamos. E que nesse sentido, chegando ao Céu nós tivéssemos uma grande surpresa.
(Cel. Poli: O senhor acha isso…)
Eu não sou propenso a essa tese. D. Mayer sustentava, e em princípio, eu acho que ele tem razão, que Deus poderia fazer várias uniões hipostáticas com outras criaturas. Isso quando ele me disse, eu fiquei pasmo, mas me parece que ele tem razão. Eu não vejo como negar.
Agora, daí não se deduz que Ele tenha feito. Mas também não se deduz que Ele não fez.
(Cel. Poli: E o senhor é propenso a achar?)
Não, eu sou propenso a achar que é o que nós sabemos e nada mais.
(Cel. Poli: Porque senão ele teria que ter outra mãe.)
Em rigor…
Agora, o vocês saberem que essas coisas são possíveis, aumenta a glória d’Ele, extrínseca, pelo nexo que abre com vocês. Isso não é questionável, o que eu estou dizendo.
(Sr. P. Roberto: E o fato d’Ele só ter feito conosco ainda aumentava nosso amor por Ele, seria isso?)
Sim.
Agora, tem o seguinte: para nós é muito difícil de nos colocarmos nessa perspectiva. Mas se nós tivermos a alma bem grandiosa, sabendo que existem vinte outras criações, nós deveríamos nos alegrar ainda muito…
(Sr. P. Roberto: Porque Deus é mais glorificado…)
Ele é mais glorificado e depois nós temos idéia que havendo tantas criações, Ele não tem tempo de pensar em nós. E isso é…. ocasiona o sorriso que você está dando.
Mas é do próprio do homem: “está bom, eu me dou a Ele, mas quero que Ele também se dê a mim, e agora há umas criaturas em saturnos, outras em não sei o quê, outras em universos siderais de que eu não tenho nem sequer noção, eu no meio desse jogo como é que fico?” Para Deus infinito… É como por exemplo um pai… Você imagine que a um pai tenha acontecido o seguinte: ele era um navegador francês de Saint Malo, Bretão, ele era casado, teve vinte filhos. Enviuvou. Mas era desses bretões duros, entrou para a marinha, e esteve nas Antilhas, e por aí por tudo, e depois andou pela Índia, etc., etc., e voltou. Voltou, quando ele desce, ele desce com uma nova esposa, e quatro filhos, com via para cinco. Os vinte filhos que o esperava no cais, podem ter…
(Risos.)
Não preciso completar minha frase. “Quer dizer, papai fica com uma tal filharada que o que é que resta para mim nesse negócio? Esse velho não teria ficado mais ajuizado, ficando sentado aqui em casa conosco, na nossa vida, e não nos enchendo aí de irmãos e irmãs, irmãozinhos e irmãzinhas. E ainda mais. O irmãozinho vem e pendura na nossa calça: “eh, então, você que é fulano é? Ahn, nahnhanhen!, me carrega, eu quero ficar perto de você”
(Sr. Gonzalo: É só conhecendo ao senhor para saber que a coisa não é assim. Porque o senhor tem a capacidade ter mil e mil filhos, e impressionantemente tratar a cada um inteiramente como se existisse só um.)
Mas assim nós devemos ser com os outros e tudo.
(Sr. Gonzalo: Mesmo conhecendo o senhor infelizmente caímos…)
Ahahahah! É capaz.
(Sr. Gonzalo: Mas o senhor bem olhado, é uma imagem extraordinária disso. O senhor pode governar não sei quantas eras históricas e cada um dá tudo. É uma coisa impressionante.)
É, se Nossa Senhora me ajudar sim.
Eu preciso ver um pouquinho a hora, meu caros.
(Cel. Poli: Faltam 2 para as três.)
Se quiserem me perguntar mais alguma coisa, nesses dois minutos eu estou às ordens.
Diga meu Guerreiro.
(Sr. Guerreiro: Pelo que a Revelação nos dá conhecimento, não houve outro universo que Deus tenha criado…)
Não houve.
(Sr. Guerreiro: A julgar pela Revelação não existe. Mas não está dito que Deus não possa criar depois da história humana, outros.)
E durante a história humana, é o que nos moveria mais?
(Risos.)
Se você soubesse, por exemplo, que no auge da segunda Guerra Mundial quando o povo todo estava se contorcendo, e depois Deus mandando castigo, etc., Ele tivesse criando um outro universo na base de um astro maior do que o nosso, com um sol mais fulgurante que o nosso, estrelas lindíssimas e tal, e flores, etc,. e criaturas feitas de corpo e alma, admiráveis, e que não tinham tido pecado original. Que teriam tido descendência e que viveriam num paraíso por aí. E que Ele estava se comprazendo pela sua gente, enquanto Ele aqui apertava [à vontade?]. Nós todos sujos de pecado original, não teríamos certa vergonha de receber esses nossos irmãos?
Imaginem virem essa notícia: vem os homens extraordinários tal lugar assim, mas cuidado, eles nunca viram o pecado, eles sabem o que seria um pecado, mas nunca pecaram. E em certo momento, o céu sideral se abre e eles vão descer cantando. E são 800 milhões deles que vem ficar pela Terra durante três dias. E depois sobem do mesmo jeito. Vejam como é que os tratam.”
Você chega no seu “château” lá, e encontra três deles instalados lá. Vai ver, estão cantando.
(Sr. Guerreiro: E reprovando todos os meus pecados que cometi e o desleixo em que a coisa está.)
Todos nós ficaríamos sem jeito. Como é isso?
(Sr. Gonzalo: O senhor ficaria encantado.)
Encantadíssimo sim, mas me ajoelharia imediatamente.
(Sr. Gonzalo: Mas ficaria muito encantado.)
Muito! Muito!
(Sr. Guerreiro: De repente, na hora da Bagarre, aparece um Homero cantando coisas dessas, então o princípio bom seria que enquanto o senhor não aprovar, são inimigos.)
Ah, sim!
(Sr. Guerreiro: Porque a gente sabe que toda a questão dos discos-voadores tem essa história fascinante por detrás.)
É, e nós não podemos aceitar.
(Sr. Guerreiro: Na história da criação, como Deus nos revelou a nós, não existe. E nós sabemos que o demônio tem essa história para nos seduzir. Então não será nessa hora que Deus criar para aumentar a confusão.)
E depois tem outra coisa, é que se Ele criou, Ele teria o direito de não dizer nada, e nós não conhecermos nada, mas se Ele fez com que nós conhecêssemos, Ele nos criou inteligentes, e criou portanto em nós a necessidade de termos uma explicação sobre quem são eles. E portanto é preciso que eles se apresentem por assim dizer com um passaporte d’Ele.
(Sr. Gonzalo: E esse passaporte tem que passar pela Igreja Santíssima d’Ele que é o novo capítulo da Revelação.)
É isso.
(Sr. Guerreiro: Agora, como a Igreja está no estado em que está, tem que passar pelos crivos de alguém, senão por mais maravilhosos e fantásticos que sejam…)
Pode ser demônio.
(Sr. Guerreiro: Nada de conversa fiada…
Ah, pode ser demônio.
(Dr. Edwaldo: São Paulo deu o critério para isso.)
Qual é o critério?
(Dr. Edwaldo: Ele dizia que se um anjo vem ensinar algo diferente do que eu vos ensinei, não acrediteis. E isso vale em relação ao senhor.)
Em relação a mim?
(Dr. Edwaldo: Sim, porque se aparecer alguém ensinando alguma coisa diferente que o senhor nos ensina…)
(…)
… está abaixo do de Bonald como se fosse miniatura do de Bonald, e pelo que vocês estão dizendo não é. E vocês sabem que eu nunca consegui um livro do de Bonald.
(Sr. Gonzalo: [Diz que o sr. Bernardo informa que depois de uma longa pesquisa em Paris foi encontrado o livro sobre a Legitimidade.])
Otimo! Otimo!
Meu filhos, vamos rezar…
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