Conversa de Sábado à Noite – 4/5/91 – Sábado – p. 6 de 6

Conversa de Sábado à Noite — 4/5/91 — Sábado

O Brasil e seu litoral: uma relação especial entre o homem e a natureza * A graça de Genazzano e a certeza da vitória

* Uma devastação feita pela idade e pela democracia

Poucas vezes eu vi uma coisa representando de tal maneira a devastação da idade do que isto. Eles em moços.

(Sr. M. Navarro: E não é só a devastação da idade, é a devastação da democracia…)

Duque e duquesa de [??]. Ela uma argentina riquíssima.

Vocês podem ter idéia da democracia e do tempo, porque aqui é um camponesão. Olha o rapaz! Aqui é uma velha coroca…

(Sr. Paulo Henrique: De perfil assim o rapaz parece um pouco com D. Bertrand quando era mais novo…)

O rapaz? Talvez é. Mas ele é mais o tipo assim moreno com cabelos pretos, etc. E D. Bertrand é mais alourado. Mas em todo caso eu acho que é uma coisa que a meu ver é impressionante.

(Sr. Gonzalo: É um ensabugamento também…)

Um ensabugamento grosso.

Agora, um castelo. Não é deles, é de outra gente, eu daqui a pouco vou mostrar para vocês quem é. Olhem aqui o castelo. A fotografia é pequena, mas eu considero o castelo uma obra-prima de equilíbrio, de harmonia, e de tudo que possa imaginar. Não sei meu Mário entendido de castelo… A meu ver é uma obra-prima. Agora, olhem dentro, o salão, que salão interessante.

(Sr. M. Navarro: Parece Luis XVIII.)

É Luis XVIII, ele era muito amigo dessa gente. E então autorizou mandarem pintar esse quadro. É o famoso… [defeito de rotação, inaudível].

Agora, uma outra coisa…[inaudível].

(Sr. Gonzalo: Contemporâneos…)

Contemporâneo. As duas últimas […???]. A família termina assim, são essas duas bruxas casadas cada uma com um plebeu.

(Sr. M. Navarro: Uma é casada com Xavir Botana.)

Quem é esse Botana? É algum bilheteiro de cinema pelo qual ela se apaixonou.

(Sr. M. Navarro: A outra, nem fala do marido, diz que tem um filho chamado Iunes. Iunes é nome árabe…)

Ela nem diz quem é o marido, nem nada.

(Sr. M. Navarro: Que horror! Essa é uma grande família…)

Não fica atrás de […], absolutamente. É uma grande família. O nome é muito tradicional, muito bonito. Enfim, são coisinhas assim para mostrar [sicut transit glória mundi], é uma coisa tremenda, ouviu?

* Nossa Senhora do aviso e a preparação para a morte

Então, e aqui é uma coisinha que eu mandei vir de Portugal, é uma devoção que há lá, que é muito bonita, Nossa Senhora da Ajuda. Se vocês quiserem levar uma medalhinha tem aqui. Aos que usam essa medalha tem uma promessa de Nossa Senhora de ser avisado antes da morte para poder se preparar.

(Dr. Edwaldo: É Nossa Senhora do aviso.)

É Nossa Senhora do aviso.

(Sr. Gonzalo: Que tragédia o senhor ficar resfriado…)

É um resfriado muito obstinado, o que é que a gente pode fazer. Bom, estamos aí, estamos na batalha.

* Quem quiser conhecer o Brasil, precisa conhecer o litoral

(Sr. Gonzalo: O mar lhe mandou muitas saudades.)

Que tal o mar? As descrições que me tem sido feitas são das mais entusiasmadas, ouviu.

(Sr. Gonzalo: O senhor precisa tirar umas férias desses miseráveis e descançar um pouco…)

É, mas isso aí é só no momento que não tenha assim na eminência algum caso.

(Sr. Gonzalo: É um litoral lindo. O senhor conhece melhor que nós…)

Não, eu conheço menos do que vocês o litoral.

Aliás, quem queria conhecer o Brasil, tem que conhecer o litoral.

(Sr. Gonzalo: A primeira coisa é mostrar o senhor e depois o litoral…)

(Sr. M. Navarro: São três coisas: Plinio Corrêa de Oliveira, o litoral e sorvete de frutas brasileiras.)

Ah, ah, ah! Mas o litoral [lesgas] eu conheço, e essas [lesgas] são admirabilíssimas, isso não tem dúvida nenhuma. Mas objeta o Fernando que o litoral do Oceano Pacífico é muito mais bonito, que tem um mar muito mais bravio…

(Sr. Guerreiro: O mar é mais imponente.)

(Sr. Gonzalo: O mar é muito bravo. Mas a psicologia do povo brasileiro está muito bem representado pelo modo como o mar cai no litoral…)

O mar é uma beleza! E depois o que você diz, os movimentos do mar, etc., etc., são extraordinários. Agora, disse-me o Luizinho, foi o único dos que foram lá e que me contou isso, que tem na praia umas casinhas, últimas coisa de feias e monstruosas. Isso é verdade? Ou é pessimismo dele?

(Sr. Gonzalo: Eu acho que ele está defazado completamente. Ele pensa mais ou menos no tempo em que ele era menino e que as pessoas construíam casas muito boa, etc. Isso já não é mais assim. […] Seria muito bom o senhor ir para lá…)

Eu tenho vontade de ir, mas ir levando preocupações não vale a pena. É preciso que as preocupações se tenham aquietado para a gente poder ir de boa vontade, porque do contrário a gente vai mais para distrair os outros do que para distrair a si próprio. Porque então a gente além da preocupação ainda tem que estar animando os outros.

(Sr. P. Roberto: O senhor pode ir para a Bahia e levar o senhor Guerreiro…)

Isso meu filho, que tal?

(Sr. Guerreiro: A Bahia já não é mais a Bahia…)

(Sr. P. Roberto: Mas o mar parece que ainda é o mesmo.)

* Há uma relação entre o homem e a natureza difícil de explicar

(Cel. Poli: Mas a natureza sofre um pouco com os pecados dos homens.)

Em que sentido?

(Cel. Poli: Certas graças que dão um colorido especial, avivando os recursos naturais…)

(Sr. M. Navarro: Por exemplo o Rio não tem nada…)

Não tem, não tem. É uma tristeza mas é isso mesmo.

(Cel. Poli: Uma coisa curiosa, eu sinto que montar a cavalo hoje não é a mesma coisa que quando comecei a montar a cavalo. Há uma coisa de enjolrático inclusive nos cavalos.)

A gente sente… A Mme. Babinet quando esteve outro dia aqui, estava contando que ela, o marido e o Nelson Fragelli não noite de Natal foram passear um pouquinho, ver a cidade de Paris nos reveillons, etc., etc., e depois então resolveram voltar. E no caminho passaram pelo Champs Elisée, é o que há de central em Paris. E que para noite de natal — é compreensível —, disseram eles que é a rua mais prestigiosa de Paris para a noite de Natal, porque estão os melhores reveillons, etc., e tal.

Quando eles entraram no Champs Elisée sentiram uma coisa mudada. Foram prestar atenção e no sulco central da Av. que tem muitas sulcos, muitas pistas, se quiserem, na pista central, mas larga, por sua vez mais prestigiosa, tinha um povo estranho, eles não sabiam o que era. Pararam, perguntaram uma pessoa, um agente de segurança, etc., o que era, ele disse: “Ah, não, esses são russos e poloneses que vieram se estabelecer aqui, porque não conseguem mais viver na terra deles”. Calculem um pouco a coisa. E então, disse a Mme. Babinet que durante alguns dias ouvia-se falar russo e polonês um pouco por toda parte no centro de Paris. Depois, provavelmente, eles — isso é comentário meu agora — a polícia foi dispersando isso pelo território francês e a França engoliu essa primeira horda de bárbaros. Mas depois, naturalmente vem outras.

Quando vierem, a natureza francesa vai perder alguma coisa, já não será a mesma coisa. É uma relação muito difícil de explicar entre homem e natureza, mas que existe.

Por exemplo, o Gonzalo falava da anologia entre o mar aqui, e o modo de ser dos brasileiros. Não é dizer que foi vendo o mar que os brasileiros ficaram assim, porque eles olham pouco para o mar. Quando vão para Santos, Guarujá, Rio de Janeiro, para o que for, eles estão olhando para a imoralidade; a atenção deles é essa. Eles olham muito pouco para o mar, para tudo mais.

Por que que é?

Eu não sei se Deus faz entrar os povos nos quadros próprios da natureza deles, se há um desígnio da Providência, não sei o que que é, mas existe isso realmente. E essas harmonias se quebram, de repente, com castigos e tal.

(Sr. Gonzalo: O senhor não poderia tratar sobre os planos da Providência a respeito do Brasil. […] Há certo tipo de pecado de Revolução que no mar não se cometeu…)

É isso, é isso.

(Sr. Gonzalo: Concretamente aqui se nota isso…)

(…)

* Marechal de Villars em Versailles

com a bala no pé e com as ataduras, etc., que vocês podem imaginar. E Luis XIV destinou a ele um apartamento em Versailes — antes de ganhar essa batalha ele era de segunda classe em Versailles, mas segunda classe — e o rei ia todo o dia visitá-lo. Terminava o almoço, era clássico, ele ia visitar o Villars. E diz o Saint Simon que o Villars escarafunchava a doença para não sarar logo para o rei fazer muitas visitas a ele e crescer o prestígio. Isso é maldade dele. Ele não gostava do Villars nem sei porque.

(Cel. Poli: Mas a fraquesa humana…)

Ah, não sei!

(Sr. Guerreiro: Ainda mais naquela época.)

Você pode fazer idéia. Eu não sei, eu não sei. Mas o fato é que ele dizia isso. Mas então pode dar-se em uma coisa dessas, mas não é esse o nosso caminho.

* A graça de Genazzano e a certeza da vitória

(Sr. M. Navarro: O senhor sempre teve essa certeza da vitória, no que que a graça de Genazzano acrescenta à certeza da vitória?)

É o seguinte. Eu tinha muito receio de que as várias derrotas que eu estava tendo, fossem ocasionadas por infidelidade minha, e que por causa disso, acabaria não tendo a vitória, porque eu tinha certeza da vitória se eu andasse bem, mas quem sabe se a vitória não viria porque eu não estava correspondendo à graça?

(Sr. M. Navarro: Era uma certeza condicionada a correspondência à graça.)

É isso. E a graça de Genazzano acrescentou isto: “Você fará isto”. É tudo muito compreensível. Ou eu me engano muito ou é muito lógico, muito razoável.

Bem, meus filhos, eu preciso ver um pouquinho a hora.

Enfim, assim são as coisas.

(Sr. Gonzalo: Tudo o que o senhor pudesse comentar na linha do bom espírito, eu acho que seria pouco…)

O bom espírito… (…)

* Um sentido interior que nos fala com uma força de persuasão divina

Muita gente eu acredito que perca a fé por causa de um raciocínio do seguinte gênero: “Eu entro numa igreja, fico muito impressionado, etc., etc., mas isso não é um argumento, e qual é a prova que tenho de que a fé católica é a verdadeira?” E então começar um bambolear interno extremamente perigoso, porque o sujeito não sabe responder a dificuldade que passou no espírito dele, mas ele sabe que o que ele vê é verdade. Isso supõe da parte dele, uma boa fé verdadeiramente rara, para ele dizer: “Não senhor, isto é assim porque eu creio que é assim, e não preciso argumentação. Ainda que eu esteja vendo a argumentação de modo turvo, eu creio porque eu estou sentido isto assim”.

(Sr. Guerreiro: Por que que nesse caso os sentidos prevalecem sobre a razão?)

Não são os sentidos, é um sentido interior que nos fala com uma força de persuasão divina. É diferente do sentido de vista olhando para essa cadeira, por exemplo. Então a cadeira está aqui… Vamos dizer assim: São Tomás tem esse princípio que, aliás, se usa muito na linguagem corrente, contra o fato não valem os argumentos. Quer dizer, eu estou vendo essa cadeira, você pode me dar cinco mil argumentos que essa cadeira não está aqui, eu tenho um fato, ela está aqui e está acabado.

Bem, então contra o fato interno que me fala coma voz de Deus, dizendo-me, fazendo-me sentir por uma espécie de experiência interna que Deus me disse isto — foi o caso da graça de Genazzano — eu tenho ali uma certeza que vale contra qualquer argumento. Em certo momento o [argumento “eu vencerei em certo momento” é secundário]. (…)

certo sentimento de uma tal instabilidade que a pessoa se sente meio orfã nessa instabilidade. E eu queria dizer uma coisa a respeito porque vem muito a propósito, e é o seguinte:

Vocês sabem bem que a gente pode cultar a Nosso Senhor, Nossa Senhora, etc., enquanto tal coisa de sua vida. Então vamos dizer, por exemplo, eu posso cultuar Nossa Senhora enquanto Ela disse ao filho d’Ela no templo: “Meu filho, porque fizeste assim, eis que teu pai e eu aflitos te procurávamos?” É um episódio a perplexidade de Nossa Senhora naquela ocasião, ou a perplexidade de São José a propósito de Nossa Senhora, etc., eu posso cultura a São José enquanto tendo sofrido essa perplexidade, etc.

Bem, então eu também posso cultuar o meu anjo da guarda sobre este aspecto, aquele, aquele outro. Mas o anjo da guarda se ele tem — é claro que ele tem — mas se ele tem uma missão especial junto a mim, a missão é sobretudo essa de ajudar a resguardar a minha alma em escorregadela dessa natureza. Você compreende que não tem sentido o anjo da guarda velar para que o elevador não caia quando vocês descerem, que eu acredito que isso se dê algumas vezes, etc., mas nesse ponto ele não verá que é o ponto sensível da vida.

(Sr. Gonzalo: Esse ponto é o bom espírito?)

Do bom espírito, do flash, etc. E então nós devemos pensar, quando nós pensamos na precariedade, na debilidade de nossas almas dentro desse panorama que cada um tem um anjo que acompanha continuamente e que a gente rezando a esse anjo, ele nos poderá proteger e chamar atenção, etc., impedir que o demônio venha, enfim, dar-nos ajuda de toda ordem nesse ponto, que é muito melhor do que se tivéssemos um diretor espiritual permanente, ou qualquer outra coisa, porque é um anjo transbordantes das graças de Deus e que nos fala. E que tem uma missão divina de nos acompanhar.

Bem, agora, nós devemos lembrar que esta atitude do anjo é uma atitude de batalha, que ele está dentro de nossa alma defendendo-a como um guerreiro medieval poderia estar no alto de uma torre defendendo a torre, porque ele está continuamente atuando contra o demônio que está querendo tomar conta de nossa alma, e que, portanto, nós devemos invocar o anjo da guarda enquanto tendo sido um guerreiro na batalha no céu, enquanto ele lutou e ajudou a pôr para baixo os demônios, e pedir a ele que por aquele lance magnífico da vida dele, por onde ele foi chamado, ou ele foi aceito como anjo de luz e não se tornou um anjo de trevas, em que ele por assim dizer passou por uma provação como nós passamos, que ele nos ajude a nós outro, para nós andarmos bem como ele andou.

Eu acho que numa reunião em que eu apresentei tantas dificuldades, etc., isto é capital para que a gente saia da reunião com o estado de espírito que deve ter, e que valeria a pena vocês, portanto, terem isso muito em vista, e rezarem muito ao anjo da guarda neste sentido.

(Cel. Poli: É uma nova era na devoção aos anjos da guarda…)

Ah, uma nova era! Uma nova era. E eu me recriminaria a mim mesmo se eu fosse dormir sem dizer sito. Porque eu vejo que vocês ficam entregues as brumas de seus problemas interiores, e com uma pergunta assim: “Mas como é viável que eu, de repente, não falseei o pé nesse negócio”. Pode ser que um ou outro de vocês cheguem a dizer: “Se eu já falseei alguma vez, por que que não vou falsear segunda? E eu estou com 40, 50 anos, quantos anos eu tenho para viver ainda? É vantagem viver nessas condições?”

É uma pergunta que pode vir, mas isto que eu estou dizendo do anjo da guarda enviado de Nossa Senhora e destinado a isso, é uma coisa muito bonita, que eu nunca vi ser dita mas que me parece evidente que é assim.

* A ação protetora da Senhora do Quadrinho

(Sr. Gonzalo: E o papel específico da Senhora Dona Lucilia..)

Muito, muito! Então peçam a Senhora do Quadrinho que tem de tal maneira uma ação protetora nesse sentido, peçam ao seu anjo da guarda. Não é? E aí nossa reunião fica concluída, fica terminada. E podemos ir descançar.

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