Conversa
de Sábado à Noite – 18/8/90 – Sábado
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Conversa de Sábado à Noite — 18/8/90 — Sábado
O papel dos fatores naturais e sobrenaturais na cambiante marcha da Revolução * A batalha imponderável na Comunhão dos Santos * A TFP, uma potência
(Sr. Guerreiro: Dado os comentários do senhor hoje, na Reunião de Recortes, a propósito do refluxo na crise do golfo Pérsico, pareceria que o eles terem parado nessa semana indicaria a incerteza grande que eles teriam de tirar frutos dessa nova empreitada. Ao que parece Nossa Senhora estaria obrigando a eles a voltarem para o campo de batalha do qual estavam fugindo. Isto é realmente assim? Por que é que eles estão com receio desse anti-miserabilismo que os impede de continuar aquele lance que seria a fuga do campo de batalha no qual o senhor estava engajado na luta com eles, e eles então sentem que no tal miserabilismo as coisas estão com muita dificuldade de êxito? Como o senhor vê esse quadro? É assim? Há uma interferência de Nossa Senhora? Na semana passada o senhor dizia que a questão principal é ver para onde é que sopra esse vento.)
* Alguma coisa mudou o jogo no tabuleiro
Eu acho que talvez seja assim, mas que pela própria natureza esse estilo de realidades é mais ou menos em torre. De vez em quando a gente pode sentir algo que procede da torre: será um fogo de artifício, será um cântico, será um barulho de gente que briga dentro, o que for, a gente não sabe distinguir bem de que andar da torre isso se dá.
Assim também é esse tipo de realidade que nós devemos tratar. Porque eles têm mais ou menos pelo mundo inteiro gente, olheiros que ficam vendo até que ponto as almas estão flectindo para dar no miserabilismo, para concordar com o miserabilismo. E é uma coisa muito triste de dizer, mas é assim: eu tenho impressão que essas pessoas incumbidas disso têm uma espécie de discernimento dos espíritos diabólico. Quer dizer, eles não discernem, mas o demônio exerce sobre o sentido deles umas determinadas faculdades excitantes, que os levam a perceber melhor as coisas do que perceberiam se o demônio não os ajudasse. Sem falar que o demônio conta coisas para eles. Naturalmente, o demônio está ao par de tudo.
E eles podem receber o aviso de que, por exemplo, nos Estados Unidos, eventualmente a dois passos do bureau, um certo quisto se estabeleceu, que eles sabem que, se se levantar a crise miserabilista, é capaz de tal atitude que vai tomar tal coisa assim, assim.
E um fato assim, sobretudo se vier de várias partes do mundo fatos assim — houve isso nos Estados Unidos, houve na Alemanha aquilo — enfim, todo o termômetro mundial da apetência miserabilista passou por movimentos. E que houve alguma coisa que mudou o jogo do tabuleiro. E como eles estão querendo pular em cima na primeira hora possível, eles devem se conter muito para não pular antes do tempo. E que isso vem de coisas imponderáveis.
* A batalha imponderável na Comunhão dos Santos
Nessas coisas imponderáveis não tem dúvida nenhuma que exerce um papel muito grande, na ordem da Comunhão dos Santos, as almas que se sacrificam, que se oferecem, e que obtêm portanto maior resistência contra o miserabilismo; e as almas, pelo contrário, que pecam, que prevaricam, e que por casua disso na ordem da Comunhão dos Santos, naquilo que São Tomás de Aquino chama o “corpo místico do demônio” — que fica fora da Comunhão dos Santos, mas eu digo nessa ordem de realidades em que a Comunhão dos Santos é uma realidade — nesta ordem de realidades no corpo místico do demônio se passam coisas de pecados de almas às vezes muito amadas, e que simplesmente foram menoms generosas, e que já isso bastou para que esse equilíbrio precário se perturbasse.
Como podem também ter concorrido para isso fatos como este que você mencionou. Agora, o que fica extremamente difícil é dizer qual desses fatos, de qual dos andares dessa realidade — eu estou falando em andares subterrâneos e andares que vão para o céu — em qual dos andares operou-se um fato decisivo, se é que é só um fato que determinou isso, se não foi uma cadeia de fatos.
De onde a minha dificuldade muito grande em dizer alguma coisa a esse respeito. Eu compreendo que seria muito mais animador se nós pudéssemos fazer cálculos como esses. E esse é uma hipótese válida, é uma hipótese perfeitamente válida. Mas, não seria sério de minha parte, tendo esse panorama sobrenatural e preternatural todo em vista, não fazer esse acréscimo que é fundamental. E que faz com que no fundo eu tenha, graças a Nossa Senhora, uma certa conformidade com os reveses, e uma esperança nos reveses, e uma alegria muito grande nos êxitos, porque sei que isso representa vais-e-vens de uma luta que eu acho que se desfere mais nesses transfatos do que nos fatos que estão no nosso nível.
O que não isenta que nós lutemos em nosso nível em toda a linha do possível. É uma coisa evidente. Mas, há coisas assim que pesam na balança enormemente, e que a gente tem que tomar em consideração.
* Freiras “Capelanas” na Espanha
Daí, exatamente, o negócio de eu estar me tornando cada vez mais assíduo em pedir ao Grupo da Espanha capelanas. Porque são pessoas assim que podem obter para nós as realidades que nós imaginamos.
Veja, por exemplo, o seguinte. Eu quis muito essa viagem… (…)
* A TFP, com mil pessoas, uma potência; Por quê?
…rezar nesse circuito das igrejas, e nós vimos, quando passamos ali pelo Pacaembu, mas estava, não no Pacaembu, alinhados na Avenida Pacaembu uma séria enorme de ônibus…
(Sr. Gonzalo: Protestantes.)
É, protestantes. Mas, percebia-se, pelo todo, que era uma manifestação, e uma manifestação protestante. Mas, que levou um mundo de gente para lá. E como eu estava com pressa de terminar as minhas orações, etc., eu não me detive naquilo, a não ser quando na volta passei de novo por lá, e então perguntei… Eu vi que o Fernando e o Arnolfo falavam baixinho atrás, e eu não ouvia bem. Falando baixinho para não me incomodar, porque eu estava rezando. Eu não ouvia bem. Então perguntei o que era. Disseram-me: “É um concentração de Testemunhas de Jeová”. Eu disse: “Qual é número de ônibus que tem aí?” Eles disseram: “Nós contamos tantos ônibus”.
- “Está bem. Esses ônibus contêm quantas pessoas? Vocês estão calculando que é um público de mais ou menos quantos aí dentro?”
Mas eu estava vendo que era o tipo de movimento com dinheiro norte-americano à vontade, e que transportava o total dos seus efetivos para lá, porque não se via ninguém chegando a pé, como existe em partida de futebol mais birichinas, vem gente a pé cantando, não sei mais o quê, etc., mas vem a pé. É tudo de ônibus. Isso é dinheiro a rodo, não é? E eu creio que muitos desses ônibus eram mesmo deles, nem eram alugados.
Eles calcularam oito mil pessoas. Eu considero oito mil pesoas para o ambiente do Estádio do Pacaembu muito pouco. Considero uma presença poca. Mas, me veio ao espírito o que seria uma reunião de oito mil pessoas, da TFP, oito vezes o que tivemos! Eu proclamei outro dia no Auditório São Miguel que a TFP era uma potência. Todo o mundo se levantou, aplaudiu muito, etc., etc. A TFP é uma potência. O que é que acontece que as Testemunhas de Jeová não são uma potência?
(Sr. Gonzalo: Os jornais dizem que eles encheram dois estádios — Pacaembu e Morumbi — com 280 mil pessoas.)
Mas, você está vendo…
(Sr. Mário: Apenas reforça o argumento.)
Reforça com lente de aumento, telescópica.
(Dr. Caio: O jornal dá uma fotografia do estádio muito vazio.)
É, mas é evidente. Eles mentem!
(Sr. Mário: De qualquer jeito, são muito mais numerosos do que nós.)
Não tem comparação. Oito vezes o nosso efetivo, na pior das hipóteses. E depois, outra coisa: muito mais do que oito vezes. Porque oito vezes tinha no Pacaembu. Se eles tinham no Morumbi também, não é temerário calcular que tinham outro tanto no Morumbi, que eles dividiram em dois estádios. Não é temerário calcular isso.
Agora, você calcule 16 mil deles, e mil nossos. Nós não chegamos a 1.500, mas vamos conceder de lambuja que cheguemos a 1.500. Você comparece uma coisa com outra, é verdade que a TFP é uma potência, e é verdade que eles não são uma potência.
(Dr. Caio: Eles são um zero à esquerda.)
Eles são um zero à esquerda. Mas, por que é que é?
Vocês vão ver aí a conjunção dos fatores naturais e sobrenaturais, se quiser também preternaturais. Mas os naturais. Dos naturais há o seguinte.
* Os protestantes sem nexo com a cidade
Eu sinto à distância, eu vou dizer a vocês e tenho certeza que vocês vão concordar comigo. À distância nós sentimos que se dá o seguinte. Eles não são pessoas tiradas do contexto comum da cidade de São Paulo. É gente esquisita, que vive em não sei que escaninhos de coisas, que não tem ligação com ninguém, que é avulsa, que não está no contexto da população da cidade, é gente que eles trouxeram do interior, gente que nem é Testemunha de Jeová, e que eles estão pagando viagem gratuita a São Paulo com refeição, e volta de ônibus ao seu Jundiaí de partida, ou de seu Santos de partida, desde que venham para a manifestação. Uma porção de coisas assim.
Mas, não se sente aquela garra que produz no Viaduto quando vem gente que é a nossa, e ainda que não seja gente — muitos são de fora — apesar disso a gente sente que é gente que é farinha da mesma pipa que o pessoal comum da cidade de São Paulo. E que, por causa disso, tem garra com eles, forma um todo com eles, e que o tecido a que eles pertencem leva um solavanco quando nós puxamos. E quando as Testemunhas de Jeová puxam, é como se puxasse aquela cortina e não nos puxasse pelo nosso paletó. Puxa a cortina…
(Sr. Mário: Não entra também o fato de que a TFP participa do carisma da Igreja?)
Daqui a pouco eu vou passar para os carismas. Eu quero tomar os fatos apenas naturais.
* A TFP puxa a parte “caput” da sociedade
Agora, uma outra coisa que nessa primeira linha pesa indiscutivelmente é o seguinte. O pessoal que tem um nexo normal com a sociedade de São Paulo, ou é nas respectivas cidades o equivalente ao pessoal que tem nexo com a sociedade de São Paulo, esses fazem com que a TFP seja uma mão que puxa a parte caput da sociedade. Por assim dizer puxa a sociedade não pelo paletó mas pelas orelhas!
E este fato cria no ambiente social mais alto uma espécie de convulsão e de mal-estar, por ser um cisma da sinagoga deles, de gente nascida nessa sinagoga, e que mete um pontapé na sinagoga e que canta o Credo em público. E isto os agarra. E se fosse a TFP só a boa e querida gente da Saúde e equivalentes, não teria essa garra na cidade. Quer dizer, nós somos como um taco de bilhar que tem na ponta aquela coisinha para bater na bola acertado. Enquanto os outros, se continuam a jogar, são um taco de bilhar talvez maior que o nosso, mas quebrado na ponta, e é que com a ponta quebrada que procura fazer funcionar a bola.
Bem, e isto faz com que, porque tem essa ponta, a TFP no seu conjunto faz movimentar mais a cidade no seu conjunto, do que se tivese 16 mil pessoas.
* “Le savoir-faire” da TFP
De outro lado tem, na ordem natural ainda, o faire da TFP. Quer dizer, a TFP conhece como é que as coisas deveriam fazer-se para serem como essa gente alta acharia que as coisas deveriam ser se eles fossem direitos. E o fato de fazer assim dá uma garra a mais dentro dessa linha, e que aumenta ainda a nossa eficácia no fazer.
* Afrontando de igual a igual!
E isso faz com que eles se sintam mais ou menos afrontados de igual a igual, que é o que eu toda vida quis: é afrontá-los de igual a igual. Eles se sentem mais ou menos afrontados de igual a igual. E com isto muito falantes, muito “maffiantes”, muito contestantes, etc., etc. Com a Testemunha de Jeová eles olham para aquilo e… “hãããã”… Fica no ar, e não ligam. Ainda que eles leiam a notícia do jorna que são 200 mil, eles não fazem a crítica se foram 200 ou não foram. Fica aquilo tudo no ar. Não lhes diz respeito. E nós dizemos respeito a eles. Isto é o fator natural.
* O papel da capa na “garra” TFP
Por exemplo, se não tivéssemos as capas a nossa repercussão natural seria muito menor. Mas as capas feitas como são, com as cores que são, do tecido que são, para a simbologia deles, embora eles falem mal, eles sabem que é acertada. E tudo isso lhes deixa o mal-estar que vocês podem imaginar.
* A “coitadosa” milita do nosso lado
Isso posto, são fatores naturais. Acresce a esse fator natural o fator de que toda causa pela liberdade de alguém, ainda mais no povo brasileiro, dá pena, estão de acordo, é claro, onde é que se viu, também não pode ser assim, etc., dá uma coitadosa que na ordem natural milita do nosso lado.
A gente vai ver, tudo isso é indispensável, nós temos conseguido amontoar o acervo — porque isso já é uma verdadeira máquina de psy-combate — esse verdadeiro acervo de coisas de psy-combate ao longo dos anos, dos tempos, e burilando, acrescentando, etc., Nossa Senhora nos ajudou a fazer isto, está tudo muito bem.
* Uma espécie de “D. Bertrand coletivo”
Mas, é indiscutível que nessa campanha houve fatores sobrenaturais de ordem muito mais alta, e que deram à campanha um alcance muito maior do que todos esses fatores prometeriam, ou poderiam proporcionar. É curioso vocês verem aí a Teologia como joga certo. Segundo ela, se nós não tivéssemos utilizado esses fatores naturais, a simples graça não nos ajudaria. Mas, uma vez que, movidos pela Providência, os fatores que estavam a nosso alcance nós soubemos utilizar, dispor adequadamente, vem a graça e coloca muito mais por cima disso.
E vem uma coisa de que, em última análise, a TFP nessa campanha fez o papel de uma espécie de D. Bertrand coletivo, de uma outra natureza, de um outro gênero, de uma outra coisa, mas foi isso. Somando e subtraindo foi isso.
* A nota de alegria em torno da campanha
Eu estava dizendo hoje que, quando essas coisas tomam distância a gente mede melhor. É uma coisa inegável que em torno das bancas flutuava uma muito discreta atmosfera de alegria. É certo. [Uma alegria] que nos inundava a nós, e a eles também. Quando eles vinham participar, eles tinham um golezinho dessa alegria. Eles de longe pressentiam que iam ter essa alegria, e vinham assinar para poder beber essa gota de alegria nas almas sedentas deles.
Também tinha uma outra coisa que eles sentiam, que era confusamente um valor mais alto que se levantava, com uma fórmula certa para muita outra coisa. E que, portanto, para muita outra coisa valia a pena assinar do lado desse fator. E esses dois fatores tão atuantes, esses dois fatores não atuam sempre em igual proporção nas nossas campanhas.
* O receio de um “déploiement” da ação da TFP levou-os ao recuo
(Sr. Gonzalo: E o senhor está omitindo um terceiro fator, mais importante, que são as referências constantes ao senhor.)
Muito mais do que nas outras campanhas.
(Sr. Gonzalo: E com uma mudança de clave, pois eles não se referem mais ao professor inteligente, etc., mas ao homem providencial, singular, etc.)
O que antigamente não saía. Agora, eu pergunto: os olheiros deles, que sabem ver essas coisas, e que naturalmente viram essa campanha, que os olheiros deles sentiram ou não sentiram que isto vinha, e que ficaram com medo de, dando uma chacoalhada, esse fator que estava se manifestando, se manifestasse em grau ainda maior? Donde, a retração.
(Sr. Gonzalo: No caso do Iraque, o senhor diz?)
No Iraque. Quer dizer, podem ter se somado a isso outros fatos. Mas esses fatos não teriam sido fatos dispostos por eles porque ficaram com medo de uma coisa que eles nunca viram? Depois, o demônio sabe acompanhar as coisas. Ele soube ligar perfeitamente a viagem de D. Bertrand com isso tudo. E viu, portanto, que isso representava um déploiement, um despliegue da ação de Nossa Senhora em grau muito alto. Então não teriam tido receio?
Vocês vejam o seguinte… (…)
Tudo isso está ligado à Comunhão dos Santos, e a coisas meio milagrosas, junto com coisas prático-práticas e concretas para tomar em consideração, tudo junto.
(Sr. Guerreiro: Com a Perestroika pelo meio.)
Com a Perestroika pelo meio e tudo o mais.
(Sr. Guerreiro: E na Rússia existe já um movimento querendo restaurar a Monarquia parlamentar.)
Ah, sim! Eu ia ler isso hoje mas não tive tempo. Ia ler.
* Repercussões da viagem de D. Bertrand na Itália
Meus caros… Eu tenhoa ainda uma parte das minhas orações por fazer…
[Nossa Senhora!]
Mas, descansei mais do que com duas horas de sono. Porque simplesmente essa hipótese me encanta.
(Sr. Mario: O Arquiduque Martin comentou depois que ele tinha ficado muito favoravelmente impressionado com D. Bertrand, apesar de todas as “máffias” que ele tinha ouvido, e que eram muito intensas. O que ele deixou muito claro.)
Não, e depois vê-se bem que é o Otto. Tio dele, e que mexe todos os pantins, não é?
(Sr. Mario: Ele faz críticas ao irmão, Laurentz, e ao Otto também.)
Agora, um problema: como fazer o Arquiduque Martin desenvolver essa reação?
(Sr. Mario: E como resolver o problema do Coda, que está doido para ser o elo de ligação entre o Arquiduque e o senhor.)
Ser o hifen entre o Arquiduque e nós… E mais ainda: falta de melhor, não se pode destruir o Coda sem mais nem menos. Embora o Coda queira nos destruir. Até lá vão as coisas. O Mário não gostou… Não é para gostar mesmo!
[Orações finais.]
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