Conversa
de Sábado a Noite (1ºAndar) – 3/3/1990 –
Sábado [JC 12] [Jorge Doná] – p.
Conversa de Sábado a Noite (Alagoas, 1ºAndar) — 3/3/1990 — Sábado [JC 12] [Jorge Doná]
(Sr. Guerreiro Dantas: A raiz do MNF de quinta-feira, onde o senhor comentou como foi se operando desde menino a união transformante do senhor com a Santa Igreja, o senhor poderia desenvolver um pouco o seguinte: isto visto dos olhos de Deus, de Nossa Senhora, que deu isto ao senhor, e não poderia olhar um pouco está graça de frente, e falar um pouco de como o senhor se sente unido a Nossa Senhora, o como o senhor vê que Nossa Senhora se uniu ao senhor, para explicar que tudo isso seja possível?).
*Como o Sr. Dr. Plinio conheceu a Igreja.
Eu preciso começar, assim de passagem, é apenas por causa da correção da expressão, preciso começar por dizer o seguinte: “Quando eu conheci a Igreja”. O que é que é o conheci a Igreja, propriamente?
É quando eu me dei conta de que existia uma coisa chamada Igreja, mas já estava no que me rodeava, e que eu estava dentro. Quando eu a conheci, a conheci como algo dentro do que eu estava. Seria mais ou menos como uma criança que está numa casa com muitos quartos, muitas salas, etc., etc. em certo momento uma sala lhe chama a atenção ela analisa etc., etc. Pode-se que ela conheceu a sala nesse momento. Porque antes ela corria por ali, não dava maior atenção. Mas quando ela conheceu a sala, já conheceu como sendo sala da casa dela, e ela era criança daquela sala.
Foi assim que eu conheci a Igreja. Quer dizer, já como filho dela, e batizado, etc., etc. quase se poderia dizer que, como eu ia gradualmente conhecendo mamãe, assim também eu, em certo momento, abri os olhos para a Igreja, e já tinha, por assim dizer, certos dados primeiros que tinham antecedido ao momento em que eu a conheci, e que eram dados –– que eram graças –– e que em certo momento se imbricaram para formar um todo.
Quer dizer, eu já tinha o conhecimento de uma serie de coisas, mas não tinha formado ainda um todo. Eu compreendi ai que aquela coisa chamada Igreja, que começava a me chamar à atenção, era o centro e o foco de profundidade, de irradiação de tudo isso, etc., etc.
*Só no choque com a Revolução percebeu que o enlevo que tinha pela Igreja, só ele tinha.
Agora, essa cognição assim da Igreja me levava, no primeiro tempo, no tempo de antes do Colégio São Luiz, portanto no tempo da inocência despreocupada, não militante, etc., etc., me levava a uma porção de enlevos por uma porção de coisas, mas certo de que todo mundo tinha o mesmo enlevo. E foi só quando eu conheci o choque da Revolução é que eu comecei a perceber que esse enlevo um número incontável de pessoas não tinha. Afinal eu acabei vendo que ninguém tinha.
Ninguém tinha em que temos? Nesses termos: tinham rompido com aquilo, mas que originariamente tinham visto a coisa que eu tinha visto. Era como eu supunha.
*As percepções de todas as elevações tinham seu foco e sua sede em Nosso Senhor Jesus Cristo
Eu, no desejo dessas coisas mais altas, mais elevadas, etc., eu, já conhecendo a Igreja, já conhecendo a Nosso Senhor, Nossa Senhora, não foi logo que eu percebi que a Igreja, Nosso Senhor, Nossa Senhora, eram foco disso. Foi em determinado momento, depois de eu conhecer muitas coisas elevadas –– eu não saberia dizer quais –– depois de conhecer essas coisas elevadas, em certo momento, conhecendo a Ele, percebi que Ele tinha uma elevação superior a tudo isso, a perder de vista, que Ele era isto, que todas essas elevações habitavam nele como seu foco e na sua sede, e que ele era infinitamente superior a tudo, e que tudo se mantinha nessa elevação por causa dEle. O que, aliás, é rigorosamente verdadeiro.
*A compreensão de Nossa Senhora depois da provação.
Nossa Senhora, eu abri os meu olhas para Ela por ocasião daquela graça. Eu creio que eu já disse que eu tinha até um pouco de mal estar com Ela –– veja até onde é que vai o mau espírito vai se nicher, se aninhar –– eu tinha uma idéia de o culto à pessoa dela obscurecia um pouco, nas pessoas que eu conhecia, o culto a Nosso Senhor. E sem formar propriamente uma reserva a esse respeito, eu achava aquilo um pouco esquisito, uma certa estranheza.
E foi dentro daquela provação que compreendi de modo vivo qual é o papel dEla, a intercessão dEla, a misericórdia dEla. Mas conheci como o perdão de uma falta, e como pancadaria, ai compreendendo como é que eu podia sair da história, etc. E todo o papel dEla do lado de Nosso Senhor se tornou claro para mim ai.
Eu me lembro que antes de ler São Luis Grignion, eu às vezes pensava o seguinte: “É curioso, mas eu de tal maneira –– portanto depois dessa graça e antes de São Luis Grignion –– de tal maneira eu me avenho bem com Ela, que apesar de eu achar do Divino Filho dEla o que eu acho, eu no Céu quero pertencer à corte dEla. Que Ela dever se como uma Rainha Mãe, e as Rainhas Mães tem uma corte separada da corte do filho. É uma corte secundaria, mas que prestas honras a Rainha Mãe. Nossa Senhora deve ser Rainha Mãe no Céu. Embora seja mais glorioso, mais bonito ser da corte do Rei, eu não sei o que há em mim que, indo para Céu, eu quero ser da corte da Rainha Mãe. E ainda que seja menos, eu quero o menos. Mas eu me quero junto com Ela! É como eu desejo, eu desejo isto assim.”
(Sr. Poli: É um menos que é mais).
É um menos que é mais, isso é fora de dúvida. Foi com São Luis Grignion de Montfort que eu compreendi que essa formulação não é boa. Que o suco, a parte mais gloriosa no Céu é aquela que mais de perto está com Nosso Senhor. E está é a que tem mais culto a Ela! Ela não é, portanto, um anteparo, mas Ela é uma lente de aumento por onde nós vemos melhor a Deus. E quanto mais perto da lente de aumento, tanto mais eu estou perto da coisa que eu quero ver. Então, Ela era para mim essa lente. Mas isso eu só entendi depois, com vinte e um anos, uma coisa assim, lendo São Luis Grignion de Montfort. Antes disso eu não tinha chegado a pegar bem a coisa como é.
* O desejo das arquetipias, que nascia de uma truculência no querer: “Isso é bom, é inteiramente bom. Logo, eu quero o pináculo disso!”
Agora, a sua pergunta então, meu filho, precisamente era o que sobre isso?
(Sr. Guerreiro Dantas: Por ocasião do Batismo do senhor a Providência colocou na alma do senhor essa apetência das arquetipias…).
O sentir as arquetipias foi anterior a perceber a Nosso Senhor, foi anterior a perceber a Igreja.
(Sr. Guerreiro Dantas: Como o senhor se sentia filho de Nossa Senhora, e como o senhor sentia essa relação particularíssima do senhor com Ela?).
Eu preferia dizer antes uma coisa que você não está perguntando, mas que fica tão a propósito dentro disso, que vale a pena dizer.
No ponto de partida primeiro –– disso eu me lembro bem –– desse desejo das arquetipias, havia uma honestidade de alma, e uma truculência de alma pela qual aquilo que eu queria, sendo bom, eu queria tudo quanto era possível daquilo! Sendo belo, eu queria tudo quanto era possível daquilo! E, por causa disso, vinha então o desejo das arquetipias. Era um dar-se ao verum, bonum, pulchrum inteiro, com razão de ser da vida. A primeira coisa, eu tenho a impressão que com a primeira bola dourada com que brinquei isso já entrava. E era, a meu ver, o começo da graça a que depois se sucederam outras graças.
Era assim: “Isso é bom, é inteiramente bom. Logo, eu quero o pináculo disso!” É uma espécie de truculência de alma no não querer frouxamente, no não querer pouco, no não querer um pedaço. Se for bom, eu quero tudo! E inteiramente. Sem perceber que, eu querendo, me dava. Porque era uma posição tão profunda, tão normal, que eu não percebia que me dava. Eu não tinha sensação de que eu colhia. Mas ao colher, de fato eu sei, eu vejo hoje que eu estava me dando. E cada um desses pontos ideais que eu conhecia e incorporava ao meu espírito, iam governar a minha vida.
E foi quando isto constituiu um todo é que eu percebi esse todo em Nosso Senhor Jesus Cristo, etc., etc.
* A sensação da própria miséria.
Agora, veio junto com isso uma coisa que eu acho que foi uma graça de Nossa Senhora também, mas inteiramente oposta a isso. É uma sensação –– que vocês talvez custem a imaginar –– de minha própria miséria. Quer dizer, eu sentia perfeitamente minha pecabilidade, como eu tinha tendências mudas, quietas, mas que a qualquer momento podiam tomar vida e virar monstros, para me levar ao oposto disso. E, enquanto tal, a minha miséria. E uma miséria já de inicio, na sua raiz, meio congênita, que me tornava a dois passos de ser um réu de qualquer castigo, e um castigo esmagador. E que me punha na obrigação de me colocar diante de Deus numa posição de humildade completa! Ele tinha muita misericórdia em tolerar que eu existisse, muita misericórdia para me ajudar para eu ir seguindo o meu caminho, e, portanto tinha o direito de fazer de mim absolutamente o que Ele quisesse, eu não tinha o direito a menor reclamação. Pelo contrario, tomar aquilo como natural, está acabado.
Eu podia pedir que não acontecesse. É diferente. Vejo que não é bom que aconteça, eu peço para não acontecer. Mas eu tomava como inteiramente natural que pudesse em acontecer.
*“Eu tinha uma vontade enorme de não morrer, mas não tinha a menor revolta, a menor inconformidade. Deus tem o direito de fazer o que quiser, e se Ele dispôs isso, eu tenho que me adaptar a isso de qualquer maneira”.
Eu me lembro que havia naquele tempo uma espécie de livrinho para crianças, muito ilustrado, etc., mas que não tinha nada que ver com a literatura infantil de hoje. Eram editados por uma editora que não sei se vocês ouviram falar, chama Weissflogh, chamava “Melhoramentos de São Paulo”. A campanha Weissflog chamava-se a “Companhia Melhoramentos de São Paulo” . E tinha no caminho da bandeirantes uns pinheirais que não acabavam mais, que eram para abater e para fazer celulose, não sei o que, para papel, para ela imprimir seu próprios livros, e tal.
E um deles tinha a história de uma criança que morreu. Então o Anjo levou a criança –– mas não falava em levar para o Céu, hem? –– um Anjo que levava a criança, a criança saia… era como se a criança saísse do quarto levada pelo Anjo, e voava a cidadezinha aonde tinha nascido. E a criança, dos braços do Anjo, via o cachorrinho do vizinho, via o cachorrinho do padeiro, via a arvore onde brincava, via todas as coisas da vida das quais ia se destacando. E isso era apresentado na coisa.
Eu não me lembro depois o enredo como continuava. Mas para mim era lancinante isso! Antes de tudo pela idéia de deixar mamãe. Mas também depois porque era coisa que eu queria, que eu estava afeiçoado, etc. E depois, a idéia da morte, que sempre mete medo. É uma catástrofe, é um desastre, é uma coisa assim.
Mas eu me lembro que folheando esse livrinho eu estava doente, e doente com uma doença que dava um febrão. Não sei se era caxumba, não sei o que era, dava um febrão. E quando eu estava com muita febre, eu tinha uma noção infantil de que à medida que a febre subisse podia chegar a um ponto que eu morreria. Então a luta em torno da febre subir ou descer, era uma luta de mais perto ou mais longe da morte. Eu pegava pelo ar, eu julgava ter entendido isso. Também não é inteiramente falso… tem o seu que de verdadeiro.
Então, eu naquele febrão me sentia, não digo na eminência da morte, mas a poucos passos da morte, a uma distancia muito menor de que era a distancia habitual. Bem, essa separação de mamãe, etc., mas com a idéia do Céu.
Eu tinha uma vontade enorme de não morrer, e ficava muito angustiado vendo o tal livrinho. Mas eu não tinha a menor revolta, a menor inconformidade, a menor nada. É um direito dEle, porque eu sou uma pessoa rasa, chata, zero, de quem ele tem o direito de fazer o que quiser, está na ordem das coisas. E se ele dispôs isso, eu tenho que me adaptar a isso de qualquer maneira, e tocar.
*Quando surgiu a idéia de uma predileção.
De maneira que a dificuldade comigo, eu não tinha a menor idéia de uma predileção de Deus ou de Nossa Senhora por mim, durante muito tempo. Eu queria a Eles, mas tinha a sensação de que Eles me queriam pouco, por causa desses defeitos. A gente vai precisar no que… é no fundo uma espécie de sensação do pecado original, e das pontas de falha que uma criança tem numa desobedienciazinha, numa coisa, que eu fazia. Então devia ser uma coisa desse gênero. Mas profundamente vincada em mim.
De onde, também, para com Ele e com Ela um respeito colossal, porque eles eram a perfeição! E eu, aquilo que estava se vendo… aliás, petit vermisseau et misérable pechéur. E a idéia de uma preferência só muito, mais muito tarde aflorou em meu espírito. Eu tinha a impressão de que outros eram mais preferidos que eu. Mas achava natural. Eu disse: “Está bem, infelizmente é isso, etc”.
Onde a primeira vez que me veio à idéia de uma preferência de Nossa Senhora para comigo foi naquele episodio. Mesmo assim veio com uma preferência totalmente gratuita! E, aliás, é o que me deixava maravilhado: era a gratuidade disso. Eu não mereci, eu até pequei, e nesta hora de pecado, que Ela podia ter me mandado para o inferno, Ela me sorri. Isto é a bondade! E eu ficava então medindo o meu nada, a bondade dEla, e então muito agradecido. Mas a idéia de que ela me preferisse não vinha.
Essa idéia veio muito mais tarde com a consagração de São Luis Grignion, e outras coisas assim, e me vendo dentro da luta mais conscientemente, etc., etc., eu vi mais claramente com a minha vocação a idéia de uma preferência.
Pode ser que desaponte…
(Sr. Gonzalo Larraín: Acho que não conseguimos ainda acertar na pergunta. Havia algo prévio a isso que floresceu. Essa preferência já está no começo…).
Não era sentida no começo.
*Reflexo de Deus enquanto provido, enquanto sendo a Providência, que ordena tudo pelos píncaros.
(Sr. Gonzalo Larraín: Exato. Agora, o que havia já no começo de extraordinário, dado ao senhor por bondade dEla, mas que foi correspondido pelo senhor? Em que consistia esse dom e essa graça dados por Ela, anterior ao conhecimento que o senhor teve de Nosso Senhor e da Igreja?).
Eu pergunto no que é que minha resposta não responde a isso? É a apetência da transesfera.
(Sr. Gonzalo Larraín: Mas é uma apetência num grau muito especial).
Sim, isso eu reconheço.
(Sr. Gonzalo Larraín: E por isso um desígnio da Providência).
Isso.
(Sr. Gonzalo Larraín: E sendo desígnio, a Providência coloca algo nessa pessoa. O que é isso da Providência, do qual essa alma é reflexo?).
Ah, bom, isso é uma outra questão! Sim, eu compreendo a pergunta. A resposta –– eu precisaria refletir mais detidamente sobre isso, nuca refleti –– mais eu seria levado a dizer o seguinte: era o próprio Deus enquanto provido, enquanto sendo a Providência Ele. Uma das perfeições de Deus é ser ordenador. E a perfeição dEle enquanto ordenador dá a cada coisa o estimulo que lhe é próprio para ela fazer o que ela deve fazer. Isso não é assim, senão as meias, com o homem concebido no pecado original, mas mesmo no homem a disso. E o batismo, as graças, etc., etc., são dadas para o homem também se endireitar, e entrar na ordem.
Essa apetência enorme para a transesfera é no fundo uma apetência profundamente ordenativa. Porque a partir do ponto monárquico das coisas, constrói depois as ordens inferiores das coisas como devem ser, a partir desses pontos supremos.
Então Deus, enquanto provido, quer dizer, enquanto providenciando, enquanto sendo a Providência, pode refletir-se numa alma, dando-lhe essa apetência da ordem pelos píncaros, que começa por ser uma apetência pelos píncaros. Mas depois é uma disposição de todas as coisas segundo o píncaro único e supremo que é Nosso Senhor Jesus Cristo, mas visto através de Nossa Senhora.
Eu não sei se me exprimi adequadamente?
(Sr. Gonzalo Larraín: Magnífico. Então é Deus se refletindo na alma do senhor como a Providência dele).
Isso. E daí se vê que está no feitio de minha alma combater a Revolução que é uma revolta contra a Providência dEle, e querer instaurar o Reino de Maria que é a vitória da Providência dEle na terra!
Eu precisaria pensar um pouco melhor, mas penso que é isso.
E mais ou menos tudo quanto eu faço, em tudo quando eu arranjo, em tudo quanto eu digo, etc., há essa nota de ordenador, mas ordenador pelos píncaros. Ou seja, pelo píncaro único, sem o qual qualquer outro píncaro é nada.
(Dr. Edwaldo Marques: Essa é a ultima explicação da Revolução e Contra-Revolução).
É, a RCR, por exemplo, é isso.
(Sr. João Clá: O manifesto é isso).
O que for possível faz-se nessa linha. Quer dizer, mesmo as coisas mais insignificantes, mais banais, eu as quero na medida em que elas entram numa ordem determinada, e essa ordem determinada eu a quero porque nela se conjugam, se instalam todas as arquetipias píncaros, como um passo para arquetipia suprema, perfeita, eterna, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Nosso Senhor, visto por meio de Nossa Senhora. Nossa Senhora é o caminho, Ela não é o fim.
Isso responde sua pergunta, meu filho?
(Sr. Guerreiro Dantas: Magnífico).
* Numa conversa com a Madre Letícia: “ a única vez em que eu m senti conhecido pelo meu fundo”.
Eu tive uma noção disso, você não sabe como. Na Sala do Reino de Maria da Rua Pará. Quando uma vez a Madre Letícia apareceu lá, eu a levei para visitar a sede. Eu comecei a mostrar aqueles símbolos todos, etc. Ela me disse: “O senhor no Céu, vai adorar a Deus sobretudo em função da ordem do universo. É propriamente por onde o senhor vai ver a Deus”.
(Sr. Guerreiro Dantas: Puxa… é raro um comentário assim no sexo feminino).
Mas ela disse com uma naturalidade, mas com uma espécie de ênfase. E eu me senti, por assim dizer, apanhado. Quer dizer, um fundo meu que eu não tinha explicitado que fosse tanto assim. E ela tendo dito, eu cai em mim. Mas percebi isso: o raro estofo da alma dela. Porque é preciso ter um estofo para ver, para reconhecer isto, e para condescender isto, e para condescender em ter todo o respeito, tudo o que ela me teve. Vou dizer mais: foi a partir daí que eu comecei a respeitá-la mais do uma boa freira. Uma freira ela era, evidentemente, uma muito boa freira. Mas eu comecei a vez nela algo mais do que isso.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Ela teve uma graça para exprimir isso que é a vocação do senhor).
Foi. E que entra agora aqui na nossa conversa, como a peça ordenativa da conversa. E realmente eu a venerei muito, e venero por causa disso. Porque foi a única vez que eu me senti de tal maneira conhecido pelo fundo, que eu mesmo não sabia dizer assim, que eu fiquei… não digo apanhado, por que “apanhado” se diz de uma pessoa que estava fazendo mal e foi pego, mas eu me senti como que apanha do por ela. E com a naturalidade… mas com ênfase. Ela disse com certo entusiasmo, que me agradou notar.
Bem, e nós conversamos depois sobre outras coisas, nunca mais trocamos uma palavra sobre isso. Porque estava dito e não tinha mais nada a dizer.
*O Reino de Maria será a vitória de Deus enquanto ordenador.
Mas de fato a vocação da Revolução e da Contra-Revolução é essa. E os escolhos todos que atiram contra mim são porque nesse vale de lagrimas o próprio da ordem é que todos os fatores de desordem se atirem contra ela. Quer dizer, está na ordem da desordem que a ordem seja tratada assim. Senão, não seria desordem. Quer dizer, vale de lagrimas, etc., é assim.
(Sr. Gonzalo Larraín: Isso é uma coisa tão sagrada…)
Bom, mas que é para vocês também, hem?! E para vocês conhecerem e procurarem ajustar a sua personalidade a isso.
(Sr. Gonzalo Larraín: Da impressão que o reflexo de Deus especial no Reino de Maria, que distinguira essa época das anteriores, será essa da Providência, ele enquanto Providência).
É muito possível. Porque como a Bagarre é o resultado de uma recusa completa da Providência…
[vira a fita]
…é o fruto de uma recusa completa da ordem posta pela Providência, daí o estralo, etc., ect., é mais do que compreensível que a vingança de Deus consista em esmagar a desordem e por a ordem. Por que a Bagarre é propriamente a vitória dele enquanto ordenador. E a Bagarre faz brilhar, é uma hora em que o éclat da vitória dEle, por causa da ordem que reflete a Ele, que é a imagem e a semelhança dEle, fica afirmada e proclamada em todas as coisas.
Nesse sentido se poderia dizer o seguinte: talvez, era preciso estudar isso em teólogos, etc., ect., eu não queria me lançar tanto assim, mas vocês mesmos verão que parece muito razoável o que eu vou dizer. Houve a criação, e depois de posta a criação houve o pecado. Quer dizer, foi uma coisa que contraria a ordem que Deus pôs na criação. Depois de haver o pecado, Deus põe o homem numa vida de pecado, mas quer triunfar desse pecado por meio da Redenção, da Encarnação do Verbo e da fundação da Igreja.
Ele faz isso, e é uma longa batalha, mas afinal de contas nasce, da Igreja, a Cristandade.
Agora, depois vem o demônio e destrói a Cristandade, e pisando sobre as ruínas da Cristandade, que seriam como se uma espécie de muralha que cercava a Santa Igreja, ele faz o assalto da Igreja, e conduz a Igreja a situação espaventosa em que ele se põe no momento. E na aparência a Redenção do gênero humano, e a vitória de Nosso Senhor na cruz estão negadas, a Igreja não existe –– na aparência –– e está tudo negado. É a vitória dele.
Agora, Nosso Senhor fez com que a vitória do demônio de um contraditório, repulsivo, louco, intrinsecamente atraente do desprezo, etc., ect., e nasce, por manifestação especial da Providência dEle, o do Divino Espírito Santo, nasce o Reino de Maria. É a ordem suprema posta por Ele nas coisas, ordem está que brilhará então até que venha o Anticristo.
Bem, vem o Anticristo, há outros pecados, Ele desce do Céu para repor a ordem. Faz o juízo, e acaba com a história. Quer dizer, há uma lógica nisso.
*É preciso amar esta ordem, viver para ele, ter a alma conforme ela.
Então, ser o filho da ordem, sermos os soldados da ordem, aqueles que conhecem a ordem –– mas não é a ordem da “ordem e progresso”, é uma outra coisa, é melhor nem pensar na “ordem e progresso” –– amar esta ordem, viver para ela, ter a alma conforme ela, etc., ect., é própria e precisamente o que se deve fazer, como nós devemos ser o como nós devemos nos pôr.
Agora, seria preciso, para a gente levar esta meditação até o fim –– e seria então a prova dos nove fora do que ela é verdadeira, antes disso não está tirada a prova dos nove fora –– seria preciso o seguinte: que se visse em que sentido Nossa Senhora é tudo isso. Para se compreender que a vitória dEla é a vitória dessa ordem, e que a vitória dessa ordem é a vitória dEla. Porque ai é que própria, própria, propriamente a coisa estaria posta nos eixos.
(Sr. Gonzalo Larraín: Ai toca no Segredo de Maria).
Toca no Segredo de Maria, e tocaria, por aquilo que existe santamente contagioso no sentimento de ordem, tocaria a se compreender como é que Ela comunica o amor dEla a ordem, etc., ect., …
(…)
*Uma reverência particularmente grande a um abaissement digno e de acordo com a ordem!
…por todos os graus intermediários da ordem. De maneira tal que, por exemplo, na Igreja –– eu vou dar uma banalidade –– tem o Papa, mas depois tem os Cardeais, etc. E eu me lembro que quando eu vazia esse percurso da estrada bandeirantes aqui perto, fazia até com o Átila, depois eu perdi o gosto por aquilo, por uns certos arranjos que fizeram na estrada, que tiraram o que eu gostava da estrada… Mas afinal, deixando isso de lado, nós passávamos antes por uma capelinha, que fica a beira da estrada, e é uma coisa tão insignificante, que é um bairrozinho de São Paulo, já quase não é São Paulo, que uma ruazinha com uma capelinha, e a rua é cortada pelo leito da estrada. De maneira que a cidadezinha, por assim dizer, morre aos pés da estrada. Tem ali a capelinnha.
Eu sempre cumprimentei a capelinha com muita reverencia. E vi que entre eles ficava uma certa pergunta por que é que eu tirava o chapéu diante daquela capelinha com tanta reverencia, quando diante das Igrejas mais eminentes eu não tirava com essa reverência?
Mas é isso mesmo. É porque considerando que naquele minúsculo ambiente, naquele minúsculo recinto, a autoridade do Papa por assim dizer se minusculava, e se exprimia através de um símbolo encantadoramente pequeno. E que era o caso de reverenciar tanta grandeza que se punha tão pequena, dando-lhe uma reverência particularmente grande, por amor ao abaissement que tinha querido tomar, mas um abaissement digno, de acordo com a ordem.
Assim, mil coisas se poderiam tomar em consideração. Do encantador e do respeitável, e do venerável do minúsculo. Mas é porque? Porque o minúsculo participa do inimaginavelmente grande. E nisto é bonito, nisto é bem, etc., ect. A noção de hierarquia comporta isso: conduzir o enormemente grande ao minúsculo. A hierarquia comporta isso. E se não houver o amor minúsculo, não houve o amor à hierarquia.
* A grandeza a bem dizer desmedida de nossa vocação: adorar a Deus no pináculo de sua providencia e de sua ação criadora
Mas, dizendo isto, eu noto bem que eu amo uma determinada inter-relação entre seres, que Deus teve especialmente em vista quando Ele repousou no sétimo dia, vendo que cada coisa era boa, mas o conjunto era melhor. Quer dizer, o conjunto é a ordem que paira sobre tudo! E que é o que nós devemos amar. Eu aqui estou lançando no ar, quer dizer, é preciso consultar teólogos…
(Sr. João Clá: Acho que é inteiramente teológico).
É, mas vamos ver o que diz a teologia.
(Sr. João Clá: Sor Marie de Valée diz que no inferno o precito sente toda a ordem do universo se voltar contra ele, porque ele com o pecado atingiu a mesma ordem do universo).
Mas então você veja o seguinte: que bonito seria que a ultima etapa da historia da humanidade se parecesse com o ultimo dia da criação. Então, ai nós todos poderíamos nos colocar diante da grandeza a bem dizer desmedida de nossa vocação. Não é? Quer dizer, adorar a Deus enquanto Ele olhou para esse conjunto colossal do qual nós fazemos parte, e amor esse conjunto especialmente pela sua ordem, é adorar a Deus no pináculo de sua Providência e de sua ação criadora. Porque na sua Providência Ele foi criando cada coisa, e pondo, pondo, pondo. Mas depois a sua Providência e a sua ação criadora chegaram ao auge quando tudo se concertou, e Ele viu e repousou.
E este seria o nosso espírito em tudo! Eu considero isso aqui de toute beauté. Considero de tout beauté.
*Como deve ser entendida esta ordem.
Agora, eu volto a dizer: nos temos que tomar a palavra “ordem” com muito cuidado, porque do contrario mil significados práticos, utilitários, etc,. que a Revolução pendurou nessa palavra sagrada –– por exemplo “ordem de trânsito”, etc., ect., –– vem ao nosso espírito como coisa dominante. A ordem é muito secundariamente um trânsito que está em ordem. Propriamente a ordem o que é? É a perfeita ordenação para Deus das criaturas supremas. E a ordenação das criaturas inferiores às criaturas superiores, para entrarem em ordenação com Deus.
*Nossa Senhora, o píncaro da ordem.
E aqui gente vê o papel de Nossa Senhora, que é o píncaro da ordem, por uma coisa que acresce o conceito de ordem com um elemento que não esteve presente no que eu disse até agora, que é o seguinte: a elegância. Porque a elegância é uma particular excelência da ordem. É uma excelência por onde a ordem não só existe plenamente no necessário, mas ela sobe para o terreno do supérfluo. E que Deus tenha criado os Anjos, etc., ect., Mas depois tenha posto a testa dos Anjos uma mulher –– mãe dEle, mas uma mulher –– é uma espécie de redobra de elegância na ordem da criação, que nos faz compreender na ordem das coisas mil excelência que não são apenas as dobras dessa cortina, que vem de alto a baixo.
(Sr. Gonzalo Larraín: Não é necessário).
É. Libertam o conceito de ordem da idéia do necessário. E que dão –– com a devida reverencia, eu diria de joelhos –– dão lugar em Deus, junto a tudo de que dEle é de perfeições, e uma perfeição que está no espírito humano, e que a gente chamaria fantasia. Que não é deduzido da ordem, não é fruto de uma dedução, mas é uma particular delectação da ordem, por onde a gente imagina uma beleza que a ordem não impõe mas que o espírito humano como que cria. Daí vem aquela expressão francesa: Lê charne plus beau que la beauté, que tem seu fundamento.
Então, Nossa Senhora seria toda a ordem do necessário, mais ainda todo o florilégio dos charmes possíveis, ela tinha. Ai todos podemos compreender o que é estar em presença dEla, não é?
Eu estou meio assim falando aos borbotões, mas vejam o termo final do assunto. É o seguinte: é que no Reino de Maria, entre outras coisas, haverá uma pujança de ordem do necessário magnífica, forte, estupenda! Mas haveria ali também mil graças, mil charmes, mil elegâncias, mil distinções, mil belezas desse gênero, que seriam mais especialmente desse gênero, que seriam mais especialmente a glorificação dEla.
Tem-se uma idéia disso indo a Catedral de Toledo, e vendo a La Virgen Blanca, que São Luis mandou de presente a São Fernando. É uma imagenzinha, mais ou menos dessa altura, não é João?
(Dr. Edwaldo Marques: É um pouquinho maior…)
Olha Edwaldo, eu não tenho boa memória, mas eu contestaria um pouco o que você disse. Bem, mas está colocada lá na Catedral, sobre um lugar que eu acho que está bem assim, não deveria fazer em volta um florilégio, porque Ela é toda delicada, diáfana, branca… mas tão charmante e tão simples, que a gente não sabe o que dizer!
E, por exemplo, com essas reflexões, vocês não se sentiriam mais propensos… você visitou a Virgen Blanca, meu filho?
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Sim senhor. Depois, se o senhor quiser tratar também de “Notre-Dame”, que ocupa um lugar assim… quase secundário).
Mas é uma coisa que é… mas essas coisas ouviu, às vezes devem estar num lugar secundário, onde brilham mais. São os inesperados das obras de Deus. E o homem que descobre uma coisa dessas, por exemplo, um inesperado onde colocar uma coisa que glorifica a Nossa Senhora, faz muito mais do que Colombo!
Já na fachada… você pega a Catedral de Notre Dame aquela rosácea do lado de fora, está colocada onde devia estar. Mas a rosácea tem no fundo um circulo. Nesse circulo, a cabeça de Nossa Senhora está posta numa posição que toda aquela rosácea é até certo ponto o resplendor em torno de Nossa Senhora. Mas ficaria com um peso horrível aquilo posto como um resplendor da cabeça dEla. É disfarçado, e você presta a atenção para compreender o que é.
Então, as belezas disfarçadas, as belezas discretas, todas essas coisas que fazem parte dessa ordenação que Deus, pois no universo, e das quais os homens podem querer e deve querer os píncaros, fazem parte também da disposição das varias almas que se consagram a ver assim Deus e Nossa Senhora como Providência, como ordenação etc., ect.
E dir-se-ia assim: que nesse carrilhão a alma de cada um de nós teria o seu papel…
(Sr. Guerreiro Dantas: Mas ai seria dar um mergulho para baixo…).
Infelizmente eu falei no condicional, não falei de cada um de nós. Mas se todos nós nos santificarmos, tratando com cada um de nós, eu como que percebo o papel que teria numa espécie de rosácea ideal de heróis, de santos, sei lá de quanta coisa, na plena correspondência da graça!
E ai também vocês podem ver o esforço do demônio para destruir isso. É uma coisa evidente.
* Lendas e fatos sobre Nossa Senhora que repousam a alma e que a gente deve somar a idéia de ordem, para compreender bem o que é essa ordem no Reino de Maria
(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor não gostaria de continuar a tratar do papel de Nossa Senhora, das graças que lhe vem a alma?)
Você veja, por exemplo, o seguinte: as lendas sobre Nossa Senhora –– lendas, hem –– que a gente sabe que são lendas, traduzem o conhecimento que o espírito humano animado pela fé tem disso. Aquele negocio do jogral de Nossa Senhora, um homem que não sabia como agradar a Nossa Senhora, então tomou umas bolas, porque ele fazia isso num circo, e foi jogar para Ela ver. E quando se olhou, a imagem estava sorrindo para o jogral que estava querendo distraí-la!
Você esta vendo que é tão delicado, que é tão bonito, é tão suave, que a gente se refrigera e se lava!
(Sr. João Clá: La Legende Dorée).
A Legende Dorée é um florilégio disso.
(Sr. João Clá: O fato de um noviço que entra para uma ordem religiosa, e que era burro feito uma porta. Ele só conseguia dizer as palavras “Ave Maria”. Mais nada. Em todas as orações ele só rezava “Ave Maria”. Era tido como o último dos últimos, etc. Em determinado momento ele morre, é enterrado, etc. Poucos dias depois vão olhar a sepultura dele, e tinha nascido um lírio magnífico, e nas pétalas do lírio escrito, em letras de ouro, mas palavras “Ave Maria”. Então o superior reúne a comunidade, e vão desenterrar o lírio, para onde nascia. Foram ver, nascia dos lábios do noviço).
É… o que dizer de uma coisas dessas? Mas isso por detrás diz outra coisa: diz exatamente como de uma coisa que parece quase um erro na ordem da criação ter criado um homem desses, e Providência, por uma elegância, por uma leveza admirável do seu proceder, faz nascer essa flor de bondade, de simplicidade, etc., ect.
O negocio do noviço –– eu acho que está na Legende Dorée também, você deve sabem bem –– um homem que queria muito ver Nossa Senhora. E apareceu um Anjo, disse a ele que se ele consentisse em perder uma das vistas, ele olhasse com aquela vista que ele veria Nossa Senhora. Ele viu, e ficou cego daquela vista. E depois ficou com vontade de ver Nossa Senhora, mais a perder a vista, etc., ect. Ele disse: “Olha aqui, eu vou perder a outra vista, mas eu quero vê-la de novo!”
Ela apareceu, e o curou da outra vista, e não tirou aquela!
(Sr. João Clá: Um fato, mais ai é real, o senhor comentou em Santo do Dia, se deu na Alemanha, em Colônia, com o Beato Hermano. Ele era tão pobre, que não tinha nem sapatos. E a mãe mandou-o sair, durante o inverno, para comprar pão. E ele ia a pé, descalço, na neve. No caminho, entrou na Catedral, para aquecer os pés. E aproveitou para ir rezar a uma imagem de Nossa Senhora, junto ao Menino Jesus e a São João Evangelista. Quando ele se ajoelhou, no mesmo instante São João e Nosso Senhor começaram a brincar. E ele do lado de fora, vendo. A imagem volta-se para ele: “Hermano, o que você veio fazer aqui, sem sapatos, nessa neve, nesse frio”? Ele: “Bom, é que eu não tenho sapatos”! A imagem enfiou a mão no bolso, tirou uma moeda de ouro, e deu a ele: “Vá comprar sapatos e volte aqui”. Ele pegou a moeda, foi para a loja, comprou os sapatos, e voltou. E continuou a ver o Menino Jesus brincando com São João Evangelista. Ai Nossa Senhora disse a ele: “Mas porque você não vem brincar também?” Ele disse: “A grade está fechada, e eu não sei subir”. Ela disse: “Eu vou lhe ensinar a subir a grade. Põe a mão aqui, o pé ali…” E ele brincou duas horas com Menino Jesus e São João Evangelista!).
O que dizer! O que dizer! Essas coisas, por exemplo. valem pelo menos por uma hora de repouso. Pelo menos! Para dar muito pouco. E o cansaço que carrega no fundo da alma o homem que fixou o principio de que essas coisas não existem e não são boas, que não é varonil acreditar nisso… é uma coisa tal, que é melhor nem falar, não é? É o cansaço que enche essa gente! Não podem compreender que sete homens, numa noite de sábado, estejam conversando maravilhados sobre isso! Eles não compreendem que esses homens levam na alma um repouso que outros não tem, não sabem, não entendem. Não vamos falar a respeito deles.
Você imagine que no Reino de Maria coisas dessas dêem em quantidade. A gente vê pairar sobre toda a obra de Deus, junto com a majestade, a grandeza, etc., um certo sorriso, uma certa complacência, que é mais de mãe do que de pai, que deixam a pessoa sem saber o que dizer. E que a gente deve somar á idéia de ordem, para compreendem bem o que é essa ordem do Reino de Maria. Porque sem isso nem ela atrai. A ordem, ou a gente deve vê-la completa, ou ela não atrai.
Por exemplo, nós falamos disso durante essa conversa. A impressão que eu tenho é que Nossa Senhora nos comunicou com esse fato do sapato, etc., do menino, ela comunicou algo da graça inefável, do sorriso inefável que Ela teria durante a vida de todas os dias, por exemplo, vendo-nos cometer um lapso de memória, qualquer coisa, Ela parar e dizer: “Meu filho, não é assim. É de outro jeito!” A gente quase diria: “Bem aventurado lapso, que nos mereceu tal cometido!”
*Junto com os lances heróicos e as coisas fabulosas, as delicadezas
(Sr. Gonzalo Larraín: E nessa graça o senhor recebeu na Auxiliadora, o senhor sentiu tudo isso, não é?)
Ah senti.
(Sr. Gonzalo Larraín: A ordem com elegância, tudo veio junto).
Exatamente. E que eu sinto, por exemplo, passando aquela Igrejinha também, pensando no exquis que existe em que aquele padrezinho, que eu imagino velhinho, trôpego, inútil, pouco letrado, entretanto chega, faz seu sermãozinho para umas velhotas, para uns rapazes, umas senhoras, etc., que estão lá na Igreja, e saem todos edificados. O velhinho também vai trotando para casa, e vai ler um pedaço da Sagrada Escritura antes de dormir. Pronto.
Então junto com os laces históricos e as coisas fabulosas, uma coisa assim… você tem uma síntese assim em Santa Joana D’Arc. Ela tem qualquer coisa disso, que é um sorriso de Nossa Senhora, um lírio no meio do campo de batalha! Não tem o que dizer… o que eu disse exprime a coisa, e está acabado.
*O charme de Nossa Senhora como Mãe que precedeu o charme infinitamente maior de Nosso Senhor como Filho
(Sr. Gonzalo Larraín: Agora, o Reino de Maria vai ser povoado de uma firmeza como nunca houve, mas de uma…)
Seriedade, gravidade como nunca houve…
(Sr. Gonzalo Larraín: Mas uma elegância, nesse sentido que o senhor usou).
É, a palavra “elegância” tem o inconveniente de ser meio mundana. Charme!
(Sr. Gonzalo Larraín: O Segredo de Maria é quase isso…).
Também em parece que nós bordejamos aqui o Segredo de Maria. Não sei se entramos no fundo. Mas me parece que nós bordejamos.
(Sr. Gonzalo Larraín: Isso que o senhor está dizendo do charme, da elegância, que seria só supérfluo nesse sentido…).
Vamos dizer o seguinte: é o antimiserabilismo!
(Sr. Gonzalo Larraín: Agora, tudo isto estaria presente em Nossa Senhora, e que fez com que Deus Nosso Senhor se Encarnasse nEla.).
Para você compreender bem o espírito dEla nisso, você precisa tomar em consideração o que consta habitualmente, que Ela queria ser escrava da mãe do Messias. Ela tinha a noção de que a Mãe do Messias devia vir naquela época. E que ela procurava, com base na Escritura –– que Ela interpretava com ninguém –– Ela procurava construir como seria o Messias. E que quando a construção que Ela fez foi perfeita, apareceu o Anjo e fez a Anunciação.
É uma coisa muito bonita isso: a gente se perguntar como eram os charmes de Nosso Senhor! Por que Nosso Senhor era todo charmant!
(Sr. João Clá: Ele é O charme.).
O charme! “olhai os lírios do campo, não tecem nem fiam…” homem, daí para fora, nem sei quantas coisas!
Bem, e Ela concebeu tudo isto antes de se encarnar! Era o caso de dize que merecia que Ele se encarnasse nEla, por tem concebido tudo isso!
Vocês compreendem a vinculação Mãe-Filho, e como, num certo sentido da palavra, o charme dEla como Mãe precedeu o charme infinitamente maior dEle como filho.
(Sr. Guerreiro Dantas: Qualquer rei que não queira ser súdito dEla e dEle, não pode ser rei.).
Não pode! Não pode!
(…)
* Uma meditação sobre o “charme” de Nosso Senhor que comunica um refrigério, uma revivescência do thau
A gente vê, por exemplo, aqui a obra de Deus. Na intenção dele está que o Verbo Encarnado seja assim. Mas, de outro lado, está na intenção dEle não operar a encarnação enquanto uma mera criatura não excogite o Verbo Encarnado como é. Não sei se vocês percebem que a uma espécie de charme dentro disso que a gente, meditando, se encanta. E que infelizmente –– eu vou entrar na minha eterna lamentação –– dos púlpitos não se trata disso, não se salienta nem nada, quando podia fazer um bem sem fim a alma do povo, porque o povo compreende isso. Porque não faz isso?
Mas isso dá alegria, dá bem estar, dá distensão de alma. Mas –– ponto importante –– comunica alguma coisa a nós. Vocês falaram da comunicação. Comunica alguma coisa a nós.
O que comunica? Querem ver como a coisa vai longe? comunica um refrigério, uma revivescência num thau às vezes pouco desbotado. A tal ponto que a gente percebe que o thau já é uma comunicação no espírito dEla. É muito bonito! Mas é muito bonito!
(Dr. Edwaldo Marques: O senhor de tal maneira foi sempre assim, que eu me lembro de um fato que se deu numa saída para um Santo do Dia, na São Milas. O senhor estava saindo da sede, na rua estava passando um desses homens carregando esses carinhos de mão, cheios de caixa em cima. Em determinado momento ele se desequilibrou, e fez um gesto para segurar as caixas. Mas foi um gesto tão elegante, apesar da condição humilde dele, que o senhor disse que teve vontade de mandar parar o carro, mandar chamar o homem, e explicar como é que ele deveria subir até Deus através dessa qualidade que ele tinha).
É, é sim. Eu me lembro desse fato. Eu me lembro desse fato.
(Dr. Edwaldo Marques: Agora, isto em Nossa Senhora…).
*Ao lado do charmes dos charmes houve em Nossa Senhora uns sofrimentos dos sofrimentos, que constitui um universo moral tão grande, que é maior do que todo o universo sideral
Pois é! Agora, depois daí –– não vale a pena, o que eu vou dizer agora desviaria o rumo, desviaria para um lado sacrossanto, mas desviaria, mas só dizer uma palavra vale a pena –– vocês já imaginaram Nossa Senhora enquanto sendo assim, o que é que Ela deveria pensar no momento em que Ela viu os algozes tirarem a cruz das costas do Filho dEla, e darem ordem para Ele deitar, e começarem as pancadas para pregarem os pés e as mãos?
(Sr. Poli: Não dá para imaginar…).
É, uma coisa que… e a conformidade dEle? E dEla também? Uma coisa que eu não sei o que dizer.
(Sr. João Clá: Santo Afonso diz uma coisa muito bonita, que o consolo dos mártires era pensar na paixão de Nosso Senhor. Entretanto, a única mártir que não podia pensar nisso, porque não era consolo mais sim causa de sofrimento, era Nossa Senhora. Ela não teve esse consolo.).
Nada! É uma coisa linda, mas é isso. É você pode imaginar aquelas pancadas, furando…
(Sr. João Clá: E depois de tudo o que tinha havido antes: flagelação…).
Depois o erguer… quando Ela O viu do alto da cruz, e tornou-se claro por onde é que ia o resto! Aqui também tem uns sofrimentos dos sofrimentos, como há doçuras das doçuras, e charmes dos charmes, há crucifixições de crucifixições… tudo isto constitui um universo moral tão grande, que é maior do que todo o universo sideral. Muito maior!
(Sr. Gonzalo Larraín: Ai o quadro fica completo.).
Completo. Bem, mas veja o seguinte: no meio disso fica um panorama tão grande, que o olhar humano não consegue abranger tanto charme, tanta alegria, tanto gáudio e tanta tristeza juntos formarem um conjunto harmonioso. Ai você está vendo a imensidade das harmonias, etc., ect., etc.
(Sr. Gonzalo Larraín: Muito refletido no que nós conhecemos. Porque é por onde se entende.).
Enfim… ai a gente compreende grandezas… e que às vezes na nossa vida nos afastamos com o pé, brutalmente, estupidamente, e subconscientemente, como quem pega um repolho velho e sujo, que sobrou na feira, e jogamos assim para cair na sarjeta! E são maravilhas dessas! Porque é assim que nós fazemos às vezes. E não sei quantas vezes são, hem? Já é outra questão!
Bem, meus caos, nós precisamos ver um pouquinho a hora… que horas são? Vinte para as três… não, tem tempo ainda, se vocês agüentarem.
[vira a fita]
*Uma reunião que teve muitas graças, e muito grandes, muito altas, mas que não teve o nexo de uma graça da Sra. Da. Lucilia ligada ao ambiente
…repetir essa reunião, dizer: “Vamos nos encontrar amanhã a noite para repetir esse tema!” Não sai. É porque veio uma graça, e animou essa reunião. Então deu nisso.
(Sr. Poli: É uma graça que nós sabemos de onde vem. Porque na reunião passada o senhor nos alertou do risco de nosso distanciamento da Sra. Da. Lucilia. O senhor levantou a hipótese de ter que transferir essa reunião para outro lugar.).
Aliás, é uma coisa curiosa, hem? Essa reunião aqui teve muita graças, e muito grandes, muito altas. Para a gente poder dizer que nós pelo menos encontramos o buraco da fechadura que abre para o Segredo de Maria, pelo menos isso, basta dizer isto para estar dito uma coisa colossalíssima!
Está bem, mas aquela graça especial da idéia de um nexo desses locais com ela, e de uma bondade especial dela sobre esses locais, essa graça não voltou. Quer dizer, não quero dizer que não voltará, quero dizer que não esteve mais presente aqui do que da outra vez.
(Sr. João Clá: Tem que rezas mais.).
Tem que rezar mais.
(Sr. Gonzalo Larraín: Isso se prende ao que?).
Também não sei.
(Sr. Gonzalo Larraín: Seria algo ligado ao assunto?).
Ligado ao assunto não é. Não é ligado ao assunto.
(Sr. João Clá: Eu acho que o que falta é devoção mesmo. Na maior parte das vezes é ela que vem ao nosso encontro, mas a um tanto que às vezes nós temos que procurar. E esse tanto é que falta.).
É isso. É precisamente isso.
(Sr. João Clá: E ela está sempre à disposição!).
Se viessem nos dizer: “Isto aqui, não é casa de Dona Lucilia. Isto é um fac-simile perfeitamente imitado. Os moveis são… mas não é a casa”, não produziria um efeito diferente do ambiente que está aqui, onde uma certa sensação não sei do que…
(…)
* * * * *
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