Conversa
de Sábado à Noite – 17/2/90 – Sábado
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Conversa de Sábado à Noite — 17/2/90 — Sábado
O indolente face a luta R-CR * Como o demônio explora os defeitos naturais para produzir as tentações sociais
* Uma cidade com um estilo de vida que marcaria o tonus e o estilo de vida dos elementos mais exponenciais das outras cidades do país
Como objeto de estudo, para responder sua pergunta, vocês imaginem uma cidade “X”, que se pudesse caracterizar da seguinte maneira:
As pessoas dessa cidade tinham uma espécie de tradição ainda viva, vinda dos antigos tempos, bem rica a tradição, e bem completa, de maneira a modelar personalidades, modos de ser, etc., muito coerentes, e ainda — na relatividade dos tempos — muito próximos dos modelos passados. Portanto, personalidades que tinham muito de coerente com a Contra-Revolução.
Agora, essas personalidades de tal maneira seriam coerentes com a Contra-Revolução que, sendo essa cidade uma cidade rica mas comum, sem nenhuma beleza de panorama, nenhuma beleza urbana nem nada próprio, entretanto os habitantes dessa cidade construíram um estilo de vida que marcaria o tonus e o estilo de vida dos elementos mais exponenciais das outras cidades do país. E isto era composto por essa junção de elementos diferentes: da tradição mais um outro elemento.
Qual era o elemento?
* Ao lado de uma tradição inata e indolente, uma condescendência muito grande para a Revolução
É que nos elementos exponenciais dessa cidade havia essa inata — por assim dizer inata — tradição, mas havia também uma espécie de condescendência muito grande para a Revolução. De maneira que, embora vendo na Revolução o contrário da tradição que representavam, eles previam que a Revolução ia amortecer e liquidar essa tradição. E eles não favoreciam isso em nada, ou favoreciam até um pouco, e não trabalhavam em nada para manter as tradições que eles mesmos representavam de modo tão rico, tão adequado, etc.
Havia nessas pessoas uma espécie de dupla personalidade, por onde elas de algum modo todo ele passivo, indolente e inativo, representavam o passado e, portanto, estariam com a Contra-Revolução. E de um modo ativo, mas não muito ativo, representariam o futuro, e estariam de acordo com a Revolução. Mas de tal maneira que elas para o futuro eram permissivistas, na medida em que o futuro não corresse demais, e que não exigisse delas muitas modificações. E eram para o passado indolentes e tíbias, e só aceitavam desse passado que o passado as ornasse, mas não estavam dispostas a lutar por esse passado no mais mínimo!
* Se alguém levantasse o estandarte da Contra-Revolução essas pessoas se entusiasmariam
Acontece que dentro desses meios, aparece então uma pessoa, ou duas, ou cinco pessoas, que não se dão bem conta da situação, e interpretam a situação de modo inexperiente. E acham que o que essas pessoas têm de contra-revolucionário, nelas existe como em forma de uma verdadeira recusa da Revolução. Apenas essas pessoas não percebem a Revolução, porque estão já um pouco velhas, um pouco à margem dos acontecimentos, etc., não percebem a Revolução, e depois são meio indolentes. Mas que se vissem alguém tomar a bandeira da Contra-Revolução, e levantar o estandarte da Contra-Revolução, elas se entusiasmariam! Essas pessoas antigas se entusiasmariam.
(Sr. Poli: As quatro ou cinco…)
Se uma, ou quatro ou cinco pessoas tomassem essa bandeira, as antigas se entusiasmariam.
Essas pessoas menos antigas, já mais corroídas pela Revolução, ainda tinham muito também de não revolucionário. E também elas, com menos exigência, com menos calor, entretanto também gostariam de alguém que levantasse a bandeira da Contra-Revolução.
* Vendo a Contra-Revolução assim levantada esses aparentes contra-revolucionários potenciais silen- ciariam e isolariam este que levantou o estandarte
Esse ponto de vista parecia confirmado por um lado: é que eram pessoas de uma certa fé, e gostavam de ver que se defendesse a Religião. E eram pessoas (segundo o que eu estou imaginando, segundo a fórmula que eu estou dando) eram pessoas de uma certa tradição aristocrático-monárquica, e gostavam de que uma vez ou outra se desse um bom argumento a favor de um regime aristocrático-monárquico.
Então, uma pessoa inexperiente que visse isso diria: “Não, o panorama é claro, esses são aliados potenciais da Contra-Revolução. Então, nós vamos nos jogar na luta, e essas pessoas vão nos apoiar. Mais cedo ou mais tarde — pode ser que no começo não compreendam bem, etc., — mas essas pessoas vão acabar por nos apoiar”. Isto seria a coisa.
Agora, na realidade, o que é que se passava? É que essas pessoas, assim divididas mas não dilaceradas com dor — divididas como um dedo é dividido do outro, e não como um membro meio cortado que está separado do seu tronco —, essas pessoas assim, vendo a Contra-Revolução levantada assim, faziam um regime de silêncio para desabonar os arautos da Contra-Revolução. Não falando contra, mas não falando pró. E isolando. E isolando com uma certa simpatia de longe, mas isolando.
Agora, as pessoas bem mais moças, portanto de uma terceira geração, já estavam entregues à Revolução, e tinham apenas uns restinhos de tradição dentro da alma. Os inexperientes, lançadores da Contra-Revolução, imaginariam que podiam mobilizar esse restinho em favor da Contra-Revolução. Erro ainda mais crasso: essas pessoas faziam um ataque direto, e quando não faziam um ataque direto, era o isolamento.
De maneira que se compreende que de alto a baixo houvesse uma posição de isolamento em relação a essa pessoa.
* Não fariam polêmica porque o indolente não gosta de tomar posição. A única hipótese de implicar com a Revolução é se esta quisesse tirá-los da indolência
Agora, qual é a razão de um isolamento e não de uma polêmica debandada? Por que razão é que não faziam um ataque debandado?
É porque não estava nelas fazer o ataque debandado, tomando uma posição. O próprio delas é uma capitulação indolente. E se lhes quisesse tirar a indolência da capitulação, aí podia dar uma charivari. Porque o indolente só não é indolente quando se quer obrigá-lo a deixar a indolência. É como um sujeito que está dormindo num sono muito profundo, e quando a gente quer acordá-lo começa a dar pontapés. O ponta-pé não é porque ele esteja renunciando a acordar. É porque ele quer defender o sono.
Então, a pergunta é: essas pessoas assim indolentes, se se quisesse que elas deixassem a indolência — que era o vício capital da preguiça — elas, pelo dinamismo da preguiça, podiam tomar uma posição contra-revolucionária no total. Porque se eram os revolucionários que queriam obrigá-las a deixar a preguiça, eles implicavam com a Revolução. A única hipótese de implicar com a Revolução é querer tirá-los da indolência.
(Sr. Guerreiro: Fazê-los andar mais depressa.)
Mais depressa. Então era preciso não desencadear uma perseguição contra, porque isso é contra a indolência. Era preciso ter as prudências de quem trata com o indolente, quem quer ter um indolente como aliado. Então, o jeito era: não podendo fazer a perseguição, fazer o silêncio — o isolamento e o silêncio.
(Sr. Poli: Como tudo é científico, milimetricamente medido.)
É. Milimetricamente medido.
* Essa posição, que pode ser um estado natural acrescido da ação do demônio, é um pecado
(Dr. Edwaldo: Aí é um estado de espírito natural?)
Bom, aqui agora vem a questão. Porque isso é um pecado, essa posição é um pecado. É um pecado de desamor a Deus, de indiferença à Igreja Católica, de indiferença às tradições da Civilização Cristã, o que acaba sendo um desamor à Igreja, portanto um desamor a Deus.
Agora, há duas doutrinas a respeito disso. Há uma doutrina teológica que diz que o homem pode cair em pecado sem uma ação do demônio. E há outros que dizem que o homem não pode cair no pecado sem uma ação de demônio. Eu sou muito mais favorável a essa segunda doutrina do que à primeira. E, portanto, nós devemos imaginar que essa indolência é uma disposição natural — nós podemos imaginar que fosse uma disposição natural do país em que esses fatos se passassem — essa indolência que é uma disposição natural, já estar no país por uma ação muito difundida do demônio sobre os particulares desse país, para mantê-los no vício capital da preguiça. Em graus e formas diferentes, porque o demônio tem suas prudências. Mas seria uma ação do demônio.
* O demônio explora os defeitos naturais para produzir as tentações sociais
E essa ação do demônio comunicaria a essa preguiça a atração própria das grandes tentações sociais. Porque uma coisa é a tentação exercida por uma pessoa sobre outra, e outra é a tentação exercida por toda uma sociedade sobre um particular. A tentação social é uma ação de muitos demônios sobre muitos indivíduos, que capitulam juntos e cometem um pecado coletivo, e tem um poder de sedução enormemente maior do que normalmente — salvo as exceções — as tentações individuais.
Bem, e por causa disso a gente pode imaginar uma ação do demônio em que ele, estimulando o dinamismo de certos defeitos — no caso concreto o defeito da preguiça — estimulando o dinamismo de certos defeitos, ele produzisse uma situação que tem todo o movimento psicológico da preguiça, mas que é movido por ele explorando os defeitos naturais.
Então, a preguiça tem, por exemplo, seus atrativos; ela tem suas doçuras, ela tem suas cegueiras, ela tem suas imprevidências intencionais. Ela tem algo de próprio, por onde o indivíduo preguiçoso se contenta facilmente com o mínimo, contrariamente à tendência do homem que é de querer mais. O preguiçoso quereria platonicamente mais, mas de fato não quer mais, desde que lhe custe um esforço.
Isso é toda uma movimentação que a preguiça produz no homem, mas que não é apenas a movimentação natural, mas é uma movimentação que o demônio produz no homem, com a força de contágio e de conquista que tem a ação somada: pequena do homem, da natureza humana, e enorme do demônio, que penetrou em toda uma população e que torna atraente esse modo de ser.
* O demônio conhecendo as psicologias pode sugestionar os homens entrando na mente deles
Agora, isto é uma coisa. Outra coisa inteiramente diferente — e olha que o que eu estou dizendo não é pouco, hem?! É muito! —, outra coisa é o demônio conhecer certas regras pelas quais as mentes se comunicam entre si, e exercem ação umas sobre as outras, no modo pelo qual a pessoa é capaz, por essa forma, de sugestionar uma outra pessoa, ou sugestionar eventualmente uma multidão. E seriam — é uma hipótese — restos atrofiados de possibilidades que a mente humana tinha antes do Pecado Original, onde o comércio entre os homens seria de outra natureza, e muito mais elevado, muito mais interessante, etc., do que é hoje.
(Sr. João: Adão passeava todas as tardes com Deus no paraíso.)
Conversando com Deus, e tudo. E aí ele pegar esses tocos de possibilidades, e exagerar isto por uma ação sobre esses tocos, e fazer o homem exercer uma ação como que [a que] tinha no paraíso sobre os outros homens, entrando na psicologia deles, entrando na mente deles, produzindo efeitos singulares, etc., que são meio humanos, meio humanos acentuados pelo demônio, e meio diabólicos — porque em certos momentos intervém ele e faz.
(…)
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