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Conversa da Noite — 30/9/89 — Sábado

CSN 30/9/89 — Sábado

Nunca tive tanta esperança de que já

tivesse chegado a hora quanto agora” * O pecado de mediocridade de não ver a grandeza do Senhor Doutor Plinio

Í N D I C E

Nunca tive tanta esperança de que já

tivesse chegado a hora quanto agora” * O pecado de mediocridade de não ver a grandeza do Senhor Doutor Plinio

* Estagnação ou Bagarre? Uma equivalência de 50 a 50

(Sr. GL: Frente ao quadro todo que o Sr. tem descortinado nas últimas reuniões, nós perguntamos se é uma hora histórica, uma hora profética, e como o Sr. sente essa hora, e como o Sr. sente a situação do Sr., a situação da TFP frente a isso?)

Meu filho, eu vejo isto da seguinte maneira. Assim, colocado raso, é fora de dúvida que a Providência tem nos querido guiar durante uma longa luta — mas uma longa luta! —, tem nos querido guiar num caminho que é de mistério e, [sob] certo ponto de vista, de abafamento. No sentido de que nós fazemos isso, aquilo, aquilo outro, fazemos uma obra grande, mas o para que nós nascemos, a hora que nós esperamos não chegou.

E eu não tenho nenhum sinal de que esta hora de desabafo, de expansão e de vitória, etc., que esta hora de fato tenha chegado, e que nós não estejamos ainda no repetir do remexe-mexe sempre mais fundo. Mas que tudo isso ainda pode dar numa estagnação num nível mais baixo do que está.

Mas de outro lado eu vejo bem também que isto pode, por desígnio da Providência, a Bagarre não estalar bonitinho no momento em que nós pensamos, mas agora, de repente, sai a Bagarre! Essas duas coisas são pontos de vista que se equivalem, 50 a 50.

* Um ponto de vista mais ascético que profético

E como o meu receio é de me deixar levar pela esperança excessiva de que tenha chegado a hora, eu sou obrigado a acautelar-me, de maneira que ainda que Nossa Senhora queira de mim o mais penoso, que é a continuidade desse estado de coisas, eu esteja disposto a isso. Quer dizer, é um ponto de vista aqui mais ascético do que propriamente profético, em que eu sou obrigado a segurar minha alma com as duas mãos, para estar disposto a mais um sacrifício se Nossa Senhora quiser, e outros que Ela queira, para aceitar o que Ela determine. Embora peça a Ela com todo o meu empenho que estale esse negócio!

Mas de maneira tal que se estalar eu esteja inteiramente em pé para tudo. E se não estalar, eu esteja igualmente Praesto Sum! Eu sou obrigado a… É aquela história da sepultura do Frei Galvão: Animam suam in manum semper tenens. É pegar a minha alma e a ter assim em mãos! Porque nosso desejo de que tenha chegado a hora é tão avassalador, é tão imenso, que eu não sei o que dizer. E por isso temos que ter uma disposição de dizer: “Bem, eu peço a Nossa Senhora que tenha chegado a hora. Mas se não chegou, faça-se a vontade d’Ela e não a nossa”. É a oração de Nosso Senhor no Horto, ligeiramente adaptada. Esse é o caso.

* A perfeição: “Faça-se a Vossa vontade e não a minha”

E é por causa disso que movimentos muito louváveis em outros, de estar prevendo, de estar se dispondo, de estar se preparando, etc., eu não capitaneio nem estimulo, também não deflaciono. Eu deixo que as coisas vão indo. Porque para espíritos mais ou menos integrados, ou com uma ponta de integração nessa vida atual, é perigoso que eles não se estimulem. O ascético é se estimular com coisas dessas.

Bem, mas o mais perfeito é, sem dúvida nenhuma, essa espécie de santa obediência de que Nosso Senhor nos deu exemplo no Horto das Oliveiras. Isso é o que eu tenho que dizer.

* “Nunca tive tanta esperança de que já tivesse

chegado a hora quanto agora”

(Sr. GL: Mesmo na ordem da traição, da “cachorrada”, aí o Sr. não vê nada mover-se?)

Vejo coisas que podem ser movimentos, mas movimentos que podem ainda deter-se no seu curso. Eu sou obrigado a ser inteiramente objetivo! Essas coisas podem deter-se no seu curso. Eu não posso garantir que eu tenha percebido movimentos inequívocos de que as coisas vão para adiante. Isso eu não posso. Por mais que eu deseje, não posso.

(Sr. GL: O histórico da hora então consiste em quê?)

Ah, ah, ah! Sim…

(Sr. GL: Porque se é uma coisa que pode se deter de novo…)

Não é propriamente histórico…

(Sr. GL: O momento histórico.)

Os sintomas do momento histórico quais são?

O sintoma perfeito do momento histórico seria uma situação tal, que seria quase preciso um milagre para evitar que ela chegasse à explosão final.

(Sr. GL: Isso o Sr. acha que está sendo agora?)

Acho que pode estar sendo. Mas que haja um sintoma claro de que esta é a hora, eu hesito. Hesito com mais esperança do que nunca tive em minha vida. Nunca tive tanta esperança de que já tivesse chegado a hora quanto agora.



Mas, eu sou obrigado a andar com cuidado. O que é que eu posso fazer? Mesmo eu teria risco de desestimular vocês com o que estou dizendo, mas mentir para estimular, não! (…)

ou pelo menos muito esperançado, de que esse seja o ponto final.





* Uma grande esperança do Grand Retour agora

(Sr. GL: O Sr. vê alguma coisa na linha de um movimento bom de união de almas, por exemplo com aquela reunião de 4ª feira à noite, na Sala do Reino de Maria, algum prenúncio, não? Ou pode ser a mesma coisa: uma promessa que pode voltar à estaca zero?)

Aí você vê bem a questão. A primeira nota que eu vi de reviver a Sala do Reino de Maria, foi durante o estrondo do Filipe, aquilo tudo, aquela noite em que tinham pessoas mais proeminentes do Grupo — com certeza, com exceção do Pedro Paulo, todos os outros estavam lá — em que eu dei uma explicação de todo o caso, etc., e eu vi a sala como que mais luminosa do que de costume. E fiquei com a esperança de que realmente viesse o primeiro passo de uma coisa que é o Grand-Retour.

Na realidade, acho que o que houve agora nessa reunião, foi um segundo passo na linha do Grand-Retour. E que isto eu nunca tive igual esperança do Grand-Retour. Tinha coisas pela axiologia, etc., mas não fato de que esteja chegando.

Mas que certeza eu tenho de que nós corresponderemos a essa graça? É o ponto.

* Um convite da graça para algo indefinido

(Sr. Poli: Como é que o Sr. descreve essa graça do Grand-Retour de agora? Quais são os contornos dela, para o que ela chama?)

Ela chama para algo de indefinido, para o que chama a Sala do Reino de Maria. A Sala do Reino de Maria tem um convite indefinido, mas que se nós atendermos esse convite, o que entra em nós é o Grand-Retour.

(Sr. Poli: É um convite indefinido?)

Para um estado de espírito, para uma correspondência a uma certa graça que, se nós correspondermos inteiramente, entra em nós o Grand-Retour.

Agora, o que tem havido são pequenos acenos nessa direção. Dois acenos muito distanciados no tempo. Mas são dois acenos quando antes não tinha nenhum.

Para ser um pouquinho mais taxativo, mas em certas coisas não se tem o direito de ser amável: graças como aquela… (…)

* Mediocridade, uma forma branda de ódio a Deus

Soror Josefa Menendez. Nosso Senhor aparecia a ela com freqüência. E às vezes ela pedia a Ele que fosse embora, porque ela tinha que terminar o serviço d’Ela de freira. Uma vez ela estava varrendo o jardim do convento, tinha recebido a ordem de varrer o jardim, ela estava varrendo o jardim, apareceu Nosso Senhor, e começou a falar com ela. Ela pediu a Ele para se retirar, porque ela tinha mais o que fazer do que estar falando com Ele!

E o que estava dado a entender — e era verdade — que Ele falava coisas sublimes. E ela reputava isso inútil. Quer dizer, se Ele condescendesse em conversar com ela sobre se varreu bem o jardim; “e olha aqui, você não nota, mas tem tais graminhas que você poderia acertar, não acertou”, ela daria importância a Ele! Porque não estava situado no diapasão da mediocridade dela.

Bem, cometia um pecado enorme! Agora, imagine um outro a quem Nosso Senhor aparecesse, e quisesse matar a Nosso Senhor?! Bem, o pecado seria evidentemente muito maior, porque é o deicídio.

Bom, assim também são as duas formas de ateísmo. Há uma forma de ateísmo por mediocridade, e há uma forma de ateísmo por ódio a Deus. A mediocridade é um tal ou qual ódio a Deus, mas não se confunde com o ódio do deicida.

* A incompreesão dos medíocres em relação

ao Sr. Dr. Plinio

Bem, e é curioso: um deicida é capaz de me ver ao revés, mas vê. Quer dizer, ele é capaz de perceber bem até que ponto a causa que nós tocamos é a causa que Deus quer. Bem, pelo contrário, um mediocre não! Não me vê, não me entende!

Eu conto um caso, por exemplo. No começo da aproximação dos Xavieres de nós, fizeram “máfias” contra nós, e o Dr. Martim e a Dona Dulce me detestavam! Mas me detestavam a mais não poder!

Bem, correu o tempo, as coisas foram adiante, etc., etc. E me chegou aos ouvidos um comentário do Dr. Martim para a Dona Dulce: “Afinal de contas, nos falaram tanto contra o Plinio, que ele ia afastar os filhos de nós. Nossos filhos estão em casa, todos estão trabalhando (era a bem-aventurança!), estão ganhando a vida, e tudo o que nos disseram dele não se confirma.”

Eu deixei correr o comentário, não falei nada com ninguém, fiquei quieto. Sempre que eu me encontrava com ele — que era, aliás, raramente — nos tratávamos de modo muito polido, mutuamente de modo muito polido.

Bem, uma vez houve aquela campanha contra o divórcio. E o pessoal da TFP marcou encontro na Rua Pará, para todos de lá saírem juntos para o Viaduto, etc. E eu apareci cedo lá. Eu não ia à Rua Pará, porque em geral eu não assistia essas campanhas. Eu ficava num ponto perto do telefone, ao fácil acesso de todo o mundo que quisesse falar. Então eu fiquei na própria Rua Pará, eu mandei que o ponto de atendimento do plantão fosse na Rua Pará, e fosse mantido por mim com uma pessoa, duas, para ajudarem.

Bem, o Dr. Martim apareceu, com surpresa para mim, cedinho, para assistir a demarragem da coisa. Eu estava muito ocupado também, apenas cumprimentei-o e não falei com ele. Tratei de pôr aquilo em movimento. E naquele tempo essas providências todas corriam por minha conta. Isso era eu que fazia. O pessoal todo era muito novo, era eu que fazia.

Bem, quando o pessoal todo saiu, eu verifiquei com espanto que ele ficou. Quando o pessoal estava fora mesmo, a sede esvaziou, ele disse: “Bem, Dr. Plinio, eu vou me despedir do Sr.” Eu estava ocupado, não queria mantê-lo, disse: “Pois não, Dr. Martim, muito obrigado por sua vinda aqui, me deu muito gosto!”

Ele me abraçou assim por detrás pelas costas, e abraçado a mim me disse o seguinte: “Eu queria dizer que eu aprecio bem o tamanho do esforço que o Sr. faz, e do resultado que o Sr. consegue. Eu vi bem como a sua obra começou pequenina, e hoje é uma potência! E eu quero que o Sr. saiba disso. Meus parabéns!”

Eu disse a ele: “Dr. Martim, eu tenho muita alegria em poder dizer ao Sr. o grande papel que seus quatro filhos representam dentro disso, e felicitá-lo por esse fato, etc.”

Ele deu uma resposta assim, como quem diz: “Não. Cada coisa tem seu ponto. Eu sei o que os meus filhos fazem, eu sei o que o Sr. faz também. Meus parabéns!” A resposta corria por aí.

Está bem. Até o fim da vida dele mantivemos depois relações perfeitamente cordiais! Às vezes nos encontrávamos na saída dos Melquitas, e por uma razão ou outra, ficávamos esperando uma pessoa ou outra, ele ficava no meio da prosa, proseando comigo, etc. Nunca me viu! Nunca! Quer dizer, ter idéia da missão da TFP, etc., não tinha. Apesar dessa boa vontade toda.

Bem, um Frias — aliás, amigo dele —, pessoa muito menos, mas muito, muito menos regular do que ele, não tem comparação, um Frias vê. É problemático esse fato.

Depois, o que agrava é o seguinte. Que em geral quem não me vê, ou que me vê embaçadamente em relação ao que podia me ver, esse custa a compreender como é que eu trato com ele. Tem chegado a haver casos em que a gente conversa, e a gente tem impressão de que as palavras são diferentes, se embrulham, não saem.

(Sr. Poli: As pessoas que vêem embaçadamente o Sr., nem conseguem entender o Sr.)

É, e não conseguem entender minha conduta com eles, nem nada disso.

* Gravidade do pecado de mediocridade

(Sr. PP: É meio parecido com o fato de que uma pessoa tendo cometido um pecado muito grave, o sacerdote na hora da morte esquece a fórmula da absolvição e, portanto, não consegue reconciliar aquela alma com Deus.)

Que coisa tremenda!!

(Sr. PP: Não é meio parecido com isso?)

É meio. Agora, o do sacerdote muito mais grave, não é? Aí é uma coisa horrível. Porque você sabe que na absolvição a fórmula não é pronunciada pelo sacerdote. É pronunciada pelo próprio Jesus Cristo, servindo-se da laringe do sacerdote. Então, quando a voz do sacerdote não dá, é porque Nosso Senhor Jesus Cristo não quer dá-la! Aí… você desmaia!

(Sr. PP: Mas, não tem relação?)

Tem uma analogia. Mas com Nosso Senhor Jesus Cristo, o caso aí é tão horrivelmente grave, que é de desmaiar, não é?

(Sr. GL: É uma analogia, mas é analogia pelo tipo de pecado cometido.)

Nesse sentido é uma analogia mais frisante.

(Sr. GL: Porque é um pecado de embaçamento em relação ao Sr.)

Bem, e exatamente é desse embaçamento que eu tenho esperança que a gente se reerga, nesses dois sintomas. Mas isso não depende de mim. Pega de repente a qualquer um, quando quer. E está acabado.

* A hora é de ação, mas faltam os recursos

(Sr. GD: No momento em que o país se prepara para eleger um novo presidente, nós percebemos que a ocasião seria propícia para o Sr. lançar algum brado sobre a hora em que a nação se encontra, etc., que rumos ela deve tomar. O Sr. não acha que a opinião pública teria ouvidos para isso?)

Eu pensei várias vezes nisso. Mas a questão é que nós estamos numa tal miséria — e não há outra palavra —, e depois em tais apuros, que eu não sei verdadeiramente como nos arranjar. E uma coisa dessas pode nos arrastar para uma polêmica tremenda! E uma polêmica sem que eu tenha recursos para entrar…

(Sr. Poli: Não tem como.)

Não tem como. Como é que eu posso responder? Mas eu concordo com você, etc. Agora…

(…)



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