Conversa da Noite – 29/7/89 – Sábado . 12 de 12

Conversa de Sábado à Noite — 29/7/89 — Sábado

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É a Bagarre que Deus adiou; Há muito deveria ter arrebentado!, e o ar está vazio das graças precursoras: Vai tarde o calendário da História! * Esperar em oração de quietude; Papel da Senhora Dona Lucilia; vinda de Elias * A “frincha”: uma questão religiosa; Os dois tipos de gnosticismo

(Sr. GL: O Sr. na Reunião de Recortes deu aquele panorama inicial sobre a Rússia. A hipótese de uma guerra civil na Rússia, e a partir disso uma guerra mundial.)

Se seguisse, se as coisas continuassem como estão haveria uma guerra civil. Se a guerra civil continuasse — é sempre a mesma conjectura — haveria uma guerra mundial.

(Sr. GL: Bom, se houvesse essa guerra mundial, o Sr. disse que “seria uma bagarre”. Mas não ficou muito claro se seria a própria Bagarre, da qual nasceria o Reino de Maria…)

Foi o seguinte. Ali, como você disse, houve várias intervenções. Eu nem me lembro mais bem quais foram. Você me lembra que uma delas foi de DB. Mas houve várias intevenções. E elas levaram o meu espírito a oscilar de uma coisa para outra

* Esta Bagarre que de imediato se vê, no caso da Russia, é a Bagarre!

Eu queria dizer o seguinte — quando eu falei da Bagarre —, que haveria de imediato, e considerando as coisas no seu aspecto mais próximo, haveria uma Bagarre; Mas eu ia dizer depois que essa Bagarre seria muito provavelmente a Bagarre. Porque tomando em consideração os elementos que esta Bagarre que de imediato se vê, a semelhança que tem com as características da Bagarre na mensagem de Fátima, a semelhança é muito grande. E pelo fato da semelhança ser muito grande, torna muito provável que uma coisa se identifique com a outra.

Portanto, o que eu lancei como termo final foi a Bagarre propriamente dita: a nossa e a grande!

(Sr. GL: Mas daí não nasceria uma coisa verdade. Nasceria o Reino de Maria.)

Não, é outra coisa. Da guerra que isso provocasse, eles não entrariam na guerra com o intuito de que daí nascesse o Reino de Maria. O intuito deles era aproveitar o caos da guerra para fazer chegar até o verde.

Isso eu vejo bem que eu não explicitei direito.

(Dr. EM: A questão da guerra o Sr. disse. O Sr. disse que eles iam aproveitar a guerra para caminhar para o verde.)

É, mas “eles” aí seriam os da Revolução.

(Sr. PHC: E a guerra eles fariam a contragosto.)

Fariam a contragosto.

(Sr. PHC: Mas já que têm que fazer, então…)

Extamente. Eles tirariam daí o proveito… A guerra aconteceria para eles à maneira de um desastre. Eles não queriam a guerra. Mas aconteceu a guerra, eles têm o plano de chegar ao verde. Quer dizer, então, saíria uma guerra à maneira de desastre dentro do plano deles. Mas eles teriam o plano, um proveito a tirar dessa guerra, en tout état de question. Esse objetivo era um caos tal no mundo, que chegava no verde.

(Sr. GL: Isso seria diferente de uma guerra show.)

Diferente. A guerra show é outra hipótese.

(Sr. GL: Não está em jogo?)

De momento não. De momento está de fato uma guerra que é um desastre dentro do plano deles.

(Dr. EM: Agora, para eles caminharem para o verde significa que eles conservariam um certo domínio da situação. Ou não?)

Um certo domínio da situação, é claro. É claro que, partindo da idéia de que eles pudessem conservar um certo domínio, eles fariam desse domínio essa utilização.

* Imaginar os efeitos de um bombardeio com cem bombas atômicas!

Não é difícil a gente imaginar. Imagine, por exemplo, que saia um bombardeio atômico muito violento, e que explodam no mundo cem bombas atômicas, cinqüenta de cada lado. Eu não estou ao par das estatísticas, mas tenho impressão que não é um exagero imaginar…

(Sr. GD: Não, não!)

Nem de longe é um exagero, pelo que diz o Guerreiro. Ninguém sabe, na ordenação geral da natureza que nos envolve, cem bombas atômicas que explodissem que efeitos produziriam. Mas poderiam produzir efeitos devastadores de modo incalculável! Muito mais devastadores do que de uma guerra convencional.

Porque na guerra convencional os russos mandam bombardear Nova York, os norte-americanos mandam bombardear Moscou, na pior das hipóteses uns e outros se entredestroem, mas nós que estamos aqui nos abanamos!

Agora, se é uma guerra que traz desastres cósmicos, aí a coisa é profundamente diversa!

* A “frincha”: uma questão de autênticidade nos revolucionários, uma questão religiosa

(Sr. GL: Agora, para um resultado desses, a razão tem que ser de uma gravidade muito grande. Porque eles vão jogar 500 anos de Revolução assim pelos ares, quando eles sabem que eles também ficam incertos, que a própria máquina de manipulação deles vai pelos ares em boa medida, e muita gente pode se converter? Qual é o fator que está determinando isso? É uma pergunta. E outra pergunta é: o que o Sr. sente disso?)

Bem, deixa eu responder a primeira pergunta. Depois eu respondo a segunda, de bom grado.

(Sr. GL: Se não entra um fator divino que os leva a esse confronto, ou se é um jogo de conveniências políticas?)

Não. Eu não vejo na frincha, eu não vejo um jogo de conveniências políticas, principalmente. Mas eu vejo uma questão de autenticidade. Quer dizer, eles são muito apegados a uma determinada concepção religiosa, e uma determinada concepção do universo e da vida. É em nome dessa concepção que eles são revolucionários, igualitários, etc. E essa concepção está no centro de tudo quanto eles fazem. A história deles é uma história religiosa.

* Os dois tipos de gnosticismo

Agora, acontece que ao longo dos tempos — deve ser assim — foi maturando entre eles um desacordo religioso profundo a respeito de Deus, a respeito do homem, etc., num ponto especial, que é o seguinte. Para o gnóstico, o gnóstico deve considerar a vida um desastre. E deve querer aniquilar-se, através das várias reencarnações, para se dissolver no pan-deus. Isto é o que o gnóstico quer.

Agora, nessa perspectiva, ele acha que tudo quanto tire ao homem a ilusão de que a vida é um desastre, é uma coisa que prejudica aquele processo das reencarnações. Porque o homem que vive alegre e satisfeito nessa vida, vive dentro da douceur de vivre, ele não considera a vida um desastre. Ele quer viver a vida, e quer vivê-la o mais tempo possível. E por causa disso ele tem uma noção da gnose diferente da que tem o outro.

E de fato, quando em 1940, mais ou menos, eu li as primeiras coisas de gnose, eu vi que havia duas espécies de gnoses: uma gnose tântrica, e uma outra gnose não sei o quê. Uma gnose seria a gnose austera; Gandhi seria um exemplo disso. A gnose tântrica seria a gnose que se exprimiria em Las Vegas de modo arquetípico.

Essa dualidade já existia, e era apresentada então nos manuais — eu li um manual de gnose — como uma diferenciação, uma distinção, não um conflito.

* Uma distinção que se transforma em conflito

Mas não é difícil que uma distinção se transforme num conflito. Pode acontecer. A partir do momento em que cada parte, aprofundando a sua posição, acabe se dando conta de que é incompatível com a posição do outro. E aí se cria uma crise de autenticidade: “Este outro que está andando comigo, e que é meu colaborador, ele caminha realmente para o que eu quero? Ele é um outro eu mesmo, ou há uma incompatibilidade insanável entre ele e eu?”

Agora, essa crise de incompatibilidade pode ocasior uma situação mais ou menos prolongada como há em certos casais, em que o marido e a mulher, se tivessem que se casar de novo, nem ele escolhia ela, nem ela escolhia ele. Mas que prudência, etc., não se divorciam. E vivem de encobrir até certo ponto a incompatibilidade que têm.

Assim também viveriam eles ligados uns aos outros, trabalhando contra nós, e encobrindo mais ou menos entre si a incompatibilidade que tinham.

Mas a questão do Estado de Israel deu a essa crise uma atualidade tremenda. Porque a haver um Estado de Israel — eu vou usar uma expressão um pouco exagerada — pastoril e primitivo, etc., não haverá o Estado de Israel tântrico, transbordante de luxúria e de volúpia, etc., não haverá. E a recíproca também é verdadeira.

Ora, acontece que, porque eles quiseram encobrir a crise, uns e outros caminharam quietos para o seu respectivo lado. E na hora de desvendar a crise, a crise está muito maior.

(Sr. GL: Agora, o demônio não comunicou a eles o que era…)

A verdadeira solução? Eu acho que o demônio poderia fazer, mas que muitas vezes Deus não permite. Deixa a crise… Eu daqui a pouco entro com Deus dentro do assunto.

* A “frincha”: uma crise religiosa que leva a um irremediável entrechoque

Então, a crise é uma crise de autenticidade, e no fundo de autenticidade religiosa. E, portanto, facilmente conduzindo, a partir de certa produndidade da crise, conduzindo a um irremediável entrechoque.

* Intervenção da Providência no jogo da “frincha”

Agora, o dedo da Providência entra aí no seguinte: não permitindo que o demônio criasse condições psicológicas em uns e outros pelas quais eles quisessem reconciliar-se. Não permitindo que eles conseguissem um alibi por onde a alternativa crise tântrica e crise pastoril — vamos nos exprimir assim — ficasse tão aguda aos olhos deles. Enfim, todos os modos pelos quais nasce uma heresia, todos esses modos deram ali para formar uma heresia interna lá. E que torna insuportável aquela coexistência.

Agora, está no plano de Deus que quando a maldade deles chegasse a esse ponto, eles explicitassem inteiramente, etc., eles perceberiam que teriam vivido uma mentira: mentita est iniquitas sibi. E que isto coincidiria com um certo momento da história da Contra-Revolução, que deveria fazer com que cronologicamente as situações se convergissem.

* A luta contra-revolucionária não foi tão boa como deveria ter sido: Deus adiou a Bagarre

(Sr. GL: E esse momento da história da Contra-Revolução, o que o Sr. acha dele?)

Eu acho o seguinte. Para falar com uma franqueza afetuosa — aliás, já disse isso várias vezes — eu acho que as nossas faltas não impediram que nós combatêssemos bem a Revolução, mas impediram que nós a combatêssemos tão bem quanto deveríamos ter combatido. Eu alego em favor disso aquele famoso encontro de São João Bosco com São Domingos Sávio.

Mas nós não fomos nessa luta o chevalier sans peur e sans reproche. Não se pode dizer isso. Mas nós inegavelmente fizemos muitos sacrifícios.

Bem, a luta com isso adiou um tanto, a vinda da Bagarre ficou adiada de um tanto.

* Vai tarde o calendário da História! A Bagarre há muito deveria ter arrebentado!

Nós ficamos um pouco como o povo judeu errando até encontrar a terra prometida. Mas também é verdade que, com o tempo correndo, nós cumprimos talvez nossa expiação, e já vai tarde o calendário da história! Nós sentimos em nós que há muito tempo isso devia ter arrebentado!

Então é uma coisa ao mesmo tempo imatura, e ao mesmo tempo retardada. Diante dessa coisa, a impressão que eu tenho é que, cronologicamente, está tudo acertado para ser agora!

* No entanto, o ar está vazio das graças precursoras da Bagarre

Bom, mas com uma reserva. A reserva é a seguinte. Eu sempre tive a impressão — porque tudo quanto eu estou dizendo aqui é lógico — mas eu sempre tive a impressão que quando chegasse no período precursor da Bagarre, que haveria de ser que certas graças da mística ordinária se tornassem para todos mais vivas; que nós sentíssemos de algum modo, no ar, que outros tempos estavam chegando, e que os dias de Deus estavam próximos!

Ora, eu acho o ar extraordinariamente vazio de sinais assim. O que talvez redunde em uma prova a mais para nós. Mas uma prova final! Porque eu custo a admitir, custo a admitir que não tenha chegado o momento! Isso é muito razoável.

(Sr. GL: Agora, o que o Sr. sente, de si, diante dessa situação? Porque é a hora do Sr.)

Eu absolutamente não se me sinto isento do reproche de São Domingos Sávio para São João Bosco. Asolutamente não.

(Sr. GL: O que eu quero dizer que é mais importante saber o que o Sr. sente dessa hora, do que o que sentimos nós.)

Não, meu filho, aí você não vê bem a coisa. O destino de uma causa facilmente pode não ficar assim concentrado numa pessoa. Ainda que essa pessoa tenha um papel preponderante, pode não ficar concentrado nessa pessoa.

Você vê, por exemplo, o caso de Santa Joana d’Arc. O Rei da França era o filho primogênito da Igreja, o bem-amado, etc. Mas era um poca! Foi preciso que viesse Santa Joana d’Arc para ajudá-lo a libertar-se. E assim mesmo ele se portou mal com ela, etc.

Mas, tudo resumido, Deus não deu por causa do rei Santa Joana d’Arc à França. Mas Ele deu por causa de um conjunto de pessoas, de fidelidades, etc., incompletos, mas que Ele quis tomar em consideração na sua bondade, etc. Portanto, as figuras que não a figura central do jogo, têm mais importância nisso do que você supõe. Acho que você simplifica o negócio.

* O mundo está calvo como um ovo, desse tipo de graças

(Sr. GL: Certo. Mas o Sr. acha, então, que está na hora?)

Eu acho que estão postas todas as características da hora, mas que há alguma coisa que ainda não sinto.

(Dr. CX: Muito interessante!)

Meu filho, é que de tal maneira o curso da Bagarre vai exigir de nós qualidades e leistung excecionais, que se nós não formos reconfortados por graças especiais, nós não aguentamos. E essas graças é normal que se anunciem com toques de clarins, com coisas que nos animem, que nos dêem a vontade de, que nos movam, etc., qualquer que seja o nosso estado.

E isto eu não sinto. Não sinto no ar nenhuma sensação disso. Pode ser que agora, nessas conversas, venha uma graça nessa ordem. Mas ela não está presente, não é só na TFP, em nada no mundo ela está presente. O mundo está vazio disso. Há uma expressão alemã que diz “calvo como um ôvo”: O mundo está calvo como um ôvo desse tipo de graças. É minha impressão. Acho que de um momento para outro pode vir isto. Mas que a ausência disso…

* Estão faltando as graças de sentir a beleza do momento histórico, prévias ao “Grand-Retour”

Depois, tem outra coisa. Para que todos nós, na Bagarre, desempenhemos o nosso papel como deve ser, era preciso que nós tivéssemos um conhecimento mais profundo do significado da Bagarre. Mas um conhecimento assim: não é tanto um conhecimento intelectivo, mas é uma dessas coisas que a gente olha e sente todo o significado, a carga do acontecimento histórico, e por onde ela vai, etc. E, portanto, também compreenderíamos muito mais a nossa missão, a beleza de nossa missão. Compreenderíamos uma porção de coisas.

Não é necessariamente o Grand-Retour. Pode ser que seja o Grand-Retour. Mas falta-nos conhecer uma certa coisa nesse sentido. E isto eu creio que ainda não veio.

Mas eu julgaria, cronologicamente falando, totalmente normal que viesse agora, durante a conversa, de tal maneira está tudo preparado para isso.

* A Bagarre está se aproximando despida de ”flashes”

(Sr. Poli: O Sr. acha que há um conhecimento da Bagarre, e do significado dela, ainda insuficiente, falho?)

É. O que quer dizer isso, “conhecimento”?

No sábado foi festa do Bem-aventurado Urbano II, o Papa que convocou a cruzada, tá,tá. Houve um determinado momento em que o sermão dele, etc., levou todos a bradarem: “Deus o quer!” Este brado, esta coisa, evidentemente resultou de uma graça, por onde aqueles cavaleiros viram como que sensivelmente uma coisa que não era possível que eles não soubessem: que era preciso libertar a sepultura de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que Deus queria isso. Como é que eles podiam ignorar isso? Que era preciso conter o avanço dos infiéis, que vinham por cima da Cristandade. Como é que eles podiam não ver?

Mas é um certo ver sensível, eu diria quase um certo ver artístico, que empolga, que…

[Um flash.]

Perfeitamente: um flash! A Bagarre está se aproximando despida de flashes, dos flashes naturalmente precursores. E isto me leva a ser mais prudente na afirmação de que chegou a hora dela. Tudo isso me parece razoável.

(Sr. PHC: O Sr. já disse que um dos sinais de Bagarre próxima seria a vinda dos discos voadores, para justamente conduzir a Bagarre do lado deles. Em contrapartida, haveria a intervenção de Nossa Senhora do nosso lado. Agora, os discos voadores não têm aparecido, ultimamente.)

E um silêncio desse assunto, impressionante! Não quer dizer que amanhã não venha a notícia de que um disco voador desceu na Suíça, por exemplo. Quer dizer, eu acho que tudo está pronto para que coisas dessas comecem a se manifestar, mas não vejo que estejam se manifestando.

* Pedir a Nossa Senhora um bimbalhar de “flashes”

(Sr. GL: Nós precisamos pedir calorosamente a Nossa Senhora.)

Ah, sim, concordo inteiramente. Concordo inteiramente. Pedir a Ela, etc., as várias invocações de Nossa Senhora, tomar a invocação que toca mais a nossa alma, e pedir, ou várias invocações que toquem a nossa alma, etc.

Mas é uma graça dessa natureza, um flash. Mas não é propriamente um flash, é um concerto de flashes que está sendo necessário para isso, um bimbalhar de flashes, um carrilhão de flashes.

(Sr. Poli: Há mais alguma coisa que se possa fazer para atrair esse carrilhão de flashes?)

Eu acho que é bom a gente fazer propósitos desses, de fazer isso para conseguir, etc., é muito bom. Mas que nós estamos numa dessas horas em que a iniciativa é mais d’Ele e de Nossa Senhora do que nossa. E que nós devemos pedir que a graça nos faça ver — pedir por meio de Nossa Senhora do Bom Conselho, por exemplo — que nos faça ver na alma o que é que Ele quer. Nesse sentido de nós, qual é a contribuição que devemos dar.

* A meta dessas graças devem ser de unir com o Fundador

Não sei o que me dizem disso?

(Sr. GL: Nós devemos ter muito presente a união com o Sr., que é absolutamente necessária para enfrentar essa hora que chega. Agora, não viria algo de novo nessa união, para que haja uma ruptura total com a Revolução, e uma abertura inteira para o Sr.? Porque a gente vê que é preciso isso.)

É, meu filho, mas é preciso ver o seguinte aí. Tudo isso está bem, está muito bem até, mas não é o único meio necessário. Pode ser que venha uma graça a respeito de um ponto X, e dê a graça desse ponto X, e depois produza uma abertura muito grande para mim. Não é necessário que seja a meu respeito essa graça. A meta é unir comigo.

* O modo agir da Providência

(Sr. Poli: Por que razão a Providência agiria assim?)

Deus se compraz em tudo a mostrar a onipotência d’Ele, alcançando metas análogas por vias muito diferentes.

Quer que eu repita, não?

(Sr. Poli: Está claro.)

Isso nós vemos a todo propósito. Deus — vamos dizer que se pudesse dizer isso sem falta de reverência — é imensamente criativo. E ele a propósito de tudo, está pondo uma variedade, uma diversidade, um ponto, uma nota, etc., que é o transbordamento magnífico das coisas dele. Eu… (…)

pode fazer um bem enorme. Eu me lamentei depois de não ter feito o comentário… (…)

* A mesa está posta, sente-se o cheiro da comida: falta a dona da casa entrar

Em todo o caso, coisas assim em medida maior ou menor — e elas têm mil jeitos, mil coisas para ser assim — faltam ainda, para chegar e dizer: “A hora da Bagarre chegou”.

Vamos dizer assim: a mesa está posta, os convidados estão presentes, sente-se o cheiro da comida que está pronta, mas o dono da casa ainda não entrou. E não se ouve ao longe a voz dele, nem se ouve os passos dele, nem ouve nada.

* Esperar esa hora em oração de quietude, deixar Deus falar à alma

(Sr. Poli: Mas pode entrar de uma hora para outra.)

De uma hora para outra. Agora, a principal atitude diante disso é fazer — ao menos o que eu aconselho — é oração de quietude.

Quer dizer, quando a gente está numa igreja, e tem uma graça sensível — que aliás pode ter fora da igreja também, mas vamos imaginar que numa igreja — uma graça sensível qualquer, o que recomendam os moralistas não é que a gente vá rezar o terceiro mistério doloroso naquela hora. Pare de rezar e fique sentindo aquilo que Deus lhe diz. Deguste pacificamente, alegremente. Deixe Deus falar a sua alma. É assim que eu acho que nós devemos ir preparando a nossa alma para saber ouvir a Deus, para saber praticar aí essa oração de quietude. [Vira a fita]

palavras que elas esperam. (…)

Misticamente comunicada aos dele, na hora mais delicada e mais extrema, e que deve dar força às nossas almas.

(Sr. GL: É uma hora histórica mesmo.)

Eu fico até contente de ter ocasião de me abrir tanto a respeito disso, com os filhos que estão aqui. Mas se querem saber o que me anda no fundo da alma, é isso.

* A vida de Elias: o reluzimento sensível de todas as fidelidades que não existiam na época dele

(Sr. GL: A gente vê que é preciso caminhar, mais do que isso, é preciso voar na via da união com o Sr. E ou é Nossa Senhora mesmo, ou não tem jeito.)

Eu já disse alguma coisa sobre esse fato, mas eu creio que para isso, para os que se sentirem levados a isso, a devoção a Elias e a Henoc é altamente oportuna. Porque Elias — para falar mais dele — é por excelência o feitio de alma que sentiria, diante dessa situação atual, estertores, transes, aflições, entusiasmos, etc., incomensuráveis. E que acabaria por aí arrancando de Deus o que Deus queria que ele arrancasse!

E, por isso, nós devíamos pedir a ele que favorecesse as nossas almas, desse um jeito, etc., por ser ele o varão maravilhoso, em cuja alma reluziam de maneira sensível todas as coisas que os homens do seu tempo não tinham. Vamos dizer, eu acho que Elias foi tão, tão, tão fiel, que a vida e a pessoa dele eram um corretivo constante de todas as fidelidades insuficientes!

(Sr. GL: De todo o resto?)

De todo o resto. E que ele é um complemento nosso, para nos dar o que é necessário para a nossa fidelidade ser o que deveria ser. E nesse sentido, a expressão tão usada de “alma eliática”, etc., encontra aí a sua realização plena, não é? É o que me parece.

(Sr. GL: Está extraordinário.)

A tal ponto que… (…)

* Uma mansidão ante os planos da Providência “sicut oves ad occisionem”

frase lindíssima sobre a Paixão de Nosso Senhor, eu gosto de citá-la, de maneira que os Srs. devem ter ouvido de mim mais de uma vez: “Sicut ovis qui ad occisionem ductus est, et non aperiet os suum — assim como uma ovelha que é levada para ser morta, Ele (que é Nosso Senhor) não abriu a boca”. Assim nós devemos ser com esses planos da Providência. Nós devemos pedir abrasadamente, etc. Se não sair como nós queremos, nós devemos fazer como ovelhas que são levadas mansamente para o matadouro, como Abraão fez.

Nosso Senhor prometeu aquilo para ele, etc.: “Vem e mata o filho!” Uma coisa do outro mundo! Ele teve a mansidão de uma ovelha:

- Meu filho, deita-te aqui.

- Meu pai, quem é a vítima?

- Deite em cima do altar…

E de nossa parte, a coisa tem que chegar até lá. Quer dizer, nós devemos ser homens diante de Deus tais, que se a coisa não der certo assim, nós morramos em paz. Não reclamemos, não batamos com o pé nem nada. Devemos ao mesmo tempo crer firmemente que nós morremos só depois de ter visto o Reino de Maria, mas se a nossa esperança não for preenchida, nós devemos até a última hora oscular a mão de Deus. Foi o que fez Abraão.

(Sr. GL: A gente vê que a calma do Sr. é dessa posição de alma.)

Sim, porque se não tem, dá num nervosismo de toda ordem, não é?

Voilà messieurs! Chegamos ao último fim da coisa.

* Como o bemaventurado Palau, que se submeteu a uma mudança no objetivo da vida dele, nos planos divinos

(Sr. GL: É uma super noite. Porque o Sr. nunca disse da Bagarre o que o Sr. disse hoje. Quer dizer, o Sr. chegou a precisar o que falta para ela vir. E isso é um avanço muito grande.)

Isso! Essa é a grandeza fabulosa, mas também a humildade e a resignação fabulosa das quais nós temos que dar provas. E evidentemente, não está à altura da grandeza quem não tiver essa humildade. Deus quis dispor de outro meio, e está acabado.

Eu estou lendo a vida do tal bem-aventurado Palau. Aquele grande eclesiólogo, etc. Estou gostando muito. Em certo momento apareceu uma página — depois não pude concluir, e não tive tempo até agora, talvez amanhã cedo eu veja — aparece uma página em que o expositor da vida dele — mas isso é um trabalho apresentado por ele à Congregação, se não me engano dos Ritos, que cuida das canonizações — está essa história no trabalho: Deus mudou a finalidade da vida dele. E, com isso, o objetivo que teve sobre ele. E a vida mudou de meta. E ele se submeteu inteiramente, e aconteceu como Deus queria.

Ahahah… Essas coisas são assim… Essas coisas são assim. E a gente deve tudo isso receber com tranquilidade: Ecce Ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum.

* Como Deus agiu com Nossa Senhora, mudando o “plano” primeiro

Por exemplo, com Nossa Senhora. Ele propriamente não mudou de meta a vida de Nossa Senhora. Mas Ele mudou a meta que Ele tinha dado a Nossa Senhora. Porque Ele tinha dado como meta a Ela de não se casar, ficar virgem e consagrar-se inteiramente a Ele. Mas Ele de fato queria que Ela se casasse, queria que Ela ficasse virgem, e que Ela fosse fecunda apesar da virgindade.

Mas quando Ele a criou, Ele já sabia que Ele estava criando a Mãe d’Ele. Ele criou por ser Ela a Mãe d’Ele, ou para ter a grandeza própria à Mãe d’Ele. Foi Ele que a criou, não tem dúvida. Mas na mente d’Ela… Na mente de São José com a perplexidade…

Nós temos que estar prontos. Isso é que é propriamente praesto sum! Estou pronto para tudo! Isso nós temos que fazer.

* Papel da Senhora Dona Lucilia na hora apresente e na Bagarre; vinda de Elias

(Sr. Poli: E era muito a posição de alma da SDL, não é?)

Ah, muito. Muito! E daí essa tranquilidade, essa serenidade, e tudo.

Se não se incomodarem, eu vou fazer uma coisa um pouco cortês, eu vou consultar a hora… Não, temos ainda 15 minutos para tratar de alguma coisa que queiram. Inclusive também, eu falei de mudança de meta, querendo mudar de tema…

(Sr. GL: O tema é o tema!)

Parece-me.

(Sr. Poli: O Sr. não discerne um papel especial da SDL na hora presente, no sentido de arrancar de Deus essa iniciativa por onde entremos definitivamente na Bagarre?)

Discirno, evidentemente. Mas creio que é um papel que ajuda o de Elias. Porque Elias é a grande figura de fogo! Como também vai se consolidando — por várias razões que eu poderia dizer —no meu espírito, a impressão de que ele virá mesmo, para nós o conhecermos. E vamos tratar como ente vivo, não é? Já confirmado em graça, não pode mais pecar. Portanto, debaixo de um certo ponto de vista, um bem-aventurado. Aliás, ele é santo: faz-se culto a ele, existe igrejas em louvor dele, etc. Mas vocês já pensaram a nossa impressão, sendo Elias?

De repente nós estamos num apuro qualquer na Bagarre, estamos todos aqui fazendo uma reunião de sábado à noite, mas não aqui, em algum lugar do mundo. Bom, e alguém entra — numa cidade onde menos podíamos imaginar: em Ottawa, por exemplo.

Cidade da eletricidade, das empresas, das coisas horrorosas — alguém entra, nos pergunta primeiro que horas são. Nós respondemos. Ele pergunta qualquer outra coisa. Nós perguntamos se ele não quer sentar. Ele começa a falar, e nós sentimos o que sentiram os discípulos de Emaús. Ficamos assim…

Em determinado momento, vamos ver, ele pára de estar presente, mas em tais e tais palavras cognovimus eum: “Ahhh! É Elias!” A gente disse uma coisa, ele falou, ele explicou, etc. Por distração o gravador ficou ligado enquanto ele estava aqui, e gravou a voz dele. E nós ouvimos a ele falar de novo.

Acho que é uma conjectura lindíssima!

(Sr. GL: Muito boa, sempre que ele venha falar alguma coisa do Sr. Porque de outro modo não se entenderia a vinda dele. Como ele tem muita coisa para falar, e de outro lado é muito necessário nos ouvirmos o que ele tem a dizer, a coisa faz muito nexo.)

Eu não sei de outro santo — eu não sei; não é que não houve — eu não sei se outro santo do qual se tivesse tanto falado do espírito dele, e de partilhar o espirito dele, como de Elias. Por exemplo, Eliseu teve duas vezes o espírito dele. Assim por diante.

Não será que Elias nos fará todos participar mais intensamente do espírito dele, e nisto sermos mais inteiramente dele, e sermos mais inteiramente um, uns com os outros?

É uma hipótese. Mas nesta que é a noite das hipóteses, não há mal em acrescentar mais essa.

* É preciso se goticizar para entender inteiramente ao Senhor Doutor Plinio

(Sr. PHC: O Sr. em várias ocasiões nos disse sobre a vinda de Elias, etc. O Sr. vê como que sendo uma necessidade que Elias nos venha falar do Sr. para nós, porque nós ouvindo do Sr., e estando com o Sr., não seria suficiente para nos levar a esse ponto de preparação para a Bagarre?)

Meu filho, ainda na 4ª feira, vendo aquelas projeções da Catedral de Burges, tem algumas coisas magníficas ali! É uma catedral magnífica, não é? Não há o que dizer da catedral.

Mas o que eu pensei não foi na Catedral, foi vendo a projeção da Catedral, olhando lá para aquela projeção, etc., ainda isso me veio ao espírito. Há um momento em que aparece aquela colunata. E o povinho todo ali, sem eu dizer nada: “Ohhhhhh!” Na realidade, o pecado cometido pelos homens no fim da Idade Média desgoticizando tudo, inclusive na nossa própria alma, não foi resgatado. E enquanto houver alguma coisa de desgoticizado em nossas almas, será necessário que graças dessas venham em grande quantidade!

E de fato eu creio que nós só nos entenderemos inteiramente uns com os outros, no momento em que todos estivermos inteiramente goticizados.

Mas… nesse momento está começando a subir um sono desesperado! E eu proponho que rezemos!

[Está magnífica a reunião!]

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