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Conversa de Sábado à Noite — 29/4/89 — Sábado
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O enclave de Nossa Senhora nas almas, principal ponto de explicação de toda a panoramática da TFP
* A desproporção entre o ideal e os instrumentos para a sua realização
Então, quem é de vocês que me traz um problema, uma questão?
(Sr. GD: Com relação à reunião de sábado passado, em que o Sr. deu a panoramática da vida interior do Sr., nós perguntaríamos como se põe o profetismo diante da relidade externa no momento.)
Eu digo o seguinte. Que o panorama externo para mim, é o panorama da Revolução e da Contra-Revolução. É claro. O panorama da Revolução, mais ou menos está surrado de todos os jeitos. Quer dizer, nós já temos visto como está a Revolução, para onde ela vai, para onde não vai, etc., é uma matéria surrada.
Bem, matéria mais interessante é a panoramática interna do Grupo. A respeito da qual me ocorreu ontem, conversando com uma pessoa — não quero dizer quem é, mas é uma pessoa a quem eu prezo muito — a pessoa mais ou menos me dava a entender, mas dava a entender com bom espírito, tudo muito direito, me dava a entender que ficava meio desconcertada diante da imensidade dos planos que segundo nossa vocação a Providência tem a nosso respeito, de um lado; e de outro lado, a desproporção que existe desses planos com meus filhos. Levando-me a esperar dos meus filhos isto, aquilo, aquilo outro, que eles parecem estar em muita desproporção para realizar.
E a pergunta é feita por uma pessoa ainda nova, tem pouca idade, a pergunta por isso mesmo não era levada até o fim. Mas a questão levada até o fim é a seguinte. Feito o total dos planos da Contra-Revolução, tomado o total do que se pode esperar, segundo as vias comuns da graça, do conjunto de todos nós, então como aquilo é maior do que a soma de todos nós. E como, portanto, esperar que de algo que visto por algum lado é tão pouco, esperar um resultado tão grande, sensatamente, razoavelmente? Isso pareceria uma coisa sem proporção devida.
* O discernimento do Sr. Dr. Plinio de um “ponto” de nossas almas onde a Providência não permite que o demônio mexa
E eu gostei muito da pergunta, porque a pergunta levou-me a me dar conta — você veja, depois de tantos anos! — levou-me a me dar conta de uma coisa que eu conhecia confusamente, mas não tinha me lembrado de explicitar de modo tachativo, pão-pão, queijo-queijo, como vou explicitar agora. Mesmo assim, o assunto no meio de cem coisas para pensar, estava meio assim na penumbra de minha cabeça, quando a pergunta feita por vocês agora leva a questão a toda sua explicitude, e me parece que lhes interessará que eu exprima agora.
A coisa é a seguinte. Em virtude do discernimento dos espíritos, eu julgo perceber em cada um de vocês a presença de um ponto da alma — se se pode falar assim, “o ponto de uma alma”; é linguagem figurada, a alma é espírito, não tem ponto — mas num ponto da alma, algo que seria como que um lugar onde a Providência não permite que o demônio mexa. De maneira que aquele lugar, apesar às vezes de infidelidades, de coisas realmente às vezes lamentáveis, naquilo Nossa Senhora não permite que o demônio mexa. E naquilo eu vejo bem como é que a alma seria se aquele ponto se expandisse. E como é que a pessoa poderá ser, no dia em que ela corresponda completamente à graça.
Bem, e então eu vejo em cada um de vocês uma espécie de duas dimensões: o que poderia ser, se correspondesse inteiramente à graça agora; e o que será quando vier a graça do Grand-Retour, e a graça entre como um vento entra por uma casa arrebentando as janelas. Quer dizer, quebrando os obstáculos e enchendo a casa de sua vida, etc.
E, percebo muito mais o que cada um de vocês tem de potencialmente grande, e destinado a ser, do que é compreensível que vocês percebam. Nem sempre isso coincide com as imaginações um tanto megalóticas que esse ou aquele possa ter. Porque essas imaginações megalóticas em geral são o que a família imagina a respeito do sujeito, aumentado com o que ele imagina a respeito de si mesmo, e com sonhos ainda por cima. Isso muitas vezes não coincide com o que Nossa Senhora quer.
* Um enclave de Nossa Senhora nas almas, que se mantém até mesmo nos apóstatas
É propriamente aquilo que há na alma, que seria como que um enclave de Nossa Senhora na alma, onde Ela não permite que se toque, e onde ainda reina qualquer coisa da inocência primeva, acentuada pelo thau. E com alguma frequência acontece que no momento em que me apresentam a pessoa, eu vejo aquilo. E depois aquilo não se desmente a vida inteira. Pode a pessoa apostatar, mas não são poucos os apóstatas que ainda conservam aquela marca. A gente tem a impressão de que Nossa Senhora ainda quer alguma coisa deles.
Foi, aliás, uma das razões que me moveram a constituir os Correspondentes, foi precisamente a noção de que havia alguns miseráveis apóstatas, para os quais Nossa Senhora não queria manter durante muito tempo a porta fechada. Você pode imaginar que para um correspondente desses, passar 10 anos, 15 anos sem contato conosco, e de repente é admitido para um Encontro, e depois admitido a uma correspondência normal conosco, etc., é uma saída do purgatório! Eles dizem, aliás, coisas dessas à vontade. Entram correndo — muitos, não todos — entram correndo e dizem à vontade, dizem de todo jeito, etc., etc.
Eu soube, por exemplo, num desses Encontros nossos, vieram umas moçoilas. E umas moçoilas estavam sentadas no auditório, e perto delas uns enjolras. Elas naturalmente começaram a tomar atitude face aos enjolras. E um correspondente que estava atrás, casado, com a mulher ao lado, disse para os enjolras: “Bobinho, não vá nessa onda! Eu sei o que é ser casado, não vá nessa onda!” A mulher ouviu tranquila!
(Sr. GD: Ela também já sabe o que é ser casada.)
Ela também já sabe o que é ser casada! Bem, conheço outro caso desses nossos Apóstolos Itinerantes, bateram na casa de um sujeito que foi um elemento de certo destaque na TFP, depois apostatou, deu numa megalice doida, apostatou-se e casou. Não sei se sabiam que era a casa dele. Tocaram, e ele apareceu.
E viu que era nossa gente: “Ohhh! Mas entrem aqui!” Eles entraram; ele chamou a senhora, apresentou, etc., etc., e preparam coisas para eles comerem, e taratátátá. Em certo momento ele ausentou-se, para atender um telefonema, mais ou menos longo.
A mulher disse: “Vocês não sabem o que vocês estão fazendo por ele! Porque vocês não têm idéia do que é a saudade e o remorso que ele tem. Eu que sou a mulher dele, sei o que é isso.” Nisso ele entrou, e desconversou-se o assunto.
Mas, o que é isso? É um pobre coitado! Porque vocês não podem ter idéia da megalice como tomou conta da cabeça dele, não podem ter idéia. Vocês pensam que têm idéia, mas não têm. Bem, mas enfim, a megalice é uma coisa que avassala completamente. Mas, a gente vê ali um dedo de Nossa Senhora.
* O trato do Sr. Dr. Plinio à procura de que este enclave transforme-se numa fortaleza magnífica, e tome conta da alma inteira
Não é como um que não se casou. Um que não se casou tem outra situação e outra possibilidade. Mas, é para mostrar o que é aquele ponto que me faz ter tanta esperança neste, naquele, naquele outro, que não sente isso em si, porque ele não percebe nele o que Nossa Senhora mantém. E não percebe ali, nesse resto de inocência dele, está a verdadeira grandeza dele, potencial. Não está nas coisas que ele procura, que esse pobre megalomaníaco que eu estou falando aqui, por exemplo, tinha. Não está nisso. Está numa outra coisa que tem que passar pelo vale das humilhações, tem que passar pela aflição das demoras decepcionantes, tem que passar por tudo.
Mas, indo, indo, indo, ele não sabe o tesouro que ele tem dentro dele. E o que de repente toma “despliegue” nele, e enche a alma dele. E eu gostaria muito que cada um soubesse, porque há uma batalha no interior da alma de cada um, que é mais ou menos o seguinte: um lado bom que quer acreditar nisso, e toma vôo; mas um lado ruim que é cético em relação a isso: “Nãããoo! Eu não sou nada! Eu valho tanto e tão pouco quanto os outros.” Não do lado das aptidões pessoais, mas é do lado do porte, do quilate de alma para vir a ser um grande herói, um condestável de Nossa Senhora, um mártir, uma coisa que valha algo!
E então, meu papel é de ajudar a cada filho a ver-se assim. E, por isso, o meu trato com cada um é como se eu visse nele só isso. Que é para ver se ajuda a levantar um pouco e progredir. Porque eu tenho uma esperança enorme que, apesar de haver verdadeiramente fraquezas entre nós, é uma coisa inegável, Nossa Senhora em certo momento, Ela que mantém com tão maternal obstinação este enclave na alma de tantos de nós, que Ela em certo momento fará este enclave se transformar numa fortaleza magnífica, e tomar conta da alma inteira!
Também aí, uma espécie de modo depreciativo de ver os outros dentro do Grupo. Então, por exemplo, um faz uma coisa, outro faz outra, mal feita: “É, não é senão isso!” É porque não vê o enclave! Quer dizer, há, eu estou vendo que há! Mas, não vê o enclave. E o enclave é o ponto de levantamento, o ponto de soerguimento da alma.
* Toda a panoramática da TFP se explica nesses enclaves
(Sr. GL: É o que vale.)
É o que vale. Sem o que a TFP seria um mito, é isso. Vou dizer mais. A coesão da TFP provém da persistência de Nossa Senhora em manter esses enclaves.
(Sr. GL: A coesão é entre os enclaves.)
Entre os enclaves. Porque o resto tudo seria queixa, seria recusa, etc. Depois, lá fora, iriam ver que é muito pior. Mas, muito pior! Mas, o filho pródigo antes de sair da casa paterna perde o juízo. Então imaginar coisas, etc., e sai da casa paterna.
Mas, o fato é que esse enclave é a própria vida da TFP. A TFP vive desses enclaves. E esses enclaves que nos mantêm juntos, e que nos dão a esperança, e que fazem com que, vista de fora para dentro, Nossa Senhora faz ver o pessoal ver o enclave.
(Sr. GL: O pessoal de fora vê.)
De fora da TFP vêem isso. De dentro da TFP, nós por não querermos ser tanto quanto Ela quer nos dar, e por querermos ser mais do que Ela quer nos dar, numa linha de 5ª ordem, nós bolostrocamos tudo isso. E dá numa coisa que eu nem sei o que dizer.
De maneira que essa teoria dos enclaves conduz no seguinte. Eu estou constantemente em trato com os da TFP. No momento aqui estou com 3. Não preciso dizer a vocês que, debaixo desse ponto de vista, a TFP para mim é uma só. E portanto, TFP da Colômbia, ou do Chile, ou de Curitiba, tudo isso é uma coisa só, não faz a mínima diferença.
Bem, mas eu estou a todo momento falando com esse, falando com aquele, e a grande pergunta de minha alma é antes de tudo: o enclave, como vai? Porque, se eu for perguntar como vão os outros aspectos… Nem sempre dá alegria, e nem sempre faz compreender o panorama, porque o panorama não se explica a não ser em função do enclave.
E também, vamos dizer, certas paciências, certos afetos, certos deixar correr o que for, digamos assim de passagem, engolir certos desaforos, etc., etc., não se compreenderia; nem eu teria direito de aceitar, se não fosse o enclave.
Bem, então, como há uma espécie de interação desses enclaves, e há uma espécie de ação contínua desses enclaves comigo, e deles entre si, é do conjunto dessas ações que decorre o panorama atual da TFP. Essa seria a panoramática verdadeira e profunda da TFP.
* O cair e subir, apagar e acender das almas, proporcio- nando tristezas e alegrias para quem trata com elas (Sr. GL: Qual é a resultante disso?) A resultante é que a gente percebe aí, eu julgo perceber pelo menos, muitos planos de Nossa Senhora. Momentos em que Ela, para nos provar, Ela deixa as graças serem menos abundantes, e vários começarem a tremer, e a gente tem impressão que a casa vai cair. Bem, em geral a casa se repõe em virtude de um que dá um passo inesperadamente, e que brilha de um modo especial. Nossa Senhora faz luzir um enclave para que toda a casa se ilumine. Seria como um abat-jour colocado num certo ponto da sala, e a sala inteira se esclarece. Depois, outro se apaga lá… E às vezes tem as coisas mais cruéis. Quando a gente imagina que tal alma vai muito bem, não só o enclave, mais ela toda vai muito bem, etc., etc., quando a gente imagina isso, de repente, num tom de voz, e no modo de perguntar a gente pelo telefone, qualquer coisa, a gente percebe uma coisa que está afundando. E aí tem uma outra coisa muito desagradável — porque tudo isso é muito bonito… (Sr. GL: Para o Sr. é meio puxado, não é?) Mas tem o seguinte. Há também enclaves do demônio no sujeito. Não é em todos, não é em cada um. Mas há certas concessões que o sujeito faz ao demônio, que fica aquele dente imundo e maldito trancado na pessoa! Nossa Senhora dá graças, Ela estimula, mas sempre fica aquela história, aquela história! Também, poucas alegrias são grandes na vida como quando a gente percebe, de repente, que por uma ordem d’Ela aquele dente porco saiu, e aquela alma está revivendo! Bem, e aí a gente percebe o conjunto das graças d’Ela, que ora levantam o horizonte, ora baixam o horizonte, etc., mas que tem uma certa relação com o jogo do bem e do mal, da luz e das trevas, da Revolução e da Contra-Revolução… (Sr. GL: Fora?) Fora. Então, no grande plano. (Sr. GL: O Sr. podia exemplificar um pouco isso?) (…) * Tailândia, África do Sul, Namíbia — a luta do Sr. Dr. Plinio pelos enclaves dos povos
A Tailândia. Naquele oceano, a Tailândia resiste. E ela resiste quando o Vietnan católico não resistiu! Agora, por quê? Porque há qualquer coisa naquele povo e, portanto, até certo ponto naquele Rei e naquela Rainha, em que eles não têm Fé, têm uma crença falsa, são o que você quiser — é isso! — mas não ousaram mexer naquilo. E não houve lugar para traidores (como são os traidores que foram o Epíscopado vietnamita mais aquele Tieu, aquela gente toda) apunhalarem a nação. Porque se é verdade que cada nação tem o governo que merece, é sobretudo verdade que cada nação tem os traidores que merece!
Você veja, por exemplo, a África do Sul, a situação sul africana eu analiso com muita atenção à vista disso. E me dá a impressão de uma nação que apodreceu e perdeu a partida. E que um pouco mais, um pouco menos, aquele Botha e aquela coisa toda jogam aquela nação na lata de lixo!
Eu sei que quem vive em Johannesburg, Pretória, essas coisas todas, não tem essa impressão. Porque todos estão postos no otimismo de uma espécie de Bagarre azul, eu sei disso perfeitamente. Foi a mesma coisa que aconteceu com a Rodésia, mesma coisa que aconteceu com Angola, com Moçambique, a seu modo, o modo inglês e o modo português, mas foi isso: todos julgavam que não iam cair, caíram todos!
E a partir do momento em que eu percebi que havia ali um governo com apoio de gente que era a seu modo contra-revolucionária, mas de gente que ao mesmo tempo tolerava revolucionários, querendo acreditar que eles eram bons, eu me disse a mim mesmo: A luz apagou! Não tem mais por onde escapar, está liquidado! E a meu ver, está liquidado.
Vocês me dirão: “Mas, então, o que nós estamos fazendo lá? E de concreto, o que é que o Sr. espera da Namíbia?” São perguntas que podem vir.
Eu acho que por mais perdido que aquilo esteja — eu até nem espero mais que aquilo dê uma Tróia — que alguma coisa de lá ainda se salvará, eu não sei para que desígnios de Nossa Senhora. Mas não se pode deixar aquilo sem mais nem menos. É preciso continuar a agir e lutar, como se aquilo se salvasse. Mas eu não tenho esperança nessa salvação.
Namíbia. Há lá uma certa inocência teutônica que faz daquilo uma coisa mais conservadora do que o próprio govêrno do tempo do IIº Reich para cá. E aquilo vamos ver como é que reage diante do choque do desastre que vem. Se eles reagirem de fato, ali pode dar uma troiazinha. Mas, uma troiazinha é uma grande coisa.
Estará dando? Eu tenho impressão, à distância, o Luiz Daniel dirá se é ou não é, eu tenho impressão à distância que os primeiros sintomas não são bons. Eles já deveriam ter, a meu ver, se levantado. E já deveriam ter criado um caso com a ONU e tudo o mais. Não criaram. A partir desse momento eu tenho receio. Mas, ainda há possibilidades.
Não sei, meu filho, seja inteiramente franco.
(Sr. LDM: Tristemente é assim.)
Tristemente é assim. Mas é muito bonito você ver isso à distância. E quando eu quero que ele me projete a Tailândia, é com o desejo seguinte: se algum dia for possível, ainda estender a mão para a Tailândia.
São os vais-e-vens das coisas, que é muito bonito examinar. Sobretudo depois de termos tido essa conversa, que permite quase que uma reunião de sábado, trans-sábado! Agora, que não se pode contar, porque se contar o pessoal todo vai querer vir a essa reunião. E é preciso esperar a hora que Nossa Senhora dê a graça a eles, eu quererei enormemente, seria uma alegria para mim. Mas, tudo tem sua hora, tem seu momento.
(Sr. GL: Enclave nos povos. Povos que não passem pela BG porque não se transformamram em Tróias, propriamente?)
Nossa Senhora disse em Fátima: “Muitas nações perecerão”. O que quer dizer que muitas não perecerão. Por mais misterioso que seja, é assim.
(Sr. GL: Mas no sentido de que sumirá do mapa?..)
Não. Como nação desaparece. Não quer dizer que morram todos os componentes daquela nação. (…)
* Chamados a uma realização “maior”, não procuremos a “minor”
…pegar bem a coisa no ponto. O ponto é o seguinte. Isso pode ter dois aspectos. Um aspecto é esse. Uma pessoa que está no Grupo, e que se sentiu, antes de entrar no grupo, com aptidões para fazer essa ou aquela coisa, não contrária à moral católica, não se trata disso, mas uma coisa à margem da moral católica, uma realização pessoal. E outra coisa seria uma espécie de inação dentro das vias da vocação. São, portanto, duas gamas de inação.
Para a primeira gama de inação, é preciso ver bem as coisas como são, de fato a Providência nos pede que nós não queiramos fazer qualquer coisa fora de uma vocação tão grande que nos foi dada. E que a nostalgia que nós possamos ter disso, daquilo ou daquilo outro, é uma nostalgia que se dirá: “Bom, mas eu me sinto realizado se eu fizer tal coisa! Vamos dizer, por exemplo, se eu compuser tais músicas, eu me sinto realizado (mas músicas sem nexo com a vocação).”
A resposta é: dada a sua vocação, você terá ocasião em certo momento, ocasião profeticamente nebulosa, difícil de atingir — vejo bem, os caminhos do profetismo são arduamente misteriosos, isso eu vejo bem — mas, enfim, se é uma coisa para realizar dentro da vocação, em certo momento se realizará. Agora, se é para realizar fora da vocação, realmente o ver tanta coisa pede-nos a nós que nós façamos certo sacrifício, e não pensemos numa realização total com o minor e maior, quando fomos chamados inteiramente para o maior.
Eu dou um exemplo. Imaginem que vocês soubessem de repente que eu sou um grande filatelista, que tenho numa sala aqui no apartamento uma coleção de selos magnífica, que me correspondo e me sinto realizado sendo filatelista, embora não tenha nada com a vocação.
Vocês sentiriam que qualquer coisa está errada, não é assim. Poderia ser que eu gostasse de ser um grande filatelista, não haveria pecado nenhum dentro disso. De fato, uma porção de coisas terrenas eu gostaria de fazer, e talvez fosse bem dotado para elas. Por exemplo, numa época em que a diplomacia fosse menos dominada pelo telefone, essas coisas que diminuiram o papel do diplomata, eu gostaria muito de ser diplomata. Eu gostaria muito de ser parlamentar. Assim por diante.
Mas, eu sou chamado para outra coisa, e não devo fazer isso! É um sacrifício que a Providência me pede. Em certo momento Ela fará sentir que eu, fazendo esse sacrifício, me realizei mais inteiramente do que não fazendo. E, aliás, eu já sinto isso. Já fiz esse sacrifício, e sinto isso.
Agora, outra coisa é dentro do Grupo. Primeiro, a coisa mais de ação que a pessoa realiza dentro do Grupo, eu acabo de mostrar que é existir em função disso, e que isso é o fazer por excelência. Exatamente, coisa que era menos clara antes dessa exposição.
Mas, há outra coisa também. É que muitas vezes não aparece para o indivíduo o que ele tem que fazer dentro do Grupo, porque ele não se pôs inteiramente nisso. Se ele se puser inteiramente nisso, aparece o que ele tem que fazer. (…)
Eu não peço a uma pessoa que resolva diretamente alguma coisa a esse respeito, à vista do que eu digo. Porque é preciso rezar, é preciso pedir, virá, etc., etc. Mas… (…)
Você está vindo dos EUA, deve ter notado isso, que o Mário tem razão quando diz que o peso da personalidade dele cresceu muito nos EUA. Agora, ele tem no fundo um thau magnífico. E se ele se tivesse dado a outra coisa, do que conceder a entrar nessa vertente, da qual a ponta mais baixa é a mania de… (…)
…ele seria outro homem. E toda a Nova Direita seria outra coisa. Ele quis se realizar de um outro modo… Quer dizer, podia ser que toda a história dos EUA… (…)
* Realizações fora da pista: Werich e Blackwell
…mostrar-se como ele é. O metrô é um exemplo frisante de todo um estado de coisas. Bom, começa por aí, de chegar na Sede do Reino de Maria e tirar os sapatos. Agora, seria outro homem. Me dói notar isso numa alma menor que a dele, mas que se brutalizou menos que a dele, que é o… (…)
…amassado como uma brioche que alguém tivesse amassado assim, e deixada jogada num prato. A gente vê, quando eu o conheci, ele tinha outra coisa. Mas é porque ele cedeu a outros atrativos, a outras coisas. Não sei se você conhece o dito do Weyrich a respeito do Blackwell, bem antes de virem aqui a São Paulo. O Weyrich disse: “A vinda do Morton B. a São Paulo dividiu a vida dele em dois. Ele ficou marcado com uma coisa que não sairá mais, e que o modificou em algo”.
É o quê? Um protestante. Mas, com vistas à conversão dele, Nossa Senhora abriu um enclave naquela alma.
Coisas características. Eu recebi aqui um álbum, um simples álbum de papel, portanto, com fotografias muito bonitas, muito boas, das pedras preciosas do Brasil. E ele gosta muito de pedra preciosa, e semi-preciosa, ametista, etc. Para fazer a ele uma gentileza, eu mandei o álbum de presente. Ele guardou o álbum. Muito tempo depois, ele arranjou o escritório dele, e chamou o Mário para ver. E tem assim, dividindo a parede do escritório dele, duas placas de vidro. E entre as duas placas tem as folhas do álbum, colocadas em várias… Depois disse: “Olha, vá e conte ao Dr. Plinio o que você viu, que eu soube apreciar o que ele me mandou…”
É um homem para o qual as pedras preciosas tem um sentido. Você vai procurar o rastro disso na vida e na alma do Blackwell, não tem nada.
(Sr. GD: Do Weyrich?)
Do Blackwell. Por quê? Porque ficou nele esse lado, mas ele quer ser o primeiro depois do Weyrich. E dirigir, fazer… Essas coisas assim. Acabou. É delicada a coisa, mas é assim.
E creio que… Você me viu falar na reunião do MNF sobre aquela organização de jovens alemães, aquilo tudo. O que prejudica aquilo, com certeza, é que uma porção deles tem assim uns hobbies profissionais e pessoais, que não vão na linha do ponto para o qual eles são chamados. São cavaleiros que nas suas horas vagas gostam de fazer negócios, de fazer outras coisas, de serem menestréis, etc.
* A Providência nos pede um sacrifício no meio das improbabilidades e das inverossimilhanças
A Providência docemente, suavemente, sem brutalizar, pede mais. O que a gente pode fazer? A Escritura diz que nosso Deus é um Deus ciumento.
Aliás, o Átila estava me contando uma coisa a respeito disso, que parece não ter uma relação direta com o tema, mas tem. Eu não sabia disso, não sei se vocês sabiam, que quando Moisés atravessou o Mar Vermelho, quando chegaram mais ou menos no meio do Mar Vermelho, Deus mandou a Moisés que parasse; e que todo o povo parasse, diante daqueles muralhas de água para se desfazerem a qualquer momento, levantassem um altar, no fundo do Mar Vermelho, e oferecessem um sacrifício!
E oferecido o sacrifício, ele continuou, e o mar cobriu depois esse altar para sempre. Entre parênteses, como eu gostaria de mandar escafandros percorrer o fundo do Mar Vermelho para procurar o altar de Moisés! Como eu gostaria! Que coisa prodigiosa!
Bem, mas coisa mais extraordinária é a seguinte. Isso foi na entrada da Península Arábica. Depois — o Átila está estudando essas coisas para aquele trabalho que ele está fazendo — para a saída da Península Arábica tiveram que atravessar o Jordão. E mais de uma vez (não mais com Moisés, mas com outro profeta) tiveram que atravessar o Jordão, que parece que é um rio bem caudaloso, de bom tamanho, a pé enxuto! Este outro profeta fez a mesma coisa. Mandou construir no leito do Jordão um altar. E ofereceu um sacrifício, e depois foi para frente.
Há qualquer coisa na nossa vida desse mistério. Nós temos que oferecer um sacrifício no meio das improbabilidades, das inverossimilhanças, e as águas cobrem. Em certo momento, isto reluzirá, etc., etc., é uma coisa muito bonita. Em certo momento. É o mistério da nossa vocação.
[Vira a fita]
…mas é das tais coisas. É o altar a ser construído, e que as águas cobrem. A meu ver, esses altares estão esperando que ainda sejam celebradas missas neles. Quer dizer, o sacrifício incruento do Filho de Deus ali se realize. São mistérios.
E, de fato, a nossa vida sem mistério não tem sentido. São as coisas.
* Dura perseguição contra a TFP, sobretudo na França
Agora, por exemplo, vocês vêem, está um tanto nessa linha. Vocês conhecem bem o êxito que está tendo na França o “mailing”. É um grande êxito, mas é um grande, grande êxito, inegavelmente. O Caio veio aqui para passar umas férias. Pelo jeito dele meio arqueado, etc., eu estava vendo que ela estava ultra necessitado dessas férias. Ele chegou aqui, apanhou uma gripe! Mas, enfim, vá lá…
(Sr. GL: Mas não pôde estar com o Sr.)
Muito menos do que ele desejaria. Bem, vá lá. Mas, acontece que ele recebe, há dois ou três dias, recebeu de Paris um grafonema dizendo que La Croix tinha publicado um artigo de um sujeito contendo um comunicado da Secretaria de Imprensa do Episcopado, contra a TFP, e qualificando a TFP de seita.
Nós recebemos a coisa, e vimos que não era bem, havia um truque no negócio. Mas, de fato, há comunicado do Episcopado da França contra a TFP. E no sentido de dizer que está produzindo um déferlement de cartas, e que o Episcopado se julgava na obrigação de avisar que, de acordo com o comunicado da organização tal, tal (que é a organização anti-seitas), de acordo com esse comunicado, essa Avenir de la Culture era ligada à TFP, e a TFP era difamada por tais, tais razões. De maneira que o comunicado julgava que os fiéis deviam abrir os olhos, antes de dar tanto dinheiro para a TFP.
Bem, dois dias depois aparece uma comunicação do Fisco francês, que Avenir de la Culture vai ser vistoriada a fundo, para saber a regularidade de sua contabilidade. Em tantos dias vão aparecer lá os homens incumbidos, etc.
Ora, há algum tempo atrás, a coisa de dois meses, as Cortes espanholas constituíram uma comissão para estudar o assunto seitas, que estava causando muita agitação na Espanha. Evidentemente é conosco, não é? E que a comissão chegou à conclusão de que não tinha o que objetar contra as seitas, sem atingir a liberdade religiosa. Mas que a experiência mostrava que em geral as organizações que se chamariam de seitas são muito relaxadas na contabilidade. E que, por causa disso, o modo de fechá-las era ir lá e ver as irregularidades, e fechar a organização.
Você está vendo que uma coisa tem ligação com a outra.
(Sr. LDM: E nos EUA também um mini-estrondo em gestação, que vai na mesma linha.)
Na mesma linha. Ora, acontece que o Caio, sempre muito disciplinado — é uma coisa que se tem que reconhecer — tinha combinado com o Guillaume, também muito boa pessoa, de tomarem uma empresa grande para pôr em ordem a contabilidade deles.
Mas, essa empresa, algum tempo atrás, declarou que não queria continuar a nos servir, porque nossa organização era misturada com política. E que as empresas do gênero deles não gostavam de trabalhar para organizações políticas. E, portanto, cortou conosco. E o M. Babinet, o pai, tinha boas relações com um funcionário muito graduado da maior empresa francesa para assuntos de auditoria, que é uma tal “Fiduciére” qualquer coisa. E a “Fiducière” tomou conta de nossa contabilidade, e deixou como objetos podem estar numa vitrine!
E assim, todos nós estávamos inteiramente seguros de que eles não vão encontrar nada. Mas, os dois funcionários que cuidavam da nossa administração, simultaneamente pediram licença da firma! E eles é que poderiam, no caso de ter que desembrulhar alguma coisa, eles é que conheciam. Porque o dono não tem isso na cabeça, é o técnico.
Mas, foi possível a “Fiducière” fazer voltar um dos funcionários que ela tinha feito sair, e ficar conosco trabalhando, durante todo o tempo da vistoria.
Bem, você está vendo que acontece logo depois uma outra coisa, uma coisa incrível. Os telefones em Paris, parece que em toda França, tem um certo número de algarismos, mas que é o mesmo para todas as cidades. O telefone é muito importante para uma organização de “mailing”. O telefone da TFP, único na lista, sai com um algarismo a mais, na lista nova!
Vocês estão vendo que é uma perseguição! E esta coisa se alia ao seguinte. Há uma máquina que eles usam lá, que se usa muito na França, que é uma espécie de máquina telefônica, mas que é meio televisão telefônica, uma porcaria assim qualquer, que eu não sei bem como é, mas é uma máquina diferente para comunicações. Também o número dessa máquina saiu truncado.
De maneira que eu já recomendei ao Caio que, chegando a Paris, procure o advogado nosso — parece que é um bom escritório de advocacia — e peça a minuta de uma carta à telefônica parisiense, e à outra teleporcaria também, duas cartas, perguntando como é que se explica isso, porque mesmo pela computação não havia jeito, a computação rejeita um algarismo a mais da linha, como é que se explica isso? E dizendo que se a explicação não for satisfatória, vamos promover um processo de indenização.
Bem, mas vocês estão vendo o tranco! O tranco vem por aqui também, vem por toda parte! Eu estou pensando em grafonemar a todas as TFPs, contando o caso e recomendando que procurem grandes auditorias! Nós aqui nos escoramos numa grande auditoria, que é a Deloite. Se não fosse isso, não podíamos ter garantia nenhuma de nada.
* Prova de que a TFP incomoda
Mas, não sei se vocês vêem a batalha, não é? Bem, mas essa batalha nos mostra como nós estamos sendo prejudiciais, logo na França! E eu acho que essa história da França, é porque tinha a questão do Judas, que é no fundo o que a tal organização anti-seita alega. Aquela mesma cantilena. Então, eu acho que eles por causa da questão Judas, eles resolveram fazer o primeiro passo na França. E fizeram erradíssimo, deixando transparecer a perseguição de modo tão claro.
Já saiu a nossa réplica no La Croix, mas assim, por lei: pela lei de imprensa temos o direito ao mesmo espaço, dentro de x dias. Publique tal réplica! Já saiu! Não tenho a réplica aqui em mãos, mas o Fernando tem. E é réplica feita pelo GB, muito bem feita, com aquela pinça francesa que é especial!
(Sr. GL: Se outra mão não mexe nessa pinça…)
Um pouquinho. Demos umas tintas no negócio. Bem, isso vai numa batalha por aí.
Estados Unidos. Eu acho que a qualquer hora arrebenta um estrondo nos EUA. Porque eu estive lendo um resumo que o Mariano Lejeren fez, aliás um bom resumo como são os trablhos do ML, é uma pessoa que resume muito bem, estive lendo os resumos do ML, a respeito da discussão entre o Papa e o Episcopado norte-americano. Foi um encontro, não é? O Papa e alguns cardeais, de um lado, e os bispos norte-americanos de outro lado.
Eu já me entendi com o JC para mandar mimeografar isso para a nossa próxima reunião. A Igreja está arrebentada! O Episcopado norte-americano se declarou praticamente em revolta — aliás, você deve ter visto isso lá — contra a Santa Sé. E JPII saiu dizendo que estava tudo muito bem, etc. Porque é a missão dele.
Bom, eles não vão tolerar muito tempo, sem cair em cima da TFP, porque notam que a TFP é o estandarte de pé para se opor a uma coisa dessas. E temos que estar prontos para tudo! Vamos ver!
Bom, meus caros, agora a hora chegou. Vamos rezar.
[Orações finais.]
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