Conversa de Sábado à Noite (Confidencial) – 25/2/1989 – p. 3 de 3

Conversa de Sábado à Noite (Confidencial) — 25/2/1989 — Sábado [Rolo JC 5] (Flávio Lorente)

O que eu vou falar nesta fita fica proibido de circular a não ser nos seguintes ambientes:

Em primeiro lugar o EVP.

Em segundo lugar, os Êremos de São Bento, Praesto Sum, Jasna Góra e Elias, portanto, incluindo também o SL e MPA. É só isso.

Fora disso não pode circular, absolutamente.

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(...)

...mas era preciso ver o que é que eu quis, e por que é que eu quis isso. Eu tive contatos com muitos elementos da nobreza nas minhas anteriores viagens à Europa. E os recentes contatos ainda com o Coddanunciante, com o De Mattei, que é nobre, como irmão do Zayas, que é nobre também, com uma outra pessoa assim, contatos abundantes. E cheguei à conclusão seguinte:

Que em geral, em contato com o meu espírito, minha psicologia, minha mentalidade, por causa da diferença entre o latino-americano e o europeu, o europeu fica assustado, um pouquinho invejoso, e colocado numa posição rebarbativa de quem não quer aceitar o que eu digo. Isso eu notei inúmeras vezes. E outro dia o Adolphinho me fez referência à primeira viagem que fizemos juntos à Europa, ele disse que ele notou isso, exatamente.

Um professor carlista, Llambra, esteve no Hotel Ritz longamente falando comigo, conversando. Está bem. O Adolphinho dizia que notava que ele ficava interessadíssimo, ficava com admiração, mas que saia com inveja e com raiva.

E é concebível, hein! É concebível. E eu nos contatos com todos eles eu notei isso, continuamente. É a idéia de que vem vindo um mundo novo, um mundo novo com uma criteriologia que não é bem a deles. Esse ponto entra muito. E que eles estão habituados às coisas esquemáticas, quadradas, são diferentes de nós, e vêem entrar um mundo novo que adota um sistema lógico que eles não podem negar que é válido, mas que não é o deles.

E um mundo que não teria o direito de estar se metendo nas coisas deles. E isso causa um mal-estar e uma má vontade de toda ordem. E o interesse da causa de Nossa Senhora no caso... Bom, para documentar isso eu tenho o caso do...

(...)

...dos bons, ou os que podem vir a serem bons, por assim dizer os “bonáveis”, os áveis de serem bons, eles são tão surrados, tão negados, tão contestados, mesmo quando conservam um certo status, uma certa categoria, que eles já não ousam mais formular aquelas posições que os Papas dão. E perderam a confiança em si mesmos de maneira tal que, se eu pusesse muito palavreado meu, eles ficariam com a idéia seguinte: “Esse homem é um homem que tem um certo brilho, e por causa disso está me convencendo, mas provavelmente as palavras do Papa não dizem o que ele quer dizer.”

E então, daí viria que eles não se deixariam persuadir dos direitos deles, e de que eles são. Ora, o que eu quero deles é que eles se deixem persuadir de quem eles são. Porque se eles se deixarem se persuadir, o espírito deles toma um rumo que compreenderia uma segunda ou uma terceira edição, que seria muito mais um prefácio com uma teoria da nobreza, com uma porção de outras coisas desse gênero, em que eu poderia, depois do livro ter feito caminho, aparecer mais.

(Sr. Guerreiro Dantas: Isso é mais para a Europa do que para a América.)

É exclusivamente para a Europa. Quer dizer, por exemplo, eu falo ali de famílias tradicionais. Qual é a família tradicional do Brasil do Brasil a quem nós vamos distribuir isso? No Chile talvez, porque conservaram mais uma alteridade. Mas em São Paulo, no Brasil, se afundaram por aí, não tem mais saída.

Bom, agora, depois tem outra coisa... Agora, o que eu vou dar são razões minores. De fato a dificuldade na leitura dos textos pontifícios não é tão grande a dificuldade, com a aridez desses textos, etc., para o europeu. Porque europeu tem uma mentalidade muito mais habituada a estudar coisas assim difíceis, árduas, etc., áridas, mas de outro lado eles percebem menos do que nós as “fassuradas” que são postas dentro daquilo.

(Sr. Guerreiro Dantas: Tem vários textos ali que têm muita patacoada.)

Patacoada! Patacoada. A gente é obrigado a pôr para provar a imparcialidade da coletânea. De maneira que então, para resumir, o objeto imediato não é de pôr em relevo a minha pessoa, mas é de fazer com [que] eles tomem confiança na sua própria condição e que compreendam que há um determinado homem X, a quem eles devem uma coletânea de salvação.

(Sr. Guerreiro Dantas: Está muito bem explicitado. Isso é próprio para europeu.)

Próprio para europeu. Não é? Aí eu creio que a coisa tem muita possibilidade de alcançar a meta que temos em vista.

(Sr. Guerreiro Dantas: Porque tinha me ficado a impressão de que esse livro poderia ser difundido aqui no Brasil também.)

Não, o que eu digo lá dá essa impressão. Eu não afirmo que vai ser difundido, mas quando eu digo que tem aplicação, “tatá”... é verdade.

(Sr. Guerreiro Dantas: Para os nobres que ainda têm tradição, e que ainda podem reatar com seu passado, o livro é muito oportuno e interessante.)

Corresponde àquela situação de que fala Pio XII: émigrer à l’interieur. Mas a questão é a seguinte: é que a gente vê, vira e mexe, famílias que vivem na província, e vivem assim. Então, quando eles vão a Paris, eles têm um apartamentinho com dois quartos e um banheiro. Mas tem um castelo no interior! Porque eles preferem manter o status deles no castelo, a ser alguém em Paris. E a gente compreende, por todas as razões. Não precisa perder tempo.

Mas nessas condições, o importante para eles é que eles compreendam o que eles são. E a mim isso parece muito, muito importante.

(Sr. Guerreiro Dantas: É o papel da RAQC para eles, digamos.)

Tal qual!

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