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CONVERSA DE SÁBADO À NOITE — 16/07/88 — Sábado

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A estagnação e suas causas

I. Três hipóteses para se chegar às causas da estagnação

(GL: Estagnação do Grupo. Como sair, etc.. O Cel. teria outra pergunta.)

(CP: Como o Sr. discerne o que Nossa Senhora deseja do Sr. agora, diante das circunstâncias atuais.)

Sobre a primeira pergunta eu digo o seguinte. Situações como essas que vocês indicam, várias e várias vezes ao longo da história do Grupo, desde os primórdios até hoje, tem se dado. Quer dizer, são situações de estagnação, de um certo ressequimento, e a gente não sabe se é uma provação que Nossa Senhora dá habitualmente depois das consolações. Isso é uma coisa frequente. Por exemplo, a pessoa entra no noviciado de uma Ordem Religiosa, é um céu na Terra. Em certo momento aquilo seca, e passa à vida comum. Então com todas as dificuldades e problemas que costuma ter. Seria uma coisa.

Mas outra coisa seria alguns que no cálculo de Nossa Senhora tem um papel mais especial para a difusão das graças naquele momento, ratearem. E porque aqueles rateiam, toda a difusão das graças rateia também.

Outra possibilidade seria de haver realmente, em razão de 2 ou 3 almas contaminadoras do mal, uma baixa geral. Almas com possibilidades muito grandes de influenciar um número grande de pessoas. Almas que às vezes nem se percebe que têm essa capacidade, mas que têm, e que produzem isso.

Mas não é fácil fazer a distinção para ver qual das 3 hipóteses estaria em foco, pelo seguinte. Porque muitas vezes uma coisa traz a outra. E por causa disso não se sabe bem qual é a coisa principal. Pelo seguinte. Pode ser, por exemplo, que a Providência queira aquela provação, e dá aquela falta de sensibilidade às graças. Aquilo que se poderia chamar a mística ordinária estanca. E Ela quer fazer isso para provar a pessoa. Mas em virtude disso, algumas almas determinantes não resistem à pancada e afrouxam.

E aí a estagnação, que não nasceu da tibieza, produz a tibieza de alguns por culpa deles. E isso se pode difundir, pode generalizar. Como pode ser que duas ou três almas particularmente ruins produzam, tentem uma estagnação, que sendo mal combatida chega a determinar a retração das graças sensíveis.

(Dr.EM: Essas almas fariam isso conscientemente?)

Não. Podia ser que fizessem, mas não é a hipótese que eu estou considerando. Elas nem sabem que têm esse papel. Mas tomam essa atitude que dá nisso.

(GL: O Sr. nessa semana, especialmente no MNF, pareceu estar muito empenhado em que se saia dessa estagnação.)

Não, não. Eu me abri muito mais porque me tenho aberto muito mais com vocês. Mas muitas vezes eu estive empenhadíssimo. Mas empenhadíssimo!

(GL: Não, pode ser uma coisa preternatural.)

O preternatural logo se associa a isso, sempre. Uma coisa dessas, quando começa 5 minutos sem preternatural, no 6º minuto ele está dentro. Isso é fora de dúvida. E entra logo capitaneando. Essa é a impressão que eu tenho. Nesse sentido há uma coisa qualquer nesse gênero que atua.

(GL: E a saída disso então?)

A saída é ver os fatos e as situações, em que a gente pode intervir e intervir. E entretanto, certo de que se a gente não rezar e não confiar muito em Nossa Senhora, isso não tem saída, não há o que dê saída para isso. Mas esta confiança move muito Nossa Senhora. E a gente deitando nEla, com tranquilidade, nessa situação — uma tranquilidade ativa, uma tranquilidade operosa — deitando com tranquilidade confiança nEla, isso tem uma saída! Faz parte da “Avenida dos Becos sem saída”, mas tem sua saída.

E que a gente deve tocar, portanto, sem se angustiar. Super atento, tanto quanto a natureza permite super ágil, analisando bem, vendo como pegar, como agir. Mas não há uma medida sistemática. É ir escorando, escorando, até que isso caia e venha o regime de novas graças.

Pode ser que a resposta seja um pouco decepcionante, mas é isso. Quer dizer, toda vida eu fiz isso.

(CP: Como o Sr. situa, do ponto de vista de recursos naturais e sobrenaturais, a ação do Sr. no momento? Como o Sr. vê a tática do Sr. no articular as coisas?)

(…)

II. Recusa da espera, causa principal da estagnação

essa demora acaba constituindo contra mim, e no fundo contra Deus, uma espécie de objeção, da parte dos descontentes: “Isso não vem nunca mais. Deus afinal de contas está agindo de um modo que me deixa frustrado e desagrado. E eu pretendo fazer para mim uma outra vida, porque essa não me conduz a nada”. É o último ponto que vem. É a negação da vocação.

E isso faz com que toda a minha personalidade seja vista na melhor das hipóteses da seguinte maneira: um homem bom, se quiserem um homem excelente, mas um homem que vai desaparecer do tabuleiro sem deixar rastro. E como é que vai ser conosco?

E dai abatimentos e tentações… Segue tentações contra a pureza, revoltas, etc, etc, tudo, politicagem, tudo costuma sair daí. Eu não quero dizer que essa seja a origem única dessas coisas. Mas eu quero dizer que é uma origem particularmente fecunda, particularmente carregada, particularmente má. Talvez seja a origem capital dessas coisas, eu precisaria pensar para responder, mas talvez seja a origem capital dessas coisas.

Todas as nossas crises — vocês não me respondam nada, mas pensem em si mesmos — quando dá crise assim, quando dá em vocês estagnação e depois má vontade, mau humor, revolta, etc, etc, no fundo é uma coisa axiológica ligada à espera e à vontade de não sofrer a espera.

(Dr.EM: Os judeus a caminho da Terra Prometida que nunca chegava, e a desconfiança em relação a Moisés.)

E lembrem-se que nós começamos a ler a questão do Êxodo na RR, e eu depois parei dizendo que eram tais as analogias, que era perigoso a gente fazer a leitura, porque dava a impressão que estávamos querendo aumentar o nosso papel nas coisas. E que isso se tomou com uma naturalidade assombrosa! Eu caí das nuvens! Quer dizer, todo mundo percebia a analogia, mas preferia não ser colocado claramente diante dela.

Porque é uma coisa curiosa, quando dá essa estagnação, se se oferece ao indivíduo estagnado alguma coisa que seja na linha das grandes esperanças dele, a partir de certo momento ele não quer mais. Ofereceram para ele os 30 dinheiros, e ele não quer mais largar os 30 dinheiros…



Agora, quando o remédio entra a tempo — a questão é de entrar a tempo — aí, pelo contrário, há uma grande abertura, uma grande esperança, viva, etc, etc.!

Por exemplo, uma coisa que foi passageira mas que produziu um efeito desse gênero, foi a venda do meu livro sobre o Projeto de Constituinte angustia o país. Aquilo trouxe passageiramente um sopro. De onde é que vinha os sopro? Era a prova axiológica que recebia um certo alívio. E com esse alívio vem o sopro. Essa é a coisa.

(GL: O Sr. disse que essas graças seriam umas escotilhas que traziam um pouco de ar, mas não tiravam da estagnação.)

Sim, mas eu acho que no caso da Espanha é um pouco diferente. O que eu disse da Espanha, ou ao menos o que eu penso a respeito da Espanha, é o seguinte. Que essa mera campanha do livro não trará o efeito que nós esperávamos no começo. Quer dizer, o governo vai ficar deitado em cima do trilho, e nós não vamos passar em cima do governo.

Mas eu acho que se nós organizarmos bem todos os contatos que tomamos, e todos os entusiasmos que conhecemos, e iniciarmos uma espécie de contato mais ou menos tipo “mailing”, sistemático com eles, eu acho que nascem condições para se poder fazer muito mais. Quer dizer, o caminho para isso realmente está aberto. Esse é meu pensamento.

(…)

Eu tenho muito mais esperança no caso 92, do que no caso da Espanha. Inclusive porque…

(…)

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