26/6/88 - CSN . 3 de 3

26/6/88 - CONVERSA DE SÁBADO À NOITE

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Eu encontrei a Revolução largamente vitoriosa, potencialmente tudo estava destruído e o que faltava destruir não tinha condições de resistir. A vitória final, segundo os planos comuns da graça, estava assegurada.

Faltava à Contra-Revolução praticamente tudo e alguma coisa que ela tinha era tão desproporcionada em relação à Revolução que era como nada.

Pela misericórdia de Nossa Senhora me foi dado discernir, perceber todo o jogo das almas, dos espíritos no meio em que eu vivia e que era uma amostragem do meio muito mais amplo que é o circuito da Civilização Ocidental.

Com essa amostragem e completando com leituras do passado e leituras o presente, fazia um quadroo genérico prudente e firme do futuro.

Para realizar a seguinte tarefa: procurar salvar tudo quanto existisse, coordenar e aglutinar na luta contra o que estava vencendo.

Nessa luta, aproveitar os pontos fracos da Revolução. Sustento que a Revolução é muito mais fraca o que faz crer e se os contra-revlucionários se convencerem disso e de quais são esses pontos fracos e adequadamente voltarem seus tiros contra esses pontos fracos podem conseguir resultados mais expressivos do que se poderia pensar.

Mas, salvo os imprevisíveis da guerra, não era possível vencer, era apenas possível alterar sensivelmente o quadro da situação.

E se o que havia de bom aqui, lá e acolá no mundo se aglutinasse e fosse possível agir, diante da justiça divina o aspecto criminoso do mundo decresceria e isso solicitaria a Providência enfim comprazida, a intervir. Não era decisivo no plano natural, mas no plano sobrenatural poderia obter da misericórdia a intervenção decisiva. E com isso a vitória era possível.

[São as razões pelas quais teria fruto se lutasse; explicar que eu devia lutar e devia ser a luta.]

Havia mais ou menos tudo o que fazer:

1º) Ação individual para recrutar, formar e conduzir à ação os primeiros;

2º) Formação dos indivíduos enquanto contra-revolucionários:

a) católicos apostólicos romanos exímios;

b) compreensão particularmente nítida do caráter fundamentalmente anti-católico da Revolução e fundamentalmente católico da Contra-Revolução;

c) dar-lhes o amor da luta, impossibilidade de viver fora da luta, execração da ordem revolucionária. Portanto, fazer lutadores;

d) conduzi-los à luta. Para isso dar-lhes uma teoria. Ter a teoria e dar a teoria de como se combate a Revolução, quais são os lados fracos dela e os fortes nossos, e não apenas os fracos nossos e fortes dela.

Como Nossa Senhora, enfim comprazida com o mundo pela mudança do quadro, interviria.

Nesse período houve três grandes encontros com Nossa Senhora: Nossa Senhora Auxiliadora, São Luis Grignon e o Tratado e Nossa Senhora de Fátima.

A cada uma dessas etapas corresponde um tipo de aptidão para a qual tive que procurar em mim para ver se encontrava o correspondente. Ver se tinha, adaptá-las, ajeitá-las para aquela tarefa porque ninguém nasce com predicados já ajeitadinhos para uma tarefa. Tem que limar, ajeitar.

Algumas jorravam, outras tive que procurar, mas tive que identificar e arranjar todas para poder agir.

Certas qualidades de trato. Trato ameno, afável, desejoso de respeitar e ser respeitado. Tributar toda a honra a toda pessoa que eu conhecia. A alegria e admirar muito herdado do feitio materno e alguns predicados sociais da família materna.

Mamãe tinha também para muitas coisas muito jeito. Para agradar ela era incomparável, para aliviar um sofrimento, para dar ânimo a uma pessoa que estava abatida, para fazer sentir uma presença acolhedora, afável, mesmo mantendo-se na posição um tanto silenciosa, sem procurar se sobrepor junto a um filho tão barulhento e tão ruidoso e tão vistoso. O papel dela muito bem ajeitado, muito bem adaptado, o papel dela como interlocutora.

Outros parentes etc. possuindo a arte do trato, a arte da interlocução. Essa arte trazendo consigo certos dotes de saber perceber quem são as pessoas na ordem das coisas, ter uma noção muito exata de quem é quem. Portanto, tratar a pessoa de acordo com o que razoalvelmente ela pode querer dentro do “quem é quem”, e tratando um pouco melhor do que o “quem é quem” exige (tanto quanto permite e não indo além) condição para pessoa sentir autenticidade e não se sentir inflada como balão. Compreender que lhe está sendo dado conhecer que é mais do que às vezes supunha e consolidá-la nessa posição honrosa.

Tudo isso muito de Mamãe e de um modo ou doutro da família materna.

Do lado sobrenatural, propensão pela conversa, a atrair, agradar, fazer do convívio um elemento fundamental da existência e tornar deleitável o convívio, entretenido, interessante e ao mesmo tempo formativo.

Alguma coisa disso aprendi junto com a facilidade de expressão na conversa e a modelagem de toda uma linguagem para a conversa.

Facilidade de expressão muito matizada por contribuições de linguas estrangeiras, análises da História do exterior. Sem me recusar a entrar às vezes na análise de coisas muito populares, muito comuns, sem me vulgarizar; mas, não vivendo num mundo de mito como se o povinho terra-terra não existisse. Gostando desse povinho, comentando e sabendo fazer ver que eu sei ver.

Tudo isso tive que aprender porque o ambiente da família materna era tendente a abstrair e a família paterna muito mais condescendente. Tratava-se para mim de conhecer sem ser condescendente.

Tenho a impressão de que se não tivesse me esmerado na arte de conversar o Grupo não teria se constituido.

A arte de aglutinar formando grupos. Ex. CSN

Essas mesmas qualidades se transpõem muito facilmente para escala superior: formar um movimento que atue diante dos movimentos opostos. Formar um núcleo inicial de Contra-Revolução, o gérmen da Contra-Revolução, espíritos contra-revolucionários.

O hábito de fazer exposições doutrinárias em conversa sem que ficasse por demais maçante. De maneira que a exposição doutrinária da qual todo mundo foge, feita no momento oportuno encontrando os interesses vivos do interlocutor nunca conversando sobre aquilo que a gente tem vontade de conversar, mas conversando sobre aquilo que o interlocutor tem vontade de conversar.

Fazer da exposição doutrinária o grande atrativo da conversa. Exposição ornada e bem feita. Muito clara, positiva, na sua simplicidade.

Simlicidade muito decorativa, muito apresentável, muito bela.

Sem exigir esforço de quem está ouvindo e sem exigir esforço de mim. De maneira que meu interlocutor não tenha a ipressão de que estou me cansando porque isso cansa imediatamente.

Tudo isso transposto para a luta de um grupo em face da Revolução é uma preparação para a luta.

Para esse primeiro passo o discernimento dos espíritos é de uma importância fabulosa, simplesmente trancendental. Sem ele, não tem nada feito.



O auge da clareza é quando ela é atraente, que brilha porque é feita em função de uma grande arquitetura, iluminada por um grande princípio.

O que foi inteiramente amoldado foi a combatividade. De ponta a ponta é necessária, e de ponta a ponta ela não existia.

Com propensão para a moleza que conservei durante bastante tempo. Quando chegou a ocasião do que se poderia chamar minha ação pública essa moleza já estava esmagada. A combatividade foi construída ex imis fundamentis, dos alicerces mais fundos e mais interiores.

Outra coisa construída foi a previdência. Detestava prever o pior, mas no trato com a Revolução compreendi que prever para a Contra-Revolução é prever o pior porque só encontra no caminho o pior e quando não encontra ele aproveita melhor a coisa um pouco menos péssima que lhe aconteceu.

Em certo sentido a operosidade também foi conquistada.

Tendência para a preguiça e para o sentimentalismo que foi preciso vencer, mas não representou grande batalha. A moleza foi uma batalha que eu travei, batalha terrível, em função de vencer a Revolução! De não me deixar esmagar por ela e de vencê-la!

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