Conversa
de Sábado à noite – 11/6/1988 – p.
Conversa de Sábado à noite — 11/6/1988 — Sábado [VF 059] (Roberto Guerreiro)
Nome
anterior do arquivo:
(Sr. Guerreiro Dantas: Alguns traços psicológicos do senhor. Nós conversávamos sobre toda a missão do senhor, e que esta missão conseguiu encontrar uma pessoa como o senhor. Quando se está [em] contato com o senhor, em conversa, em certos momentos aparecem muito mais certos aspectos humanos do senhor.)
Os aspectos humanos, em geral, já são calculados para a vocação também.
(Sr. Guerreiro Dantas: Pois é, como esses aspectos humanos, no fundo, seriam a vocação, muito complementar a outros traços da personalidade do senhor.)
Uma coisa que podia se fazer nas reuniões de sábado à noite é trazer a flâmula também. Sou só eu que sou o único… A capa não fica bem viu, meu filho? Há uma flâmula, então, aqui em casa? Você ponha[-se] à cata disso e depois nós estudamos durante a semana se convém ou não. Vamos entrar nisso que é mais importante.
Diga, meu filho.
(Sr. Guerreiro Dantas: No contato com o senhor em certos momentos, quando aparecem problemas, ou o senhor percebe que o inimigo está querendo aprontar uma cilada, nos olhos do senhor a gente percebe uma movimentação, e há um mover interno dos olhos que é de uma vivacidade, em que a gente percebe uma agilidade, por onde a gente sente que o senhor pode sair por lados, por todo um jogo de movimentos que a gente fica desconcertado, e que o inimigo vai ficar desconcertado. Agora, habitualmente no trato comum, o senhor não mostra esse traço de personalidade. Esta forma de mobilidade é um traço de alma que a gente percebe que é muito nordestino.)
É possível que seja, eu nunca pensei nisso.
(Sr. Guerreiro Dantas: Quem olha o senhor percebe que o senhor é um paulista.)
No todo, eu sou um paulista.
(Sr. Guerreiro Dantas: Quando a gente começa a conviver mais como o senhor percebe-se que ao lado de todo edifício paulista, existe um edifício de alma nordestina.)
É, isto existe.
(Sr. Guerreiro Dantas: E convive com esse edifício paulista com um relacionamento inteiramente fácil, e que há um corredor muito transitável. Esses dois edifícios são muito harmônicos no senhor.)
É, é verdade.
(Sr. Guerreiro Dantas: À medida que se vai convivendo com o senhor percebe-se duas perspectivas de personalidade no senhor que se unem e acabam definindo aquilo que seria toda a arquitetura psicológica da alma do senhor. Toda a educação, o modo de ser do senhor é paulista.)
Inteiramente.
(Sr. Guerreiro Dantas: Mas depois, há todo esse outro lado. Por exemplo o jantar magnífico que houve em São Bento (no dia 7/6/88 em homenagem a D. Luiz pelos 50 anos), toda a solenidade que o senhor comunicava era paulista.)
É totalmente.
(Sr. Guerreiro Dantas: A gravidade, a magnificência era paulista. A presença pessoal era muito paulista. Mas quando o senhor se levantou e começou a falar, aquilo não era paulista. Aquilo era graça sobretudo do profetismo, mas se exprimindo com uma natureza, em que a facilidade do verbo, o ornamento da frase, e depois o imprevisto de certas formulações, algo de tão solene, tão alto, tão sagrado, e o modo como o senhor terminou o discurso a D. Luís: “E vós meu filho toda graça e toda glória.” Mas o senhor disse tudo isso num tom de voz… Aquilo tudo era um mundo nordestino que se exprimia com aquela forma de grandeza, com aquela forma de acerto, com toda naturalidade e fluência, com uma certa nota retumbante e solene, que era nordestino e que era paulista ao mesmo tempo.
Com relação a esta forma de agilidade, a gente vê que no sul não existe. Se não existisse essa agilidade como é que seria o exercício de sua missão como profeta, se não tivesse no plano natural, na personalidade do senhor este valor que o senhor tem de um modo muito eminente? Então, aí entra toda uma questão que é sobre a agilidade de espírito e do senhor, como é que é isto? Isso não parece paulista.)
Não parece paulista. Não.
(Sr. Guerreiro Dantas: O imprevisto por onde o senhor pode sair, isso é muito nordestino. Para quem olha o senhor de fora e não tem isto, é indicativo de uma personalidade que pode em certo momento mais inesperado ter soluções tais… que fica a pergunta: como é que é esta agilidade? Esta mobilidade? Como o senhor é um observador exímio das psicologias, o senhor deve ter considerado não pouco isto. Desculpe-me a pergunta está quilométrica. Falta de síntese. Peço desculpas).
Foi tudo gravado? A verve baiana sempre mais charmant do que a verve pernambucana, ouviu?
(Risos)
Indiscutivelmente.
Como eu tenho a idéia que eu já expus alguma coisa que entraria como elemento da resposta, o que eu já tiver exposto, vocês me avisem, porque eu não me lembro bem o que já expus e não expus. Vocês me avisem para eu estar evitando repetições.
Mas entro com o jogo. A pessoa que tem — eu não tenho certeza, mas eu suponho — uma origem muito unívoca, por exemplo é filhos de pais paulistas, avós paulistas, e aí vai para fora… — isto pode-se dizer do mineiro, do gaúcho, do baiano, do pernambucano, de um qualquer, de uma nação, como do Chile, etc. —, esse tem em si a vantagem de que os traços psicológicos que ele herda são muito marcados, muito vincados, e ele pode tirar desses traços originais todo proveito que os traços dão. Agora, tem o inconveniente de que ele não tem a pluralidade de jogos que tem uma pessoa que tem várias procedências.
Podem tomar, por exemplo, o caso do nosso João Clá. Ele tem origem italiana e espanhola ao mesmo tempo. É evidente que para ele esta confluência tem muita vantagem, e que o ele ser espanhol apenas ou italiano apenas, ele perderia algo. Mas ele forçosamente não pode ser tão espanhol quanto o mais espanhol dos espanhóis, como Santo Inácio de Loyola era basco, por exemplo. E também não pode ser tão italiano quanto a pessoa “X”, aqui não me ocorre bem que pessoa pudesse ser. Digamos… Não me ocorre bem. Fora do Grupo é mais fácil exemplificar. Qual seria o italiano… Há tantas pluralidades de italiano que é muito difícil.
(Papas.)
Bem, Papa bem italiano, a meu ver — eu vejo bem que é italiano de uma certa região, de um certo tipo, não é assim… — seria Pio XII. Leão XIII, até certo ponto… eu o vejo muito internacionalizado, enquanto Pio XII era muito italiano. Não sei se vocês sentem isto? Já o Poli — que entre nós é um italiano — não sente muito isso assim, não é, meu Poli?
(Sr. Poli: Não tenho muito idéia)
Enfim, isso que se dá num ponto grande, quando se trata de confluência de várias nações. Então, quando as nações confluem de um modo harmônico, isto é como um encontro de rios, onde as águas se misturam sem choque, é até agradável ver.
Pode haver também esses encontros mal ajambrados numa mesma pessoa; então produzir choques internos, rangeres: hora é italiano, ora é… vamos dizer um indivíduo que fosse ao mesmo tempo egípcio e alemão ao mesmo tempo, isso daria um burburinho criteriológico não sei de que tamanho… toda uma história complicada. Então seria mal servido. Mas poderia haver um outro, no qual a condição de egípcio… por exemplo, o Umberto, mas o Umberto não é um verdadeiro egípcio, é um italiano do Egito e um italiano do Brasil. Mas,enfim, um outro poderia ser egípcio-egípcio e um alemão-alemão, e aquilo confluir muito harmoniosamente. Então, seria uma riqueza.
Agora, acontece [que] no interior de um país muito vasto e que, portanto, as diferenciações são muito acentuadas também, se dá a mesma coisa, de um modo acentuado, mas também pode dar-se, e é, portanto, o que se dá no meu caso.
Como é a psicologia dos indivíduos — aliás, também dá-se no seu caso, caso do Gonzalo muito mais acentuadamente ainda, o Poli também tem várias… Hofmeister é uma origem, Espírito suponho que seja gaúcho mesmo, e Poli é italiano, etc. —, meu Paulo Henrique eu acho que é mineiro a cem por cento, não é, meu filho?
Isso, aí é que está: quando essa confluência se dá harmoniosamente já o travamento das linhas mestras da personalidade são tais que, sem esforço, o indivíduo tem instalados dentro da alma — eu falei outro dia daquelas coisas de número de telefone, lembra-se disso? Parece que aquilo chama-se painéis — tem vários painéis nos respectivos países, ou respectivos Estados, e que se harmonizam bem, de maneira que o elemento central, que é o por onde o indivíduo se sente uno, e se sente ele mesmo terceiro em relação a todas as suas confluências, ao mesmo tempo complementado por elas, mas distinto delas. Isto produz uma grande vastidão de horizontes, e uma possibilidade muito tranqüila de jogar com vários elementos com a naturalidade com que, por exemplo, o meu querido mineiro a cem por cento toma o vasto painel mineiro e mexe só com esse painel. Quer dizer, quando a confluência é harmoniosa… Às vezes não é. Há confluências que a gente vê que não podem dar certo, não sei como é que os pais não percebem, não se incomodam também, dão na cabeça de casar, casam e sai o que sai e pouco lhes incomodam.
Agora, no meu caso existe, no caso concreto meu — não quero dizer que se dê com todo paulista e todo pernambucano —, no caso concreto meu, e noto também de minha irmã, há muita harmonia de confluência desses dois fatores: fator pernambucano e fator paulista, no sentido de que se completam muito, não há uma oposição. Porque, por exemplo, vocês dirão: o paulista é reservado. Mas ele é reservado não, porém, a tal ponto que ele se sinta chocado de ser muito aberto. O que tem é que um (paulista ou) pernambucano controla muito mais o que ele diz, e por mais que ele fale, ele diz o que ele não quer. E nisto está a reserva paulista ajudando o borbulhar da loquela pernambucana.
(Risos)
Completam-se harmoniosamente.
O pernambucano, você diz, tem muita facilidade de expressão e, em geral, os nordestinos. É verdade. Mas, você encontra o gosto do cerimonial que o paulista tradicional tem, encontrando palavras e todo um vocabulário que não é especificamente pernambucano, é muito mais ajeitado à maneira paulista, posto a serviço da facilidade de expressão pernambucana, para dizer umas tantas coisas. De maneira que, por exemplo, eu vi isto em Pernambuco, conversando com meus parentes, eles tinham um vocabulário muito… — vocabulário correto, depois de gente de boa categoria como eles são —, mas um vocabulário muito menos escolhido do que o meu. Por onde eu percebia que entrava o gosto paulista antigo, da tradição e até de uma certa nota de solenidade, conforme as circunstâncias até de um certo fausto de expressão, que não é próprio do gosto da simplicidade própria a quase todo o nordeste — o baiano nesse ponto é muito mais florido do que o resto do nordeste — e quand même, você pega homens como Rui Barbosa e que procura parecer cultíssimo, mas ele não procura dar um tom aristocrático ao que ele diz.
(Sr. Guerreiro Dantas: Ele era um republicano “ardito”.)
É, você pegue, por exemplo, um Otávio Mangabeira e outros que são homens de inteligência rutilante. Tome o Epitácio Pessoa, é um homem que é paraibano, se exprimia de um modo verdadeiramente magnífico — isso é fora de dúvida, e com grande classe —, mas não era um certo tipo de classe paulista de que eu vou falar daqui a pouco.
Eu herdei, fui educado nesse modo de ser e isso se junta à abundância de expressão pernambucana. Num vocabulário — aqui entra um terceiro elemento — que não chamaria simplesmente paulista, eu chamaria Ribeiro dos Santos. Eu já tive ocasião de dizer a vocês que a família Ribeiro dos Santos é uma família inteiramente paulista, com uma bisavó mineira, com uma ascendência relativamente próxima de portugueses, mas relativamente, era meu quarto ou quinto avô que era português do lado materno, mas com pouca influência sobre o conjunto do modo de ser da família. Era um certo modo de ser, um certo trato, uma certa forma de distinção que, dentro da escola paulista, faz da escola Ribeiro dos Santos uma coisa toda especial. Dentro do qual o gênero — que um pouco pejorativamente se chamaria em francês salonié, de salon, quer dizer um gênero de manter um salão, de conversar, um estilo de salão, de viver de tônus de salão — destacava essa família sobre muitas outras.
Eu acho que disso eu já tratei com vocês, se eu não me engano, alguma coisa há muito tempo atrás, eu teria dificuldade em dar exemplos concretos.
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor falou do tio Gabriel do senhor, que ele tinha muito charme.)
É, mas não era só charme. Eu falei do charme, é verdade, mas eu não sei se introduzi uma certa clave.
(Sr. Gonzalo Larraín: Sim, o senhor descreveu uma …[falta palavra]… que havia trazido da Europa, ou ele tomando um licor.)
Um Coentreau.
(Sr. Gonzalo Larraín: … tinha muita clave.)
É, mas entrava nisto um certo tom aristocrático, melhor do que a própria genealogia deles. Não sei como é que isto entrou. Genealogia paulista boa, mas não era assim das primeiras coisas. Você não encontra, por exemplo, nenhum laivo de nobreza portuguesa, ao menos que eu saiba. Mas neles estava presente isto de um modo saliente: uma grande facilidade, em qualquer lugar que estivessem, [de] serem os primeiros da roda, concentrarem em si toda conversa, dar entrain, animação, e depois, tudo isso, com muita propensão, exprimindo-se em francês, em termos franceses sem nenhuma francomania, nem uma imitação ridícula de francês. Mas uma assimilação de aspectos das coisas francesas, etc., etc. Aliás, vocês podem ver um pouco nesse salão. A decoração das casas deles era mais ou menos desse gênero, e tudo era mais ou menos desse gênero.
Este conjunto constitui uma espécie de elemento, uma espécie dentro do gênero paulista, e essa espécie marcando muito — e favoravelmente o profetismo —, marcando muito o modo de ser de que eu deveria me servir.
Isto dá uma certa facilidade de todas essas coisas ir tirando recursos e formando um conjunto com vistas a um certo tipo que a gente quer ser. Esse tipo não é fabricado, mas é um certo tipo que dá um certo tropismo à alma. A alma por esse tropismo se dirige naquele rumo. Eu creio que já disse isso aqui também: pelas tendências monarquistas das minhas duas famílias, pelos resíduos monarquistas das minhas duas famílias, o auge do homem era considerado o homem público. Homem que vivesse puramente na vida particular era considerado “poca”. O homem precisaria viver de algum modo na vida pública, e precisaria na vida pública ter uma certa saliência. Esta saliência se fazia do homem ser antes de tudo um orador, como o regime parlamentar requeria, e depois um orador meio dado a literato e meio dado a professor, de maneira que pudesse argumentar, e não só fazia oratória, mas argumentar agarrando.
Acrescentando a isso o modo de ser salonié e o saber fazer rodas, o saber constituir uma corrente, apesar de todos os pesares contrários. Até vou dizer mais: a aptidão de servir de “pedras de escândalo” entra dentro disso. É um modo de ser diante do qual os outros não podem deixar de se definir, não podem passar por cima, não podem ignorar, podem matar, mas, ignorar não podem, e é ligado a esses predicados anteriores e que servem muito ao profetismo.
Agora, como é que eu me utilizo disto nesses vários aspectos, interiormente como é que eu faço para me utilizar? É por esse sistema de painéis de que falei, portanto, com muita facilidade.
Agora, o que é que entra de pernambucano aí?
A argumentação paulista não é amarrada como a pernambucana, e eu desde pequeno me entusiasmei pela argumentação amarrada.
(Sr. –: Amarrada, ou seja, segura.)
Segura, não deixa por onde escapar. Quer dizer, prevê até, prevê uma argumentação como uma batalha: “Eu vou dar tal argumento, e esse argumento tem tal ponto que não responde, responde a objeção dele, ele vai responder, e quando ele responder, pammm!, martelo tal coisa na cabeça dele, e aí ele fica quieto. Quer dizer, engula aí.”
E no amarrado entra qualquer coisa que, aí, é pernambucano, é um déployement de força: “Olha aqui, eu sou forte e eu te agarro porque eu tenho razão. É verdade, mas se eu tivesse razão e não tivesse garra, eu não agarrava. Eu te agarro porque eu tenho razão e tenho garra. E aprenda a não se meter comigo porque lhe sai mal. Também porque se isso degenerar em briga, eu sei brigar — aqui entra o nordeste —, eu sei brigar, eu sei bem até onde se leva uma briga, e como é que se empurra uma pessoa na briga, quer dizer, como é que se monta numa pessoa numa briga. Eu sei bem. E você vai perceber isso sem que eu tenha necessidade de dizer, na própria argumentação você vai sentir.”
Mas aí entra um lado Ribeiro dos Santos, vocês vêem como as coisas são: a faculdade de se tornar imponente e de mostrar que a gente tem um certo direito de fazer isso, que não é uma violência, mas é uma condição própria que dá o direito de fazer, e faz. Isso já um lado paulista, a gala paulista, a representação paulista no estilo Ribeiro dos Santos entra muito.
Não sei se eu continuo a me exprimir bem?
Desde pequeno eu usava isto com uma naturalidade assombrosa. Eu não sei se eu contei a vocês o negócio do encontro das filhas (?) no Colégio São Luiz, não?
(…)
A título de exemplificação, eu bem vejo que é uma coisa que pode ter seu pitoresco, mas que está fora da matéria, que é a descrição de muitos métodos, de muitos sistemas, etc., etc., isso é uma outra coisa.
(…)
..que estava falando lá em Minas, numas conferências contra o comunismo, nem sei bem, tinha reforma agrária pelo meio — onde estava o Paulo Henrique, nós nos conhecemos nessa ocasião —, eu recebia perguntas por escrito, que me eram apresentadas, depois classificadas pelo Arnaldo e eu respondia naquela ordem. Um aluno, não sei se era, evidente que era um moço que faz essa pergunta: “Para o senhor — era mais ou menos isso — a perfeição da organização agrária consiste em ter, na fazenda, no alto de um morro, uma capelinha e com isso tudo se resolve?”
(Sr. Guerreiro Dantas: Eu ouvi a reunião, a gravação, e a pergunta tinha uma ponta de malícia…)
Tinha.
(Sr. Guerreiro Dantas: …que vinha embutida, que era…)
…embaraçosa de sair.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Fazer reforma agrária é estar numa capelinha rezando no alto de um morro? Uma coisa assim.)
É, uma coisa assim. Mas é uma coisa que me chamava ao mesmo tempo de carola…
(Sr. Guerreiro Dantas: Sem dizer.)
De tipo de horizontes muito acanhado. Depois, muito difícil de responder. “Não, reforma agrária, não é isto, mas é aquilo, tá, tá, tá…” Ele ia discutir, não é? Quer dizer, uma resposta tranchant não dava. Eu me lembro que eu fiz um esforço de inteligência na hora para arranjar uma resposta Ialta.
(Sr. Gonzalo Larraín: Porque uma resposta alemã podia sair uma…)
Ainda mais lá.
(Sr. Gonzalo Larraín: Mas o senhor teria uma resposta…)
Teria: “Você assistiu a minha exposição duas horas, e me pergunta no fim dessa exposição se eu sou um cretino. Eu pergunto para a sala qual dos dois é cretino: você, que não percebeu o que eu valho, ou eu, que talvez você tenha descoberto que é um cretino.”
(Sr. Paulo Henrique Chaves: O senhor respondeu algo, antes da resposta propriamente dita, dizendo: a começar, não estamos numa capelinha aqui, estamos tratando do assunto reforma agrária e não estamos numa capela. Aí já foi uma certa gargalhada que o auditório deu, e o senhor já conquistou terreno ali.)
Você está vendo que numa pergunta tensiva, entrava uma resposta com bonomia e provocando risada, provocando a risada contra o adversário. Depois eu disse — não sei se você se lembra dessa parte: “Olha, aqui está a presença de influência comunista. Não [é] do natural do brasileiro, não é do natural do mineiro fazer uma pergunta injuriosa dessa natureza. Isto o que é? É o sopro do ódio do comunista sobre o brasileiro.”
Está vendo, a Ialta representa o amor e o agressor representa o furibundo; ele estava fora do …[faltam palavras]… fora do estilo…
(Sr. –: …fora do vento.)
Fora do vento, e eu no vento. E me lembro que o pessoal gostou, não me lembro se bateram palmas ou o que foi. Eu me lembro que essa eu ganhei.
(Sr. –: O senhor ganhou todas.)
O engendrar essa resposta na hora me cansou a cabeça, tal era a dificuldade de adaptação a Ialta. Aí sim, isto foi um trabalho, não foi uma respiração.
(Sr. Guerreiro Dantas: Sr. Dr. Plinio, todo o aspecto da agilidade como é no senhor, a gente entrevê alguma coisa, mas…)
Vejam. Essa agilidade é muito descansada, muito natural, porque ela é uma respiração. É a pessoa que se sente — porque ela não representa um tom só, ela se sente incompleta — mas tem ao seu alcance várias complementações. Então, com uma naturalidade de quem está comendo, vamos dizer, um plateau de fromage, vai se servindo de vários queijos, com esta naturalidade, a pessoa tira daqui, de lá de acolá. Vamos dizer, uma senhora está num jardim com muitas flores, e à medida que vai passeando, vai colhendo uma flor ou outra sem preocupação. Quando ela chega em casa tem os elementos para um buquê. Ela fez uma obra-prima colhendo aquelas flores, mas aquela obra-prima que ela fez, é uma obra-prima condicionada ao seu próprio modo de ser, e é talvez o mais agradável, é notarem que aquilo não foi trabalhado, que não custou esforço, que é aisé. Não sei se eu estou…
(Sr. –: Está claríssimo.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Quando vêm notícias par o senhor.)
Isto é outra coisa, quando chega a batalha perto é outra coisa.
(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor conserva a mesma calma, a placidez continua, mas a mobilidade do olhar…)
Ah! Sim!
(Sr. Guerreiro Dantas: … o olhar do senhor adquire uma mobilidade, e a gente entrevê uma agilidade. É esta forma de agilidade que a gente vê que é um proveito para a Contra-Revolução com soluções ágeis e meio inesperadas. Creio que o adversário sente muito isso: que ele lida com um oponente que tem saídas inesperadas. O inesperado na luta do senhor é mais ou menos o pão nosso de cada dia para eles. Eu acho que a grande dificuldade que eles têm de lutar com o senhor é exatamente isso. Porque eles não conseguem prever por onde o senhor vai sair.)
Ohhh, meu João! (Riso)
Chegue aqui.
(Sr. João Clá: Já está tudo bem encaminhado. Posso sentar aqui?)
Encontraram o Ami? (?)
(Sr. João Clá: O Sr. Maurício Sussena vai acordar um apostolando em Lisboa agora, por telefone, e esse apostolando mora a cinco minutos da sede; vai chegar lá e acordar o Dr. Edwaldo da cama.)
É a solução, ouviu? Está ótimo. O João entra na barca, diga lá.
(Sr. João Clá: Eu estava meio na barca ouvindo aí de fora.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Esta forma de mobilidade e de agilidade a gente sente na luta contra o adversário, que eles sentem isso, um lado inteligível do senhor. Eu creio que esta imprevisibilidade do senhor se deve evidentemente à graça e ao profetismo, mas ela tem um suporte natural na psicologia do senhor, que é esta forma de agilidade que o senhor tem, que é uma criatividade, de uma inventividade.)
Bom, você fala dessa agilidade, ela existe. Mas você vai ficar pasmo se eu lhe disser que eu concordando de cara em que ela existe, acrescentar que eu nunca tinha notado.
(Sr. Guerreiro Dantas: Nossa Senhora! Não é possível!)
Nunca. Pelo contrário, eu noto um certo lado meio pesadão que existe em mim, e que eu até levo em conta de uma lacuna. Mas, por exemplo, uma certa forma de vivacidade de espírito que o Fábio tinha, eu não tenho.
(Sr. João Clá: Isso nem é agilidade. É agilidade de um corpo glorioso do que propriamente de um colibri.)
Mas, enfim… Mais ainda, eu estou lendo o interminável fleuve do Meternich. Já estou no penúltimo volume, com pena, porque eu não sei o que vai me… Uma das coisas que eu gosto mais de ler no Meternich é o movimento ágil e tranqüilo da personalidade dele…
(Sr. –: …está muito bom isso.)
…em que em nenhum momento ele febricita, mas ele tem assim umas movimentações possantes do mar calmo, e que é uma coisa que eu gosto muito de ver, uma amplitude.
Por exemplo, ele está tratando certa coisa, de repente aparece — em uma série de cartas, a maior parte são cartas dele para vários ministros da Áustria, etc., etc., embaixadores, então, dando diretrizes — complicando um jogo que ele montou, o ducado de Módena, que era uma coisa pequena na Itália, mas era governado por um arquiduque e, portanto, as coisas internas em Módena tocavam na política austríaca de algum modo. Eu desconfio que Módena tinha uma certa importância militar, porque eu vejo que ele mandava tropas, etc., eu acho que tinha uma certa importância militar, acesso do centro e norte da Itália para os Alpes e, portanto, para o território austríaco. Naturalmente ele não podia gostar e era acesso dos franceses que desciam por ali e queriam entrar. Então, ele pára e vai tocar o caso Módena. Então, ele escreve: “Quanto ao caso de Módena, vamos agora analisar — ele pega uma política do tamanho de um dedal —, [Meseau?] [Monsieur] de tal e senhora de tal, e não sei mais o que, que estão brigando…” Porque na política italiana entra o elemento feminino, naquele tempo…
(Sr. João Clá: Já.)
Já. “A senhora tal que não está de acordo com não sei, está de acordo com não sei o que, pé-ré-pepé…” E faz daquilo uma diplomacia primorosa, pequena assim.
E depois ele vai tratar de um caso da Espanha, de Portugal ou da Rússia com tanta propriedade que ele — você sabe disso, todos nós sabemos o tratamento “Don”, na Espanha se diz com N, Don, e na híbero-Espanha também, e no Brasil se diz Dom com M —, em nenhuma vez ele, tratando de mexidas carlistas e miguelistas, na Espanha e em Portugal, nenhuma vez ele trata um príncipe ou um nobre português com o Don com N, ou um espanhol com um Dom com M. Aos portugueses ele dá o M, aos espanhóis ele dá o N, sem perder nada de vista. E toda esta vivacidade dele até no pequeno, encanta. Sem que eu nunca tenha percebido que essa vivacidade que você fala, em mim existisse. Você falando, na primeira descrição, eu noto e concordo.
(Sr. Guerreiro Dantas: Sr. Dr. Plinio, não só que ela existe, mas em outras ocasiões, no meio de uma reunião vem um problema, o caso da França, por exemplo, me lembro que veio um telefonema sobre o caso, a fisionomia do senhor não mudou, mas todo o jogo do olhar mudou completamente, e aí o senhor entrou em todo o assunto de lá, e dava conselhos para um e para outro, e ouvia informações como é que é, e como é que não é. Terminou lá o assunto, o senhor pensou assim frações de segundos no outro tema e continuou a conversa. Isso é toda hora.)
(Sr. João Clá: Todo instante.)
(Sr. Gonzalo Larraín: Toda hora.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Eu já vi o senhor em outras ocasiões que acontece algo que o senhor não estava querendo, e todo o jogo de espírito do senhor, os olhos do senhor — o senhor fica tranqüilo — mas a gente percebe que a alma do senhor tem umas movimentações lá dentro que não há grafia que acompanhe. Como é que é isto?)
Como eu fui muito mole, eu percebi que a dificuldade para mim estava em resolver a passar do estado de tranqüilidade para o estado de luta, e que seu eu fosse exímio nessa mobilização, eu depois tocava a luta. Mas era preciso na primeira necessidade pegar os atrativos do sossego, meter um pontapé e entrar na luta. Quer dizer, tão mole só se entra na luta ao pulos, não há outro jeito. Então, esta mobilização, eu construí, mas sem ter a perspectiva da vivacidade com a perspectiva de abandonar qualquer resquício de deleite do sossego, porque aí não se dá a mobilização completa da alma. É preciso que a mobilização seja honesta como é honesto o repúdio de uma tentação de impureza: ou você repudia inteiro, ou você fica com a cobra amarrada em si o dia inteiro. Então, é preciso repudiar inteiro, está acabado. Então, há aqui uma espécie de violento repúdio do evidente gosto do sossego — que eu tenho eminentemente o gosto do sossego — e: pum!, para a dentro da luta. Daí essa mudança que você nota. Você parece que está meio pasmo com o que eu estou dizendo.
(Sr. Guerreiro Dantas: Uma coisa é mobilização, outra coisa é mobilidade de espírito.)
O espírito levando um safanão violento, ele depois reage. E depois, dentro da luta, a oposição ao adversário, a necessidade de evitar mal maior, que vai amolar ainda muito mais, e uma porção de coisas assim se põem em movimento, e aí o estado temperamental muda inteiramente. E depois é preciso voltar ao sossego de modo ordenado, que não produza dificuldade na próxima mobilização. Então, a volta ao sossego, não é a de um cavalo que volta para a estrebaria louco para comer feno: então, começa a correr como um doido. Mas, é com passo calmo, lento, senta, cruza as pernas, diz uma gentileza, e…
Este é o modo do mole não ser mole consigo e cumprir o dever. Em nível de confessionário que é o…[faltam palavras]…que vocês me pedem, é isso.
Seria muito mais bonito que fosse outra coisa: um indivíduo com uma natureza gigantesca, que sobe assim como um gigante Adamastor sai da bruma dos mares… É muito mais bonito. Em mim, pessoa concebida no pecado original, tem esse defeito, tem que lutar contra ele. Que remédio eu tenho?
(Sr. Gonzalo Larraín: Há casos de gente que tem mobilidade, mas não tem nenhuma profundidade; gente móvel pode haver muita, mas o bonito da harmonia entre pernambucano e paulista é a profundidade e a torre paulista habitada por esse movimento também. Aí é que se pega o suco da coisa. Se o senhor não fosse profundo, grave, sério, etc. Aqui é uma mobilidade que é harmônica com essa gravidade. O que dá à mobilidade uma beleza que a mobilidade em si não tem.)
Com isso eu concordo, isso é verdade. Mas é uma coisa que eu nunca cogitei, estou cogitando pela primeira vez.
(Sr. Gonzalo Larraín: É uma coisa muito importante para conhecer bem o senhor, senão entram concepções erradas. É muito bonito o que o senhor acaba de dizer.)
Moralmente, como vitória da graça, é muito. Sem a graça não se conseguiria.
(Sr. Gonzalo Larraín: Enquanto natureza que conseguiu…[faltam palavras]…a graça conseguir isso. Forma uma natureza, um homem muito completo.)
Sim, graças a Nossa Senhora, isso eu reconheço.
(Sr. Gonzalo Larraín: Sem essa mobilidade, ficaria meio mortiço, só com essa mobilidade fica um colibri.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Tem uma agilidade de felino em certos momentos.)
De quê?
(Sr. Guerreiro Dantas: De felino. Quem leu [a] história de alguns grandes homens, percebe que eles têm inventiva, mas tudo tem uns certos quadros que eles vão compondo e por ali eles se movimentam. Mas a solução imprevisível para situações imprevisíveis, como é que a pessoa se sai? No caso da França, o senhor fez: em certo momento eles quiseram todo o colégio, aquelas instalações todas que eram grandes, e eles acharam que o senhor ia brigar por causa daquilo, eles estavam certos que o senhor iria brigar por causa daquilo. O senhor entregou para eles aquilo.)
Foi.
(Sr. Guerreiro Dantas: E depois caiu em cima deles.)
Foi. Entreguei sem a menor dúvida: “Fiquem com isso.”
(Sr. Guerreiro Dantas: Seria interessante o Sr. João escrever sobre o Sr. Dr. Plinio.)
(Sr. João Clá: Precisa escrever tanta coisa.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Em ocasiões assim mais paradigmáticas, ele anotar e fazer reuniões disso para nós.)
(Sr. João Clá: Só essa Campanha da Espanha é uma coisa do outro mundo.)
Não me passou pela cabeça que essa Campanha da Espanha, enquanto eu colaboro para ela, tivesse um pulchrum especial. Eu nem sei especialmente no que é que eu estou colaborando e no que é que estão colaborando os outros.
(Sr. João Clá: Eles sabem perfeitamente; não têm feito nada por si mesmos, porque eles têm consultado tudo.)
Meu filho, isso não é um acesso de afeto filial de sua parte?
(Sr. João Clá: Se quiser eu demonstro, porque tenho guardados os grafonemas que vieram de lá para cá e os que o senhor mandou de cá para lá; é uma enormidade de instruções. Enormidade.)
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Página por página: a capa do livro, os motivos…)
A capa foi desenhada pelo Mullin.
(Sr. Guerreiro Dantas: E aquele lance de colocar a lança no pescoço deles com a listagem das livrarias que publicam aquelas coisas monstruosas em matéria de moral, o “Informe”, para depois a Campanha poder correr sem eles terem coragem de cair em cima da TFP.)
Até agora não caíram.
(Sr. Guerreiro Dantas: Pois é isso, é uma agilidade que eu acho que está muito mais próxima do Equador, do que do Trópico aqui em baixo.)
Eu nunca pensei, isso é uma coisa que eu não penso. O João pode saber, vocês podem saber. Você mesmo disse: eu acho um jogo muito bem feito. A minha objeção é: “O que é que isso tem de original e de diferente de um homem que encosta um revólver nas têmporas de um outro?”
(Sr. Guerreiro Dantas: Isso é uma lança com a ponta de prata.)
Uma lança que seja.
(Sr. João Clá: Pode ser um revólver, mas acontece que o senhor não tinha o revólver, o senhor não tinha bala, o senhor faz tudo. O senhor muda uma situação toda.)
É, eu vou reconhecendo um pouco.
(Sr. Guerreiro Dantas: Esta mobilidade, esta agilidade de espírito do senhor, isso confere a toda a luta do senhor uma forma de “pulchrum”; na medida do possível, se o Sr. João pudesse nos contar, porque isso também nos ensina. Assim como consideração de ordem metafísica eleva a alma, o ver a alma do senhor mover-se com esta forma imprevisível de agilidade na guerra psicológica por excelência mais alta, é uma forma de ocasião de "flash" e amor de Deus. Porque Deus é a fonte de coisas dessas. Nós, contemplando isso no senhor, podemos compreender melhor coisas de Nosso Senhor.)
No Novo Testamento, Nosso Senhor tem coisas que nos deslumbram. São imprevisíveis pelos deslumbramentos sucessivos. Mas, no Antigo Testamento, Ele tem também coisas que nos deslumbram, até muitas, mas os imprevisíveis das atitudes são mais marcados do que no Novo, você não acha isso? No modo de tratar os Profetas, etc., etc.
(Sr. Gonzalo Larraín: São imprevisíveis?)
Imprevisíveis, imprevistas de Deus, no Antigo Testamento. Por exemplo, o Dilúvio é uma saída muito imprevista; a dispersão dos povos na Torre de Babel, é uma coisa muito imprevista.
(Sr. Guerreiro Dantas: Os judeus que ficam prisioneiros no Egito.)
Aquilo tudo…
(Sr. João Clá: o Mar Vermelho)
Isaac com Jacó, Jacó com Isaac, é uma coisa imprevista…
(Sr. João Clá: Mar Vermelho, maná.)
O Mar Vermelho, o maná. Depois, as reações dos judeus contra Moisés, muito imprevistas, você não acha, não?
(Sr. Gonzalo Larraín: Essas não são tão imprevistas.)
Muito imprevistas.
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor acha muito imprevistas? Eu acho super-previstas, posta a cabeça deles…)
Não, quer dizer, certas coisas: enquanto Moisés estava recebendo a Lei, eles montaram um ídolo, é uma coisa de quebrar, os partir; Moisés não quis. O que também é um imprevisto. Que ao menos eu vendo aquilo, pensava: “Agora Moisés vai escangalhar.” Não. E a gente vê que Deus estava esperando de Moisés que ele não quisesse escangalhar.
(Sr. Gonzalo Larraín: Está muito bem. Mas aí o senhor dá mais argumento ainda para o Sr. Guerreiro. Nessa ordem de coisas, o que o senhor tem de imprevisível. A paciência do senhor com toda a TFP, aí já é o imprevisível multiplicado pelo imprevisível.)
(Sr. Guerreiro Dantas: Na linha do pensamento, o senhor é cheio de imprevisíveis. A reunião do MNF de ontem, o senhor tratar daquela questão da animalidade do homem, dos instintos, aquilo foi um arqui-imprevisível. O “pulchrum” do assunto, a claridade com que o senhor expôs a matéria, e a beleza que se desprendia daquilo tudo, a finura de pegar a coisa e o senso de ordem e realidade que a pessoa que ouvia admitia vendo o senhor descrever aquilo tudo, é uma coisa extraordinária. Na ação, a gente vê também que o senhor é assim a todo momento, a toda hora.)
Disso assim, eu não tinha idéia. Aquilo, ontem, dos instintos, eu descobri na hora.
(Sr. Guerreiro Dantas: Na hora?)
Na hora.
(Sr. Guerreiro Dantas: Mas estava subjacente no seu espírito?)
Estava subjacente, do contrário não desenvolveria. Mas foi na hora, e eu mesmo fiquei encantado com esta obra de Deus, como Deus fez bem isto, que eu não tinha percebido, e alegrou-me porque me explica uma porção de coisas. Mas, foi na hora. Agora, como você disse, tinha uma porção de observações encadeadas para esse efeito, mas eu não tinha tido a intenção de caminhar por aí. Estava observado, observado, observado, e guardado.
Preciso ver um pouquinho a hora. Ah, não! Temos ainda tempo, são 2:25. Diga.
(Sr. Guerreiro Dantas: É uma tal riqueza de aspectos que há, só no campo da luta. E depois, há todo o campo das cogitações do senhor, metafísicas, das razões maiores, menores, observações psicológicas que o senhor tem explicitado muito no MNF, Reunião de Recortes, nas reuniões da TFP. Toda esta faixa que é a luta cotidiana do senhor, o atracar-se com o adversário, o desviar o adversário, o avançar, o recuar, mobilizar elementos para como atacar o adversário. Se isso tudo fosse possível estudar e observar com mais proximidade, para a partir daí então se cogitar disso. Inclusive, o senhor tirar princípios de como foi cada episódio. Todo esse operar do senhor é de um ensinamento, de uma riqueza, uma coisa extraordinária.)
(Sr. Gonzalo Larraín: O que o senhor diria sobre o que o Sr. Guerreiro está dizendo.)
Eu estou pensando numa coisa que é a resposta para dar a ele, mas a resposta conduz a um determinado ponto que é o seguinte. Eu receio que a gente fique girando em torno de um mesmo assunto, mas, enfim, vamos lá, porque é o que me ocorre.
Acontece que eu falei a você há pouco, no plano natural, de uma pessoa que tem várias hereditariedades, vários painéis, etc., etc. Mas agora, por exemplo, mais recentemente eu me espantei de vocês não me fazerem uma pergunta que ocorreu ao meu espírito e eu não saberia responder se vocês me fizessem essa pergunta. E agora mesmo também não vou saber responder senão de um modo imprevisto, mas a resposta imprevista me aflorou ao espírito agora.
É o seguinte: “O senhor disse que aquela história do instinto, o senhor tinha uma série de observações fixadas, mas que não se dirigiam a nada, é uma porção de coisas concatenadas, tal é assim, tal é assim, tal é assim… ponto final. Depois, não se via nem o espírito do senhor — quando armazenou esses dados — via onde pudesse conduzir. Em certo momento o senhor viu por uma necessidade de caráter teórico, o senhor pegou o fio da meada, e pegou como é que esses dados podiam conduzir até lá. Mas esses dados estavam há vinte, trinta anos na sua cabeça parados. Agora, o que é isso? É memória? O senhor disse que tem má memória. Como é que o senhor ousa sustentar que tem má memória quando o senhor apresenta isto e a gente percebe que há todo um depósito de observações que estão à espera assim de um “clic” em determinado momento para se manifestarem? Bem, como é que o senhor pode explicar esse depósito enorme, e o que é que levou o senhor a fazer essas observações? Um homem que observa, procura; o senhor estava à procura de alguma coisa quando o senhor acumulou essas observações. O senhor estava à procura de alguma coisa? Isso já estava de algum modo no seu espírito. Se o senhor não estava à procura, como é que o senhor concatenou isto numa certa ordem? Como é que isso está em ordem? Não está numa bagunceira. O que é que se passa aí?”
Essa era a pergunta que se você há minutos atrás me fizesse, eu diria a você simplesmente: “Eu não sei responder.”
No momento, eu sei responder e sei dizer como é. Mas essa resposta que eu dou depois toca nessa questão que mais recentemente você abordou, na última pergunta que você fez. Está certo?
A questão é a seguinte: existe na inocência uma capacidade de sentir afinidades e heterogeneidades que é colossal, porque a inocência é de uma sensibilidade enorme, e porque ela é sensível, ela tem, ela, muita memória, ela é muito mnemônica, porque tudo aquilo que a gente sente muito fica registrado na memória, e por causa disso…
O que é que é, meu João? Pode dizer. Está me olhando assim, cara muito cansada… Coitado, muito cansada; bom, termina logo.
(Sr. João Clá: Não estou achando em nada que esteja cansativa a reunião.)
Mas, afinal, vamos ao caso.
Há uma porção de coisas que uma pessoa inocente observa e diz: “ah! Bom, isto é assim, isto é assim…”, e na inocência havendo ordem, a pessoa põe em ordem aquelas impressões que teve. Porque a inocência é instintivamente ordenada. E ficam toneladas de impressões ordenadas postas dentro da memória e que a gente se lembra com uma certa facilidade. É por isso, por exemplo, nessa conversa, várias vezes, eu estou dizendo a vocês: “Eu não tinha pensado nisso, mas concordo.”
“Concordo…” Tomo muita responsabilidade quando eu digo que concordo, porque é uma coisa de importância para a formação de vocês. Eu vou ter de prestar contas por essas almas. E eu digo que concordo e avalizo uma série de coisas na hora em que eu digo que não tinha pensado naquilo. Mas é que coisas registradas pela inocência, e que com um olhar só, atento, em determinado momento a gente pega e emenda aquilo tudo. É uma outra aplicação do mesmo fato.
O que é preciso para ter essa sensibilidade é ter na inocência um certo senso do supremo, um certo senso do maravilhoso, que é inerente à inocência e, portanto, das gradações. Porque na idéia de supremo e a idéia de maravilhoso comportam gradações, contém a idéia de gradações — você me perguntava alguma coisa sobre isso no jantar. Então, gradações que tornam todo este resto facílimo. E é no [fato de] vocês terem meu espírito nesta matéria que se instala no espírito de vocês todo necessário para me seguirem e para sermos um, e para fazermos uma obra que me sobreviva, não?
(Sr. João Clá: Não se fala em obra que sobreviva o senhor, porque aí já entram outras teorias.)
Que me continue, qualquer outra coisa assim… Enfim, deixemos isso de lado…
(Sr. Gonzalo Larraín: Que o acompanhem.)
É, que me acompanhem, deixemos isso de lado. Mas, quer dizer, é propriamente esta participação no mesmo maravilhoso, no senti-lo, no querê-lo, no viver para ele. Mas da inocência… Não é o que a gente vai pegar num livro, é uma participação da inocência. Há, portanto, uma espécie de renúncia prévia a uma série de coisas que a Revolução nos deformou e não nos deixa capazes disto. Mas uma vez tiradas as más armaduras da Revolução e entrando, a gente, nesta inocência por participação — porque é por participação que é preciso entrar, aí está a doutrina do Fundador e dos discípulos —, aí nós recebemos como prêmio de nossa renúncia, nós renunciamos a mil porcarias, pelas quais nós pagamos um preço que nós não quereríamos — porque só hoje que nós vemos quanto é que nós ficamos despojados, e só hoje nós percebemos a bandida da Revolução de quanta coisa nos privou —, mas fica aberta a porta: Privem-se dela que a inocência lhes pagará a mil por um.
E é aí propriamente que eu imagino que se dá a tal troca de vontades de que fala São João Eudes: é a participação neste ponto, do maravilhoso.
Toda conversa de hoje à noite acaba sendo conduzida lindamente pela Providência para colocar vocês diante desta constatação: [o] quanto foram roubados, quanto perderam, e o que poderiam ser se não tivessem se deixado iludir pelo canto da sereia, e tivessem continuado fiéis à Virgem. Quer dizer, o que teria na alma de vocês? Vocês, do lado de fora admiram, gostam, perguntam como entrar no festim, mas de fato a porta está aberta: é só vocês pegarem as vestes poluídas da Revolução e jogarem fora. Aí tudo isto lhes é dado. É uma meditação sobre a conversão de um membro da TFP que tem “thau”, no qual o “thau” habita, mas que não se deu inteiramente ao seu “thau”. É uma meditação linda, como a abertura de um palácio.
(Sr. –: Está muito bonito, extraordinário.)
Desculpe-me interrompê-lo, meu filho, não se poderia fazer uma meditação mais adequada, e até mais tocante do que esta.
(Sr. João Clá: Assim como Nossa Senhora deu ao senhor discernimento dos espíritos, por onde o senhor vê os povos, vê as nações, as situações, a própria Revolução, a Contra-Revolução, o Bem e o mal, as almas, Ela nos deu a nós o discernimento dos espíritos em relação ao senhor.)
Isto.
(Sr. João Clá: Apesar da gente ter…)
…está muito bem.
(Sr. João Clá: …sido conspurcado pela Revolução, Nossa Senhora tem essa misericórdia por causa do senhor, para não deixar o senhor só, o senhor ter elemento na mão. Ela põe em nossa alma discernimento por onde a gente vê a alma do senhor.)
Não podia estar mais bem formulado.
(Sr. João Clá: Mas chega um determinado momento em que para continuar esse discernimento, e para aprofundar esse discernimento, Ela exige que de fato a gente queime as vestes poluídas da Revolução …)
Isso.
(Sr. João Clá: E aqui que se [põe] a grande prova…)
…a conversão.
(Sr. João Clá: …a conversão…)
Essa é a conversão.
(Sr. João Clá: Prova ou apostasia.)
É, exatamente.
Bem, mas isso é feito por Nossa Senhora numa conversa assim, é feito com tanto amor, que a alternativa nem está posta. Ela está empurrando, porque Ela… Muitas das perguntas que nessas reuniões têm sido feitas, sem o discernimento dos espíritos, não poderiam ser feitas, e muitas vezes eu fico pasmo ouvindo. Ouvindo você, por exemplo, agora à noite, e pensando, e você falando com evidente assentimento dos outros.
(Sr. Guerreiro Dantas: Nós conversamos antes.)
Foi preparado antes.
Uma pergunta, quase fiz a você, mas depois eu não fiz, porque tinha uma certa idéia de que feita naquela ocasião não faria bem, mas a pergunta era a seguinte: quando você começou a dizer isto, aquilo, aquilo outro, e eu mesmo naquilo que me era novo, eu concordando, eu me perguntei a mim mesmo primeiro o seguinte: “Isso, eles estão vendo agora. Quanto bem teria feito a eles se tivessem visto isto mais cedo?” Isto era a primeira pergunta. Agora, a segunda pergunta é: “Se eles viram, por que não dizem aos outros? Mas ficaram dez anos, ou quinze anos mudos a respeito disso, que teria sido tão benfazejo eles, pelo menos, comentarem entre si muito tempo antes.” É porque Nossa Senhora deu a vocês muito mais clareza nesse discernimento de espíritos, de que estava falando o João, ultimamente e com a formação do querido Grupo dos Complicados, do que deu antes, em que vocês viam mais confusamente, e se quisessem romper com a Revolução teriam visto mais claramente. Mas, pela preguiça de romper com a Revolução, apegos, etc., etc., deixaram-se no lusco-fusco. Em certo momento, Ela teve uma particular pena de vocês e começou a empurrar e aumentar o discernimento de espíritos nessas reuniões, e aí vocês foram adquirindo um discernimento do meu espírito que os outros não têm. Os de dentro do Grupo têm, mas muito preguiçosamente tomado.
De tal maneira, tanta preguiça, que eu vi este fato que eu testemunhei: muitas vezes gente com vontade de imitar o João no apostolado dele e com vontade de ter os êxitos do João, se perguntando qual era o método, e eu ouvindo e não dizendo, porque o método o João dizia: É falar a respeito do Fundador, que os efeitos vêm. Apesar disso, se se falasse, as pessoas não diriam, não falariam, nem se moveriam. Nossa Senhora está pondo os meus “complicados” a caminho para a reunião de hoje, que nesse sentido é um ápice, no sentido de mostrar o que fazer para ganhar tudo isso, que é a participação nesse maravilhoso. Que o “thau” comunicava muito brilhantemente no começo da vocação, mas com recusas a Nossa Senhora…
(Sr. Gonzalo Larraín: Esse é o problema [em] que eu estava e queria perguntar ao senhor por que o senhor disse como se fosse uma coisa nova… Não é novo.)
A perspectiva é nova, meu filho.
(Sr. Gonzalo Larraín: Esse assunto que o Sr. Guerreiro comentou, da mobilidade. etc., eu não faço censura, é uma coisa que está à flor da pele do senhor, que o senhor tem voz. Há épocas que o senhor é mudo. Como o [senhor] conclui que nós estamos [vivendo?] [vendo] agora? se não víssemos essa e outra série de coisas das quais talvez não se fale, não estaríamos no Grupo de jeito nenhum.)
É verdade. Mas por quê? A verdade é que o fato de não terem falado levou-os a explicitar menos; e tendo explicitado menos, levou-os a conhecer menos. Leva-os a conhecer muito mais agora, isso é certo. E esse não falar é geral do Grupo.
(Sr. Gonzalo Larraín: Aquilo se deu no começo da vocação. Estou falando aqui uma coisa que o senhor dizer que é nova, a mim estranha um pouco. Não me parece que seja nova.)
Enquanto abertura e tema de conversa entre nós é inteiramente novo. Nunca conversamos em nossa vida, fora dessas reuniões, a respeito disso. Isso é uma coisa assim, ou se conversa nos Êremos e Camáldulas que o João dirige, ou no Grupo dá em uns elogiozinhos superficiais sem nenhuma profundidade e acabou-se.
Mas, sobretudo, tudo quanto vocês disseram, o Grupo habitualmente silencia.
(Sr. Gonzalo Larraín: Mas vê, alguma coisa vê pelo menos.)
Vê. Mas o novo é o fato disso ser posto em comum, ser conversado, essa mise en commun é que é nova.
(Sr. Guerreiro Dantas: Depois, esse traço da alma do senhor, a gente vê que na luta do senhor ele se projeta com uma importância tal e de tal modo compõe o perfil do guerreiro — não é o único traço, seria um absurdo dizer que é o único traço — que em certo momento a gente enfocar esse traço na alma do senhor, dá ao guerreiro um perfil tão interessante, confere uma originalidade no terçar e no estocar o adversário, no avançar, no recuar, no escapar-se do adversário. Isso faz parte do estilo de lutar do senhor.)
Isso é fora de dúvida.
(…)
…terminal é, fica posta para nós uma meditação: nós ficamos vendo tudo quanto poderíamos ser se tivéssemos correspondido inteiramente ao “thau” e ao discernimento de espíritos que acompanha o “thau”. Porque o que disse o João aqui é uma coisa muito importante, eu até ia falar disso e interrompi, é um discernimento de espíritos no que diz respeito ao Fundador. É, portanto, uma coisa pessoal, mas bastante penetrante. Bastante…[falta palavra]…no que diz respeito a ele, e esse discernimento assim não é dado aos revolucionários.
(Sr. João Clá: Eles têm um ódio, eles percebem alguma coisa, mas esse discernimento não têm.)
Esse, não. E essa posição deles (os revolucionários) é meio parecida, uma coisa curiosa, mas é meio parecida com a posição dos demônios que levaram tempo para perceber quem era Nosso Senhor.
(Sr. João Clá: Fariseus em relação a Nosso Senhor.)
Fariseus em relação a Nosso Senhor.
(Sr. João Clá: Aqueles doutores do Templo, que com Nosso Senhor aos doze anos de idade, dando aquela lição para eles, mandando trazer tal rolo da Escritura, e tal outro, mostrando e provando, e todos eles pondo perguntas e Ele respondendo. Não podiam entender, não tinham discernimento. Os Apóstolos entendiam, menos inteligentes que os doutores, menos formados e entendiam quem era Nosso Senhor.)
Mas a questão é exatamente a seguinte: o católico tem uma espécie de discernimento dos espíritos em relação à pessoa de Nosso Senhor. E é uma coisa curiosa, alguns têm mais, outros têm menos, todos têm o suficiente. Mas você encontra muito tipo fora que fica cegado por uma espécie de falta de discernimento dos espíritos culposa, que de fato ele acaba não vendo por culpa própria. Isso que se dá com os católicos pode se dar com uma pessoa que represente a Contra-Revolução.
Quer dizer, até que ponto os revolucionários aí fora entendem o que vocês dizem? Eles rosnam uma qualquer coisa sem dizer propriamente que eu não tenho as qualidades que vocês me atribuem. Isso eles não chegam a dizer. Eles dizem que vocês são fanáticos, onde fica insinuado que vocês me seguem sem fundamento em ré, sem fundamento em mim. Fica insinuado isso. Mas sem que eles ousem afirmar diretamente. Eles rosnam alguma coisa assim, mas porque eles mesmos também percebem que não é tão sem fundamento. Eles ficam meio assim, avança, não avança; pega, não pega, etc., etc. E o esquisito da TFP para eles é esse mistério que eles não chegam a decifrar. Não sei se estou me exprimindo bem?
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Eu creio o seguinte: ainda que não conheça o senhor pessoalmente, eles vendo o estandarte numa Campanha, o “despliègue” numa Campanha, vendo o perfil de um membro do Grupo, isso aí já é um reflexo, e aí eles ficam inseguros na posição deles de nos atacar.)
Muito. Mas eles percebem de algum modo que tudo isto está em mim.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Sim, sim, exatamente.)
De outro lado, odeiam, odeiam de um modo torvo, em que as palavras até se embaraçam na língua deles, eles odeia de um modo torvo e silenciam, em parte porque recebem palavra de ordem, mas em grande parte porque lhes é mais cômodo silenciar; e quando eles recebem a palavra de se calarem, eles recebem uma coisa para a qual já tendem. Então, é executado a léguas, a torrentes, é executado isso com super boa vontade da parte deles.
Mas aquele fato que o Fábio observava que o meu nome produzia uma certa crispação nas redações de jornais de países hispanos, onde eu nunca eu tinha estado, esse fato demonstra bem que há uma irradiação disso para muito além do que eles pensam — do que eles pensam não está bem dito — do que nós podemos pensar.
Exatamente essa clareza de discernimento é um enorme convite dentro da perspectiva da união de almas que deve existir entre nós, é um enorme convite. E que este convite é assim: vocês gostariam tanto de ser de determinada maneira, vejam como se é e amem, e queiram ser assim no que diz respeito ao maravilhoso. O resto vos será dado por acréscimo.
(Fabuloso! Fenomenal!)
E no explicar assim, eu não sei bem o que é que é, mas há alguma coisa de novo. Como ponto de partida, tudo quanto você, em nome deles, expôs aqui.
(Sr. Gonzalo Larraín: Ah!, sim, tudo no conjunto, senão ficaria uma espécie de planície sem o topo.)
Planalto até, se quiser, mas não tem topo.
Agora, aqui [há] um mistério: por que é tão árduo aceitar esse maravilhoso? Por que é tão árduo despir-se dos farrapos da Revolução? Quando se vê bem o que a pessoa podia ser, porque é que é tão árduo? Porque é muito árduo. E depois, é uma coisa curiosa…
(…)
(Sr. Guerreiro Dantas: Hoje à noite tínhamos conversado, de alguns tempos para cá começamos a perceber o quanto nós dependemos da graça para que qualquer coisa boa que parecia firme continue firme; tanto no que diz respeito a nós como nas coisas externas que nos poderiam auxiliar na linha do bem. Nas coisas externas da vida, por exemplo, aquilo que nós poderíamos contar como fator de estabilidade para nossas almas ou para conseguir algumas coisas, a gente vai notando que tudo isto de repente por frações de segundo, por um tempo assim fugidio, aquilo desaparece. E a gente começa a entrar num mundo em se percebe que se tem que apoiar-se cada vez mais nas graças, nas bênçãos.)
Está muito bom.
(Sr. Guerreiro Dantas: O único caminho que tem consistência é o das graças, mas esse caminho não é uma estrada pavimentada, é cheio de pedras, buracos, vazios, entremeados de graças; então tem-se que ir pulando. Acontece que antes a gente achava que a vida natural era firme, agora os buracos começam a aparecer com uma profusão que é misteriosa. Eu tenho a impressão que Nossa Senhora está nos convidando para deixar de andar nesses caminhos naturais, para começar a andar nos caminhos sobrenaturais.)
É isso tal qual, é isso tal qual.
(Sr. Guerreiro Dantas: Eu comento um pouco isso porque eu acho que está ligado com o problema “por que é que a gente não tira essas vestes poluídas”.)
Está ligado. E no momento presente, o problema é: não haveria na ordem da piedade, para começar por aí, que é mais fácil, alguma coisa para fazer que nos desse muito mais apetência desse caminho, e muito mais força para ir andando de pedra em pedra, por cima das fendas, das crateras? Porque é o problema. Isto eu acho que não é o momento de tratar agora, porque isso a graça tem que falar a vocês. Nem é fabricar um conselho. É a graça dizer isso a vocês. Quer dizer, vocês têm que batebolar, tendo em vista as nossas reuniões, e tendo em vista que vocês caminham para a união comigo, a graça dirá a vocês o que é necessário sem interferência minha. Quando muito, numa reunião, eu direi que isto está bem ou está mal.
(Sr. Guerreiro Dantas: Seria bom o senhor rezar por nós através da Sra. Da. Lucilia, pois é graças a ela que estamos aqui, na casa dela, ela abriu as portas por uma vontade soberana dela.)
Pois não, pois não. Muito bem.
Bem, vamos andando?
* * * * *