Conversa de Sábado à Noite ─ 20/2/88 – p. 5 de 5

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º Andar) ─ 20/2/88

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Conjectura sobre o que teria acontecido com os apóstolos durante e depois da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo * A reconstituição do Colégio Apostólico! * “A descida do Espírito Santo veio a pedido de Nossa Senhora. Não se pode conceber outra coisa!” * “Se durante a “Bagarre” alguns apavorarem e sumirem, não esqueçam que eu me julgaria no dever de os receber como se nada tivesse havido” * Hipótese de uma cegueira que Nossa Senhora pode mandar ao demônio para castigo deles e do mundo, e o que daí decorreria

* Metáfora do marinheiro que “encontrou água doce no mar”: era a pororoca do Amazonas. Nós estamos na “Bagarre” pensando que ainda ela não chegou

sujeito que embarcou numa canoa, enfim, estava no Oceano e um pouca a água que eles tinham para beber se esgotou.

Então resolveram que um tinha que pular fora e morrer nas águas; porque navegavam, navegavam… Então para controlar um pouquinho a água que restava, era preciso uma boca a menos. Eles sortearam, um foi sorteado e se jogou nas águas. Quando ele se jogou nas águas, ele gritou: “água doce!” Estavam navegando na pororoca do Amazonas! Sabem o que é a pororoca, não é? [Eles estavam navegando na pororoca do Amazonas] onde não se vê a terra, vai tão longe que não se vê a terra! E não imaginava encontrar água doce ali.

Então o pessoal disse: “está louco, está delirando”. Mas um, por vias das dúvidas, meteu a mão e experimentou e gritou: “água doce!” Então pararam e pegaram aquele, beberam água à vontade! E entenderam que era o Amazonas. Então acabaram aportando em Belém, estava salva a pátria.

Eu quase que gritaria nesse estado: “Bagaaarre!!!”

Ainda hoje, fazendo a reunião, eu estava pensando nisso. Porque seja como for, visto assim nesse retrospecto, a embarcação que chega ao cais da Bagarre, é uma embarcação que no ponto de partida era um escaler com sete pessoas. Hoje é uma caravela de apreciáveis dimensões.

(…)

já fiz quarenta anos por incrível que pareça! Houve um tempo em que eu tive quarenta anos, por incrível que pareça. Pois bem, nesse ano, eu senti a pancada do tempo que está passando. Eu quando fiz quarenta anos me senti, não um velho, porque eu sabia que um homem de quarenta anos não é um velho, mas eu compreendi como eu estava longe da mocidade que vinha atrás de mim. Era um dos meus pontos de interrogação: minha geração e essa geração ─ geração que agora faz quarenta anos ─ eu não levo. Tudo leva a pensar que o pessoal mais novo eu não levarei também e levarei menos ainda.

Então eu estou num cone, atrás de mim: zero.

(…)

* Conjectura sobre o que teria acontecido com os apóstolos durante e depois da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo

naturalmente ele teria ficado ou de longe no meio da multidão, sendo escarnecido e pedindo perdão de longe, com o rosto em terra, chorando, etc., etc., ou ─ o que eu tenho mais propensão em admitir ─ ele esteve percorrendo as casas dos Apóstolos, chamando, batendo na porta…

O que é?

É Pedro!

O que quer? Não vou! Cale a boca! Você não vê?!

De repente abre uma janelinha:

Vamos ser mortos!

Eu quero falar.

Mas logo você? Você negou! Poltrão! Você não é mais chefe de nada!

Eu não mereço, mas você sabe que foi dado vitaliciamente! Seu chefe está aqui, pecador como você, e lhe procura!

Pode imaginar esse colóquio na madrugada, pelo dia a fora, até que, de repente, estremeça a terra e os que já tinham sido contactados por São Pedro caíssem de joelhos: “Ele morreu!”

Você pode imaginar o que eles sentiram quando eles entenderam que Nosso Senhor morreu? Uma coisa de rachar um homem! Quer dizer, para um homem que se tenha arrependido, ou vem uma graça muito especial ou o sujeito morre! Fica rachado!

[Mas] que bonita coisa se, por exemplo, nós imaginamos que os onze já estavam reunidos no Cenáculo quando a terra tremeu, e eles apoiados na mesa da ceia, se ajoelharam, começaram a soluçar, a pedir perdão e a rezar… É uma hipótese. Eu não sei, por exemplo, o que Maria de Ágreda diz a esse respeito; não sei… algum trecho, verossímil, de Catarina Emmerick [o que que diz] a esse respeito.

Ana Catarina Emmerick está inçada de heresias, mas eu tenho a impressão que foram incrustrações de uma mão malévola, mas que há coisas verdadeiras ali dentro.

Bem, o que que se pode dizer disso? Também não sei. Mas sei dizer que é uma reflexão para nós profundamente benfazeja! Mas profundamente benfazeja.

Quando eles viram o céu se nublar, depois aquelas almas dos justos que andaram animando os respectivos cadáveres e andando por Jerusalém, essas almas dos justos não teriam encontrado com eles? E que susto! No meio daquilo, eles encontrarem na rua, de repente, um David qualquer? E eles conhecerem que é David, e David perguntar: “o que fizestes de meu filho?! tu que fostes chamado a acompanhá-lo?!” E daí para fora, coisas do outro mundo!

* A reconstituição do Colégio Apostólico!

Elias não teria vindo nessa hora? mais Henoc? Agora, você faça idéia do encontro com Elias, o inquebrantável! O perfeito! que foi levado num carro de fogo, que está confirmado em graça, que virá lutar com o Anticristo, o futuro mártir cuja glorificação já está prevista! Olhar para esse homem quando a gente traiu!?

Depois, seria um movimento que podia dar em muitos, era fugir! Podem me crer que dava. Bem, aí eles caminhavam para o Inferno. Era preciso ter a coragem de se prostrar, nem é de ajoelhar, é deitar no chão com o rosto em terra e dizer:

Eu não tenho coragem de vos ver, mas olhai para mim para me purificar. Deixai-me tocar na parte traseira, mais baixa da sola de vossa sandália, para ter algo de comum convosco! Eu, que não mereço!”.

Quer dizer, ninguém pode imaginar o que foi essa reconstituição do colégio apostólico! A coisa é extraordinária! Admirável!

Agora, São João, virgem; que não perdeu a virgindade durante esse tempo. Vocês sabem bem que para os outros a tentação contra a pureza o que que terá sido durante esse período, hein? É melhor nem pensar! Porque todas as tentações: “Agora que você está perdido, aproveite, goze”. E daí para fora! Mas São João foi!

Onde está João?

Alguém de passagem contou:

Ele está ao pé da cruz.

É claro, era o preferido, ele era virgem, encontrou perdão, mas nós… Ah! coisas amargas, amargas, amargas… amara, amara valde diz o Dies irae. Valde quer dizer: muito, acentuadamente, pronunciadamente amargas. São coisas que… nas quais é preciso pensar, é preciso pensar. Enfim, são coisas… Não leve a mal de eu consultar o relógio.

(Sr. –: Está muito tarde já.)

Eu me recriminaria de eu cortar, temos que ir até onde pode.

(Sr. Gonzalo: Não, não senhor, já está muito tarde e nós ficaríamos contente de que o senhor fosse descansar.)

Só se vocês me disserem, o que eu compreendo muito bem, que [acham] melhor fechar a reunião aqui e levar isso consigo, isso eu compreenderia bem.

Uns dez minutinhos eu tenho ainda, amanhã devo levantar tarde, etc., e em dez minutos, de repente, ocorre mais alguma coisa boa.

* O papel de Nossa Senhora na reconstituiçao do Colegio Apostólico

(Sr. Poli: E Nossa Senhora como é que acompanhava todo esse desenvolvimento?)

Ela sabia tudo. E é fora de dúvida que, para que os apóstolos se reintegrassem com tanta normalidade, eles receberam graças, isso é fora de dúvida; e graças de contrição. Uns mais outros menos, a atitude de São Tomé indica bem como é que corriam as graças. Mas então tinha que ser por meio d’Ela, porque não há graça que não resulte de oração d’Ela, que não seja dispensada por meio d’Ela.

Essas são graças eminentes, insignes, para aquela “temeridade” ─ temeridade entre aspas ─ de Nosso Senhor, de estar triste com os Apóstolos, mas já ter conferido a eles o episcopado, e São Pedro, o principado de uma Igreja que Ele sabia que estava mais ou menos como um castelo de gelatina.

(Sr. Nelson Fragelli: Nos ajuda a compreender o senhor também.)

Quer dizer, afinal de contas Ele sabia que era aquilo e constituir uma Igreja que ia durar por todos os séculos, “as portas do inferno não prevaleceriam contra Ela”, etc., aquilo! aqueles mambembes!! “Bem-Aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas foi o Espírito, foi Deus que revelou…”

Mas Ele mesmo sabia que esse Simão filho de Jonas o que ia fazer. Quer dizer, tudo isso só se explicava com certeza de que Nossa Senhora ia pedir muito e ia conseguir o inverossímil para aqueles.

* “A descida do Espírito Santo veio a pedido de Nossa Senhora. Não se pode conceber outra coisa”!

(Sr. Paulo Henrique: E será que a descida do Espírito Santo veio a pedido de Nossa Senhora para eles?)

Ah, não, não se pode conceber outra coisa! E depois ali, eles estavam em oração no Cenáculo, quando veio o Espírito Santo; e Ela estava ocupando a presidência daquela reunião. O que quer dizer que o Espírito Santo quando baixou, baixou uma língua de fogo sobre Ela e se dividiu e tocou a cada um dos doze depois. Mas isso significa com o último da eloqüência, que eram as orações que eles fizeram, com Ela intercedendo à testa deles que obteve a vinda do Espírito Santo.

(Sr. Paulo Henrique: [inaudível])

É, Ela era esposa do Divino Espírito Santo, com certeza pediu como Esposa: “faça mais isso”. Isso é certíssimo!

Porque se você pensa o que que eles fizeram, e a glória que Nosso Senhor depositou sobre eles antes ─ o primeiro Papa… teve medo de uma lavadeira! de uma mulher dessas! E daí para fora, uma coisa extraordinária! A gente compreende melhor a tranqüilidade que a gente deve ter nessa situação da Igreja em gelatina. É, não tem problema, mas ali está a Santíssima Virgem, Ela está rezando. Em certo momento tudo se resolverá. Não é?

* “Se durante a “Bagarre” alguns apavorarem e sumirem, não esqueçam que eu me julgaria no dever de os receber como se nada tivesse havido”

Inclusive se acontecer de alguns durante a Bagarre se apavorarem e sumirem, não desesperem! Se lembrem dessa reunião. E tenham em conta que eu me julgaria no dever, para mim agradabilíssimo, de vos receber como se não tivesse havido.

Não se esqueçam disso!

Quer dizer, o erro seria desesperar. Esse é o grande erro.

Porque eu me ponho no papel de alguns dos que estão aqui, [de] qualquer [um], é impossível que às vezes não tenha medo de vir essa Bagarre como eu a apresentei hoje.

* Hipótese de uma cegueira que Nossa Senhora pode mandar ao demônio para castigo deles e do mundo, e o que daí decorreria

Eu termino a reunião com essa hipótese ─ eu creio que cheguei a dar hoje essa hipótese, não sei bem ─ que a Providência para punir o demônio e para punir o mundo do que está acontecendo, a Providência em determinado momento, cegue alguns demônios, de maneira que eles não possam ver a inteira realidade do que está se passando aqui. E nos conselhos mais secretos deles, eles entram em desacordo; percebam com furor que Nossa Senhora os cegou.

Em algum ponto estão cegos por Ela! “Temos que fazer um plano não tomando em consideração essa cegueira!”. Mas percebem que eles foram cegos num ponto tão delicado que eles não podem chegar a um acordo. E que eles estão entrando em desacordo entre si, um desacordo forçoso! porque deixar de agir é reconhecer a vitória d’Ela; agir é dividir-se; e dividir é esboroar o plano.

Então começam a se espancar e entrar em desacordo, com que ultrajes mútuos! ─ a gente pode imaginar ─ inclusive, naturalmente, blasfêmias bandidas contra Ela, mas entram! E aí o governo do mundo entra em delírio! Porque o governo do mundo é deles!

Aí pode dar um tal pandemônio entre os homens que se deixaram escravizar por eles, e que já estão todos eles mais ou menos cegados. Eu creio que os senhores tomam tudo isso como líqüido, que essa gente toda está mais ou menos cega.

(Sr. –: Completamente)

Completamente!

Então sai um caos, em que sai um mata-mata. “Como é que é, como é que vai ser isso, eu terei coragem? Se me apanham, se me reconhecem? Como é esse mata-mata?”

Não sei se já olharam isso tão de frente quanto eu estou pondo aqui?

(Sr. Guerreiro Dantas: Sobretudo fora do país onde o senhor está…)

Como é isso? Não, e depois aquele pessoal começando a se matar [Estados Unidos]; aqueles bonacheirões, aqueles presuntões todos, que espécie de [feras dão]? É uma coisa tremenda!

(Sr. Nelson Fragelli: E nós eventualmente sem reuniões.)

Não, acaba a reunião! Pode ser que em determinado momento vocês possam passar por essa: tem a notícia em todos os jornais de que eu fui morto…

(Sr. Guerreiro Dantas: Com fotografias e detalhes, etc.)

(…)

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