Conversa de Sábado à Noite – 13/6/1987 – p. 9 de 9

Conversa de Sábado à Noite — 13/6/1987 — Sábado [VF 054] (Neimar Demétrio)

* Comentários sobre a Constituição

(Sr. Nelson Fragelli: …então, não temos o que fazer? Nós vamos entrar num marasmo, e não vem a luta prometida?)

Ah, não! Esta é uma outra questão. Esta Constituição assim é uma afronta a Deus tremenda. Agora, esta afronta terá nesta Terra seu castigo porque as sociedades temporais têm seu castigo nesta terra. Não são como as almas que tem seu destino eterno, etc., etc. E este castigo vem. Agora, se o Brasil existisse num mundo em paz e que estivesse em ordem e bem arranjadinho, se fosse assim, eu diria que é o marasmo que vai tomar conta. Mas esta situação criada com a movimentação geral do mundo, eu creio que dá numa explosão. É um mistério como nós chegaremos até lá. Nós não lutaremos? Nós temos que tratar de uma questão que está recente demais em meu espírito para eu poder dar uma resposta. Mas a questão é essa. Mas se o plano é ir fazer descambando [ao] mundo através de sistemas destes — não especifico qual o sistema — propostas ardidas da esquerda, caos, ares de fim de mundo, capitulação colossal — porém, não completa — de aceitação da parte da direita, este é um esquema. Este esquema pode descer ao nível da convergência completamente e de uma convergência que eu não sei até onde vai. Mas isto é no mundo inteiro e não só no Brasil.

Mas a pergunta feita de joelhos em terra, feita a Nossa Senhora: “ad te levave óculos meos.” Quer dizer, Vossa graça fala em minha alma, dando-me uma promessa, pondo todo meu entusiasmo e devotamento em função de que esta promessa se realizará. Eu creio na Vossa promessa e creio em dois sentidos da palavra: creio que Vós prometestes e está prometido; e creio que Vós cumpris Vossa palavra. Senhora, os extremos do limite do triunfo chegaram! Humildemente — mas na postura de Jacob diante do Anjo —, nós Vos perguntamos: quando?

(Sr. Nelson Fragelli: Perguntas que o senhor vem fazendo há tanto tempo…)

Sim, mas com graus de premência nem sempre iguais. Vamos dizer bem as coisas como elas se colocam no total: é que esta situação econômica é de uma sociedade posta numa situação moral irrespirável. Realmente, a coisa fica a dois pés do demônio celebrar a vitória dele e não acontecer nada. Isso, eu tenho certeza que nossa confiança pode ser muito provada, mas que a nossa Fé não vai ser desmentida, eu tenho certeza. Ainda que Elias tenha que vir ou aconteça qualquer outra coisa, nossa Fé não vai ser desmentida. “In te Domine speravit, non confundant in æternum.” A este respeito não haverá em mim a menor vacilação.

Bem, meus filhos. Vamos aos nossos temas.

* * *

* As inter-relação entre a inocência primeva, o “thau” e a Sagrada Escravidão na alma do Sr. Dr. Plinio

(Sr. Guerreiro Dantas: …chega a este ponto.)

Sobre este dom, etc., etc., enfim, o mecanismo todo da Sempre-Viva, etc., há certa precisões concretas para introduzir para ver o que Nossa Senhora fez. E portanto, para ver como as coisas correram. E foi em vista desta precisão que eu construí uma certa visão das coisas. E a precisão é [a] seguinte:

Realmente, em primeiro lugar, o que é que se deu comigo? E todas esta pluralidade de inocência primeva, de “thau”, da Sagrada Escravidão, etc., quais são as inter-relações? Convém definir um pouquinho. É apenas resumindo e explicitando melhor. Eu não me lembro bem o que foi dito na última reunião.

No meu caso pessoal, houve uma inocência primeva muito grande, mas houve uma coisa distinta da inocência primeva que é o “thau”. Eu admito que este “thau” tenha estado presente — embora distinto — mas tenha estado presente desde a inocência primeva. O que foi o que eu disse da última vez.

* Um guiar a inocência para que esta se volte para o fenômeno Revolução e Contra-Revolução, tornando-a mais excelente do que é em si: nisto consiste o “thau” do Sr. Dr. Plinio

Agora, no que se distingue este “thau” da inocência primeva? Eu dei um exemplo que poderia servir para lembrar. É o caso do Padre Damião de Molocai, etc. Ele não tinha este dom específico — ele poderia ter tido uma inocência primeva magnífica —, mas ele não tinha este chamado da graça para discernir a Revolução e [a] Contra Revolução de um modo tão preciso e tão exato, etc., quanto eu na minha inocência comecei a fazer. O guiar a inocência para ela se voltar para o fenômeno Revolução e Contra Revolução e o ver o fenômeno Revolução e Contra Revolução com esta precisão: nisto está o “thau”.

Bem, então o “thau” é algo por onde a inocência recebe uma vocação para mais especialmente entender e ter sua atenção posta numa ordem de fenômenos que são a Revolução e Contra Revolução. Mas isto não se esgota numa simples temática diferente. Mas é uma coisa diversa. É que esta atenção posta especialmente no tema Revolução e Contra Revolução para executar uma missão que nós vemos que é uma missão única, etc., etc., faz dessa, como que, especialização da inocência algo que é um grau a mais, que torna a inocência mais excelente do que ela mesma. Um grau que é isto: de ela ter este senso contra-revolucionário que expurga a alma de todas as noções, de todos os erros, de todas as cegueiras da Revolução e que, portanto, é em algum sentido uma vocação, mas em algum sentido algo que se acrescenta à inocência, no interesse da vocação. Isso aí vem a ser o “thau”.

* Um “pré-thau” concedido por Nossa Senhora em função do futuro encontro com o Sr. Dr. Plinio e como ele o via nas almas dos escravos, ao pedirem a Sagrada Escravidão

É verdade que eu tive o “thau” desde minha primeira infância, etc., mas a respeito dos que, com verdadeira vocação, me pediram a Sagrada Escravidão, eu julguei notar — por exemplo, em todos que estão aqui — desde meninos, sem eles notarem, provavelmente, eles tinham já na alma coisas que em alguns campos os chamava especialmente para isso. Na inocência deles havia uma coisa que, desde meninos, os chamava já para isto; era ordenada a um futuro encontro comigo. Mas era uma coisa dada por Nossa Senhora antes do encontro comigo, em função deste encontro comigo, mas que era uma coisa que, enquanto tal, historicamente, não tinha provido de mim. Era dada e era provida de mim apenas neste sentido da palavra, nestes dois sentidos:

1) Provavelmente, se eu não tivesse sido fiel, Nossa Senhora não teria dado;

2) Isto era feito para encaixarem, encontrarem e tocarem para frente, mas Ela deu antes de me conhecerem, que era uma coisa difícil de definir, mas que era já alguma coisa existente. Com todos que estão aqui presentes eu notei isto. Notei com todos os escravos, cada um a seu modo, algo que era… Não um “pré-thau”… não…, mas é uma primeira luz do “thau” que depois haveria de se confirmar. Isso em vários modos, em várias formas, etc., cada um de um jeito.

De maneira que eu aceitei. Aceitei porque julguei encontrar este lumen dentro das almas com algo que é já a semente do “thau”, já é o “thau” em semente. É distinto, portanto, de um sujeito que não tem nenhuma vocação, [não tem] nada do tempo que vem de sua infância e que na idade adulta recebe um convite e tem “thau”. Com os casos concretos que eu vi, havia uma semente de “thau” presente em todos. Em alguns, por coincidências fortuitas, me mostraram fotografias deles nos tempos de meninos e a gente vê claramente o “thau” ali presente, mas claramente. É um “pré-thau”, é uma semente de “thau”, mas é isso. Algo por onde desde pequenos, de vez em quando, e com infidelidades, e com relaxamentos, com concessões a Revolução e, entretanto, vinha, vinha, vinha… e acabava dando nisso.

* A graça da Sagrada Escravidão e o convívio com o Sr. Dr. Plinio fizeram sentir que só por esta união a vocação atingiria suas condições normais

No momento em que eles tiveram a graça da Sagrada Escravidão, eles tiveram uma luz maior para perceberem este “thau”, o “thau” deles brilhou mais, tornou-se mais intenso. E isto resultou de um convívio comigo e de, a propósito deste convívio comigo, em determinado momento, a graça ter feito germinar em cada um essa idéia de uma união que só atingiria, que só levaria, a vocação a suas condições normais perante esta união.

Mas, mais ainda — aqui a coisa é delicada: com algo em mim altamente apetecível de a gente se unir com isto, que não era visto, era germinativamente visto, mas nunca tinha sido visto tão claramente como no momento em que veio a idéia desta vocação. E, no momento em que veio isto, veio o ver alguma coisa de muito atrente. Isto dá a impressão à alma que, se quiser aquilo, se se unir com aquilo, aquilo faz o papel nela de mancha de azeite. O azeite cai ali e se difunde pela alma.

* Os fenômenos espamódicos de rejeição provindos dos defeitos revolucionários

Mas no momento em que ela vê isto, há um papel qualquer da graça na alma pela qual ela não se dá conta desde logo das dificuldades que isto implicará. E desde logo este ponto. É que este ponto é ao mesmo tempo tão atraente… mas, este ponto, por causa de defeitos revolucionários, produz fenômenos espasmódicos, por assim dizer, de rejeição determinados por isto, por aquilo, por aquilo outro.

Depois, rejeições de várias maneiras: rejeições encolerizadas ou rejeições por abstração, por dejadez, “laissez-faire, laissez-passer”, deixa correr o marfim… São formas várias de rejeição, mas que naquela primeira hora em que a coisa aparece à pessoa não se dá conta de que está involucrado aquilo: está esta luta envolucrada na esperança.

Então, acontece que, historicamente falando, os chamados para a Sempre-Viva foram em cadeia. Tem isso de curioso, que não foram feitos assim: um ano um, outro ano outro, no outro ano outro, etc., mas foram feitos no espaço de poucos meses e com autonomia com que todos sabem que foi feito. O caso do Paulo Henrique é um caso diferente. Sem embargo na alma do Paulo Henrique como do CL. e PC. Eu sempre vi isso que tendia para lá. Até vocês se atrapalhavam muito nisso, porque cada um era inimigo furioso do “thau” dos outros e a roda era muito menos boa do que a soma dos indivíduos.

* Fato no qual o Sr. Dr. Plinio se sentiu visto inteiramente

Para falar afetuosamente, hoje eu dei o hábito ao CL. Eu fiquei encantado de ver a cara boa com que ele estava. Mas a cara boa e contente de receber o hábito, etc., etc., mas uma atitude muito, muito bonita. Eu me lembrar dos anos de trabalho com o CL. e trabalhando com o CL. com a corda solta que chegava até não sei onde. Eu me perguntava, às vezes, se a corda não estava tão solta, que me perguntava se não estava rompida. Por de baixo d’água — nem ele nem eu percebíamos —, mas ele tinha um pedaço de corda e eu também tinha outro… a união entre os dois pedaços de corda. Até ele se mostrava, subconscientemente — porque ele é todo cheio de antenas de coisas dessas —, ele se mostrava seguro. Mas, eu me perguntava se não era segurança da temeridade… Mas que aquilo ia mar alto.

Hoje, eu estava olhando para o CL. e [estava vendo:?] Bem, e vendo que a corda não se tinha rompido. Nunca se rompera. Não era uma corda reconstituída. Ele não era da Sempre-Viva, mas para falar desta corda como ela é. Eu me senti, hoje, neste ato, ato tão simples de conferição de hábito, eu sentado dentro do automóvel, chovendo, tudo feito depressa para que o pessoal que estava ali rodeado não se ensopar, eu me sentia pela primeira vez inteiramente olhado, visto, pelo CL., como eu sou. É uma coisa especial. Não sei quanto tempo isto durará na retina dele, retina psicológica dele, mas é assim que eu sentia.

Agora, para falar com uma franqueza que se justifica à vista do que você disse e que, portanto, me obriga a esta franqueza que eu não teria em outras ocasiões, há o seguinte: é que… Aliás, o PC. fez a respeito disto um ato de generosidade como eu não pensei que fosse possível. Mas dentro de estilo é de confiar. Mas a isto — eu desejo atenção para um fatinho…

* Quando aceitamos inteiramente a esplendoração da Sagrada Escravidão, vemos ao Sr. Dr. Plinio inteiramente

[Como o Sr. Dr. Plinio viu pela primeira vez na Estação da Luz a questão de Carlos Magno. Aquilo na história do “thau” foi uma marca porque o Sr. Dr. Plinio viu naquele desenhinho muito mais e que levou o Sr. Dr. Plinio àquela veneração a Idade Média.

Para falar com toda franqueza há com os da Sempre-Viva algo em relação ao Sr. Dr. Plinio. Nessas horas eles vêem coisas enormes. Nessas horas está nos da Sempre-Viva, tomarem uma estabilidade por onde a união se torna muito mais efetiva. Em outras ocasiões isto não é assim. Mas a Providência tem seus ressentimentos por onde podemos passar por períodos de apagamentos grandes: se o Sr. Dr. Plinio não lesse o livrinho por querer conversar com amigos…

Então há uma diferença em ver o Sr. Dr. Plinio no Tabor e na vida comum. “Christianus alter Christus.” No Tabor houve uma esplendoração na qual houve uma transparência do Senhorio d’Ele. Se nossa alma adere ao chamado que tem na esplendoração podemos ir para frente. Se não adere pode ficar parada. Pureza. “Se Nossa Senhora não tivesse tido pena de mim, Carlos Magno teria ido pelos ares, mas ia também a Revolução e Contra Revolução. Então, qualquer furação interior pode fazer ir para o ar a esplendoração, mas é n’Ela que as coisas podem dar em algo. Mas há também uns eclipses que dependem de toda uma economia da graça.” E isto não pode ser visto como uma coisa que está no poder do Sr. Dr. Plinio regular. Por exemplo, a Reunião de Recortes foi brilhante. Muitas pessoas vinham blindadas para não ver esta esplendoração, outras não ligaram.

Quando aceitamos a esplendoração da Sagrada Escravidão — na Reunião de Recortes [não] vimos apenas aspectos do Sr. Dr. Plinio — nós vimos o total da pessoa do Sr. Dr. Plinio. Qual é o momento, o que podemos fazer para que Nossa Senhora nos dê novamente a esplendoração? A inocência dá uma rapidez de pensamento enorme e ordenadíssimo — no fundo é o pulo do gato, que é o sopro do Espírito Santo.

* Uma vez voltando à graça da Sagrada Escravidão, está ficará até o fim da vida

A Sagrada Escravidão continua a existir porque guardamos uma recordação de enlevo que tivemos como os discípulos após o Tabor. E nunca, apesar de todas as fraquezas, quisemos negar esta esplendoração que, enquanto recordada, é viva e nunca perdemos o som do “voltarei”. Como então conseguir que isto volte? Porque se voltar mais uma vez ficará até o fim da vida. Faz parte de todo processo de alma — que é muito mais profundo que podemos imaginar. Porque no momento de esplendoração fizemos uma recusa da Revolução como o Sr. Dr. Plinio fez quando viu o livrinho de Carlos Magno — este foi o ponto que [o] uniu à Idade Média. Aqui há um mistério que devemos começar a pedir para que esta semente que ficou, não é resíduo, volte a germinar. E, à vista das situações de nossas almas [e] do mundo, tem que vir esta [graça] que é um elemento do “Grand-Retour”. No “Grand-Retour”, no Sr. Dr. Plinio, veremos muito mais Nossa Senhora. Aqui estamos no lusco-fusco, numa incerteza no que fazer para isto. Algo deve acontecer: é uma esplendoração que deve partir de Nossa Senhora, exceto que venha um sinal da graça que diga outra coisa.]

* Os atos de dificuldade que teve o Sr. Dr. Plinio com seu discernimento dos espíritos

É mais ou menos como o discernimento dos espíritos, mas nos deixa ver a coisa de repente e a gente percebe. Esse discernimento dos espíritos, esse discernimento contra-revolucionário que relação tem com a luta clássica? Esse é o problema. Ele não vem necessariamente da luta clássica? Esse é o problema. Ele não vem necessariamente da luta clássica. Mas ele, no meu caso concreto, teve atos de dificuldade muito grande, não para perceber que a coisa de um determinado momento, de um determinado modo, mas para querer tomar aquilo a sério e incorporar em minha alma este princípio, todas essas coisas, etc., etc., e ficar assim, enquanto que eu percebia que, com isso, eu ia me arruinando perante o mundo e fazendo de minha carreira o que ela é. A luta clássica não acompanhava a aquisição da vista, mas era tremenda no fazer com que eu aceitasse aquilo e quisesse. Se eu não fosse puro, eu não teria aceito e se não fossem outras coisas ainda, inclusive num grau — não tem remédio senão dizer, mas… — de generosidade enorme dentro do caso também, se não fosse isso, não teria saído. Realmente, o discernimento, em si, não é dado pela luta clássica; isto é fato. Mas, o assimilar aquilo na alma de maneira a ficar como uma substância da gente, isto é uma coisa intimamente ligada com a luta clássica.

* Analogia entre o assimilar do discernimento dos espíritos e um transplante de córnea

Se me permitirem eu dou um exemplo.

Há uma coisa médica qualquer que se faz com os olhos, mas eu já não me lembro bem como é a história, mas é que uma pessoa tendo um deslocamento da córnea, ou não sei o quê, morrendo um outro… Por exemplo, dois irmãos. Um está com risco de perder esta córnea nas duas vistas, então, um outro que está com suas duas vistas normais dá uma córnea dele para outro irmão. Então, o médico põe aquela córnea no olho. Mas aquilo não é como se fosse uma coisa de cristal, como uma lente adesiva que é posto no olho. Aquilo é posto pelo cirurgião no olho, mas há todo um trabalho do globo ocular de assimilação daquilo. Mediante que o dom que foi dado passa a ser a córnea dele.

Então, o discernimento é realmente — e sua concepção inteiramente certa — uma coisa que é dada. Mas o fazer disso, por assim dizer, carne da carne e sangue do sangue — não encontro melhor expressão — alma da alma da gente, isso é a luta clássica no que ela tem de mais dolorido, hein! Demais dolorido! É uma entrega que se dá nisso que é muito dolorida, mas que prepara depois para outras entregas fenomenais. Eu gosto muito destas perguntas porque me dão oportunidade de esclarecer e dizer coisas que eu nunca disse. Exigem de mim que eu diga e esclareça coisas que eu nunca diria antes.

(Sr. Guerreiro Dantas: Toda essa luta clássica que o senhor fez, o senhor a fazia para conservar este dom extraordinário também.)

Eu não adquiria, nem conservaria. Eu duvido que se não fosse correspondendo por incorporações sucessivas a mim me fossem dadas outras.

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas havia este senso desde menino…)

Noto que já entrava aí muita, muita coisa que era uma fidelidade e uma correspondência “sui generis”. Quer dizer, uma coisa que me foi dada…

* “Em determinado momento nós encontramos a Cruz nua, preta e seca de Nosso Senhor Jesus Cristo” — A imolação necessária após este encontro sem qual não se une a Ele

Era assim: isso me foi sendo dado sem dor e, portanto, por uma assimilação clássica indolor, mas eu fui querendo bem, fui amando. Mas indolor até o momento em que apareceu a questão da pureza. Mas com a questão da pureza já começou o respeito humano e aí começou a luta clássica em grande estilo. Substituída depois pela luta axiológica, condicionando também [a] isto. Ao longo de toda minha vida essas coisas em que fui crescendo foram acompanhadas de provas axiológicas enormes.

(Sr. Gonzalo Larraín: …de que este mesmo dom vai crescendo…)

Vai crescendo. O por onde nós não temos, nós não podemos escapar é que em determinado momento nós encontramos a Cruz nua, preta e seca de Nosso Senhor Jesus Cristo na qual não está, nem se quer, Ele pendente; e que é preciso fazer uma imolação. Disso não se escapa. Mas sem esta imolação, o católico não se sacrificou, não se uniu a Ele e, portanto, tudo que diz respeito a mim vai pelos ares porque “Christus est alpha et Omega…”. O que eu tive de passar por coisas assim, mas são mares…! A pessoa não pode ter idéia dos sofrimentos de toda ordem pelos quais eu passo, inclusive agora, todos os dias, todos os instantes, no momento, isto é, a grande luta axiológica que eu imagino que [vai?] [vou] levar até o fim. Porque discirno que as coisas devem correr de um certo modo, mas eu vejo [que] o tumulto das coisas parecem vir em sentido contrário.

Há pouco nossa conversa sobre o caminho que está tomando nossa constituinte tem algo de provante e de axiológico. Vocês todos ficaram provados. E alguém dirá:

Mas depende de o senhor ter Fé e o senhor acreditar no seu próprio profetismo.

Digo:

Não depende porque entra uma questão sem solução, na qual eu toquei no automóvel, é que não adiante dizer que “não!”, protestar, porque é assim.

* Provação axiológica do Sr. Dr. Plinio: “um perpétuo pavor de que uma vocação do tamanho da minha esteja sendo objeto de uma ‘repolhada’ de minha parte”

Minha dúvida é que esta provação axiológica não tenha como razão uma insuficiente correspondência de minha parte. Vocês podem dar gritos, dizerem que não é, etc., mas eu estava dando ao João uma imagem:

Vocês sabem que os perfumes da Czarina se faziam com pétalas de rosa — com mil rosas para dar uma gota de perfume, da essência [da qual] o perfume dela era feito. Agora, imagine um repolhão limpo, perfeitamente limpo, um repolho grande, bom, inocentão, que se expandiu à luz do sol. Este repolho não pode se apresentar à fábrica e dizer: “Eu quero concorrer para a confecção do perfume da Czarina e por isso me dou aqui como vítima para ser esmagado.” Porque é um repolho! E, esse repolho, não serei eu?

[Protestos…]

(Sr. Gonzalo Larraín: Este é o único tema que nós sabemos.)

Aqui há uma insanável oposição que eu acho que Nossa Senhora permite para o bem de minha alma, para intenções d’Ela etc., etc., mas que me deixa no perpétuo pavor de que uma vocação do tamanho da minha esteja sendo objeto de uma “repolhada” de minha parte. Não é questão de manter o estado de graça. É outra posição. Isso faz de minha vida um martírio! Porque vocês imaginem uma pessoa que quer dar-se a esta Causa como eu quero e quer a vitória da Causa como eu quero e se sente repolho. Vocês podem achar que é uma insensatez.

(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor é exatamente o contrário. O senhor é de uma retidão, de uma coisa que a gente se desmaia.)

Isto faz parte. Eu mesmo vejo que isto é um elemento de assimilação do que o “thau” vai me dando e do progresso dos conhecimentos, etc., que o “thau” vai me dando. Há uma simbiose.

* Glória, esplendor e cruz são inseparáveis

(Sr. Guerreiro Dantas: …nós precisamos abraçar estes mares que o senhor bebeu deles.)

Agora você disse uma palavra que me dá esperança. É preciso compreender que não basta esplendoração em esplendoração, mas é preciso crucifixão em crucifixão. E que nisso há uma beleza… uma beleza? Não! A beleza!

São Paulo dizia que ele só sabia pregar Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado. Quando eu li isto, eu estremeci porque aí está tudo. Para citar um porcalhão, um blasfemo, um indecente: uma vez perguntaram ao Napoleão, naqueles auges dele, bucheiros, porque ele não se fazia aclamar Deus como Alexandre. Napoleão disse: “Depois que Jesus Cristo morreu na Cruz, só há um jeito de um homem ser proclamado Deus: é morrer na cruz também; e isto eu não quero.”

Há um núcleo verdadeiro no que ele diz: glória, esplendor e cruz são inseparáveis. E se quisermos alguma coisa que não passe pela cruz, não vai. E nos meus filhos há um medo da cruz que é o problema…

Uma senhora que abraçou a cruz foi esta. Você viu.

(Sr. Gonzalo Larraín: Como o senhor leva a cruz que é de um modo diferente do que normalmente se entende por levar a cruz. Isso é um elemento que nos ajuda a entender o que deve ser o sacrifício que é mais a defesa dessa esplendoração que uma coisa comum, da qual não sai nada. Outro elemento, como devemos tomar, porque nossa capacidade de sofrimento e os arrepios com a cruz são muito grandes. Agora, é o valor [que o] sofrimento que o senhor faz tem para nós. Parece que o senhor disse ao Dr. Luís Nazareno — 56 anos — que ele deveria confiar nos sofrimentos do senhor e, pelos méritos do senhor, ele será tocado para frente por Nossa Senhora. Estamos engatinhando e sabendo que temos de viver de pé e não temos condições de nos pôr de pé. Os méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo… Um paralelo conosco. Os méritos são os sofrimentos do senhor e nós temos que colocar uma gota d’água nisto. Se nós quisermos levar uma vida como o senhor levou, não dá. A vida do senhor — e o senhor contou a história do senhor e a história da sua vocação e de seus sofrimentos. E isso nos deve estimular, mas estimular o quê? Mas sobretudo servir-se deste mérito.)

Então, esse ver, faz ver muito bem na alma…

[Interrupção Sr. Guerreiro Dantas e Sr. Gonzalo Larraín: A esplendoração é o momento em que isto é mais vivo e visível, mas o problema fica com o problema do “thau” com a alma do senhor.]

Que ao menos é como a vida de um homem se confunde com um homem. A vida do homem existe no homem.

(Sr. Guerreiro Dantas: Esta esplendoração é uma graça — dom para ver o senhor.)

[Quando eu falei de esplendoração faltou dizer: manifestada a esplendoração e aceita, se constitui um a espécie de bolsa comum, de corpo místico, por onde daí vem uma comunicação a partir do Sr. Dr. Plinio; começa um sacrifício em nome dessa esplendoração que dá aptidão para qualquer esforço. Isto estabelece uma tal união — que havia com a Sra. Da. Lucília. Aí há uma assimilação de ficarmos um outro Sr. Dr. Plinio que dá uma união com a Cruz preta de Nosso Senhor que representa a aridez e, na aridez, aceitar.

Nesta conversa como se criou um comecinho por onde os exercícios espirituais em função desta esplendoração se tornam viáveis. A partir desta esplendoração pode acontecer de vermos o Sr. Dr. Plinio em situação de muita aflição, mas que precisamos confiar.

Nesta esplendoração dá acessos de competição e inveja do Sr. Dr. Plinio. O lenitivo para isto é sabermos que o Sr. Dr. Plinio tem isto para mim, como no banco o dinheiro está para mim.



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