Conversa
da Noite ─ 2/5/87 ─ Sábado .
Conversa da Noite ─ 2/5/87 ─ Sábado
A profundidade e a seriedade da Senhora Dona Lucilia, brotadas “ex abundantia cordis”, faziam dela uma senhora augusta e sereníssima * Ao ser olhado pela Senhora Dona Lucilia, o Senhor Doutor Plinio sentia-se compreendido por inteiro e amado em tudo aquilo que nele era segundo Deus * O afeto da Senhora Dona Lucilia era muito adaptado à pessoa a quem ela queria bem, procurando assim fazer ressurgir a catedral “engloutie”
* Comentários em torno da política nacional. O atual curso dos acontecimentos prepara o Grupo para compreender a “Bagarre”
Da coisa, a gente percebe que explica, é muito fácil a pessoa se enganar de prisma, porque é tema novo, etc., etc., ainda mais esta parte…
(Sr. –: E sobretudo enganar-se pelo que os filhos das trevas dizem, não é?)
Exatamente.
(Sr. –: Entrar no jogo deles, de achar que vai subir um militar, depois não tem governo no Brasil…)
Como vai ser, como vai ser? Vai ser o que… Salvador. O Afif! O Afif é feito para eles instituírem a autogestão no Brasil.
(Sr. –: O fato de ele explicitamente deixar claro a aliança dele com o Lula e toda essa gente comunista, aquilo não foi um pouco erro dele, muito cedo ele declarar isso?)
Sim, eu acho também, não quis dizer lá, mas eu acho que eles estão se apressando, não é? Quer dizer, o negócio dele com Lula e certas outras declarações que ele fez, me parecem precipitadas, ouviu?
(Sr. –: Porque só a pequena burguesia para fazer a Revolução no Brasil, por exemplo…)
Que gagueira! Uma gagueria. E depois isso é contra a evidência. Se um outro que não o Afif que tem sido muito badalado, se um outro, não o Afif, dissesse isso há seis meses atrás, diriam que era um gagá. Imagine, ponha-se no seu estado de espírito há seis meses atrás e alguém dissesse: “Olha aqui, sabe de uma coisa? Dr. Plinio inventou uma trama esplêndida: é a revolução da pequena burguesia”. Porque, a toda vista, a pequena burguesia não tem força para fazer a revolução, nunca fez e não tem força. Nem quer. Se é uma coisa que a pequena burguesia não quer é essa revolução.
Bom, o escravo poderia dizer: “Não, tanto é que quer que tem aqueles indivíduos que ele reuniu naquela reunião e tá-tá-tá…” Isso sabe bem como é que a gente [impirona?] essas coisa. Mas peguem em qualquer lugar. Em Curitiba, em Santiago, em… Qual é a sua cidade mesmo, meu filho?
(Sr. –: Belo Horizonte.)
Belo Horizonte, onde for, a pequena burguesia é apresentada como modelo da classe estável e não revolucionária, o arquétipo. Agora aqui vai ser diferente? Quer dizer, não é metafisicamente impossível, mas é muito improvável, não é? Agora, se o senhor acha que para nós, vamos dizer, os acontecimentos, isso eu não quis dizer lá também, mas os acontecimentos estão correndo de um modo como seria ideal para o Grupo que corressem para prepará-lo para a Bagarre. Quer dizer, para o Grupo esse curso dos acontecimentos o prepara para entender a Bagarre do melhor modo possível e compreender qual é o gênero de desconfianças novo que precisa ter.
(Sr. –: E de coisas que podem aparecer.)
Coisas que podem aparecer. E se a gente não estiver muito… não quebrar muito os padrões anteriores, com o tal bom senso anterior para compreender que agora tudo mudou, a gente vai na onda. Minha impressão, não é?
(Sr. –: Queremos pedir ao Senhor uma reunião na semana sobre coisas assim para poder tratar num sábado, tema do sábado e uma reunião na semana para tratar assuntos desses porque realmente faz muita falta.)
Tratar assuntos do quê?
(Sr. –: Desse tipo, opinião pública, outra coisa que não seja, perguntas que haja nessa linha, que não são próprias da reunião de sábado, digamos.)
É, e depois tem o seguinte: aquele ponto que o escravo pediu a seu Senhor para tratar, e seu Senhor prometeu que ia tratar…
(Sr. –: Foi, mas foi o senhor que levantou…)
Foi, pois é, eu tomei a iniciativa de prometer, porque me pareceu que era preciso tomar um certo cuidado em não levar a reserva da matéria da opinião pública a tal ponto que por regra, por ignorância das regras da opinião pública, eles ficassem menos protegidos contra a Bagarre, contra as trampas e tudo que devem ficar. Aí vale a pena correr o risco e dizer a eles o que for necessário. Não mais do que o necessário, mas o necessário dizer. Mas de fato, a explicação para dar a esse respeito entra nas nascentes da doutrina da opinião pública. Hoje eu estava resolvido a dar, mas entra nas nascentes da questão da opinião pública tão delicado é o negócio.
(Sr. –: Pois é, por isso nós podíamos numa reunião dos “complicados” na semana para tocar nestes assuntos, sair dos assuntos de sábado que não se deve sair, mas a gente vê que há uma série de coisas que nós temos para perguntar ao senhor, uma lista de outros assuntos que seria também muito interessante se o senhor pudesse falar, são coisas de si mesmo, mas também relacionado com o mundo externo.)
É claro. E depois o escravo está vendo bem por tudo, que de fato as coisas estão se aproximando, isso é o que há de mais evidente.
(…)
A gente, é preciso ver a conjunção das circunstâncias que é mais natural possível. Mas a conjunção das circunstâncias é o seguinte: como a Bagarre vai aparecendo, vão aparecendo também graças especiais para dizer estas coisas. Bem, e os acontecimentos vão batendo à porta pela mesma razão, obrigando seu Senhor a uma atividade esmagadora, mas a qual se seu Senhor não tiver, são paredes que ruem. O escravo tem o exemplo com o caso da Colômbia, não sei se conseguiram acompanhar bem…
(…)
Antigamente. O que é que é?
* A profundidade e a seriedade da Senhora Dona Lucilia, brotadas “ex abundantia cordis”, faziam dela uma senhora augusta e sereníssima
(Sr. –: O Sr. João Clá jantou hoje conosco e levantou um assunto tão interessante…)
Ele jantou com os escravos hoje? Onde?
(Sr. –: No segundo andar.)
A que horas?
(Sr. –: Foi depois do jantar do senhor. O homem que foi pôr a faixa…)
Está claro, para pôr a faixa é ele.
(Sr. –: Ele levantou um assunto que o senhor hoje no jantar tinha tratado, agora nós ficamos, um pouco por quadratice nossa, nós não amadurecemos bem o assunto, de modo que não encontramos muito bem qual é o caminho de entrar nesse assunto, mas questão da semana que vem, o senhor lá, as coisas caminhe melhor.
Nós tínhamos, Senhor Doutor Plinio, um pouco assim nessa dúvida, preferimos ficar num outro assunto que pelo menos é, está um pouco mais comum a nós e seria uma pergunta sobre um traço do caráter da Senhora Dona Lucilia que lá em Amparo nós perguntamos e o senhor tratou um assunto de fundo dela, toda alma dela, etc.
Agora, alguns sábados atrás ficava uma pergunta, numa dessas reuniões sobre ela, que é o seguinte: se ela já não teria algo do Reino de Maria. Então, meu Senhor, isso nos colocava uma questão que está ligada com o seguinte problema ─ nós queríamos levantar para o senhor para ver se o senhor acha que isto é assim ou não, como seria ─, que é o seguinte: todo o lado de bondade dela, de afetividade dela que nos é tão conhecido, nós nos perguntávamos, ao lado disso não haveria também uma forma muito própria dela, uma forma muito específica, muito própria da sensibilidade dela? Como é que era? Porque a pessoa pode ser muito maldosa, mas pode ser muito afetiva, mas há muitas modalidades da pessoa externar…)
Primeiro de tudo em ser, de ter. Há muitos modos de ser bondoso, muitos modos de ser afetivo, portanto externar, eu acompanhei isso, não é?
(Sr. –: Então, meu Senhor, nós conversávamos sobre o seguinte: ficava a impressão de que ela tinha uma forma de sensibilidade muito adelgaçada e uma delicadeza assim muito penetrante, distribuindo muito as coisas, e isso seria um traço muito saliente da própria pessoa dela. Conhecendo um pouco o senhor, truculento como é, a gente vê que meu Senhor também tem um lado de uma sensibilidade muito grande, até que a gente começa a conhecer o senhor um pouco mais, fica surpreso. Até que ponto vai essa sensibilidade.)
É verdade.
(Sr. –: Porque de si meu Senhor teria isso.)
É, dir-se-ia que não.
(Sr. –: Agora, acontece que essa sensibilidade como ela é na Senhora Dona Lucilia e depois como ela é em meu Senhor, tem traços distintos mas ela permanece, esse traço na alma dela, como seria o traço mais, que mais a distinguiria, porque quanto ao modo concreto como é que essa sensibilidade se exerce sobre as almas, sobre as pessoas, sobre as situações. Quando uma pessoa tem uma delicadeza muito grande, sensibilidade, ela vê as situações sente as situações de uma forma muito diferente.)
Eu entendo bem.
(Sr. –: E aí entrava exatamente algo que seria, se haveria nisto um progresso da Idade Média, da alma medieval, que por assim dizer, um auge em matéria de enriquecimento da alma humana e que aquelas… [inaudível] …cessaram, sossegados ficarem então uma alma harmoniosa em que a noção de civilização, elevação e delicadeza ter chegado realmente a um grau assim muito especial. E que o Reino de Maria nasce a partir desse ponto, não nasce duma barbárie, o Reino de Maria nasce numa alma que tem muito esse traço. Nós comentamos vários fatos que se passaram na vida do senhor, no relacionamento dela com o senhor, e que isto está muito sensível, muito claro. O senhor vê isso assim? Como é que o senhor vê essa questão?)
É preciso distinguir na pergunta duas coisas: primeiro, uma hipótese a respeito do modo de ser da sensibilidade dela, como pergunta se era bem assim. Depois…
(Sr. –: Eu não consegui transmitir bem a eles a definição exata que o senhor deu de “augusto” no jantar. Se o senhor pudesse às tantas também encaixar…)
Me lembre disso que eu… Bem, mas então, primeiro então é uma hipótese descritiva. Eu pergunto se esta descrição corresponde inteiramente à realidade.
Agora, a segunda pergunta é: que relação isto tem com a história da alma humana, a considerar a partir da Idade Média e com vistas ao Reino de Maria? Exatamente, agora, dos justos através da História, propriamente é isso, e que relação portanto isso tem com o Reino de Maria. Bem, eu acho que seria preciso começar por descrever bem exatamente, para depois passar para o outro lado.
Ela tinha, mamãe tinha uma alma profundamente séria e por feitio de espírito, por tudo, mas é um sério que não é bem catalogável pelos adjetivos que correm hoje, porque é claro que a seriedade é uma grande qualidade, mas a questão é que hoje a seriedade envolve predicados, exclui também certos predicados que não estão no conceito de seriedade, no modo pelo qual ela foi séria. E a palavra profundo também não diz isso. Tudo se mudou tanto que há um desgaste, uma erosão do vocabulário, os vocabulários não dizem inteiramente a coisa como é.
Mas eu me lembro de ela falar ─ é das coisas só compreensíveis hoje em dia também ─ ela falar de uma dona, não me lembro, de repente eu me lembro o nome, uma mulher velha e que tinha mais ou menos sido empregada em algumas das casas da família, mas não é propriamente uma empregada assim de varrer chão, mas era empregada mais graduada um pouco que acompanha, que ajuda a senhora na sua toilette, etc., e que tem portanto um pouco mais de entrada com a senhora do que tem uma criada. Essa mulher ficou, parece-me que era viúva, não sei bem, mas enfim não tinha mais família e ficou assim uma espécie de propriedade comum de toda a família, era mais ou menos uma empregada de toda a família. E era uma mulher engraçada, não sei de que Estado do Brasil era ela, mas uma mulher engraçada e que conversava bem, mas muito isolada.
E quando papai e mamãe se casaram, era o costume curioso do tempo, que na primeira semana o casal não saía de casa e a casa ficava completamente isolada. Enquanto isso aprontavam a casa para onde o casal ia morar.
Lua de mel ainda não havia, aliás eu não acho lua de mel um bom costume, a própria expressão lua de mel, uma expressão ruim, melada, romântica. É a taça da decepção, mas enfim… a lua de mel não havia. Passavam para a casa que tinham, mas também era mais ou menos convencionado de deixar os esposos um pouco sós durante este período: não irem muito, nem tal e nem eles muito à casa dos outros até que eles se equilibrassem, até que enfim o relacionamento estivesse bem posto.
E mamãe tomou uma casa lá por perto da casa de vovó por aquele bairro, morava ali com papai. E essa mulher, para receber um dinheirinho, para uma coisa e outra começou a freqüentar a casa. E papai muito quieto, mamãe muito expansiva, a conversa muitas vezes morria entre eles e quando aparecia a tal mulher, não ia ninguém na casa porque estava convencionado isso, e quando ia a tal mulher era uma ajuda, tanto mais que papai achava muita graça nas saídas dela, etc., etc., conversava e coisa e tal e a conversa ia.
Então mamãe favorecia o comparecimento da mulher para tornar aquele ambiente mais azeitado, mais praticável.
(Sr. –: Dr. João Paulo era reservado?)
É, ele tinha acessos de expansividade, mas ele de si era muito uma pessoa reservada. Muito quietarrão. Aliás, é preciso dizer que os nossos nordestinos todos nessa matéria são muito esquisitos, hein? O baiano.
Eu tive um tio-avô baiano, ele é casado com uma tia-avó. Era para fora de casa o homem mais amável, mais afável que se possa imaginar. Você sabe que quando ele entrava em casa, se não tinha visitas, ele não conversava o dia inteiro. Mas não era mau humor, era modo de ser, fazia assim. É mau feito, é claro, mas era isso.
Mas enfim, passando lá para nosso tema, essa mulher, era uma pobre mulher nas condições que os senhores estão vendo. Mamãe contava, me contava coisas dessa mulher, que a mulher sofria, por outro lado como ela era interessante, como não sei o que, etc., etc., e como, depois, a mulher morreu. Que a mulher ficou tão, tão velha que mamãe se perguntava como é que essa mulher morreria e que uma noite, essa mulher morava num quartinho qualquer que ela alugava, ela morava nesse quartinho, ela não saiu, não saiu, arrombaram o quarto, era o quarto alugado, arrombaram o quarto encontraram ela deitada calma, na aparência dormindo e segurando na mão uma parte do lençol, assim… Foram ver, ela tinha morrido.
Bem, agora isso com… em primeiro lugar isso é uma coisa que ninguém contaria, não é tema, seria reputado tema cacetíssimo, para qualquer outra pessoa. Por exemplo, eu nunca, se não fosse para conhecer a alma de mamãe, eu nunca contaria esse fato a vocês porque não é tema. Bem, por que para mamãe era tema? É porque embora fosse, se bem que essa mulherzinha fosse uma mulherica, pessoa digna, mas pobre, etc., etc., não dramaticamente pobre, arranjadinha, e portanto não tinha nem o interessante do dramático. Arranjadinha, mulher plutôt alegre dentro da melancolia dela, a gente via que mamãe ─ aqui está, eu dou um exemplo para definir o que eu quero chamar seriedade ─ ela via a alma dessa dona, eu não me lembro o nome no momento, ela via a alma dessa mulher por inteiro com toda a objetividade da alma, nesse sentido, para esses aspectos ela era uma psicóloga muito fina e ela via tudo quanto há de importante na ordem metafísica intrínseca das coisas com que possa passar-se na alma de uma simples mulherzinha assim.
Bem, e não via por um pensamento intelectual, intelectivo. Ela via porque, vendo a mulher ela via até o fundo. Em toda a dimensão do que aparentemente se chamaria uma criaturinha. O diminutivo não existe no português, mas eu vou forjá-lo: uma “criatureca”. Bem, e que tudo o que se passava com essa mulher, dentro dela e que ela via, tinha importância que segundo a doutrina católica tem tudo o que se passa com uma alma qualquer que ela seja.
E então uma visão muito elevada disso, mas que ela não percebia que era elevada. Ela julgava que era comum. Mas era muito elevada. Você que a conheceu, sabe como isso cabe dentro do que você viu dela.
(Sr. –: Totalmente, totalmente.)
Totalmente. Bom, agora assim ela via todos e ela via tudo, por causa de uma visão muito equilibrada, mas sobretudo muito profunda, mas veja também a palavra que eu empreguei há pouco: seriedade, mas vejam bem o que é que eu estou entendendo. Agora, eu empreguei a palavra “profundo”, veja bem o que eu estou entendendo também. Não é o profundo científico, mas é o profundo ex abundatia cordis que decorre da retidão da alma, do modo bem feito das coisas e que levava a ela a ver a coisa assim e a dar a qualquer coisa um enfoque que me levava a dizer isso exatamente como hoje. O João falava no jantar alguma coisa sobre a alma aristocrática dela. Ela tinha, não tem dúvida, mas há um perigo de a gente confundir com aristocrático isto que não se pode chamar propriamente aristocrático, é uma espécie de profundidade que estaria bem para um solitário morando num deserto e que revê as suas memórias.
(Sr. –: São Charbel Maklouf.)
Charbel Maklouf. Charbel Maklouf muito, mas muito. Aliás algo no olhar dele me parece ver o olhar de mamãe, aliás São Charbel Maklouf, me parece ver o olhar de mamãe ali naquela estabilidade, aquela profundidade, uma certa nota de tristeza.
Bem, e isto torna uma alma augusta. Augusta por quê? Porque é uma dimensão de ver e uma dimensão de querer a qualquer pessoa e a qualquer… mas não é só isso mas é objetos, enquanto simbolizam, enquanto lembram, etc., etc., e todo o passado, enquanto coisas que desapareceram, pessoas que morreram que ninguém mais conhece, mas que para ela são exemplares da criação que para ela continuam interessantes porque eles cobrem essas coisas, etc., etc., que constituem um todo que dá o caráter augusto à alma dela. E a palavra augusto é uma palavra muito menos gasta e que exprime bem o que eu quero dar a entender.
Também uma palavra que eu não tive tempo de esquadrinhar o assunto, mas parece-me que vai muito nessa linha, palavra do português é um adjetivo ─ mas existiu em todas as línguas do ocidente ─ “sereníssima”, aplicada a tal príncipe, a tal princesa. Sereníssima é uma serenidade com grandeza, uma serenidade com… que isso envolve. Ela era sereníssima nesse sentido: augusta e sereníssima.
(…)
* Ao ser olhado pela Senhora Dona Lucilia, o Senhor Doutor Plinio sentia-se compreendido por inteiro e amado em tudo aquilo que nele era segundo Deus
(Sr. –: Eu vi a ela uma vez só, mas nunca tinha definido. Eu me lembro que eu tive um susto quando aparecia ela.)
Por exemplo, em que deu susto?
(Sr. –: Foi muito pouco antes de ela morrer, mas justamente por essa fisionomia, nunca pensei que poderia uma pessoa, haver uma senhora assim.)
Não, é espantoso.
(Sr. –: Com aquela seriedade, seriedade nesse sentido, profundidade, gravidade e serena, augusta. Um certo choque respeitável.)
É, um choque de respeito, não é? Respeitoso, e aliás o Quadrinho dá muito isso. Porque o Quadrinho traduz um pensar que não é o filosofar, é um pensar. É um pensar, pensar… mas que é meio contemplar e que é o próprio dela, não é? Agora daí decorre uma certa forma de afeto, porque só ama as outras criaturas como devem ser amadas, quem as pode ver assim e essas noções de amizades, de simpatias, de afetos, são muito conspurcadas, palavras erodidas, como está erodida a palavra, dissemos seriedade há pouco, outra palavra qual é?
(Sr. –: Profundo.)
Profundo. Tudo isso está erodido hoje, quer dizer coisas que têm certa relação com o sentido, mas já deformado não se pode empregar. Também assim é o amor ao próximo. O amor ao próximo é isso, não é? E lembra um pouquinho o olhar de Nosso Senhor para São Pedro. Naturalmente tudo o que diz respeito a Nosso Senhor é infinito, não tem… não quero dizer que não tem paralelo, é uma semelhança, mas a anos-luz, nem sei, de Nosso Senhor, mas lembra um pouco. Por um simples olhar, o que que Ele produziu, não é?
Agora esse olhar tinha que revelar a respeito de São Pedro aquilo que Ele via em São Pedro e provavelmente que foi, vejam como isso calça com a narração do Evangelho, São Pedro viu no olhar de Nosso Senhor a descrição de si próprio. Et fleve et amare.
(Sr. –: A descrição se si próprio enquanto ruim ou enquanto bom?)
Tudo junto. Ele viu o amor, ele viu a tristeza, ele viu a rejeição.
(Sr. –: É um juízo.)
É um juízo, ele se viu ali, naturalmente caiu em si, mesmo porque essas derrocadas como de São Pedro, fazem-se de mil “não veres” malandros, hein! Nós todos sabemos, somos… [inaudível] … sabemos. Mil malandragens nossas entram nisso. E São Pedro sentiu-se visto, mas sentiu-se desmascarado. No olhar mais doce, mas mais julgador que ele recebeu na vida. Quer dizer, isso interpreta tão bem a cena que mostra como a discrição corresponde a alguma coisa da alma humana.
Daí também o seguinte: é que a gente, não sei se os escravos têm a impressão, mas quando esse pessoal vem aqui dizer, “meu querido, isso e aquilo e aquilo tudo”, a gente tem a impressão de que tem tão pouca relação com o que a gente é, que está fazendo de um terceiro. Como também numa carta “meu amigo fulano”, essas coisas, tudo isso… não é mais nada, não tem nenhum conteúdo, não vamos perder tempo em falar disso.
Mas nela não, a gente sentia querido pelo que era, porque ela não queria por engano um outro em mim, ela me queria a mim. E ela dizendo: “Meu filhão querido, era eu mesmo. Na palavra “filhão” vinha tudo quanto era eu como filho grande para a minha geração, era um homem bem alto e grande, então um homem altão que ela, por assim dizer, custava um pouco envolver todo no afeto, por assim dizer, no afeto dela, barulhentão, truculento e sumamente afetivo e tudo isso aparecia no modo de ser, era a mim que ela queria bem, não é querer bem em mim um filho que ela não teve, ou um filho que ela queria de outro jeito, ela queria este filho.
E isto é que é propriamente ser amado por amor de Deus. Ela via em mim o que era segundo Deus e amava. Ela via no que era qualidade e amava.
(…)
Então eu julgo por essa forma ter respondido a sua pergunta. Como?
(Sr. –: Eu estou dizendo a ele que…)
* O afeto da Senhora Dona Lucilia era muito adaptado à pessoa a quem ela queria bem, procurando assim fazer ressurgir a catedral “engloutie”
Bem, aqui a sensibilidade, o modo de ser da sensibilidade. É uma coisa curiosa, era uma forma de afeto que por causa disso era o afeto que aquela pessoa deveria ter e que só aquela pessoa deveria ter um afeto daquele jeito, não sei se eu estou me exprimindo bem. Assim como cada alma é única no seu gênero e se compraz de ser amada na sua unicidade porque é por onde Deus a vai amar, assim era o afeto dela muito adaptado à pessoa a quem ela queria. Não intencionalmente, mas ex natura rerum, porque o querer bem é assim. Se quiserem eu me exprimo melhor. Diga.
(Sr. –: Mas não havia uma coisa assim, que essa sensibilidade era com um requinte que era dela todo especial, esse requinte?)
Era.
(Sr. –: Então para nós ficava por exemplo, nós estávamos lembrando do fato que o senhor contou aqui, uma vez que ela foi tomar a febre no senhor, quando o senhor era menino. Ela se acercou e colocou a mão e parece que o senhor não… na testa…)
Ela fazia muito isto.
(Sr. –: Uma vez o senhor nos contou que o senhor teve uma reação assim como quem não gostou, uma coisa assim e ela depois voltou uma ou duas horas depois, porque tinha que tomar a temperatura de novo, o senhor contava que ela voltou de um tal modo e com tais respeitos para com o senhor e considerando tanto o fato de que o senhor não tinha gostado, e dando tantas voltas, no bom sentido da palavra, que o senhor ficou cativado pela coisa e disse: “Mãe como mamãe, não tem, e se acabou!”)
Não tem igual.
(Sr. –: Agora, aí justamente, Senhor Doutor Plinio, são graus de sensibilidade, de requinte de sensibilidade que é daí onde nós queríamos chegar a uma… a ver se o senhor poderia dizer o que é que nisso tem de novo em relação à sensibilidade anterior. Assim como o senhor falou ─ abaixando o nível ─ que Proust, em uma certa pista ele era superior a Saint Simon, na pista de sentir coisas e de perceber coisas e que foi um progresso do gênero humano, assim nela havia isso, esse requinte, e que é um requinte que a gente vê que Nossa Senhora, vamos dizer, Nossa Senhora deve ter sido muito assim, no modo de proceder d’Ela com as criaturas, com Nosso Senhor, nem se diga. Mas são graus de delicadeza que só quem viu é que pode explicar para quem não viu, por um lado. E por outro lado, que são matrizes de uma civilização e que nela se percebe isso, mas queríamos ver se o senhor nos poderia traduzir isso numa linguagem mais compreensível, com fatos…)
Explicitar.
(Sr. –: Explicitar isso que se sente, que se sente muito tratando com o senhor, que é um patamar que se sobe na humanidade como o senhor dizia no Vínculo Profético: que o demônio, por haver descido o gênero humano tanto que ficou quase animalizado, no Reino de Maria, o gênero humano vai ser levantado a um nível que o gênero humano não vai voltar à Idade Média, mas que é um passo para a frente. Então, nessa linha a Senhora Dona Lucilia representa justamente um requinte e é para lá que nós gostaríamos que o senhor nos conduzisse.)
Isso é um corolário do que eu vinha dizendo dela e significa uma forma de alma que de nenhum modo precisa imaginar as pessoas como não são, para ter em torno de si um universo suportável. A maior parte das pessoas para terem em torno de si um universo suportável é levada a imaginar as coisas e as pessoas como não são.
Ela não. Ela via as pessoas como eram e as amava como eram, caso fossem boas, ela as amaria assim. Quando eram bons, ela amava assim, e em todas ela tinha esperança de ficarem boas, com a idéia muito especial de que, com o afeto dela para com a pessoa, isto faria vibrar umas cordas que estavam átonas na alma da pessoa e que representavam propriamente as cordas da catedral engloutie, que faziam subir à tona a catedral angloutie.
Naturalmente ela sabia que isso não era uma coisa determinada, ela mesma sofria rejeições e ingratidões de todo tamanho, apesar disso. Mas que se algo pudesse fazer bem, era isso. E portanto convinha fazer do afeto dela para como o sujeito seria, o modo de ser próprio para levantar o sujeito, uma forma específica de apostolado e feito de tal forma, de tal maneira que tinha nisto todas as finuras e sutilezas possíveis, mas isso é uma metade do tema.
Ela mostrava também como a alma dela, à vista do que o sujeito seria ou queria. Quer dizer, o que é que nela havia que queria ele. De maneira que nesse sentido era muito aberta e procurava atrair um indivíduo dizendo isso: “Veja em mim o que é que ele quer”.
(Sr. –: Uma espécie de espelho, não é?)
É, um espelho. Então ela tinha uma espécie de expansão, que quase se poderia dizer de ímpeto de afeto, uma coisa muito discreta, muito serena e augusta, mas por onde ela mostrava, no fundo de si mesma, ela mesma enquanto querendo bem por causa daquilo. Aliás mais de uma vez, não era isso?
(Sr. –: Totalmente.)
E isso é que dava a sensação do indivíduo de ter sido atingido na profundidade de sua pessoa pela profundidade de uma outra pessoa, proporcionando um convívio de uma… de um quilate, eu acho que a palavra adequada é quilate, de um quilate que era o que o indivíduo podia esperar em matéria de relacionamento humano adequado.
(Sr. –: A sensação de que Deus…)
Deus estava ali.
(Sr. –: Deus tinha voltado para os homens ─ que era mais ou menos a sensação que dominava quase todo o mundo.)
Ah, sim. Porque é mesmo, porque os homens tinham voltado as costas para Deus e sabiam.
(Sr. –: Pois é, esse é que é o ponto, mas ficava esse engano que o senhor fazia, que Deus tinha voltado as costas para si.)
É, é isso e que portanto todo o resto ela não, ela é como quem diz: “Deus ainda olha para você”.
Me lembro, uma vez havia uma coisa de família…
(…)
Mas ainda tem algum tempo, são quinze para as três, não é? Qual é esse sinal na mão, hein?
(Sr. –: É dez para as três.)
Impressão que vi um sinal há pouco aí… O meu relógio está marcando doze para as três, bem. É uma coisa para ilustrar, para entender que estamos falando a mesma linguagem, não é?
* O romantismo possuía um modo de sentir a Idade Média que era como que um olhar saudoso do filho pródigo para a casa paterna. Era uma graça que, se não fosse conspurcada, conduziria a um requinte da Idade Média
(Sr. –: E ainda para frente senhor, como seria isso? Ainda tocando nela, nessa linha de requinte…)
Tudo isso são requintes, porque é um estado de alma do qual, é o estado de sensibilidade no qual só saem requintes. Dessa fonte não sai a não ser o que é requinte, não é?
(Sr. –: Depois, meu Senhor, tudo isso dentro de uma alma que tem tantas harmonias, tantas calmas, como seria erupções assim bruscas para nada…)
Não. Nada, nada. O brusco nela não existia. Simplesmente nela não existia.
(Sr. –: Mas justamente a isso fica um pouco a eterna pergunta que é a seguinte: isso diferencia a ela muito com relação às pessoas do passado, eu acho que eu logro entender algo, entendo tudo o que o senhor disse, mas se alguém relatasse a vida de uma senhora excelente que tenha havido no passado, que possa ter sido inclusive uma senhora santa, não me parece que daria nisso e de modo tão contínuo, sobretudo com todas as harmonias que o Sr. Guerreiro estava falando, onde há um algo a mais propriamente nela que eu sei que está contido no que o senhor disse agora, mas eu não logro ter inteiramente explícito o que é que era nessa matéria de sensibilidade como material, como era o afeto, etc.)
Aqui para pegar bem a coisa é preciso olhar… é uma pergunta já de outra natureza, é uma pergunta histórica que está no ponto lógico, no termo lógico das perguntas anteriores.
(Sr. –: Mas para explicar, o senhor na reunião anterior nos dizia que ela tinha a vontade medieval. Nós outros achamos que não, que não era a vontade medieval, que ela tem algo, que mesmo pessoas que tivessem sido santas na Idade Média não seria assim como ela era.)
É isso que eu vou explicar agora. Acontece o seguinte que há, na linguagem comum a palavra romântico tem dois sentidos diferentes. Um designa uma escola alemã de caráter filosófico com repercussões morais, etc., etc., é uma heresia que tem muito de panteísta, etc., etc., são aquelas elucubrações germânicas, mas que de fato se espalharam pela Alemanha toda e depois pelo resto do mundo. Agora, disso evidentemente não havia nada nela e por exemplo, no relatório do Fedeli, ele acusa muito a Catarina Emerich de romântica, mas é romântica nesse sentido, e parece que ela tinha mesmo. Aquele Brentano que colheu as revelações dela era romântico no sentido ruim da palavra, isso me parece que provou muito bem e realmente dá uma certa, por mais que se aprecie como eu aprecio muitíssima coisa dos livros dela, deixa uma reserva muito grande atrás.
Agora, há também o sentido da palavra romântico uma espécie de onda, um modo de ser da sensibilidade humana no século passado, continha qualquer coisa de contra-revolucionário, mas muito acentuado. A onda a favor do gótico se insere dentro desse movimento de alma e portanto do Mont Saint Michel e da restauração de Notre Dame e uma porção de coisas assim…
(Sr. –: Do parlamento inglês.)
A restauração do parlamento inglês, essas coisas se inserem neste estado de alma e que era muito mais uma forma de sensibilidade do que propriamente um movimento de idéias. Eu não tive tempo para estudar se havia um nexo entre essa forma de sensibilidade e esse movimento de idéias, mas para mim uma coisa patente é que nesta reação anti-renascença, anti-revolução, havia muito de bom e que ─ aqui agora vem o ponto ─ isto de bom que havia se não tivesse sido conspurcado pelos grandes homens que houve nesse movimento, teria dado uma coisa que era um progresso sobre a Idade Média.
Então tomando certos trechos de Hugo, de Chateaubriand e de vários outros deles lá, mas talvez, Hugo e Chateaubriand de modo especial, a gente vê uma forma de sensibilidade que era uma forma muito respeitável, muito alta, era uma forma muito medieval, mas era uma coisa mais do que medieval, o que é que era?
Era a Idade Média vista por quem não estava dentro dela, vista à distância e vista como o filho pródigo via a casa paterna, que eu acho que é diferente do modo pelo qual o filho sempre fiel vê a casa paterna. Porque a saudade que o pecador tem do ambiente de virtude que ele deixou, a saudade que ele tem de tudo aquilo que é um mundo que para ele se quebrou, lhe faz ver aquilo com um olhar que ele não tinha quando ele integrava aquilo e lhe dá uma visão mais profunda do que o olhar que ele tinha quando não integrava aquilo. E isso se dá em vários estados da vida humana, por exemplo, um homem que rompe com a família e que de repente vê a família reunida e ele não está lá. Mamãe leu um romance, não sei se era de… [inaudível] … não sei de quem era, que era o caso de um homem…
(Sr. –: “O que o vento levou”)
Não é “O que o vento levou”, era uma coisa que se passava na Inglaterra. É isso?
(Sr. –: Se passa nos Estados Unidos.)
É, mas talvez houvesse um romance em inglês com esse nome também, não sei. Bem, mas o caso em duas palavras era essa: um homem que foi para a guerra, umas guerras no tempo de Napoleão, uma coisa assim, o homem foi para a guerra e foi… deram por morto. A viúva, a mulher foi informada que ele morreu e casou com outro.
(Sr. –: É justamente isso.)
Bem, e esse homem chega, uma ocasião ele volta, afinal depois de longas vicissitudes, etc., volta à Inglaterra e ele chega à noitinha à cidade onde ele morava. Ele pede um pouco informações da família, mas ele tinha mudado tanto que o pessoal não o conhecia. Ele soube que a mulher tinha casado. Perguntou onde é que mora, na casa onde morava com ele. Então ele foi até lá e decidido a pôr fora o impostor, ia dizer que ele afinal de contas, etc.
Mas quando chegou, de longe ele viu uma luz acesa e chegou e olhou e viu todos sentados à mesa, os filhos dele, a mulher dele e o homem que estava ocupando o lugar dele. Mas todos tão felizes e o homem se desempenhando tão bem no papel dele que o verdadeiro marido resolveu ir embora e sumiu.
(Sr. –: É um drama. A Senhora Dona Lucilia contando o caso devia ser um…)
Ela contava e contava com um… se ela contava a vida daquela dona que qualquer coisinha é desse jeito, você pode imaginar uma situação de alma dessas, como é que ela contaria. Engraçado que sem perceber, é uma coisa curiosa, sem perceber que o homem não tinha o direito de fazer isso. Ela não percebia, ela contava emocionada aquele negócio, entende? Eu naturalmente entrei: “Olha aqui, isso aqui tal e tal, adultério”. Não percebeu logo. Quando eu contei, ela nunca mais contou essa história.
Mas eu verifiquei que a história exprimia certas delicadezas de sentimento que ela gostaria que fossem reservadas e que minha crítica espandongando tudo aos olhos dela não poupava alguma coisa que podia ser poupado. Mas seja como for, eu conto as coisas como são tout bonnement como foram, seja como for, no espírito dela. E dessa cena e de tudo o mais, havia uma forma de delicadeza de sentimento que se poderia apresentar como sendo realizada por um cavaleiro na Terra Santa, voltou, etc., etc., e ainda lucraria muito mais em poder de emotividade, mas não deixa de ser verdade que sentir certas coisas, só nesse período que se sentiu.
Os homens recusaram isso, depois derivou para uma [sensiblerie??] boba, falsa, e… houve todas as deturpações que vocês conhecem, mas não deixa de ser verdade que houve ali uma espécie de finura e que fazia com que o neogótico, o neogótico não, o homem que estudava o gótico nesse período, compreendesse melhor o gótico do que o medieval que fez o gótico. Com essas coisas que constituem abismos que a gente não sabe explicar, mas vocês sabem que o gênio dessas coisas na França foi o Violet le Duc. Esse Violet le Duc era arquiteto e foi quem mais restaurou coisas góticas esplendidamente, etc.
Os ateus odeiam Violet le Duc, porque dizem que ele deformou o gótico, um certo purismo gótico inimigo do gótico que odeia os que restauraram o gótico. Então odeiam muito o Parlamento da Inglaterra, que eu acho simplesmente estupendo, nem mais e nem menos, acho estupendo. Não. Mas havia um inglês…
(Sr. –: Creio que era Augustin Pougy algo assim, não me lembro bem o sobrenome dele.)
É, eu não me lembro. O Azeredo escreveu uns artigos muito interessantes sobre ele para o “Legionário”, sobretudo o drama dele, porque foi perseguido pelo episcopado, mas era um católico convertido de primeira água, é toda uma história, mas é muito interessante o drama dele.
Mas seja como for, o caso pega aqui, interessa debaixo desse ponto de vista, seja como for, se esses homens que correspondiam, não, eu ia dizer outra coisa, o Violet le Duc que restaurou Notre Dame era ateu e socialista.
(Sr. –: É bárbaro!)
É bárbaro! Mas eu acho que ou a gente conta essas coisas assim como eram ou elas perdem o seu sabor diante da realidade. Era assim, quer dizer, para compreenderem a natureza dessa graça como era de um modo especial que o sujeito poderia corresponder a ela e entretanto ser um ateu e um socialista. E um católico praticante rejeitava essa graça. Por exemplo, Veillou, eu acho que não compreendeu o gótico como Violet le Duc compreendeu. É muito singular isso. Isso numa outra conversa, numa coisa, merecia ser aprofundado, é muito singular.
(Sr. –: Porque isso está relacionado. Se o mundo estivesse. É uma preparação provavelmente para que esse mundo houvesse correspondido, recebesse bem a vocação do senhor, toda a mensagem de Fátima, as Congregações Marianas…)
Tudo isso tem relação, tudo isso tem relação. E eu toda a vida considerei que a RCR era uma explicitação do que essa gente não soube dizer. Mas então nesse sentido uma certa continuação.
(Sr. –: É, mas vista de fora e de cima.)
Exatamente. E isso eu creio que explica a vocês…
(Sr. –: Meu Senhor, é uma coisa fabulosa porque esse assunto todo é ligado com a questão de “Ambientes, Costumes e Civilizações” que é o campo sem o qual a noção de profetismo não existiria, não é?)
Não.
(Sr. –: Então para este lado de sensibilidade do senhor, o profetismo é um capítulo magnífico e que nós nunca detivemos muito em analisar todo esse assunto, não é?)
(Sr. –: Fica para o próximo sábado…)
* Comentários da estatueta branca que o Senhor Doutor Plinio tem no Salão Azul
Entra um pouquinho dentro disso essa estatuazinha branca aqui, não é? Evidentemente romântica, não é? Mas o [Paulo Henrique?], o Paulo Eugênio critica muito esta estátua, dizendo que é sensual, que é não sei o que, não sei o que… A cara com que o João me olhou… é mais é isso.
(Sr. –: Ela tem isso. Uma espécie de transcendência.)
É.
(Sr. –: A primeira vez que eu entrei na casa do senhor e vi esta estátua, eu pensei comigo: “Meu Deus do Céu. Nesse momento eu me sinto resgatado do pecado original, porque é uma aflição para o homem essa inclinação para a sensualidade e olhando para essa estátua ela me cria de momento algo que eu gostaria de ter tido e que não tive”.)
É, é isso.
(Sr. –: Que é este equilíbrio de alma, essa pureza por onde a concupiscência não está presente.)
É isso, exatamente.
(Sr. –: Então eu tive um entusiasmo por essa peça…)
É como em toda a vida eu considerei a peça muito…
(Sr. –: Eu acho que é uma das peças mais, para mim, mais cheias de significado que tem na casa de meu Senhor.)
É, toda a vida considerei assim.
(Sr. –: Como é que na paradisiologia, etc., seria o homem sem concupiscência. A gente vê que é uma ficção, mas o homem que concebeu esta estátua é um homem que pegou a coisa num ponto muito… por uma questão da vida que ele pegou, da alma humana…)
Como é a virgindade, aqui poderia, a estátua poderia chamar-se: “uma virgem”.
(Sr. –: Propriamente é. Mas uma virgem que não teria tido pecado original.)
Não, uma virgem batizada e como que sem pecado original, como que.
Bem, meus caros, o que é que eu posso fazer… Se era o que desejavam, fico contentíssimo.
(Sr. –: O senhor vai fazer MNF na semana ou não?)
Se Deus quiser. Eu estava pensando enquanto falava aqui, é o seguinte: talvez valesse a pena destinar uma das reuniões do MNF para tratar do assunto de reunião de sábado à tarde.
(Sr. –: Mas com todos do MNF?)
Mais o Paulo Henrique, nós levamos o Paulo Henrique ao MNF.
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