Conversa Sábado à Noite – 11/4/1987 – p. 9 de 9

Conversa Sábado à Noite — 11/4/1987 — Sábado [VF 050] (Augusto César)

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Bom, vamos aos nossos temas que eu acho que é mais oportuno. Nelson não vem; então não tem ninguém mais para vir. Quem é que entra com os temas?

(Sr. Gonzalo Larraín: Sobre a reunião que o senhor fez em Amparo, que no Reino de Maria seria introduzir a humanidade no Coração de Maria. O que seria propriamente isto? Primeiro, ponto de vista natural e depois também sobrenatural?)

Aí, eu gostaria de dizer uma coisa antes para precisão do que eu falei lá, porque depois através disso se explica melhor a pergunta que você esta me fazendo; porque por falta de tempo e tudo, alguma coisa ficou impreciso do que eu disse lá. E seria preciso precisar para responder sua pergunta.

Eu não afirmei de nenhum modo isto, que eu reputaria temerário, que seria a seguinte: que os santos que viveram numa dessas épocas foram maiores que os santos que viveram em outras épocas. Eu digo uma outra coisa. É que o fervor do comum dos fiéis, portanto, dos fiéis que não [são] santos, dos que vivem em estado de graça, e que constitui a imensa maioria dos homens e, portanto, por uma certa participação com isso, o fervor dos até — se é que se pode falar de fervor nisso — dos que estão em estado de pecado mortal, dos que conservam raízes mais quentes de estado de graça que tiveram do que outros conservam. Que o fervor desses assim parecia maior na Idade Média do que na Antiguidade, maior na Idade Média que nos séculos que se seguiram; e que isto tem um lado por onde é menos importante do que a questão dos santos — por paradoxal que seja — é menos importante, grandeza desses santos na ordem da santidade, uma coisa que tem um valor perante Deus pela glória individual que dão a Deus. E também como representantes em algum modo do gênero humano.

De maneira que [A?] que se santifique — vamos dizer por exemplo, Santa Ana Maria Taigi — que se santifique ou, sei lá, um outro santo qualquer — Garcia Moreno — bem, eles por si individualmente dão uma glória a Deus que não tem relação direta com os resultados obtidos, podem não ter tido resultado nenhum sobre este corpo geral de pessoas, mas aquela santidade está conquistada; e na Igreja esta luz luziu, no gênero humano, filhos de Adão e Eva, apareceu: É isto aqui!

Isto tem um certo valor representativo da Igreja, um valor representativo do gênero humano. De qualquer forma tem o seu valor.

Mas de outro lado acontece que esses santos em geral são enviados, não só para isto, mas tendo como missão elevar o nível geral dos fiéis de toda a Igreja. Vamos dizer, um Santo Antônio Maria Claret, grande santo tá, tá, ta, mas é evidentemente indiscutível que como grande orador popular sacro, ele tinha missão de levantar povoados e povoados inteiros e aproximar de Nosso Senhor. É uma coisa absolutamente evidente. E fazer como Fundador tudo quanto aquela congregação religiosa fez de bom no tempo que ela fez coisas boas… Fará ainda, quero crer, no Reino de Maria.

Isto tudo cautelosamente posto acaba sendo que numa certa perspectiva — não em qualquer sentido, mas numa certa perspectiva —, essa elevação do corpo dos fiéis é uma finalidade deles; e o fim, em certa perspectiva, vale mais que os meios.

Quando eu quis falar da Idade Média, eu não quis falar que os santos eram maiores ou menos que as épocas anteriores — a Igreja não aprova e eu compreendo muito bem que não aprovem essas emulações —, mas é que [eu] quis dizer que se tratava do corpo geral das pessoas, daquilo que se poderia chamar a massa dos fiéis. Na massa dos fiéis generalizava maior fervor.

Quando a espera do Reino de Maria… No conceito de Reino de Maria está um alto grau, alto teor de santidade — senão de santidade no sentido heróico, pelo menos de virtude — nessa massa e que seja ainda maior do que nas épocas anteriores.

Na Idade Média o que houve de muito característico e que representou um progresso sobre o tempo das Catacumbas, — por mais que o tempo das Catacumbas, dos anacoretas etc., tenha sido admirável, representou um progresso — foi que a Idade Média instaurou uma ordem social católica. Enquanto a gente vai ver no tempo dos romanos, o Império, Império Cristão como dizem, este Império perdeu os pontos de atrito com a Igreja, mas não passou a ser uma ordem inteiramente católica. Era a ordem do Direito Romano, mas não tinha aquela germinação, aquela florada de instituições e de tudo etc., bafejadas pela Igreja na ordem temporal como foi na Idade Média.

Quer dizer, a Cristandade foi muito mais uma obra da Idade Média do que dos antigos.

Nós devemos imaginar no Reino de Maria — “Imaginar”, veja a força da palavra “imaginar” —, mas para o Reino de Maria corresponder ao que a gente poderia desejar, nós devemos imaginar o Reino de Maria: apóstolos, virgens, confessores, doutores etc., etc., dos maiores da História porque é o ápice da História. O planalto da História é este. Nós devemos imaginar também uma média geral muito mais alta e com uma espécie de relação de causa e efeito porque, se são tão grandes os santos, é maior o fervor da massa; como é grande a massa boa, são mais numerosos os que dela se desprendem como fagulhas de dentro de uma fogueira, rumo à santidade. A gente compreende bem isto.

(Sr. Paulo Henrique: Em Amparo o senhor falava do “thau”.)

As coisas se confundem porque o Reino de Maria seria, ou será, o Reino do thau. Porque como toda a Revolução também se encharcou de influências do demônio, e com espírito revolucionário, a era que vença a Revolução tem que ter um espírito intensamente contra-revolucionário. Não pode ser apenas um espírito bom, mas tem que ser pináculo do contra-revolucionário porque é a vitória da Contra-Revolução. E, portanto, uma coisa [à] maneira de thau difundido quase geralmente, ou geralmente. É um elemento sem o qual é difícil conceber ao Reino de Maria. Não para pertencer à TFP, mas ser atmosfera na qual viva a TFP, e da qual vive a TFP, e que viva na TFP.

(Sr. João Clá: Uma resposta à Revolução.)

Pois é. É uma réplica, uma réplica. O demônio fez isto, Nossa Senhora castiga: “Está bem, agora Eu vou fazer tal coisa!” Há uma reversibilidade nas duas coisas.

Está bem claro?

(Todos: Sim.)

Então qual era sua pergunta mesmo?

(Sr. Gonzalo Larraín: A idéia de pôr a Civilização no Coração de Maria.)

Eu acho o seguinte. Que uma relação que nós não conhecemos bem — eu mesmo não saberia bem o que dizer sobre isto — mas uma relação entre o Coração Sapiencial de Maria de um lado, e o thau de outro lado. De maneira tal que seria algo por onde tendo uma particularíssima ligação com Nossa Senhora, se tem um thau particularíssimo. E isto porque o Coração d’Ela tinha especialmente este thau, como ninguém teve. O que tem que ser, porque se o thau é uma fantasia — eu estou certo que não é — se é uma coisa boa, existiu n’Ela como em ninguém!

(Sr. João Clá: Ela tem todos os dons que foram dados a todos os santos em grau excelso.)

Excelso. E isto é um dom, logo Ela tem que ter em grau excelso.

Agora, como este dom tem algo de próprio que impregna todo feitio moral da pessoa, todo feitio moral da pessoa, mentalidade da pessoa, resta saber o que é mentalidade, para a gente então compreender por onde correm essas idéias.

Então eu entro por aí.

O que é mentalidade?

É algo que caracteriza a mente de alguém.

O que é a mente de alguém?

É a alma de alguém que o corpo — na medida que o corpo constitui um só ser com alma — e as propriedades do corpo, segundo São Tomás, condicionam a inteligência, condicionam o feitio de virtude de cada um.

Então, mentalidade é conjunto de qualidades e defeitos de alguém com a fisionomia que isto toma. Sendo uma pessoa que atingiu a santidade heróica, ou quase tanto, é o conjunto de qualidades de alguém, formando em cada um uma fisionomia moral própria como a fisionomia física, com olhos, nariz, boca, ouvido tá, tá, tá.

Deus expôs as coisas de maneira tal que todos nós somos diferentes, não há sombra de perigo de confusão de indivíduo e indivíduo.

Assim também se as almas pudessem ser vistas, elas se diferenciariam assim. E este conjunto de qualidades dispostas de certo modo, formando certa arquitetura, etc,. etc. representa a mentalidade do indivíduo.

Tomem na linguagem corrente todos os sentidos da palavra “mentalidade” [se] se ajustam a essa definição que eu estou dando.

Está bem claro?

(Todos: Sim, senhor.)

Isto posto, a mentalidade acaba sendo… Vamos dizer o seguinte: Isto é a mente de alguém, o estado da mente, a fisionomia constitui mentalidade. A mentalidade, pelo próprio princípio metafísico, monárquico, como todo conjunto, tem que ter uma nota dominante e essa nota dominante por abreviação pode chamar-se mentalidade também.

São dessas flexibilidades que numa língua bem constituída a linguagem deve ter, e que tem… eu creio que em todas as línguas. Mentalidade é isto.

Então é a nota dominante, ou é o conjunto enquanto formado segundo essa nota dominante.

Agora, qual é a mentalidade da TFP?

A mentalidade da TFP é uma coisa que não está definida inteiramente. Nós sabemos que é Contra-Revolução, mas, em que sentido é que essa mentalidade — não é dizer propriamente que não esteja definida — não está descrita inteiramente? É porque a amplitude de aspectos da alma contra-revolucionária é tal, ela tem tais e tais, e tantos, e tantos aspectos — no menor dos contra-revolucionários — que acaba sendo que nós ainda não pudemos fazer, se quiser, [a] aerofotometria da mentalidade contra-revolucionária.

(Sr. Gonzalo Larraín: Seria a extensão?)

O conjunto dos campos que ela abrange e das excelências morais que ela compreende e a arquitetura dessas excelências entre si.

(Sr. Gonzalo Larraín: Em apreciável medida está no MNF?)

Está, está em alguma medida. Mas o MNF não dá tudo porque exatamente a matéria é vasta demais.

Eu dou um exemplo. Estava conversando hoje com o João, Fernando. Vocês tomam uma coisa que eu conheci em raríssimas pessoas, mas verdadeiramente raríssimo. É um certo modo próprio e, assim, nascido da profundidade da mentalidade da pessoa. É um traço só… [palavra ilegível] …pelo qual essa pessoa saiba ligar a fundo o seguinte: Ela saiba ter uma capacidade de venerar profunda e venerando efetivamente, de fato, profundamente, uma série de instituições, de pessoas, etc., etc., venerando profundamente, mas ao mesmo tempo com uma capacidade de — sem que esta veneração perdesse nada — ser, própria de um profundo e confiantíssimo amor àquilo que é venerado. De maneira que quanto mais venerasse, mais amava. Mas, amava mais com uma espécie de confiança que eu quase ousaria chamar de intimidade se não fosse o fato de que essa veneração era muito cerimoniosa e…

(Sr. João Clá: O senhor falava de respeito levado até a veneração.)

É isto.

(Sr. João Clá: Por outro o lado o afeto.)

Assim se exprime até melhor o que eu estava dizendo.

O respeito levado até a veneração, mas junto com isto um afeto. Mas eu incluía no afeto — eu não cheguei a dizer, mas é o que eu incluía — um modo de bem-querer chegando a uma espécie de intimidade, sem nunca o respeito diminuir em nada, e certas barreiras não serem transpostas, nunca.

Ora, é evidente que eu tenho conhecido muita gente — muita! Ah! — que venera outrem, mas na medida em que venera, perde o afeto. Mas, de outro lado, perde o querer bem, diminui o querer bem. Mas também na medida em que aumenta o querer bem, a veneração diminui e perde o respeito. Vai aquilo caindo.

Manter essas disposições na harmonia que lhe é inerente, vocês também conheceram muito pouca gente que faz isto. Ora é um dos traços da Revolução, é caluniar a ordem da Contra-Revolução, dizendo: “Se for para frente, o respeito e a veneração forem para frente, se isto for para frente, o afeto decaí. Se, pelo contrário, houver muito afeto tem que decair do outro lado. Então, o respeito e a veneração são incompatíveis com o verdadeiro relacionamento humano.”

Então na cabeça deles… Eu assisti esta evolução, a idéia do amor filial evoluir. Antigamente, eu vi cartas, por exemplo, na escrivaninha de meu avô — eu nem conheci, morreu quando eu tinha um ano —, mas [as] cartas dele a chefes políticos do interior, estas coisas, cartas que não tinham nada de sublime, cartas comuns, mas às vezes, vinham cartas dele para pessoas mais velhas que ele, inclusive para o pai dele, tudo guardado. A [carta] para o pai: “Meu pai e senhor…” Embaixo: “Peço-Vos a bênção.” Depois dizia para o pai o que tinha que dizer. Em geral assuntos práticos, ou pequenos negócios de famílias, coisas práticas, depois, mais embaixo, mais uma fórmula qualquer de respeito: “De vosso filho, fulano.”

O sistema Hollywood introduziu o preconceito de que isto afastava do pai e que o pai ficava na impossibilidade de ser confidente do filho; e, não sendo confidente, perdia a capacidade de dirigir e que, portanto, era um favorecimento da imoralidade porque a direção paterna se fazia mais distante, mais fria, etc., etc.; era um favorecimento da imoralidade, esse modo cerimonioso de tratar os pais, dos filhos tratarem os pais.

Eu ouvi várias vezes pais e mães se gabarem: “Eu, pelo meu filho ou filha, não nos tratamos como pai e filho ou com mãe de filha; tratamo-nos como amigos.” E fórmulas assim: “Seu pai muito amigo, fulano.” Antigamente era: “Seu pai que muito lhe quer.” Porque é amigo, é amigo! Igual! Depois caiu o “você”; o “senhor” passou a ser “você”. Daí para baixo, daí para baixo… “O velho”, “a velha” e daí para baixo! Cada vez mais para baixo!

O progressismo anda nessas águas debandado. É a negação desta forma de equilíbrio. Quer dizer: enquanto numa alma não houver este equilíbrio, não existe aquilo que nós chamamos [de] Contra-Revolução.

Por exemplo: Era sabido que o Cardeal Merry del Val tinha o hábito, certa hora do dia, parece que era de manhã, de sair para passear e rezar o breviário, etc., numa rua com muito menos movimento que hoje, ao longo do Tibre, e que ele ia com secretário a passos atrás dele, o secretário não podia transpor essa distância a não ser que ele chamasse. Era o cerimonial do Vaticano que o Cardeal Merry del Val, naturalmente apoiado por São Pio X, conservava nos últimos pormenores, mas que os outros já iam relaxando, e quanto!

Isto há muito pareceria falta de caridade do Cardeal para com o secretário, ao pé da letra: homem ruim, orgulhoso, que não tem idéia de que como ele faz sofrer o secretário fazendo sentir sua inferioridade. Portanto andaria bem autorizando o secretário ir ao lado dele. Ele se chamava Rafael. Então o ideal do bom cardeal seria que o secretário o chamasse de Rafaelzinho, Rafaelito, está acabado.

Creio que vocês se dão conta de que jardas de problemas econômicos e sociais, políticos, etc., giram em torno dessa questão moral. O problema que eu pus era moral, este problema de que eu estou tratando, equilíbrio entre veneração, confiança, respeito, etc., é problema assim.

Assim há na alma humana tantos aspectos desses que deveriam considerar que visto desse ponto de vista, a Revolução, porque tomou conta da alma inteira, [da alma] humana inteira, daqueles de quem ela tomou conta — em que proporção! — a Revolução tem quase o tamanho da alma humana. Eu digo “quase” por uma certa indecisão porque, se eu tivesse tempo de pensar, talvez eu dissesse que é a alma humana inteira.

Então, eu poderia citar muitos outros aspectos que conduzem a responder sua pergunta daqui a pouquinho.

Vamos tomar uma outra coisa.

Um equilíbrio… Eu estou dando só lado dos equilíbrios, hein! Só na pista dos equilíbrios. Mas, o equilíbrio, por exemplo, entre a previsão… Eu não estou falando de previsão profética e com apoio sobrenatural, o fato de ser previdente. [Estou falando de] uma pessoa ser previdente e uma [outra] pessoa ser, pelo contrário, despreocupada.

Há uma porção de razões para você ser previdente, mas há uma porção de razões para não ser, porque as exceções a que [a] previdência pode levar e o peso da previdência fazem questionar se vale a pensa ser previdente.

Por exemplo: Vamos supor que “X” pertença a uma família onde tal doença “y” é freqüente. Ele pode já de uma vez, com receios descabelados de estas doenças aparecer nele e durante a vida dele inteira, à sombra desse receio, o levar a uma série de cuidados que tiram o prazer da vida.

D. Mayer uma vez me citou uma frase em latim de um grego, aqueles grandes lá, que dizia: “Que o pior das doenças é o medo exagerado da doença!” Ele tinha toda a razão. Mas quantos morrem prematuramente, pá, pá, pá, porque não tiveram suficiente previdência em função da doença? Então, isto se poderia aplicar a quantos campos do cogitar humano, mas a quantos campos do cogitar humano isto poderia aplicar!

Entretanto, você vai ver, a alma do verdadeiro contra-revolucionário, ou tem este equilíbrio, ou a Contra-Revolução não deitou raízes inteira nele!

Gostaria que explicasse melhor?

(Todos: Está muito claro.)

Então, só no terreno dos equilíbrios, o que haveria de dizer sobre uma alma contra-revolucionária… Uma coisa extraordinária! O papel da confiança na Providência para poder equilibrar estas duas coisas que quando você olha com um olho, te dá a impressão que não há previdência que baste. Quando você olha com o outro olho, você tem a impressão de que não há imprevidência que baste. Logo, melhor nenhum. E que a previdência vá às favas!

(Sr. Gonzalo Larraín: A coisa é complexa.)

Sim, mas essas complexidades têm sua solução: a confiança na Providência. Depois, na confiança, na oração da gente que de algum modo via a própria Providência. Olha Jacob lá, com o combate com o Anjo! A Providência quis ser obrigada e vencida pelo desejo do homem e oração do homem!

Então, quantos equilíbrios assim precisa ter uma alma.

Agora vem o ponto.

Vocês dirão que é desconcertante, que eu estou apresentando um panorama de um tamanho tal que a gente não sabe como se mover nele, e acaba sendo que uma alma é como o firmamento, tem tantos aspectos que é como as estrelas no céu.

Eu não consideraria como exagerada esta afirmação, mas há um certo equilíbrio dos equilíbrios que condiciona e dá jeito a todos os equilíbrios. Se você quiser, é o equilíbrio-princeps, que condiciona todos os equilíbrios. Você vai ver este equilíbrio… O que é? No fundo é a inocência. No fundo, é.

Então, isto que parece uma coisa que aturde, de repente se reduz a um ponto. Exatamente aquele fradezinho — o Beato Angélico quis representar São Domingos de Gusmão — aquilo é extraordinário porque é a pintura desse equilíbrio dos equilíbrios. Você vê sagacidade, a tranqüilidade — as duas juntas em ação —, finura de percepção, a lógica em ação. Bem, o contrário do que falamos na reunião à tarde, nem sei em que grau.

(Sr. –: É príncipe.)

É um príncipe, ainda que não seja nem foi, pouco importa, aquilo é um principado; a irradiação de pureza!

Agora, não bastaria na nossa escola considerar isto no terreno meramente espiritual, mas imaginar como é que seria a orientação de um reino, orientação de um feudo, orientação de uma cooperação, de uma universidade por um homem que fosse daquele jeito; a direção de um exército.

São João de Capistrano, por exemplo. Parece que foi [Joaminiad?] que ganhou a batalha de Belgrado. Ele quando terminou, o exército prestou homenagem a ele, ele fez questão que do lado dele estivesse São João de Capistrano como co-vencedor. Ele não dirigiu operações militares, mas ele percorreu o tempo inteiro o pessoal da batalha com um crucifixo na mão pregando a Cruzada! O general que venceu: “Olha, aqui vai a meu lado porque eu fiz as manobras, mas quem acendeu o fogo foi ele.”

Eu não sei se percebe que assim, nós deveríamos procurar ver na alma de um ultramontano cem coisas assim. Eu creio que com o Grand Retour virá para os ultramontanos especialmente uma certa fagulha que toca isto no centro, fagulha onde a Revolução tocou e desatarraxou tudo, porque é bem patente que a [Contra-Revolução?] [Revolução] tocou nisto e desatarraxou tudo.

Ora, como se pode não imaginar que isto, que é tão central, tão super elevado, não tenha na mentalidade e, portanto, no Coração Sapiencial e Imaculado de Maria seu próprio canal de difusão para a humanidade inteira? Não é cogitável, não é imaginável.

(Sr. Gonzalo Larraín: Aí seria a inocência?)

A inocência! Um certo modo de ser da inocência que pega a alma no fundo. E esta inocência, no fundo, é uma espécie… é um estado de alma pelo qual se tem um desapego de tudo quanto é ruim. É um apreço, um voltar-se, uma simpatia, uma coerência da alma, coesão da alma com quanto é bom.

Eu acho que aquele santo, a cara dele é esta, eu guardei a fotografia daquela pintura e osculo todos os dias de manhã e à noite por causa da veneração que eu tenho por aquilo. Mas isto era um santo, não era espalhado na massa geral. Esta difusão na massa geral era maior na Idade Média.

(Sr. –: Será maior no Reino de Maria?)

Foi maior na Idade Média do que naqueles tempos e será maior no Reino de Maria.

(Sr. Gonzalo Larraín: Uma vez que Nossa Senhora entra de tal maneira no centro dos acontecimentos, aí seria uma participação na Inocência d’Ela.)

É, impregnando também a sociedade temporal.

(Sr. –: Não só mais gente, mas intenso?)

Mais intenso.

(Sr. –: No que consistiria esta intensidade?)

Eu acho que para mim isto é misterioso, mas você empregou as palavras adequadas: é uma especial participação na santidade d’Ela. Como o pecado de Revolução, para mim é fora de dúvida que impregnou, implicou numa especial participação dos homens no demônio, na maldade do demônio. Para mim isto é uma coisa que é fora de dúvida.

Quer dizer, o que há de diabolismo aí, nós não nos damos conta, quando houver o desplomamiento e que vocês verificarem, vocês vão ficar pasmos! Eu disse a vocês que eu vi este diabolismo subir, subir, e tomando conta de tudo.

(Sr. Gonzalo Larraín: Tendo a RCR, mesmo que não seja santo é superior em certo sentido a quem antes era santo, mas não tinha isto.)

Em certo sentido sim.

(Sr. –: Esta questão da participação no Coração de Maria teria algo que ver com a graça da RCR.)

É. Enquanto falo estou procurando exatamente este tendão, como é este tendão.

Uma criança pode sentir — exatamente [a] partir da inocência primeva — quando já na inocência primeva vem um próprio sentir, a inocência sentindo-se a si própria e sentido todas as outras coisas, e a beleza e a retidão das outras coisas, em função de uma graça de inocência, de mística comum, que deixa as coisas de um modo inteiramente diferente — inteiramente diferente! — em outro grau, num outro plano. Isto tem riquezas quase sem contar!

(Sr. Gonzalo Larraín: O papel que certas coisas da natureza exerce sobre o homem, que puxa o homem para baixo, em vez de subir. Não digo da natureza da França que é privilegiada, etc.)

Não é privilegiada só não. Desbastada e arranjada por missionário! É muito diferente! Toda a Europa. A Europa de Wagner que jungle seria?!

Amazonas!!

Haveria provavelmente — você veja como é incerto esse “provavelmente” — haveria uma mitigação desses efeitos que se evolam de certas vegetações, certas outras coisas, uma mitigação — no sentido próprio da palavra: ficar mitis, doce — desses efeitos, sem dúvida. Porque eu desconfio que a Revolução, por contrachoque, implantou coisas dessas maiores do que tinha antes do pecado de Revolução. Não necessariamente na Europa, mas em outros lugares.

Mas eu acho de outro lado, também tem, que o homem teria como missão ser militante contra a natureza para abater o que exerce um efeito nocivo, e levantar aquilo que tivesse efeito favorável. Quase uma RCR da natureza, o que é uma das mais importantes funções da arte — para dizer logo a coisa de uma vez.

(Sr. Gonzalo Larraín: Da arte? Não seria mais da Biologia, da Zootécnica, digamos?)

Não, não. Acho que seria do homem, por exemplo, saber transformar mato numa floresta, em bosque. Isto é uma coisa que quebra. E no modo de fazer uma floresta amena, delicada, forte, com grandes árvores, mas onde a jungle deixasse de existir, nisto entraria uma vitória da Contra-Revolução!

A questão é que esta mística comum estando no homem, dá ao homem muito mais discernimento sobre estas coisas da natureza. Então, haveria Anjos pairando sobre a natureza, certamente não sobre as jungles, mas sobre outros aspectos da natureza. E haveria, além disso, um discernimento do homem para pôr aquilo em ordem, uma incompatibilidade com a jungle que poria certos pingos nos “is”. E daí para fora outras coisas que equilibrassem isso que você diz, porque isto que você diz existe indiscutivelmente.

E na mística comum, o simbolismo disso com Deus aparecia também mais claramente. Pour en finir, o golpe de vista simbólico, a mística comum tornaria muito mais eloqüente. De onde então vocês vêem que ou isto dá à mística comum uns graus de que ela é possível, tem uma importância enorme, inclusive para a fidelidade para a TFP. Porque como o indivíduo recebe da mística comum graças muito grandes com o thau e depois peca contra estas graças, vem um declínio do thau! E um estudo exato disso poderia ajudar não sei quanto para pôr os pingos em cima dos “is”.

Meus caros! Não tenho remédio!

(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor acha que durante a semana poderia haver alguma reunião?)

Domingo que vem já é domingo de Páscoa, não é?

(Sr. Gonzalo Larraín: Sim.)

Eu tenho esperança. Sabem como é minha vida, mas eu tenho esperança.

(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor diz domingo ou sábado à noite.)

Não digo só sábado à noite, digo uma reunião extra. Vamos ver. MNF deve ter!

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