Conversa
da Noite ─ 07/02/87 ─ Sábado .
Conversa da Noite ─ 07/02/87 ─ Sábado
O Sr. Dr. Plinio analisa uma fotografia em que ele está de Hábito. Uma pessoa pronta a defender suas posições diante de qualquer inimigo * Um olhar ao mesmo tempo severo e acolhedor, que indica que luta continua como aos vinte anos de idade * Atitude do Senhor Doutor Plinio diante das ingratidões de seus filhos. Caso de um apóstata que o procura para se despedir * Os sofrimentos padecidos pelo Senhor Doutor Plinio com as infidelidades no Grupo só não o levaram à morte por causa da Graça de Genazzano * Quando vocês virem esta foto, digam: “Aqui está um varão a quem Nossa Senhora deu uma ajuda contra tudo” * Ao longo da vida o Senhor Doutor Plinio sentiu continuamente dançada em torno de si a dança da morte * Promessa de Nossa Senhora de Genazzano: “Seja como for, você realizará sua vocação”
[Senhor Doutor Plinio entra no Salão Azul e tem uma surpresa.]
Ah, ah! Que coisa?! Mas que coisa?! Isto é mais do que tamanho natural. Mas isto é um susto!
(Sr. J. Clá: É bem na linha da reunião de hoje. Extremo oposto e sublimado).
É uma pessoa oposta àquilo.
(Sr. J. Clá: Evanessência não existe).
Graças à Nossa Senhora, não.
(Sr. J. Clá: Não só não existe, mas tira as pessoas da evanessência).
Queira Deus.
Que fotografia! Que travessura, meu João!
Meu Paulo Henrique, como vai? Meu Aloísio, como vai você, meu filho? Meu caro Coronel. Mas vocês fizeram uma barreira humana aqui para eu não ver logo no começo, muito bem feita.
(Sr. –: Uma bênção?!)
De todo o coração.
(Sr. –: Podia, depois da reunião, fazer uma pergunta de quinta-feira para o senhor?)
Pode. Depende de me lembrar.
Bom meus caros, vamos entrar nos nossos temas. Se não fosse pouco amável para com vocês, eu mandava levar isto embora, mas enfim… Vamos sentar.
* O Sr. Dr. Plinio analisa uma fotografia em que ele está de Hábito. Uma pessoa pronta a defender suas posições diante de qualquer inimigo
Ah! Aquela cruz é do hábito de um eremita, um arauto, não é? Isto foi tirada quando, meu João? Foi numa dessas cerimônias do meu aniversário?
(Sr. J. Clá: Não. Em Amparo em 83, numa adoração).
Na capela do êremo, é?
(Sr. J. Clá: Sim.)
É, sem dúvida. Mas eu não me lembro que lá tem esse fundo vermelho que está aí. Bom, vamos entrar nos nossos temas meus caros?
(Sr. J. Clá: O tema está aqui.)
Je ne sais. Então, meus caros? Então João? É o Guerreiro que tem pergunta? Gonçalo? Quem é? Vamos lá.
(Sr. Guerreiro: A foto que está aqui de tal modo é “dicedora”, como dizem os castelhanos… O senhor, olhando também quando chegou, olhou porque examinou. Se o senhor pudesse dar as impressões que o senhor teve…)
Fiz um exame de fora para dentro. Se a cara é de quem é o que deveria ser. Quer dizer, visto de fora para dentro, eu dou a impressão de ser quem eu realmente deveria ser? O que equivale a perguntar: “Eu sou realmente o que deveria ser?” Esta é a pergunta.
Bom, eu vou responder a pergunta. Eu posso fazer análise se eu visse de fora para dentro. Eu diria que se trata de uma pessoa que evidentemente está sentada, não está de pé. Mas está sentada meio com ar de quem conquistou a cadeira em que está sentado. A pessoa não adivinha que é uma miserável cadeira de rodas, e de quem ali, naquela posição, não está pensando que alguém vai desalojá-lo, mas tem tudo pronto na cabeça para, no caso de um desalojamento, sair com todas as baterias prontas. Estão instaladas e prontas.
Mas é claro que não é esta cadeira. São as posições que deve tomar, a atitude que deve ser, como deve ser. Se algum revolucionário atacar, a bateria está pronta.
Olhando para o infinito, para o indefinido. Não está olhando para ninguém aí. Estou olhando para um ponto indefinido, como quem de momento sabe que não vem nenhum inimigo, mas sabe que de todos quadrantes do horizonte a qualquer momento, a distância diversas, o inimigo pode surgir e que é preciso estar pronto para responder de qualquer jeito, de qualquer forma.
* Um olhar ao mesmo tempo severo e acolhedor, que indica que luta continua como aos vinte anos de idade
Olhar. Eu qualificaria de um olhar severo. Mas, no fundo, acolhedor. A parte mais polêmica está neste traço aqui. Neste músculo do beiço, e também na compunção das mãos. Mas em alguma coisa do modo de estar sentado que é assim e está acabado. Olhar com qualquer coisa de mortiço que provavelmente já vem da idade.
(Sr. –: Isto não se vê, tem alguma coisa de desprezo, não mortiço.)
Tem desprezo, desprezo para os revolucionários. Quer dizer, é evidente que eu estou desprezando o indivíduo que eventualmente vai me atacar. Agora, sei que ele é poderoso e que é preciso estar preparado para reagir.
Curiosamente fica esquisito eu dizer isto, mas é o que eu penso. Vê-se que é uma pessoa de bastante idade.
(Sr. –: Bem isto.)
Qualquer coisa de indefinido, de maneira que não há alguma coisa da resignação da velhice. Do laisser faire da velhice, da capitulação da velhice. A coisa vai para frente e a luta está como nos vinte anos. A mesma coisa. É o que queria dizer.
(Sr. Paulo Henrique: Isto que o senhor disse é a totalidade, mas estaria mais refletido nos olhos?)
Nos olhos sim. Eu vejo bem que eu não estou vendo bem as coisas ali. Não é o olhar de uma pessoa que está com a vista normal. Eu suponho que de óculos, a minha vista seja mais precisa do que ela está aí. Bem, não sei se você nota que está muito indefinida, muito vaga… O lugar onde ela pousa. Agora, eu acho que isto da idade está no olhar, porque um velho desta idade não tem esta fixidez no olhar, mas está um pouco espalhado - pode ser um jogo de luz - mas um pouco espalhado por toda a pele no seguinte: É um velho, mas a pele conserva um certo colorido que o velho não tem, embora não seja uma pessoa apoplética, sanguínea. Pelo contrário, a ter um excesso seria uma certa falta de sangue. É o que eu diria.
(Sr. J. Clá: Agora, a firmeza de Fé, a firmeza dele.)
Bom, isto não me cabe dizer. Eu fiz uma análise meramente natural.
(Sr. G.: Está ligado com a reunião passada. O senhor na reunião passada, tratou da penitência.)
Penitência… quer dizer, arrependimento, pecado?
(Sr. –: Sim. Nesta foto, aparece muito…)
(…)
* Atitude do Senhor Doutor Plinio diante das ingratidões de seus filhos. Caso de um apóstata que o procura para se despedir
…há uma espécie de desencontro dentro do meu modo de ver o assunto. No modo de vocês verem o assunto, que é um desencontro legítimo e que se trata de fazer a resposta sem prejudicar o desencontro, mas sem que o desencontro prejudique a resposta. Quer dizer, dando uma resposta que responda.
O desencontro está nisto: é que pela minha relação com vocês, realmente o objeto imediato do mal que tem sido feito é um. Atinge-se a mim pelas relações que eu tenho com vocês, mais ou menos como numa família. O sujeito peca contra o pai, ele de fato, de imediato pecou contra aquele homem que lhe deu a vida. Mas, em última análise, aquilo atinge a Deus. Mas, como o pai é o representante de Deus, faz às vezes de Deus etc., aquilo que atingiu o pai deve ser visto também no que é que atingiu o pai e não apenas no que atingiu a Deus. O que se vê muito claramente na parábola do filho pródigo.
Porque aquele filho pródigo pecou contra Deus, mas ele voltando em casa disse ao pai, mais ou menos estas palavras: “Meu pai, pequei contra Deus e contra ti”. Bem, todo o drama de alma do pai é tomado como o tema da parábola, porque o tema é muito menos o filho pródigo, do que com o pai. O tema de alma é esse e Deus coloca, deixa ver através do que o pai sentiu, aquilo que é a ofensa que Deus recebeu. Assim que Nosso Senhor Jesus Cristo trata o tema divinamente bem. Como não podia deixar de tratar, sendo Ele quem é.
Mas então, nesta perspectiva, calça perfeitamente bem a legitimidade de sua pergunta.
(Sr. J. Clá: Para deixar o senhor mais à vontade: Santo Tomás diz que todo o pecado tem três dimensões: uma que todo o pecado é cometido contra Deus. Mas ele é cometido também contra a própria consciência, porque a lei natural está impressa na consciência. Peca também contra a sociedade. Se ele pertence a uma instituição religiosa, peca contra o superior. O pecado contra Deus é absolvido no confessionário, mas contra a própria consciência, contra o superior resta ainda uma pena temporal, que se paga ou aqui na terra, ou no purgatório.)
Está esplêndido. Não podia ser melhor. É São Tomás! Não podia estar melhor.
Bom, acontece que no que me diz respeito, para que a minha atitude seja perfeita… Eu não penso nem um pouco no que aquilo tem de contrário a mim, penso apenas no que tem de contrário a Nossa Senhora e a Deus. De maneira que não tenho o assunto pensado. Eu improviso aqui. Mas, não tenho o assunto pensado para responder, porque se eu for me deter para pensar… A criatura concebida no pecado original é levada a sobrevalorizar o que foi contra si e perder o equilíbrio. Então, é melhor abstrair completamente como se ela não tivesse sido ofendida. Ela sabe que está sendo ofendida. Vê evidentemente, mas elimina aquilo de seu panorama, para olhar só a Deus. O que é a recíproca desencontrada da posição dos súditos. Não sei se me exprimo bem.
De maneira que pensar este raciocínio, sendo quem eu sou, como eu sou, de que mal ele está fazendo contra mim, isto é uma coisa que nunca, é um pensamento que eu nunca consenti em minha vida.
(Sr. Guerreiro: Mas precisamos tratar.)
Precisamos tratar, eu concordo. A tal ponto que eu estou começando a tratar, eu estou começando a tratar justificando a pobreza das impressões que eu vou dar a este respeito. Que é do fato disso não ter sido abordado, não ter sido tratado por mim, eu não ter fixado impressões a este respeito.
Eu me lembro, por exemplo, numa ocasião verdadeiramente trágica em que um certo membro do Grupo…
(…)
…pegando-me adoentado foi falar comigo. Ele tinha livre acesso a mim, veio falar comigo. Sentou-se e disse com toda a naturalidade: “Doutor Plinio, eu venho me despedir do senhor”. Uma pessoa morando em São Paulo, hein! “Eu vim me despedir do senhor, porque eu vou sair da TFP hoje, agora. Estou saindo. Eu não tenho mais forças para agüentar a TFP e eu percebo que está se dando comigo uma variação. É que eu tenho pecado muito contra a castidade como o senhor vê e não tenho nenhuma vontade de me casar, mas eu estou sendo atraído para o concubinato, e que me hipnotiza, me fascina completamente. E por causa disso eu resolvi sair da TFP. Aliás há muito tempo que eu não agüento. Uma vida que não é possível etc., etc. Então eu vou me desligar da TFP e me identificar no mundo que está aí fora. Vim me despedir do senhor”.
Esta pessoa tinha me dado um trabalho sem nome! Tinha me dado uma preocupação sem nome. Não tem palavras o que esta pessoa sabia que eu tinha pago de esforço meu, de dedicação meu, de perdão meu e de suavidade minha, ao pé da letra, não tem palavras. A tal ponto não tem palavras que eu não pensei que fosse impossível levar mais longe a dedicação que eu levei naquela ocasião.
Bem, a pessoa com uma frieza como quem pede uma conta num hotel para sair quites. Também, ali um ato de polidez. Ele seria pouco cortês se um longo relacionamento, talvez de uns dez ou quinze anos… então ia fazer a despedida. Mas uma despedida sem tristeza. Quando ele falava eu pensava, vinha ao meu pensamento, não propriamente como uma tentação, não era uma coisa posta pelo demônio. Uma coisa da natureza, mas que eu percebi que eu não podia fixar. Mas vinha ao meu pensamento: “Se este rapaz tivesse correspondido um pouco à simpatia, à estima, à amizade que tive a ele… Que se ele tivesse tido um pouco de reciprocidade em tudo quanto eu dei a ele, ele deveria se despedir chorando sangue.
“Primeiro não devia se despedir. É qualquer coisa que a partir da despedida, já era uma coisa horrível, mas enfim, deveria ser uma despedida chorando sangue. Agora, invés de chorar sangue, olhe a indiferença dele. Ele vai para a vida de prazer, mas assim como quem… Um aluno que sai do internato, e vai para férias, mas para férias definitivas. Desliga-se depois do internato, não volta mais. Assim, a atitude que ele toma comigo, e a frieza dele comigo, uma tristeza que é propriamente incalculável”.
Eu dei ainda algum conselho, alguma coisa, mas eu percebi que era uma partida completamente perdida e que o melhor que eu poderia fazer para a alma dele, não era mais uma insistência, mas era dignidade de despedida. Porque ainda é uma forma de fazer um bem, é uma despedida digna: “Bom, você quer, não vou choramingar. Já fiz todo o possível para retê-lo. Você insiste pisando em cima de tudo. Eu não posso dizer propriamente: AENossa Senhora o acompanhe AF, porque você vai num caminho onde Nossa Senhora não acompanha ninguém”.
Mas eu pensei comigo: “Eu posso pedir a Nossa Senhora que com o olhar e com a misericórdia, o vá chamando para voltar”. Mas não disse isso a ele porque já me pareceu que tomaria o ar de um choramingo pouco digno. E no mesmo tom, internamente com uma tristeza enorme, disse: “Bom, você toma esse caminho. Eu não posso deixar de, com tristeza, aceitar sua despedida”.
Tagarelamos um pouquinho sobre banalidades. Um certo momento ele se levantou e se despediu. Apertou a minha mão e foi embora. Tomou o elevador ─ foi num outro apartamento que eu estava ─ tomou o elevador. Eu pude ─ eu estava imobilizado, estava com um coisa qualquer no pé, não podia acompanhá-lo ─ mas eu pude, pela colocação das coisas, eu acompanhei o barulho do elevador que chegou. Dele que abriu a porta, entrou. O elevador saiu, ele entrou para os caminhos dele, pelos transvios dele.
Bem, agora minha reação diante do fato: “Eu sou obrigado a não pensar em nenhum desses aspectos humanos. São aspectos humanos, são dignos, legítimos. Até necessários, mas são humanos. E sempre existe a possibilidade disso acender um ressentimento, ou uma cólera, da qual o mínimo que eu posso dizer é que é desgastante. E que eu não tenho o direito de desgastar a minha pessoa e minhas energias num caso desses. Que eu tenho a obrigação de ser avaro de mim mesmo.
Quer dizer: “Dedique-se a ele em tudo que se podia fazer bem a ele”. Eu me dediquei de um modo… Em proporções inimagináveis, mas inutilmente está transformando isso num drama que me desgaste, não. É o que eu não farei. Eu atravessarei com o coração sereno, com a alma serena, sem um pingo de desgaste. E ninguém notará em mim nenhuma tristeza, porque eu suspenderei, estancarei, como se estanca ─ como assim às vezes corta, barbeiro, qualquer coisa, uma coisa que põe e estanca o sangue ─ eu vou passar isto sobre esta ferida, eu não vou sangrar por causa disso. Que é o que eu tinha obrigação a fazer. Foi o que eu fiz.
(Sr. G. Larraín: Não excluía do senhor ficar triste com o fato.)
Não, em teoria seria legítimo. Eu fiquei triste com o fato, mas seria legítimo que eu alimentasse minha tristeza pensando, desenvolvendo, etc. e isto eu não faria. Quer dizer, seria inteiramente legítimo. Como por exemplo, na parábola do pai e do filho pródigo faz isto largamente. No meu caso concreto, não por insensibilidade, mas por receio de excesso de sensibilidade. Eu freei e costumo frear.
(Sr. G. Larraín: Depende um um pouco dos casos. Porque o outro anterior…)
Depende. Aí foi diferente, mas eu explico daqui a pouquinho. Mas a questão é o seguinte: É que eu acho que eu não tinha o direito de naquele relacionamento, fazer de outra maneira.
Agora, no outro…
(…)
…estas, ou outras das pessoas de que eu falei, como é que deveriam sentir-se? Como é que deveriam conduzir-se? É uma pergunta.
Bem, agora, não foram só eles que fizeram isto. A seu modo, quantas vezes, esse ou aquele, aquele outro dentre nós se pôs em vias de entrar nessas vias, deixando-me na incerteza, na apreensão, na preocupação etc., etc. Quantas vezes, quantas vezes, de todo jeito e de toda ordem.
* Os sofrimentos padecidos pelo Senhor Doutor Plinio com as infidelidades no Grupo só não o levaram à morte por causa da Graça de Genazzano
Compreendem que devendo tomar em consideração que esses casos são sempre únicos e que com cada um existe de um determinado modo, podem bem compreender o que isto representa. E podem bem compreender a contrição que podem ter.
Porque essas coisas são de matar um homem, e se não fosse ─ o que é evidente ─ o que por ocasião dessa crise de diabetes, Nossa Senhora de Genazzano me deu graças muito especiais, eu teria afundado ali. E só não afundei, só não morri depois, pelo perpétuo vai-e-vem de casos análogos que não chegam ─ graças a Deus ─ senão raramente a esse extremo, mas eu vou dar daqui a pouco uma comparação que representa meu pensamento a esse respeito.
Então, isto só não me levou até a morte por causa de uma graça especial ─ eu já tenho dito várias vezes, devem ter ouvido eu dizer ─ que é a graça de Genezzano. Eu a esta graça devo a minha vida.
Mesmo como desses casos, aconteceu isto, eu percebi que esta pessoa desligada de nós dentro em pouco estaria fazendo graças e debicando de nós ao infinito e nem sei o que era que vinha depois. Mas a graça de Genazzano obrigava-me a acreditar que a TFP não afundaria com isso, e que por maiores que fossem as minhas culpas, Nossa Senhora não permitiria. Ela levaria a bom termo a minha vocação, a realização da minha missão, e o meu pavor era isso: essas coisas darem em estrondos e minha missão não se realizar.
Bem, quando se deu este caso eu pensei: “O caso está perdido, mas a missão vai realizar-se. E eu, portanto, devo manter-me sereno. O caso desfechou no que vocês sabem. Quer dizer, a confiança foi premiada. E de fato, nos exames de sangue que eu fiz ─ naquele tempo ainda fazia assim muito próximo um do outro ─ não houve qualquer alteração. Tudo correu normal com a graça de Nossa Senhora.
* Quando vocês virem esta foto, digam: “Aqui está um varão a quem Nossa Senhora deu uma ajuda contra tudo”
Bom, tomando agora não os casos extremos, mas os casos intermediários; e com isto eu creio que… Não, são 2:30h, ainda um pouquinho podemos conversar. Tomando em consideração os casos intermediários, qual é a impressão que me dão esses casos intermediários? Muito freqüentes entre nós, hein! Porque a toda hora tem um outro que está tomando uma caminhada que eu estou vendo que é o começo do caminho da morte.
É um pouquinho certas danças de índios quando eles cativam prisioneiros. Eles amarram o prisioneiro num tronco qualquer e começam fazer a dança da morte em torno do sujeito. Eles se embebedam e começam a dançar assim. Depois apertam de novo. Depois se distanciam e depois apertam. Naturalmente quando se distanciam o sujeito, pelo instinto de conservação, terá provavelmente um pouco de alívio. E quando se aproximam de novo, ele terá um pouco mais de apreensão. Isto pode durar horas. Eu imagino que para estes índios bêbados, isto pode durar uma noite inteira. Até que de repente, quando a aurora está nascendo, ou quando apenas a cerimônia começou, um bêbado pega um tacape e lhe racha a cabeça.
Agora, esta dança da morte está continuamente em torno de mim.
Porque para considerar a coisa sem véus e de frente, a realidade é essa. Não tem conversa. E a gente a deve tomar assim, porque ela é assim, ela não é de outro jeito.
Agora, seria possível eu agüentar isto sem morrer se não fosse a graça de Genazzano? Eu não teria agüentado. Aqui está um homem que não teria agüentado. Então, quando vocês virem aquela foto lá, não digam: “Ali está um colosso que resistiu a tudo!” Vocês digam outra coisa: “Aqui está um varão a quem Nossa Senhora deu uma ajuda contra tudo”. Porque eu não teria agüentado.
Por quê? Porque não é para agüentar. Eu estou certo hein, de que vocês aqui não teriam agüentado também. Não têm esta certeza?
(Sr. –: Claro!)
Peguem por exemplo, caso…
(…)
…duzentas vezes ao longo dessa história. Há uns dois anos atrás, mais ou menos ele foi médico aqui…
(…)
(Sr. J. Clá: Está gravando.)
* Ao longo da vida o Senhor Doutor Plinio sentiu continuamente dançada em torno de si a dança da morte
Eu acho que certas aflições a que certas pessoas podem estar sujeitas na vida, e eu creio que passei e passo por essas aflições há não sei quanto tempo. Certas aflições que podem ser comparadas ─ naturalmente comparadas, portanto uma coisa metafórica ─ comparada à situação de um prisioneiro de uma tribo indígena. O sujeito fora aprisionado e é levado para um pau onde o amarram. Depois, em certo momento fazem em torno dele uma dança, que eu imagino que seja a dança da morte. É sabido que os indígenas fazem uma dança assim em que eles se embebedam ─ homens e mulheres. Eles se enfeitaram para isto antes, etc. Se embebedam e vão cantando e pulando, forma de dança naturalmente, cantando e pulando até chegar a formar em torno da vítima um círculo restrito, mas os homens armados, com suas armas de guerra.
Quando chegam bem perto, depois eles abrem o círculo de novo, e abrindo e fechando eles vão durante um tempo indeterminado. E em certo momento algum, por efeito do demônio, ou da bebedeira, ou do ritual ou qualquer coisa que eu não sei, pega o tacape e fende a cabeça do outro. O outro fica naturalmente amarrado ali sem poder se defender.
Agora, compreende-se que no momento em que o círculo se alarga, o instinto de conservação do indivíduo passe por uma pequena distensão. Muito pequena porque ele já sabe que aquilo vai voltar, como no momento em que se estreite, passe por uma pequena tenção. Agora, esta tenção e distensão ao longo de uma dança extensa, em que ele está de pé, em que ele é o único que está lúcido ─ os outros estão embebedados, mas não dão bebida para ele ─ ele está morrendo de fome, enfraquecido, devorado pelo desespero, talvez por feridas que tenha recebido na luta antes de ser preso. Portanto por febre, por infecção etc. Ele está parado. Aquilo se estreita e se alarga em torno dele.
Esta é a situação em que muitas vezes, muitas e muitas, eu posso dizer que continuamente, me encontrei ao longo de minha vida de apostolado. A partir de 1930 e tanto uma coisa assim.
Agora, eu caí no chão sem possibilidade de continuar e notem que eu sou robusto, graças a Deus. Caí no chão sem possibilidade de continuar, por ocasião dessa crise de diabetes. Não era para eu ter diabetes, mas não tem precedente de ninguém diabético na família. Bem, fiquei diabético, todo o mundo sabe que essas apreensões muito grandes uns dos efeitos que podem produzir é a diabetes.
* Promessa de Nossa Senhora de Genazzano: “Seja como for, você realizará sua vocação”
Essa apreensão só não me matou por causa da graça de Genazzano. Por quê? Que relação tem a graça de Genazzano com isto? É que o que eu receava mais em tudo, isto é, que em determinado momento o tacape brandido contra mim fosse brandido contra a causa católica, contra a TFP e que a TFP fosse água a baixo, a minha vocação não se realizasse. Tudo isto por culpa de algum defeito, alguma coisa que eu tivesse feito que tivesse desagradado a Nossa Senhora, aí então o pânico de ser o autor. Eu, o homem que de fato tinha vibrado o tacape contra mim mesmo. Esse o pior pânico, o pior de todos.
Bem, foi disso que me libertou a graça de Genazzano. Não dizendo o seguinte: “Você de tal maneira está no agrado de Nossa Senhora que isto não vem em causa”. Mas dizendo uma coisa muito mais confortadora: “Seja como for, você realizará sua vocação. Esteja, portanto, tranqüilo”. Mas dizendo isto com sorriso, com afago, com bondade, que se Deus quiser, nunca me esquecerei. Isto é que tem me sustentado, porque do contrário eu teria morrido.
Está bem claro isto, meus caros? Acho que estamos na hora e temos que ir andando.
(Sr. G. Larraín: As Conversas de Sábado, tem sido de um relacionamento muito de coração a coração com o senhor que se tem aberto muito aqui.)
Muito, enormemente.
(Sr. G. Larraín: Pergunto a importância que tem esse “alma a alma”. Esse desejo de querer amar a vocação?)
Eu acho que não tem dúvida nenhuma. Há aqui evidentemente um certo ponto de equilíbrio que é muito delicado que é o seguinte: Esse relacionamento de alma a alma deveria existir, por exemplo, vamos dizer, entre Santo Inácio e São Francisco Xavier. Vê-se que eles tinham eminentemente. Mas como era ele bem exatamente? Porque nós facilmente perdemos a visão exata de como isto deve ser, por causa dos modos de ser e de sentir de hoje em dia. Seria preciso uma mise-au-point muito exata disso para que se pudesse conversar sobre esta coisa com toda a segurança. Mas, feita esta mise-au-point, não tem dúvida.
[Sr. G. Larraín pergunta se com a graça das Conversas de Sábado, se correspondêssemos, não iria nessa direção.]
Você diz sábado à noite?
(Sr. G. Larraín: Sim.)
Isto é fora de dúvida. Não é o único desígnio, mas é um desígnio relevante. Isto é fora de dúvida.
Mes très chers, que puis je faire?
Há momentos minha Mãe…
*_*_*_*_*