Conversa
de Sábado à Noite – 9/8/1986 – p.
Conversa de Sábado à Noite — 9/8/1986 — sábado
O Sr. Dr. Plinio trata pouco da Santíssima Trindade por não sentir bases para entrar no tema * O modo aristocrático da Senhora Dona Lucilia ter pena * A Senhora Dona Lucilia, quando jovem, cuida da Dona Benedita que depois agradece à irmã – fazer o bem sem esperar retribuição * A Senhora Dona Lucilia discute com Dona Iaiá por causa do Nazismo e do divórcio
[Pergunta ininteligível]
* O Sr. Dr. Plinio trata pouco da Santíssima Trindade, por ser um tema delicadíssimo e ele se sentir sem bases para tratar do tema
Há uma coisa que talvez vocês notem: a Santíssima Trindade é um tema de que eu trato muito raras vezes — embora seja um tema culminante — porque é um tema delicadíssimo, altíssimo e que eu não me sentiria com base para tratar apenas abordando o tema segundo aspectos metafísicos ou aspectos filosóficos, de filosofia intuitiva, se se pode dizer assim, de uma pessoa que não estudou filosofia como é o meu caso. Isso porque a Santíssima Trindade é uma verdade revelada, da qual o homem não teria nenhum conhecimento, se não fosse a Revelação. A razão natural não conduz à Santíssima Trindade — não se opõe, mas não conduz.
Ela é um mistério tão alto que o gênero humano poderia viver do primeiro instante da criação de Adão, até o último hausto de vida do último homem, sem conhecer a Santíssima Trindade, ainda que todos os homens tivessem tido uma perfeita correspondência à graça. Essa é a doutrina católica.
Nos meus anseios pela gruta do Cornélio, certamente esse é um dos temas que eu mais gostaria de aprofundar. Mesmo porque, segundo o processo que indiquei na última reunião de conhecer Nossa Senhora através de Nosso Senhor, porque a Revelação nos fala muito mais de Nosso Senhor do que de Nossa Senhora, também através da Santíssima Trindade poder-se-ia conhecer dados sobre Nossa Senhora que nem de longe a razão humana poderia excogitar senão conhecesse o que a Revelação ensina sobre a Santíssima Trindade.
Então, eu fico na impossibilidade de tratar desse tema como tratei os outros, e é a razão pela qual, com toda a veneração que eu devo, a adoração que eu devo à Santíssima Trindade, eu falo pouco do assunto. Vocês me dirão: “Mas é possível o Sr. ter chegado aos 77 anos e não tenha lido nada sobre o assunto?”
Não entra gabolice no que vou dizer, mas seria a mesma coisa que censurar Godofredo do Bouillon por morrer sem ter estudado a Santíssima Trindade. Se ele tinha a missão de libertar o Santo Sepulcro, eu estou certo que Deus não o recriminou por isso.
Assim, eu não nasci junto ao Santo Sepulcro, mas nesse fétil sepulcro do século XX e o estou percorrendo desde 1908 até sei lá quando, talvez até a idade de mamãe — se eu morrer na idade de mamãe eu morrerei no ano da passagem do século. Então é compreensível que eu não esteja aparelhado para tratar do assunto.
Eu gostei muito de ver outro dia, projetado no ASM, uma imagem da Santíssima Trindade com Nossa Senhora, numa igreja qualquer aí do interior do Brasil — creio que era uma imagem portuguesa.
(Sr. Gonzalo Larraín: Era um santuário em Goiás.)
Isso, e dizia ali que era o único santuário que existe em honra do Padre Eterno; me veio esta interrogação: “Por que não santuários em louvor do Padre Eterno?” Por exemplo, existe em São Paulo uma igreja em louvor ao Divino Espírito Santo que é a igreja Bela Vista, uma igrejinha paroquial, pequena, modesta, mas enfim, é uma igreja em estilo vagamente tradicional; porque não existe uma igreja em louvor do Padre Eterno, também não sei, eu gostaria que houvesse. Uma igreja em louvor da Santíssima Trindade deve haver, eu não tenho notícia que haja...
(Dr. Edwaldo Marques: Em Lisboa existe uma.)
Eu creio que aqui pelo Brasil existe também.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Essa cidade em Goiás se chama Trindade)
Por Minas haverá uma igreja ao Padre Eterno?
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Acho que não.)
Não pergunto pelo Paraná porque é um Estado muito mais novo. Agora, nessas condições infelizmente não tenho o que dizer. Eu não tive tempo nem de ler o livro da Soror Elisabete de la Trinité que parece ser muito alto e muito piedoso sobre a Santíssima Trindade. Se algum de vocês tiver vontade de ler, se não houver em nossa biblioteca de JG, que tem muitos livros assim; se não houver lá e tiverem tempo e vontade de ler, eu mando vir da França. É uma coisa que vale a pena.
(Sr. Guerreiro Dantas: O Senhor mostrou já, em outras reuniões, a ordem feudal como exemplo do amor trinitário, da presença da Santíssima Trindade na sociedade.)
Tanto mais, meu filho, que se a gente souber como é a Santíssima Trindade na medida em que Ela é desvendável, é muito fácil descobrir essas relações.
* A Senhora Dona Lucilia mostrava-se excepcionalmente inteligente quando esta era ligada à compaixão. Um modo aristocrático de ter pena
Agora, eu poderia dizer alguma coisinha, seria pouca coisa, nem sei se não seria melhor deixar para depois, a respeito de mamãe, mas sem relacionar com a Santíssima Trindade.
Eu tenho dito várias vezes que ela, intelectualmente falando, não era senão uma dona de casa, com a cultura afrancesada e ligeiramente inglesada também, das senhoras de boa família do tempo dela. Não se destacava nem por este tipo de cultura, ela tinha suficientemente e mais nada, nem se destacava pela inteligência; inteligência comum de uma dona de casa comum.
Chamava-me a atenção que num certo sentido ela se mostrava excepcionalmente inteligente, e era uma forma de inteligência ligada à compaixão e à ajuda. Quer dizer, ela tinha uma noção muito clara de tudo que pudesse contundir ou fazer sofrer qualquer pessoa em razão do que com ela tinha acontecido, ou da situação em que ela se encontrava, ela percebia logo.
Era uma pergunta primeira, ou era um olhar primeiro que ela deitava sobre a pessoa — era um olhar dedicado. Ela dava como ponto de partida que a pessoa sofria, dado que toda criatura humana sofre. E procurava ver qual era o ponto dolorido da pessoa, o lado por onde a pessoa sofria, etc, e tomava um cuidado extraordinário em, nem de longe, ter uma distração, uma referência de conversa ou qualquer coisa que pudesse fazer sofrer essa pessoa de qualquer forma. Ela era de uma penetração e de uma delicadeza para isso, verdadeiramente notável.
Mas ela entendia também, dada aquela pessoa e dadas aquelas circunstâncias naquela pessoa — quer dizer, uma obra de psicologia, na anterior na era de psicologia mas de estudo de situações, mas a outra não, era de psicologia. O que ela deveria fazer para ajudar aquela pessoa e qual era a forma de compaixão que ela deveria manifestar para atender aquela forma de sofrimento. Nisso ela era muito, muito fina de percepção e muito delicada no pôr a compaixão dela. Porque a compaixão se exprimia muito mais pelo olhar e pelas maneiras, do que pelo que ela dizia.
Era quase impossível ela procurar desvendar o santuário do sofrimento de cada um com palavras indiscretas, que a introduzissem numa intimidade que a pessoa, às vezes legitimamente, não queria dar, às vezes por amor próprio, por mil razões. Mas no modo de tratar e de agradar, ela de tal maneira tão discretamente realçava o que ela via de bom na pessoa, o que ela via de honroso na pessoa, o que ela via que compensava a inferioridade da pessoa, etc, que a pessoa se sentia envolta pelo afeto dela, mas não se sentia nem um pouco solicitada ou penetrada, invadida, por uma comiseração inoportuna. Ela revelava nisso muito tato. O que era mais uma forma de ter pena.
(Sr. Guerreiro Dantas: Um modo aristocrático de ter pena.)
Exatamente, um modo aristocrático de ter pena. Isso deixava entender à pessoa e a todo mundo que ela tratava, que se quisessem entrar na bondade dela, ela era uma porta que se abriria, mas nunca era uma porta que se abria e chamava alguém para dentro, isso não. Mas deixava entender, pelo modo de tratar todo mundo, que ela era uma porta que se abriria...
* Às vezes quando o Sr. Dr. Plinio truculentizava contra alguém, a Senhora Dona Lucilia procurava olhar o lado bom também
E às vezes, isso aparecia em termos explícitos quando se tratava de tomar a defesa de alguém que ela achava que era objeto de um ataque por demais carregado, ou um ataque que pelo menos não tomava em consideração alguma atenuante que a pessoa tinha.
Então, por exemplo, ela tinha um filho muito truculento, e esse filho não fazia cerimônia de sair de lança em riste. Ela às vezes ouvia e dizia:
— Coitado!... Também não tanto assim...
Mas um coitado que me fazia sentir no que aquele homem era um sofredor. Quase como quem pedia compaixão para ela pessoalmente.
— Filhão, você não notou que ele tem tal qualidade?
— Mas, mãezinha, a senhora não nota que se a gente for ver isso, dá em liberalismo?
Ela dizia:
— Não, você pense o que quiser, mas ponha a verdade inteira, ponha as qualidades também.
Naturalmente, isso me impressionava de um modo muito favorável, nem preciso dizer.
Se acontecia de numa situação critica ela ter que se aproximar e falar com a pessoa, ela falava como quem entra nas pontas dos pés naquilo que chamei a pouco o santuário da desventura da pessoa. De maneira que ela tratava gradualmente e sondando o terreno; a pessoa, se quisesse, do modo mais fácil do mundo, faria entender que preferia que não entrasse. Ela encerrava a coisa e estava acabado.
Mas não pensem que ela via apenas o lado positivo das pessoas. As amarguras da vida, as coisas duras que a vida tem, ela não só via bem, mas ela nos prevenia para estarmos prontos para isso. Naturalmente, tudo isso era visto não com o tipo de experiência da vida de um homem, mas experiência da vida de uma senhora que vive no lar e que tem os fatos do lar.
Esse tipo de mulher, no meu tempo de moço não sei porque chamavam mulher-paraíba, mulher feminista que sai da casa, que toma atitudes, que conhece a vida dos homens, fecha negócios, coisas desse gênero, ela nunca teve. Negócio ela entendia quase tão pouco quanto eu, equivale a dizer nada.
Ela era de um jeito que era preciso ter visto. Eu dou um exemplo que ela contou mais de uma vez. Eu acho que já contei o caso de uma Da. Benedita...
* A Senhora Dona Lucilia, quando jovem cuida da Da. Benedita com todo carinho e no final a Da. Benedita agredece à irmã que não ligava para ela
Meu avô tinha um escritório de advocacia, ele era advogado. Entre outros clientes tinha uma viúva rica e sem filhos, chamada Da. Benedita não sei do que. A Da. Benedita morava, ela era rica, tinha uma casa muito boa, mas muito grande, morava sozinha nessa casa, perto da nossa na rua Barão de Limeira. Eu até, do lado de fora, tenho quase certeza, de que uma casa da qual me lembro era a casa de Da. Benedita. Bem, jardins, criadas, etc, estava aí a vida de Da. Benedita.
Mas a Da. Benedita era muito “pau”, muito cacete e acontece que meu avô tinha pena de Da. Benedita, porque ela tinha uma saúde boa, tinha tudo para fazer uma vida feliz, mas ela vivia numa espécie de isolamento por causa do mau gênio dela, mau temperamento; era uma senhora moralizada, mas de um trato muito recusável.
Acontece que a Da. Benedita, de repente, adoeceu gravemente, e escreveu uma carta a meu avô, dizendo isso e pedindo se não podia arranjar uma criada para ela, qualquer coisa assim, um favor desses entre meio-vizinhos. Meu avô procurou minha mãe e disse:
— Olha, a Da. Benedita escreveu-me essa carta, etc, e você vê que sua mãe não tem condições psicológicas para dirigir aqui nossa casa com tanto movimento, etc, e ainda cuidar de Da. Benedita. É nossa obrigação de caridade, mandar vir Da. Benedita aqui em casa e tratar dela. Tem aqui tal quarto, eu vou mandar vir a Da. Benedita e você vai tomar sobre si de tratar Da. Benedita e quero que Da. Benedita saia de casa encantada com sua caridade.
Bem, ela de pena de Da. Benedita e para agradar meu avô que para ela era nem sei o que, ela logo topou a parada. Meu avô ficou tranqüilizado; chegou Da. Benedita, minha mãe a recebeu com mil afagos, acompanhou Da. Benedita ao quarto, etc, e tratou a Da. Benedita como mais não se podia tratar.
A mãe de Adolphinho era seis anos mais moça que mamãe, mas já estava francamente em idade de ajudar a tratar de Da. Benedita, mas tratava a Da. Benedita com a ponta dos dedos, entrava no quarto de Da. Benedita uma ou duas vezes por dia, já pronta para sair à rua, toda vestida, etc.
—Ohh, Da. Benedita, eu não quis sair à rua sem saber como a sra. está... a sra. já está melhor não é?
O que equivale a dizer para o doente “não amole”... E saia logo. Isso uma vez ou duas por dia e acabou-se.
E mamãe dizia:
— Iaiá, você não pode fazer isso, você não vê papai que quer isso e tal, depois coitada da Da. Benedita...
Minha tia dizia:
— Olha, você vai ver, você está fazendo por Da. Benedita absurdos de dedicação, não tem o menor propósito, e a Da. Benedita quando sair daqui, se ela não sair num caixão mas sair viva, ela sai e vai agradecer para mim...
(Sr. Nelson Fragelli: A irmã disse isso?)
A irmã, a mãe de Adolphinho. E ela punha em dúvida que a coisa chegasse a esse ponto, porque a diferença de trato era fabulosa. Dito e feito!
A Da. Benedita sarou e se preparou para voltar para a casa dela, e aí tinham várias pessoas juntas para se despedir dela, acompanhar até em baixo, etc, entre outras estava a mãe de Adolphinho, tia Iaiá. A Benedita disse:
— Iaiá... Iaiazinha, vem cá! A você que foi meu anjo durante esse período...
A maldade humana é isto! Não adianta discutir, é isto. É repugnante até.
— Vem cá, me dá um beijo, olha um presente... Lucília, muito obrigada.
Está acabado. Mamãe não dizia, mas enquanto mamãe nunca foi bonita, a mãe de Adolphinho era muito bonita, na linha em que vovó era bonita e fascinava Da. Benedita e, portanto, qualquer agradinho de minha tia a Da. Benedita brilhava — as dedicações sem nome de mamãe ela tomava assim. Neste ponto também, está a maldade humana. Isso vocês tomem como certo.
- Fazer o bem sem esperar retribuição
Mamãe contava para mim e uma vez contou na presença de tia Iaiá, e tia Iaiá acompanhava com atenção e dando risada em alguns trechos e no fim disse que foi exatamente com ela contava. Ela contava na linha de compreender o que era a criatura humana; e que se eu fosse bom com os outros, não esperasse recompensa.
(Sr. Guerreiro Dantas: Mas nunca desincentivando o Sr. a ter essa dedicação.)
Não, não, a ter, mas levar a ponto que nem pensasse em retribuição, porque esta não vinha. Bom, moral do caso é que se eu não tivesse sido formado assim, pela falta de retribuição que vem, me tornaria um homem ruim, e isso ela não queria, queria que eu fosse bom, como ela era e como ela achava que era o pai dela.
(Sr. Guerreiro Dantas: Da parte do pai dela o gesto tem grandeza)
Ele tinha gestos de magnanimidade de desconcertar. Ela contou vários, eu creio que já contei aqui, mas a gente vê que nesse ponto a formação do pai sobre ela foi muito eficaz; daí esse afeto, que é preciso dizer, as três filhas tinham pelo pai, um afeto que eu não vi elas terem a ninguém — não vi que nenhuma filha tivesse com um pai, uma coisa sem igual, elas veneravam o pai. Queriam bem a mãe, respeitavam, mas veneração era com o pai delas.
(Sr. Guerreiro Dantas: A gente vê que ele tem um papel muito relevante na vida do Sr.)
Mamãe foi quem me formou nisso, não estou analisando se eu correspondi ou não a graça dessa formação, mas por esse modo caseiro, não deu uma filosofia, ela não falava do pecado original, nem nada disso, mas ela contava o caso e ficava entendido.
Bem, agora, vocês estão vendo que uma pessoa que de um fatinho como o da Da. Benedita, tira esse conclusão, vê muito mais do que o comum das senhoras vêm a respeito disso e manifesta para este efeito uma lucidez de vistas, uma penetração, um discernimento, não vamos falar de um discernimento dos espíritos, mas um discernimento das psicologias, das mentalidades muito grande.
(Dr. Edwaldo Marques: Se fosse necessário ela faria tudo de novo, sabendo do resultado.)
Faria tudo de novo. Aproveitando a experiência da última vez para arranjar jeitos de melhor servir a Dona Benedita. Porque ela não fazia para a Da. Benedita, não fazia para receber retribuição, fazia para ser boa com a Da. Benedita, mas no fundo está Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sagrado Coração de Jesus. Aquela frase dEle a Santa Margarida Maria é isso: “Eis aqui o coração que tanto amou os homens e por eles foi tão pouco amado”. Toda a atitude de Nosso Senhor durante a Paixão foi isso. É um dos traços pelos quais se dobra os joelhos diante dele, porque levou esta perfeição moral a um grau inimaginável. Basta ver o Longinus que perfurou com a lança o coração dEle e saiu uma água que curou o Longinus de uma espécie de semi-cegueira. Isso é Ele a conta inteira.
Assim, haveria outros casos dela a contar. Havia muitas coisas desse gênero que ela sabia arranjar, mexer, acalmar.
* Enquanto o Sr. Dr. Plinio preparava a aula para a faculdade a Senhora Dona Lucilia discute em tom de briga com Da. Iaiá por causa do nazismo e do divórcio. A intransigência da Senhora Dona Lucilia
Por exemplo, ela com a irmã mais moça. Ela era muito mais ligada à irmã mais moça do que com a mãe do Adolphinho, ela se dava muito bem com a mãe do Adolphinho — a mãe do Adolphinho, sobretudo num certo período vinha muito aqui, etc, se davam muito bem, às vezes discutiam porque a mãe do Adolphinho, por causa da influência do marido, era meio nazista, mas ela não entendia o que era o nazismo, era a favor do Hitler porque o marido era alemão, mas mamãe não perdoava.
Uma vez eu estava trabalhando no meu escritório e percebi que a criada havia levado bandeja com lanche para as duas, numa sala onde mamãe costumava ficar; eu ouvia de longe a conversa das duas mas não prestava atenção porque estava preparando aula para a Faculdade de Direito. Em certo momento eu vi que as duas elevaram o tom e que a coisa tinha tomado o tom de uma briga, e isso em mamãe raríssimo, mas raríssimo, acho que o fato único na vida, parei até de trabalhar para ver um pouco o que se passava, porque conforme fosse eu interveria.
O assunto era porque a mãe do Adolphinho era nazista e divorcista, e ela era anti-divorcista e anti-nazista e por causa disso acendeu-se uma discussão tal que eu me levantei e fui até elas:
— Que é isso? Que propósito tem isso?... Disse brincando.
As duas entenderam e a coisa passou.
Aí eu vi que ela julgou os princípios dela contundidos, negados e não estava eu perto para defendê-los, aí ela entrou em cena em tom categórico, discutindo, esteve a ponto de uma briga séria. Não entrava o amor próprio, mas entrava o senso da defesa dos princípios, que eu nunca tinha visto ela tomar e me explico, porque quando eu estava perto eu já ia de lança em riste por cima da pessoa.
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