Conversa de Sábado à Noite – 26/7/1986 – p. 13 de 13

Conversa de Sábado à Noite — 26/7/1986 — Sábado [VF 46] (Neimar Demétrio)

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Quais são os temas?

(Sr. Gonzalo Larrain: Tem uma série de temas, graças a Deus, porque quando falta tema é um problema.)

Exatamente, viu? Isto faz até uma rima, viu?

(Sr. Gonzalo Larrain: Como?)

Forma até uma rima: onde faltam os temas sobram os problemas.

(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor não poderia desdobrar o quadro da Reunião de Recortes, é um quadro que vem desde 64, não é?)

Eu falei do tempo do Jango, não é? Nós tivemos a revolução de 24, depois 32, depois 64; eu falo do tempo de 64. Mas, você diz que desdobramento mais do que tema, eu poderia dar.

(Sr. Guerreiro Dantas: Não, agora não, em outra ocasião.)

Em outra ocasião sim, se pedirem, com muito gosto. Eu tenho a impressão que por hoje a linha geral ficou explicada, não sei bem.

(Sr. Nelson Fragelli: O senhor gostou da reunião, Sr. Dr. Plinio?)

O João disse uma coisa que coincide com uma impressão minha, não é uma certeza, mas a coincidência entre a impressão dele e a minha, tem seu significado, e que é a seguinte: que na vida da TFP há assim uns cumes que indicam às vezes uma era que se encerra e uma outra coisa nova que vai começar. E que reunião de hoje tinha certo ar de cume.

(Sr. Gonzalo Larrain: Muito de abertura também.)

Exatamente, não que fosse uma reunião que comparativamente às outras reuniões é mais alta, é outra coisa, é um encerramento de uma era histórica, não é uma era histórica geral, mas é uma era histórica nossa, e que, portanto, se passava para entrar para…

Havia alguma coisa assim, e o ambiente que me agradou é a viveza excelente dos nossos “enjolras”, mas que nós não “enjolras” estávamos sérios e percebendo a seriedade da situação e vendo que a coisa não era para brincar.

Agora, essa sensação de que não era para brincar é uma utilidade para a nossa construção que é uma coisa que eu, eu não sei o que dizer. Porque nada nos faz mais mal do que um certo relativismo, quando nós somos levados a achar que tal coisa é para brincar, e nada é sério, nada nos faz mais mal. E então eu acho que isso é um ponto capital, bom, é um ponto da reunião.

Eu acho que vale a pena sublinhá-lo para indicar o espírito com o que nós devemos tomar os imprevistos que já a próxima semana podem oferecer.

(Sr. João Clá: Porque se não voltar atrás é certo que na próxima semana já é um novo capitulo.)

Um novo capitulo…

(…)

(Sr. Gonzalo Larrain: o senhor disse que a voz de Deus fala às pessoas. Agora nós queríamos saber como é que a voz de Deus se manifestou e manifesta ao senhor.)

A voz de Deus é uma metáfora aqui para significar uma ação de Deus, e uma ação de Deus e correlatamente uma ação da graça…

(Entra o senhor Mário Navarro.)

Meu Mário, pega uma daquelas cadeiras ali ou da sala de jantar, a que você preferir.

Correlatamente pode significar uma ação da graça e que vem meio misturada com uma ação da natureza. Agora, se eu me reporto ao meu tema — olha aqui, eu acho que podia fechar esse aquecedor aí; você sabe fechar isso Mário? — se eu me reporto ao meu tempo de menino, aquela inocência primeira que seria quando a pessoa, na época de pegar a bola dourada, entre as várias bolas optar pela bola dourada. Isto é uma metáfora usada no MNF de uma criança — você talvez tenha ouvido falar disso na reunião passada — a criança prefere a bola dourada às outras bolas, etc.

Há uma ação da qual eu falei, do senso do ser, que tende a passar do elementar e primário para a plenitude, tende expandir-se do que é semente para a árvore inteira, e que existe nesse gosto de bola dourada, já pelo passar da bola comum para a bola dourada, e todas as propriedades da inocência tendem aí naturalmente a chegar a um determinado auge, isso é um movimento da natureza, a inocência é apoteótica por natureza, ela quer chegar à apoteose de si mesma por natureza, o que está na natureza do homem, é de experiência comum, mas que se justifica com a idéia do estado de prova. É próprio do estado de prova passar de um estado inicial para a plenitude, progredir, a prova é um obstáculo que aparece no meio e que o indivíduo deve dar a prova de sua bondade, a prova de sua fidelidade.

Mas essa prova é um elemento fundamental, mas o movimento propriamente dessa etapa é um movimento para a plenitude. Trata-se de saber se esse movimento para a plenitude vence ou não vence um obstáculo que em determinado momento aparece, que é a prova, a tentação, etc.

Agora, além desse movimento, que era muito forte em mim e que está na raiz da minha truculência e que suponho que esteja na raiz de uma tal ou qual vitalidade que eu ainda conservo na minha idade, quer dizer, a tendência para a plenitude, para pegar a coisa inteira, para realizar por completo o pleno da vitória, etc., etc., além disso, havia momentos em que aspectos da natureza, da natureza, hein!, e muito notadamente aspectos da Igreja Católica, mas que para mim formava confusamente o mundo que eu via, eu não sabia distinguir entre a natureza e a graça, bem, tomavam um grau de expressão muito mais forte, muito mais carregado, do que anteriormente, e mais carregado do que as outras impressões. E eu me lembro que sem ter a menor idéia de que isso fosse da graça, e que nem sequer que proviesse de uma ação de Deus através da natureza, eu tinha assim transbordamentos e vibrações pelos quais eu às vezes tinha a impressão — eu tão calmo, hein! — a impressão de vibrar inteiro, de alegria, de felicidade.

Você encontra um pouco disso presente no Santo do Dia que eu fiz hoje à noite, de felicidade etc., que se alguém me dissesse: “isso baixa do céu”, eu diria: “é mesmo”. Mas eu não comunicava isso a ninguém, porque eu julgava um fato comum que se passava com todo mundo, e não me lembrei de falar isso com ninguém; mas então eram ápices, mas que tinham isso de característico que vinha junto o deleite que o senso do ser tomava pela coisa e mais algo que — veja como se passa a coisa hein! — que era percepção natural do sentido psicológico e simbólico da coisa. Talvez fosse melhor dizer do sentido psicológico e simbólico da coisa. E, através disso, uma outra coisa, que era a tal coisa que me fazia vibrar, mas que tinha freqüentissimamente, como tema, como ponto de partida, considerações de coisas naturais.

Embora, em nenhum lugar, em nenhuma circunstância , em nenhuma coisa, isso tivesse o valor, e eu desse a isso a importância que eu dava ao que se passava no Coração de Jesus, quer dizer, eu compreendia bem, que aquilo era o ponto chave de tudo e era verdadeiramente importante, aquilo era ponto de referência de tudo, e o resto eram os arc-boutant do negócio, mas que o ponto era aquele, era a Igreja Católica Apostólica Romana.

Mas, eu entendia também, correlativamente, que se todas essas coisas tinham na Igreja o seu ponto de referência, de algum modo a excelência de todas essas coisas brotava da Igreja. Como? Eu não sabia. Depois, com um pouco de estudo de doutrina católica, com a experiência, etc., etc., isso foi tornando claro.

Eu dou três, quatro ou cinco exemplos:

Um, é o exemplo surrado, mas a questão é que representou muito para minha alma: Veneza, as vistas de Veneza, etc., etc. Veneza estava muito mais em foco na minha infância do que no meu tempo de homem, e, sobretudo nesse período final da minha vida, muito mais em foco. Quer dizer, havia brinquedos, puzles de Veneza, e tudo. Veneza aparecia muito, era uma coisa do tempo.

E, por isso, eu tinha, vira e mexe, coisas de Veneza sobre os olhos, não boas obras de arte, eu não tinha, mas tinha isso aí, muito freqüente. E, eu vendo aquilo, eu tinha uma sensação de plenitude, de excelência, em primeiro lugar por estar à beira d’água, e daquela água. Minha idéia de uma coisa à beira d’água e mirando-se na água, ela adquiria com isso, ela e a água, adquiria com isso uma correlação, e uma beleza que por assim dizer, a água lavava com a sua presença, simples presença, lavava aquilo e dava àquilo um valor que ele nunca teria longe da água. Eu sempre fui um entusiasta da água, debandado. Meu gosto pelos cristais, é uma água parada, endurecida e parada, por isso sublimada, mas nesse sentido…

Por exemplo, Chenonceaux, deixou-me… mas sem saber o que dizer, ouviu? Literalmente sem saber o que dizer, fotografias também de Chenonceaux, não é visitando Chenonceaux muito mais tarde, depois de jovem, eu fiquei sem saber o que dizer, porque estava a água ali, e aquele consórcio água-terra, para mim era mais ou menos como consórcio Terra-Céu, quer dizer, a água era uma figura do Céu, e daria um complemento, que eu andaria mal se eu comparasse com a moldura e quadro, porque não é, é muito mais do que moldura, é um… eu não sei o que é que é, mas é a água.

Uma cidade que tivesse como ruas água, como casas palácios, como habitantes venezianos, com tudo o que há de poético, de misterioso, de aventureiro. A gôndola, a ponte dos suspiros, o infortúnio, um mistério malévolo e majestoso que habita aquilo, que persegue, mas ao mesmo tempo recebe as suas deliciosas e majestosas comodidades à beira d’água, o aveludado daqueles palácios de Veneza, a guitarra durante a noite, tudo isso tinha para mim uma expressão como eu não sei dizer.

Entrava aqui, uma percepção muito clara, se bem que em ponto infantil do lado psicológico. O que é que aquilo queria dizer para a minha alma, por que queria dizer para todas as almas que passassem por lá. E eu vi que os artistas de meia tigela que tratavam do tema Veneza em brinquedos para criança, pegavam isso e queria fazer sentir isso as crianças.

Agora, por outro lado me davam brinquedos com isso, eu deduzia: “quem me deu, sentiu Veneza como eu sinto, e por isso me deu Veneza para eu sentir também.” Não era nada, era um presente comprado na loja, para oito, dez, quinze, vinte crianças, uma torre de presentes para dar no natal. De repente: “a quem dou essa Veneza? Plinio.” Escrevia lá: Plinio e ia para o Plinio. E me regalava, não é?

Mas eu percebia que entrava o senso do ser, truculento e à procura de perfeições, e que se regalava com as superperfeições terrenas que a vizinhança da água com o luxo porque é disso que se trata. Depois um luxo à minha maneira, grave, sossegado, mas de lança na mão, de maneira que é um luxo, que é de um delicioso repouso, mas aberto para os entusiasmos da batalha, assim, bem equilibrado, pensativo, mas conspirante com inteligência, assim como um tecelão tece um tapete, um conspirador de Veneza tece a conspiração, tudo isso junto.

(Sr. Nelson Fragelli: Hahahahahahahah.)

O que é que há meu Nelson, hein? Eu daqui a pouco vou me exprimir em termos menos enfáticos.

(Sr. Nelson Fragelli: Não, por favor, continue assim.)

Bem, tudo isso junto era coisa natural, ao menos eu suponho, e que a minha natureza entrava inteira em Veneza. Bom, era tal que, fato raríssimo comigo, nunca me passou pela cabeça, qual era o correlato gastronômico de Veneza, quais são os pratos do lugar, as delicias do lugar, aquilo me enchia inteiramente.

Os cavalos de Veneza, o palácio dos Doges, nem sei o que dizer, nem sei o que dizer.

Agora, por cima desse psicológico, aparecia todo o mundo das almas, então como isso era diferente de outras almas, e como isso brilhava no universo dos estados de espírito, a começar por aqui, até Veneza, passando pela França, com os pés firmes na minha cara Deutschland e tudo o mais, vocês compreendem bem que entrava um certo senso das nações, com almas coletivas, etc., etc., entrava nisso, mas Veneza com um ponto de pérola de primeira, Veneza.

Agora, por cima disso, tinha uma coisa maior, que eu não sabia dizer o que era, e era um estremecimento, se dava às vezes com objetos, muito mais modestos, mas um estremecimento de certa coisa, onde eu sentia uma certa harmonia, uma certa perfeição, que eu não era capaz sequer de formular, mas que era o auge de tudo isso, eu acho que era a graça. Então descida do Céu, e muito relacionada com a minha vocação, pelo seguinte, entrava aí um discernimento dos espíritos, eu percebia o senso católico que havia naquilo, e percebia o contrate com a motocicleta, com o jazz-band, com o gramofone, tocando, por exemplo, músicas do tipo que tocavam numa fazenda que eu ia, música chamada “cabocla de Caxangá”, minha cabocla vem cá. E que depois começava assim: “Laurindo punga, Chico Tunga, Zé Vicente, essa gente tão valente do sertão de Caxangá.”… horror! Rejeição completa! Caxangá deve ser um lugar onde há gatos com bichos, com lesmas, pulgas, sei lá com que histórias. A Ulla inteira saía bramindo aqui, mas inteira.

Bem, mas Veneza no mais alto disso, não é? Eu percebia bem que Veneza não teria sido assim se não fosse católica e que em tudo isso com as circunstâncias locais, com o aporte às vezes deformante dos homens, o que quiser, havia o precioso sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo ali, havia a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, havia uma série de coisa que eram sobrenaturais.

A gente vê que é um modo de ver a Civilização Cristã com uma fímbria de sobrenaturalidade, de um discernimento dos espíritos enquanto difuso e misturado nos fatos, nas pessoas, nas coisas. Depois ver isso também, enquanto difusa dentro de uma ação da graça, eu não sabia dizer que era a graça, mas sabia que era a Igreja. Então, uma ação da Igreja, e do sangue de Cristo, se me dissessem: é o sangue de Cristo, eu tomava como uma banalidade, de tal maneira eu julgava evidente. É isso mesmo, está muito bem dito, vamos para a frente.

Então uma mistura de sobrenatural com natural de ponta a ponta. E a aplicação conjunta de pendores naturais dados pela Providência, e ação sobrenatural da graça, mas que eu vejo que preparava completamente para a vocação. Então coisas muito mais comuns do que isso usava naquele tempo, por exemplo, umas coisas para cortar pão, que hoje o pão se corta na copa, e vem cortado para a mesa.

Naquele tempo, eu não sei porque, o pão não vinha assim, vinha, ao menos para a mesa das crianças, vinha pão grande; eu acho que era para as crianças irem cortando fatias, eu não sei o que é.

(Dr. João Clá: Cortado na hora é muito melhor, vem muito mais fresco, muito mais agradável.)

Ah! Talvez isso.

Bem, com a faca de cortar pão clássica, com o cabo branco pintado, clássico. Bem, mas sobre umas rodelas de porcelana, muito comuns, não tinha nada de luxo, tinha em qualquer casa, pequena burguês, burguesa, modesta tinha, e em geral, meio impresso na porcelana, não sei bem como é, não é uma verdadeira pintura, é uma porcaria comercial qualquer, bouquets de flores, e de casa para casa mudava de bouquets de flores. Tem um objeto assim aqui, mas não tem nada de exaltante como beleza, mas que dá um pouco, a idéia do que isso era, mas às vezes por coincidência, vinha um bouquet de flores muito bonito, muito leves, muito delicados, muito atraentes, esses bouquets de flores, eu às vezes olhava e me dava um épanouissement de alma desse gênero, mas que era um épanouissement de alma, que vinha tudo junto. O modo das flores, às vezes era a inocência das flores, às vezes era pelo contrário a elegância das flores, elegância e inocência não são coisas que sempre andam juntas, há formas encantadoras de inocência elegante, mas há elegância meio “fassuras”, sem nada de 6º Mandamento, mas meio sofisticada, meio gozadoras da vida.

Bem, eu olhava para uma coisa dessas, e eu tinha vontade de levar escondido para o quarto e ficar olhando, mas como ninguém toleraria, porque julgaria que era “gagueira”, eu deixava, mas me separava disso com tristeza. Se me oferecessem uma coleção de coisas dessas para eu ter escondido, eu comprava, mas ninguém colecionava, e ninguém pensava isso assim.

Outra coisa que faziam muito no meu tempo e que depois saiu completamente dos costumes, era na sala de jantar, na refeição, cristais, mas assim: cristal branco para a água, depois vários cristais de cor para vários tipos de vinho, até o cristalzinho pequeno para o cálice de licor no fim da refeição, e eu ficava olhando para aquilo e olhando o jogo de luz dentro do cristal, mas mais conversando com os cristais do que com as pessoas, encantado com os cristais.

Tudo isso era objeto de uma operação assim, e eu creio que vocês reconhecem nisso, uma tendência para ambientes, costumes e civilizações, não é só nisso, mas é largamente. Aí está o que eu tinha para dizer.

(Sr. Gonzalo Larrain: Isso o senhor chamaria propriamente a voz de Deus?)

A voz de Deus é um certo auge que dava uma, um certo tremor de alegria e de emoção que estava na fase final desses processos, mas que estava na fase final mais discreta — não — que estava na luz difusa desse processo também, embora não fosse com tanto auge.

(Sr. Gonzalo Larrain: Mas, na linha da vocação.)

Isso veio mais tarde, não é?

(Sr. Gonzalo Larrain: O senhor falou de menino, agora como é que se manifesta essa voz de Deus hoje?)

Tem o seguinte: nisso que eu estou descrevendo a vocês entrava o elemento fundamental e ponto de partida do processo da voz de Deus, se você quiser, porque no choque com a Revolução, eu tomei consciência, eu tomei conhecimento de que havia alguma coisa que queria destruir isso, e o ranger, e o pranto de todas essas coisas dentro de minha alma, porque não queriam perecer, porque não deveria perecer, porque elas deveriam ser salvas. Era uma convocação minha a um ato de fidelidade, e a um ato de oposição absoluta, que vinha desse amor, quer dizer, esse mundo me encanta, o outro eu detesto, eu neste outro eu não quero viver, então propósito, percebo que o outro é contenível, a minha é contê-lo e esmagá-lo, porque sem isso não me interessa viver, podem levar a breca…

(…)

de que essas coisas — entendam o alcance metafórico da expressão — que se elas desaparecessem haveria um pranto geral, não dos homens, mas de todas essas coisas e que no fundo, por absurdo que fosse, Deus chorava, e que é naturalmente o que Nosso Senhor Jesus Cristo deve ter sofrido vendo isso, não é? Profeticamente prevendo isso.

E a idéia de que isso não podia morrer como um absoluto, como se dissesse que Deus não pode morrer, isso é uma coisa tão ligada a Deus, tão presa ao absoluto que Deus não pode morrer, e se por acaso Deus morresse, eu morria junto, mas não pode ser, e vocês não têm o direito de fazer isso, e eu me oponho, aconteça o que acontecer, ainda que aconteça, que a minha vida se tenha gasto numa oposição vã, eu prefiro ter vivido um século me opondo em vão, e depois descendo para a sepultura, do que ter vivido em paz com vocês, porque com este crime eu não pactuarei nunca, entendam!

Bem, você dirá: “mas onde está a voz de Deus nisso”? Está em tudo, está, por exemplo, no ter feito disso uma condição de vida mais preciosa do que a própria vida, o ter compreendido que esta presença de Deus nas coisas, a ser extirpada, o que vinha depois era a presença do demônio em todas as coisas, que evidentemente eu não queria, mas não queria de um não querer total: Não quero.

Portanto, Ódio perfecto, ódere in te. Eu te odiei com ódio perfeito, não quero mesmo e não quero de nenhum jeito. Bem, em tudo isso a voz de Deus, em tudo, eu nem sei dizer no que. Como se alguém perguntasse para mim: Onde está a vida presente no seu corpo? Eu digo: olhe para mim, eu não estou morto, nem o Ulisses Guimarães está morto, quanto mais eu. Eu não estou morto. Mas em que quadrado de sua mão está a vida? Tudo, ainda que seja uma vida de ocaso, ela está presente…

(…)

quer dizer, essa é a voz de Deus.

(Sr. Gonzalo Larrain: Magnífico.)

Para vocês isso está claro? Meu Guerreiro?

(Sr. Guerreiro Dantas: Ao lado disso que o senhor acabou de comentar há algo de Deus por onde o senhor compreenderia essa vocação.)

Não, é o nescedouro, é nascedouro, se eu for combater não posso combater só, se eu tenho que viver até o fim desse combate, eu preciso de gente unânime comigo que toque o combate comigo, e a minha solidão, eu posso dizer que na minha solidão e no meu abandono, tudo chora, porque é o me rejeitarem no caso é como rejeitar tudo isso, porque na relatividade do ambiente brasileiro, essas coisas eu sei que estão em mim, de um modo satisfatório, e que, portanto, quando eu me recuso é por isso.

Então, está na natureza social do homem, sociável do homem que ele procure os semelhantes, que ele procure se cercar dos semelhantes, e que ele olhe para os homens e diga: “vocês são chamados como eu, eu os conclamo todos, aquele brado de São Luís Maria Grignion de Montfort: ‘Se alguém é de Deus junte-se a mim’; vamos lutar.”

Quando eu li aquilo na “Oração Abrasada”, eu pensei: “há quantos anos eu sinto isso!” E daí a idéia de uma ordem religiosa, mas é instintivamente, da qual eu seria o fundador, porque eu via que os que viriam, provavelmente teriam menos intenso tudo isso no indivíduo, e que importava como que confirmar na fé os meus irmãos. E que era essa ordem religiosa que tinha que esmagar aquilo que eu percebia que era articulado, eu não tinha a idéia toda do Delassus na cabeça, mas quando eu li o Delassus, é como uma mão que entra na luva, é aqui, está acabado, não tem conversa.

Quer dizer, tudo isso forma um todo tão homogêneo, e tão imediatamente homogêneo, que não sei o que dizer. Então, eu me joguei para dentro da conjuração, anti anti-cristã, mas assim como a água que você abre a comporta e ela sai.

(Sr. Nelson Fragelli: O senhor já nasceu para isso.)

É, já, já. Porque tudo isso é uma coisa implícita na outra. Implícita na outra.

(Sr. Nelson Fragelli: O senhor atraiu essa conjuração anti anti-cristã.)

É, e estamos aqui conjurando, essa é a nossa conjuração.

(Sr. Gonzalo Larrain: Quando se fala da voz de Deus, é o mesmo que dizer que Deus fala, se bem que Deus não fala com a boca.)

Não é uma visão, não é uma revelação pessoal de Deus ali.

(Sr. Gonzalo Larrain: A gente vê que a voz de Deus no senhor era muito intensa.)

Muito, muito, muito.

(Sr. Gonzalo Larrain: O senhor tinha a noção de que essa voz de Deus era muito única e íntima para o senhor?)

É, mas mais do que íntimo era, em certo sentido da palavra, um outro, era, o analogado primado meu era Ele, e Ele, eu era, portanto, uma coisa análoga a Ele, e que estava para Ele como a música que está na mentalidade do músico…

(…)

muito menos a realidade do que essa idéia que eu estou dando, não é? Então, todos os estados de alma do homem no órgão se exprime, estados de alma virtuosos, todos eles se exprimem, em qualquer alma Deus toca a sua melodia, na minha essa melodia chamava-se Contra-Revolução…

[Vira a fita]

em certo sentido da palavra, mas tão arqui, que se eu não conhecesse bem a doutrina católica, eu não teria coragem de mencionar, é só porque eu conheço em que sentido a doutrina católica entende essa palavra, é que eu tenho coragem de mencionar de joelhos, com veneração, etc., não é?

(Sr. Gonzalo Larrain: E agora como o senhor sente isso.)

Isso teve um prosseguimento assim: passou por várias etapas, e mais ou menos quando eu fiz uns 25 anos, mais ou menos, uma coisa assim, pareceu ter tomado uma fixidez e um definitivo, que não tinha mais esse prosseguimento, e que depois era ficar naquele ponto e lutando. Mas, de fato, de vez em quando, olhando para trás, eu percebo que foi percorrido o caminho, mas sem eu perceber na aparência da fixidez, uma dessas ilusões de ótica mais ou menos como quem navega no Amazonas. Me disseram que ao cabo de algum tempo tem a impressão de que o navio está fixo e que são as margens que estão correndo. Então uma coisa parecida com isso, progresso, mas que são por matizes, e não mais por metamorfoses, e que, portanto, ao longo do tempo foram se acumulando e deu no que se vê.

Está claro? Não muito, não é?

Para dar uma idéia de como isso possa ser — eu estou vendo o Fernando e o Mário em pé, vou ver um pouquinho a hora — são 2:30, não é?

Eu ia dizer o seguinte: por exemplo, houve um período que por assim dizer, eu fui conhecendo mamãe, e fui crescendo de modo visível no afeto a ela, mas depois chega um período que aquilo aparentemente parou, mas continua a progredir até ela morrer.

Eu me lembro, por exemplo, a reação que eu tive em Buenos Aires diante do perigo da morte dela — bom, eu já teria tido talvez em pequeno, numa outra ocasião tive também — mas, enfim aquilo cresce, cresce, cresce. Quando cresce, como cresce a gente não sente, tem a impressão que é uma fixidez, é uma fixidez muito tranqüila.

Diga meu filho.

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas como é que dessa fixidez o senhor lançou para a afirmação da vinda do Reino de Maria? Sente-se que a alma tem que ter crescido nesses tempos todos.)

Aqui tem o seguinte: quando eu considerava o derrotar o processo revolucionário, eu percebia que isso tinha que dar numa vitória, e achava explicitamente, que uma vez que o apogeu tinha sido a Idade Média, o que viria estaria na linha desse apogeu, e nós teríamos portanto, uma nova Idade Média. Quando o IO do… [faltam palavras] …soltou aquele livro dele: “Noveau Moyen Âge”, eu, está aí, tive um estremecimento assim, só, simplesmente com o título do livro, de que alguém no mundo compreendeu isso, eu não sabia que ele fosse IO, alguém no mundo compreendeu isso, esse russo entendeu esse negócio.

Bem, e eu sentia no meu élan para fazer isso, na plenitude, na vitalidade, com que eu percebia em mim que a Idade Média não ia morrer, numa espécie de senso do Divino que havia na Idade Média, que não podia ser morto, que não devia ser morto, alguma coisa de vagamente parecido com os discípulos fiéis de Nosso Senhor que esperaram a Ressurreição. Se você quiser, Santa Maria Margarida ao pé, Santa Madalena aos pés do Sepulcro, quer dizer, ela esperava alguma coisa, não é?

Bem, e isso me dava a idéia, portanto, de uma era de ouro que viria depois, várias vezes, eu me lembro nas minhas aulas de ginástica, negregadas, mas docemente impostas, e por isso também, pacientemente obedecidas — na hora do levantem a perna, horrível — e eu pensando nesses assuntos, e olhando ao bambuzal, eu falei já do bambuzal, do papel do bambuzal de São Luís sobre isso, nem preciso explicar mais, e me lembrando, como que a ordem do colégio, quando saía os traquinas todos, e saía a Revolução, para mim os padres eram a Contra-Revolução.

Bem, eu via passar um padre vestido de preto, com o barrete, rezando, às vezes moço ainda, era um mestre, eu não distinguia muito entre padre e mestre, ele passava rezando, etc., depois aquele bambuzal muito reto, tudo muito direito, eu dizia: isso ainda vive, e há de voltar, essa canalha… bom.

Agora, lendo o “Segredo de Maria”, livro do qual vocês sabem que eu gostei debandadamente lendo o “Segredo de Maria” eu realizei aquilo que São Luís Maria Grignion de Montfort diz: é a verdade. Então, aquela Oração Abrasada retoma esse pensamento e desenvolve. É que era preciso que fosse maior. E encontrei consonância disso, com alguns élans meus de entusiasmo pela Idade Média, esse entusiasmo pedia mais do que estava lá, eram relâmpagos, quando eu li isso em São Luís, eu disse: “aí está.”

Agora, isso foi menos uma devoção minha, porque de mim só tinha sido a intuição, do que é uma lição de São Luís Maria Grignion de Montfort. Não sei se está claro isso? Até certo ponto, como o Delassus, os livros que eu li naquela época, que eu me espanto de ver como a Providência naquela época me fez cair nas mão os livros que eram necessários para, fundamentalmente para a minha vida de apostolado. A “História de uma Alma” de Santa Terezinha, e toda doutrina do Corpo Místico de Cristo que estava lá, implícita. Depois o Delassus, depois o Tapareli Dazelli, “Traité du Droit Naturel”, aquela demonstração da propriedade privada me encantou, me regalou, eu saltei por assim dizer de alegria com aquilo, mas estava em mim, mas não tinha a explicitação que estava lá.

Mas com a explicitação veio uma torrente de coisas complementares, etc., etc., pré-pensadas, e que se dispuseram ao longo daquela estrada, como vozes aclamando aquela lição do Direito natural.

Depois coleção das encíclicas dos Papas, eu li uma coleção grande, depois foi D. Chautard, “Obra [Alma] de Todo Apostolado”, tudo isso eu precisava, antes de ir para ser deputado, eu vi tudo isso e li, não é?…

(…)

no período entre a grande provação e a eleição para deputado. Não sei meu filho se eu respondi bem ao que você perguntou?

(Sr. Guerreiro Dantas: Sim.)

Meu Nelson, você o que pergunta?

(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor no MNF disse que às vezes essa voz de Deus ficava mais discreta, e às vezes mais falantes.)

É verdade, aliás, eu aqui disse, mais de uma vez algo do gênero.

(Sr. Guerreiro Dantas: Esse senso, essas certeza que o senhor tem de que vai fundar o Reino de Maria, é uma espécie de senso interior da alma que o senhor tem de que isso é assim ou isto nasce de uma visão do mundo de hoje em função de toda fé que o senhor teve desde o inicio?)

Ambas as coisas, pelo que eu falei veio de inicio, uma grande visão penetrada de amor a respeito dessa ordem, depois o choque depois a luta. Mas no modo de amar essa ordem já estava implícita uma recusa enorme se alguém não quisesse aquilo, porque adesão a essa ordem é tão completa que eu não podia deixar de ser contundido inteiramente se quisesse modificar aquilo, porque todos os meus ideais estava ali, não é? E, eu já estava dado a esses ideais quando a coisa mudou, então mudando a coisa, natural mente vinha um élan de recusa, de batalha, mas essa batalha já era meio implícita, e realmente a imolação está implícita no ato de amor primeiro, você está vendo que dentro disso tem uma imolação colossal.

Essa imolação sim, você poderia dividir entre I romano e II romano: você pensa que entregando tudo, ganhou a batalha, agora vai começar a pior, a batalha axiológica, dê agora a aceitação da hipótese antiaxiológica. Se não der certo, tátátátátá, nela eu estou e nela estão vocês…

(…)

a ambigüidade da nossa reação diante do chamado é tal que a todo momento nós estamos recusando, e Nossa Senhora a todo momento está impedindo que nós façamos a última recusa. Eu a todo momento estou como um homem que tem uma capela grande com perto de duas mil lamparinas acesas, as quais [a] todo momento estão tendendo a apagar-se, esse é um tormento… há um deleite em ver que elas estão acesas, mas é um tormento: aquilo acende e apaga, mas é uma coisa…

(…)

é natural que seja, como pode não ser natural. Depois o zig-zag do acende apaga, é muito mais violento do que vocês talvez imaginem, é muitas vezes muito violento. Às vezes eu estou vendo um tipo, eu estou vendo que a graça está para se extinguir nele, e ele está numa tranqüilidade inconsciente e imbecil ou malévola, vendo aquilo se apagar.

Tenho vontade de me ajoelhar diante dele e pedir que não deixe apagar, mas isso; aí ele diria: “está bom, agora eu apago.” Então, o que a gente tem que tolerar é do outro mundo, mas não tem palavras, não é? Mas, simplesmente não tem palavras, está claro?

(Sr. Guerreiro Dantas: Nós fazemos então o papel duplo, de hora parecer realizar o que o senhor sempre esperou e hora trair…)

Infelizmente é.

No meio disso há uma constante, mas como essa constante é débil, é terrível, é terrível.

(Sr. Guerreiro Dantas: No fundo nós aqui podemos estar atrapalhando tudo.)

Ao menos pesando enormemente é fora de dúvida, não é?

Mas talvez quem veio de Portugal, traga um canticum novum e queira perguntar alguma coisa.

(Dr. Edwaldo Marques: Quem está longe percebe melhor que, de onde vem a força para fazer a chama acesa, porque quando a gente está perto, a gente não vê bem.)

(Sr. Gonzalo Larrain: Eu não concordo muito com essa teoria não.)

É verdade, eu me dou bem conta disso; mas também o Grupo de Portugal, do jornal falado muito sumário que eu tive tempo de receber de você até agora, eu já depreendi que é espantoso o desconcerto deles, sem ter alguém para dirigi-los mais proximamente, me representando, mas também é espantoso que fique uma perseverança de raiz dentro disso, é espantoso, é espantoso! Mais espantosa do que a nosso vocação só há uma coisa: a nossa perseverança. Porque tudo o que nós pintamos, bordamos, fazemos, que essa perseverança continue é uma coisa espantosa.

(Sr. Gonzalo Larrain: Continua a nível de rodapés.)

É.

(Sr. Gonzalo Larrain: Nessas reuniões aqui à noite a gente sente bem qual é o convite que o senhor faz para nós.)

O convite é enorme, mas sabe o que é que tem de curioso? É o seguinte: você disse: como a alma do senhor é outra. É verdade. Mas de outro lado, como ela é [uma?] [una], com toda essa elasticidade como ela é una.

(Sr. Gonzalo Larrain: É verdade que é una, mas a perseverança não se dá no ponto maior, ela se dá como que na base.)

Isso é fora de dúvida.

Se vocês pudessem imaginar que essa união de alma como tornaria mais fácil a vida de vocês, é incalculável. Quer dizer, ao invés de me olharem como uma população que tem medo de navegar, vê um navio que está sumindo no horizonte, e diz: esse cais é gostoso, que é uma coisa tremenda. Pensar o contrário: a bordo tem muito mais segurança, se tem muito mais leveza, se tem muito mais vida, do que ficar entre esse sim e esse não, manquitolando no cais e olhando para o navio que vai sumindo no horizonte, isso é assim.

Agora, uma idéia que eu não me lembro bem, se nasceu no meu espírito, ou se está no São Luís Maria Grignion, é o Grand Retour.

(Sr. João Clá: Aquela imagem de Nossa Senhora do Grand Retour que o senhor viu na França com o Dr. Luisinho.)

É, se estivesse no São Luís Maria Grignion de Montfort não me teria nascido na França a idéia. E eu não sabia bem, o que é que queria dizer ali Grand Retour, sabia que havia Nossa Senhora do Grand-Retour, sabia bem o que queria dizer, e adaptei a expressão, mas é evidente que São Luís Maria Grignion, considera o Grand Retour quando ele convoca todas aquele que sejam como ele, ele não convoca tanto um retour só dos que são iguais a ele, mas é uma convocação para que sejam iguais com ele, uma conversão para sejam iguais com ele, que é uma convocação para um retour, mas conosco tomou, e talvez estejamos enganados, eu não sei bem, uma configuração um pouco parecida com o Pentecostes. E que seria o momento abençoado em que viria uma graça que nos faria transpor o passo que nós não queremos dar, e nesse sentido eu creio que essas reuniões da noite preparam o Grand Retour, é a impressão que eu tenho.

Bem, e aqui ficaria a pergunta: como é essa união? Até que ponto Hollywood ainda não está muito presente em vocês? Por exemplo, hoje o jazz está uma forma de música — o jazz para mim é orquestra de Hollywood — bem, o jazz está uma forma de música meio antiquada meio arcaica, em face de músicas pops, e outras doidices que apareceram aí. Agora se nós tivéssemos um disco bem novo e bem fresco de jazz para ouvirmos juntos, eu não acharia oportuno fazer isso nessa série de reuniões, mas eu mostraria, o odioso e diabólico de cada uma daquelas coisas. Será que isso repercute como coisa diabólica em nós?

(Todos: Infelizmente não.)

Agora, como pode ter união comigo, quem não expulsou de si essa co-naturalidade com o jazz? Que é o contrário da atmosfera do Coração de Jesus. Se imaginasse um jazz tocado lá, para mim seria uma blasfêmia sonora. Vocês não me perguntam por quê e nem estranham, mas como é que uma coisa que pode ser uma blasfêmia sonora, encontra co-naturalidade em gente que consagrou sua vida a esse ideal?

Quer dizer, que coerência subsiste nisso? É uma coisa que não se compreende. Depois, não é propriamente a mecânica, por exemplo, durante a Idade Média a mecânica se desenvolveu muito, mas um era o estado de espírito com que o homem fazia relojoaria na Idade Média, cuidava dos relógios, outro é o estado de espírito “Hollywoodiano” , como que o homem olha para a máquina hoje e cuida dela, são duas coisas diferentes.

Ainda hoje, um relojoeiro suíço, e um homem que conserta automóveis são completamente diferentes.

Bem, agora como é que nós podemos ser unum com o estado de espírito de quem gosta de fazer um infame bricolage e nós somos unum com isso, quando nós nos demos inteiramente a Nossa Senhora? E mais ainda, hein! Somos frios com a música sacra. São Pio X, um Papa, um santo, declarou que era a própria voz da Igreja. Então, o jazz vai, música sacra, frieza… é linda, linda, vamos mudar de assunto logo.

Percebem que o Grand Retour é uma necessidade.

(Sr. Gonzalo Larrain: Nossa Senhora.)

Dinheiro. É bem exato que nós somos inteiramente desapegados do dinheiro? Eu não ousaria afirmar.

Planos infantilóides e completamente fora de propósito de acabarmos ricos, é bem exato que nós não temos nada disso? Ousar afirmar eu não ousaria.

Ou é isso ou é Hollywood; é uma contrafação do milionário. Quantas coisas assim a gente poderia dizer, não tem conta. É mais ou menos como se o indivíduo católico diante da imagem da Imaculada Conceição dissesse: “Como é bonita, como é simpática essa imagem, etc., etc., olha essa cobrinha como é interessante, olha como eu gosto dela.” Tenha paciência, onde é que nós estamos.

Então, o definir isso, o que é Hollywoodismo, e porque, no que é que nós somos Hollywoodianos, e no que é que nós devemos nos deshollywoodializarmos? Era uma operação de limpeza no interior da alma, mas uma coisa fantástica. Não era o comunismo, não; o comunismo é uma cobra morta, para nós é. A questão é outra. Isso fica toneladas na alma.

(Sr. Nelson Fragelli: E nem o amor racional para que aceitando os votos o senhor pudesse nos corrigir, nós estamos de fato num atoleiro.)

De fato não posso, se chegasse a hora e que algum resolve hollywoodianizar, naquela hora é um estado espírito que eu não posso apertar, acabou-se.

Depois, nós sabemos que o hollywoodianismo é contrário ao modelo que tomamos, estamos seguros disso. Mas como é que se pode, por exemplo, gostar tanto destas duas salas aqui, e gostar do jazz? Por exemplo, se mamãe estivesse viva, ocorreria a algum de vocês levá-la a um concerto de jazz?

Quer dizer, mais, se alguém quisesse levar, qual seria a pergunta de vocês: “mas onde está a cabeça? você não vê que não deveria ter feito isso, não deveria propor? Era claro.

Está bom, chega na hora o jazz toca: hãããnñññ.

Bom, meus caros, passou das 3:00. Deve ser 3 horas e 15 minutos, vamos andando.

(Sr. Gonzalo Larrain: Muitíssimo obrigado.)

Vamos rezar.

(Sr. Gonzalo Larrain: Muitíssimo obrigado uma vez mais.)

Quando nós devemos dizer isso a Nossa Senhora.

(Sr. Gonzalo Larrain: Nós falamos por intermédio do senhor.)

Vamos rezar, então.

Há momentos minha Mãe…

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