Conversa
de Sábado à Noite – 2/11/1985 – p.
Conversa de Sábado à Noite — 2/11/1985 — Sábado [VF 048]
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(Sr. Guerreiro Dantas: O tema da Reunião de Recortes de hoje, não seria possível passar por cima.)
É, eu acho também que não seria possível, a natureza do tema não permitiria.
(Sr. Guerreiro Dantas: Nosso desejo é que o senhor falasse ainda com mais franqueza e abertura do que disse lá. O Sr. Gonzalo Larraín disse que assistiu do senhor, com relação ao Chile, admoestações do mesmo gênero que o senhor fez hoje à tarde.)
Idêntica.
* Recordações dos presentes das admoestações feitas pelo Sr. Dr. Plinio ao Grupo do Chile: “Eu fiz pelo Chile tudo que poderia ter feito!”
(Sr. Gonzalo Larraín: Num telefonema em 1970, para o Sr. Patrício Larraín, o senhor disse exatamente o que disse hoje na Reunião de Recortes: “Eu fiz pelo Chile tudo o que eu poderia ter feito. Tudo!” E o senhor tinha mandado fazer uma campanha lá. Então disse: “Agora o Chile fica nas suas mãos e nas mãos dos membros do Grupo, porque eu não posso fazer mais nada. Se tocarem essa campanha direito, talvez se possa fazer alguma coisa. Se não, o país está perdido.” E nenhum de nós achava que o país estivesse perdido. E o país caiu. E vamos carregar até o fim da vida essa responsabilidade.)
Foi.
(Sr. Gonzalo Larraín: Hoje foi a primeira vez que o senhor disse em público ao Grupo, que o senhor não podia fazer mais nada e, que nós vamos ser julgados se o país cair no comunismo.)
Eu disse isso.
(Sr. João Clá: Em dezembro de 67, numa conversa que o senhor teve com Dr. Duncan e eu, estava comentando o Grupo do Chile, porque tudo ali estava andando muito bem e havia muita graça, etc. E o senhor dizia que aquilo era fruto da união que o Grupo do Chile tinha com o senhor. Depois disse: “Eu temo que haja uma ruptura de um só ali dentro comigo. Porque, se um só romper, aquilo se rompe como uma malha. E aí não posso garantir que aquele país não caia nas mãos do comunismo”.)
* A parábola chilena como exemplo da imensa responsabilidade de cada membro do Grupo
(Sr. Gonzalo Larraín: Nesse tempo alguém pensava!)
Eu não me lembro de ter dito isso, mas eu pensava coisas assim.
(Sr. João Clá: Agora, hoje em dia o senhor não pode se abrir com essa intimidade a respeito da relação que há entre a união do Grupo com o senhor e a salvação do Brasil. Na Reunião de Recortes o senhor tem que usar recortes…)
É outra índole de reunião.
(Sr. João Clá: Mas aqui precisamos ver a coisa de outro modo.)
(Sr. Gonzalo Larraín: E não é só o Brasil, é o mundo!)
Todas as TFPs vão arrastadas nisso.
(Sr. Gonzalo Larraín: O castigo pelo fato do senhor não poder dizer isso…)
É fora de dúvida.
(Sr. Gonzalo Larraín: Como o senhor não podia falar para os chilenos o que aconteceria com o Chile, porque daria crise de desconfiança, o senhor também não está podendo falar para os do Brasil.)
Não posso.
(Sr. Gonzalo Larraín: E é uma responsabilidade feroz em nossas mãos.)
Você diz bem: “é uma responsabilidade feroz.”
(Sr. Gonzalo Larraín: Vamos levar até a tumba o caso chileno.)
Todo o mal internacional que fez a parábola chilena naquele tempo. Frei sendo recebido na Itália, aquilo tudo…
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor não usa essa expressão, mas o Grupo está imbecilizado!)
Está, está. E uma imbecilidade preternatural. Pior do que natural.
Mas então, meu Guerreiro?
(Sr. Guerreiro Dantas: A pergunta era essa: como é que a questão da união com o senhor se põe aí? Depois passando para o prático.)
Está muito bem. Gosto enormemente da pergunta, tanto mais que eu não a esperava. Eu acho a pergunta excelente e é a pergunta que era preciso fazer.
* A condução da Contra-Revolução nestes 50 anos: obra de um guerreiro, de um homem de pensamento ou de um “tertium genus” que contém algo de cada?
Enquanto conduzindo a Contra-Revolução, como historicamente ela tem sido conduzida nesses últimos 50 anos, entra algo que se pode dizer que é obra do pensamento, quer dizer, obra inspirada por aquele espírito, mas é obra de pensamento. Se pode também dizer que é uma obra de guerra, no sentido psy-war, evidentemente, mas é uma obra de guerra. É uma guerra até no sentido major da palavra.
Então eu não saberia se seria o caso de classificar isso como a obra de um guerreiro ou obra de um homem de pensamento, ou como um tertium genus que contém algo de cada e, que constitui um outro aspecto do prisma…
(…)
Então, acontece que, vista assim a coisa… Deixo ao encargo de cada um, como utilidade própria, como lhes é mais sugestivo, incluir isso numa das duas partes anteriores ou constituir uma terceira parte.
Mas, então, imaginar toda a tenacidade, a confiança, a esperança, o jeito, enfim, o que eu possa ter posto de aptidões para a condução desta longa ação, mas enquanto inspiradas por aquele estado de espírito; e aquele estado de espírito, enquanto inspirando tudo isso. Quer dizer, há uma espécie de reversibilidade, sem a qual não se entende o que eu estou querendo dizer.
Depois de ter dado esses três elementos — vamos falar em três, podíamos ter falado em dois — depois de ter dado esses três elementos, eu poderia fazer a descrição de cada um desses elementos como é. Então, se quiserem, vamos aprofundar isso.
* Como partiria para a Guerra Santa um Cruzado que tenha formado seu espírito na igreja do Sagrado Coração de Jesus
Então imaginem um cruzado que tenha formado seu espírito na Igreja do Coração de Jesus, que tenha recebido análogas graças e que investe para a Cruzada daquele jeito, quer dizer, movido por aquelas razões: é a defesa daquilo contra um adversário que quer destruir e é o desejo de aproveitar a vitória para impor a expansão daquilo. É como um cruzado assim partiria para a Guerra Santa.
Esse cruzado levaria ao mesmo tempo uma carga de afeto, de bondade, de doçura, quase iluminados — no melhor sentido, no sentido mais ortodoxo da palavra —, que era… Não por birra… Assim, vamos dizer: “Esses turcos não me deixam em paz…! Vou acabar com eles! Esses árabes miseráveis!”, nada [de] condições dessa natureza, mas é: “Eu, deles, aceitaria tudo; não quero nada, desde que não tocassem naquele ponto, desde que eles não trabalhassem para a destruição desse ponto.” Pelo contrário, [se] tendessem a assumir aquilo, entrar naquilo, seriam meus amigos, meus irmão e meus filhos.
* “Enquanto se puserem em inimizade implacável contra Aquilo que os ama e para cujo amor eles existem, eu os odeio com toda intensidade que os amaria e quero realmente liquidá-los e exterminá-los” — “Zelus tuae comedit me”
E eu vejo nas almas deles o por onde o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria os [atraem], o por onde sai das almas deles, como que, ganchos que eu percebo que podem ser levados, que eu percebo que podem ser, em certo momento, podem ser ainda atraídos e, de toda a alma, eu os quero por causa disso. Mas, acontece que, por culpa deles — porque não se faz uma coisa dessas sem uma culpa gravíssima —, eles se puseram na inimizade mais implacável com aquilo que os ama e para cujo amor eles existem: o Sagrado Coração de Jesus, o Imaculado Coração de Maria, a Santa Igreja Católica. É o ódio revolucionário. O ódio revolucionário é a recusa completa, é o fechamento total, com uma certa carga de pecado contra o Espírito Santo, em relação ao qual é difícil haver um arrependimento. E, portanto, eles estão nessa cegueira, agressivos e servindo de instrumentos para o pior inimigo da Cristandade.
Agora, nesse ponto, e enquanto ficarem assim, eu os odeio com toda a intensidade que eu os amaria e eu quero realmente — enquanto eles atacarem, lutarem, recusarem o amor que vai de encontro a eles —, eu quero liquidá-los e exterminá-los. Acabou!
Então quero de um querer que eu quero! E esse querer que eu quero, toma minha pessoa de lado a lado, “zelus domus tuae, Domine, comedit me1” — “Senhor, o zelo pela tua casa me devora!”
* “Eu quero tanto que os Sagrados Corações reinem, que eu não tenho um minuto, um instante, uma cogitação, em que não se encontre, como causa remota, o desejo de exterminar de um extermínio completo aqueles que se opõem a isto!”
Quer dizer, eu quero tanto que eu não tenho um minuto, não tenho um instante, [não] tenho uma cogitação, sou incapaz de brincar com um dedo aqui em torno do gargalo deste vidro d’água de colônia, em que não se encontra como causa remota o desejo de exterminá-los. E exterminar é o extermínio completo! De maneira que dessa raiz de pecado e de maldição, não sobre nada, para que o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria reinem, porque precisam reinar! Isso tem que ser e, tem que ser e não tem conversa!
De onde implacabilidades inesgotáveis! Totalidades de propósitos beligerantes irredutíveis e gosto requintado nas coisas mais truculentas! E na medida em que for operacionalmente útil: encanto pela proeza! Mas a proeza não pode ser vista só como uma obra de arte, nem como uma atitude, eu quase diria, escultoricamente bonita. Não. Ela é bonita, mas ela é bonita na medida em que ela for conduto do amor do Sagrado Coração de Jesus ou para o amor do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria. Fora disso, não venham com conversa porque não me interessa! Não estou para perder tempo com “espadachinadas”, com coisas dessas. Sou um homem tranqüilo e cordato, e só faço isso na medida em que diz respeito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e a Igreja porque, do contrário, eu não faria. Mas, a serviço deles, eu faço qualquer coisa e vou até o fim.
* “Se quiserem chamar de fanatismo, pontapé na boca de quem chamou! — “Não me incomodo de ficar um verdadeiro milhardário de inimigos desde que obtenha esta vitória”
Está bom. Se quiserem chamar fanatismo, pontapé na boca de quem chamou! E acabou-se! Não tenho que dar satisfação de nenhum jeito. Então volto-me contra esse também e não me incomodo de ficar um verdadeiro milhardário de inimigos — que tem inimigos como outros tem dólares: aos milhões —, não me incômodo. Desde que eu possa obter essa vitória.
Mas, então, a beleza disto vem da beleza infinita do Sagrado Coração de Jesus e da beleza insondável do Imaculado Coração de Maria. Esses têm uma pulchritude, uma pulchritude moral que, passando por esses reflexos, mais se mostram ainda belos e que constituem uma coisa assim: se nós fizéssemos uma ladainha do Coração de Jesus — eu “espadachinava” com qualquer um que quisesse tirar da ladainha uma só das atuais invocações com pretexto de que é “heresia branca”, etc. Esse, eu, interiormente, marcava. Enquanto não modificar, tem parte incompleta comigo no máximo. Na melhor das hipóteses… Mas… —, nós incluiríamos outras invocações. E, portanto, ao lado do “Cor Jesu, fons totíus consolatiónes” — “Coração de Jesus, fonte de toda consolação”… Ah! Eu poria: “Coração de Jesus, fonte de toda combatividade inexpugnável”; “Coração de Jesus, fonte de toda incompatibilidade insanável”; “Coração de Jesus, fonte da guerra santa, tende piedade de nós e dai-nos força!” Ah! Poria! Quantas coisas dessas eu poria!
Como eu gostaria de fazer um mês de retiro, de recolhimento, para saber que sugestões dar para colocar neste sentido na Ladainha do Coração de Jesus, na Ladainha do Imaculado Coração de Maria.
* “Eu sei que sou combativo, mas não diz nada. Será que não percebem o ponto de partida dessa combatividade?”
Então aí fica uma combatividade que não é a combatividade do Bismarck, nem do Moldk. Eu elogio muito o Moldk, aquele for vers! Mas, passando pela minha alma, quem vai for vers é Ele e Ela! É uma coisa completamente diferente. E o vor wers d’Ele e d’Ela é o vor wers de uma outra índole. Quase que só fica a palavra.
Eu tenho vontade de chorar, [quando escuto alguém] dizer, por exemplo, “Dr. Plinio é combativo.” Eu sei que sou combativo, mas não diz nada. Será que não percebem qual é o ponto de partida dessa combatividade? Isso é uma coisa que se deveria ver. Não se vê.
O Santíssimo Sacramento. Nosso Senhor realmente presente entre nós, aqui, há dois passos. Se forem tocar ali, a combatividade é a mesma da de um homem que está defendendo sua burra, seu cofre? Não percebe que é toto caelo[?] Isso é o que eu queria saber.
Então seria preciso comparar isso com as formas erradas de combatividade, CCC, terrorismo, sei lá o quê… Poucos no Grupo compreendem isso, como eu estou dizendo, nos termos [em] que eu estou dizendo.
(Sr. João Clá: A igreja do Sagrado Coração de Jesus como menina, de acordo com aquela aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso. O senhor conheceu a Igreja ali.)
Você pode imaginar quanta alegria eu teria se uma dessas missas de Fátima, qualquer coisa, se pudesse rezar na igreja do Sagrado Coração de Jesus? Ver os nossos eremitas entrarem de alabarda e de espada, cantando, etc., etc., ali dentro? E irem diretamente, depois de uma genuflexão de grande estilo diante do Santíssimo, à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora cantar a “Salve Regina”? Depois, nova genuflexão e irem adorar o Sagrado Coração de Jesus. Depois nova genuflexão e, diante do Santíssimo Sacramento, começa a Missa. Que coisa…! Que coisa…!
E notem que eu acho uma coisa meio maravilhosa que no meio de tudo isso o progressismo quanto agora não tenha desfigurado essa igreja. Porque a gente vê que estão todos os maus instintos postos ali para fazer isso…
(…)
…agora, outro lado seria o lado do pensamento. Mas ainda é a mesma coisa, o mesmo ponto de partida.
* Uma entrega ao sobrenatural inteira como sendo o cume de tudo que existe, onde “nenhuma coisa bela seria mais atraente e nenhuma coisa hedionda seria mais repulsiva”
A inocência primeira, o gosto de todas as coisas que nós temos proclamado, é apenas uma disposição de alma que levadas às últimas conseqüências e posta diante desses dados sobrenaturais, se entrega ao sobrenatural inteiramente, como sendo o cume do que existe. E, enquanto sendo o cume do que existe, é o em função do que tudo existe. E se a gente negar esse cume, todo o resto perde [o] sentido.
Então, desde o “tal enquanto tal” até o gosto do irisado da madrepérola e, se quiserem, da carruagem pomposa… Do que possam querer…, desses dragõezinhos aqui, o que possam querer, tudo se explica em função de uma apetência pensadora da alma. Uso bem essa expressão: é uma apetência que é pensamento em ação. Não é pensamento estático. “Leibnitz descobriu não sei que monstruosidade…” Então fica assim… Não é isso nada! É uma coisa caseira, comum, cotidiana, afável: fui passear pelas serranias, pelas penedias, pelos jardins interiores meus e encontrei tal coisa. Mas tal coisa que eu encontrei é esta sublimidade. Às vezes, essa pequena correlação admirável entre duas coisas maiúsculas, mas que todas me fazem amar a um certo admirável, o qual admirável tem seu mais alto sentido naquilo. Mas tão alto que transcende, há um hiato entre todas esses outros admiráveis e isso. E o sentido último é aquele.
Para mim tudo se desfaria, nada tomava sentido. Nenhuma coisa bela mais seria atraente e nenhuma coisa hedionda seria repulsiva, se aquilo não fosse; porque eu, de fato, só o que amo, só o que quero, é aquilo e só o que me explica é aquilo.
* “Uma outra era que está se abrindo na história de nosso convívio” — O querer tanto a Sra. Da. Lucilia vinha do fato de sua alma estar posta constantemente no sobrenatural
E eu posso dizer que vocês me conhecem há tantos anos. Eu por assim dizer [que] estou abrindo um livro que vocês já conhecem e convidando para relerem o livro. Examinem-me em tudo quanto conhecem de mim no meu passado: desde o momento em que eu apertei a mão de cada um e disse: “Prazer em conhecer”, até esse momento em que isto está para se encerrar. É uma história que vai se acabando, porque é uma outra época! É outra era que está se abrindo! Não é uma história. É outra era que está se abrindo, uma era que está se abrindo na história de nosso convívio, outra era que está se abrindo. Então vocês conhecem dados, conhecem fatos, conhecem ditos meus, conhecem expressões fisionômicas, vocês conhecem afirmações minhas, vocês me viram avançar, recuar, descansar; raras vezes, mas, às vezes, brincar um pouquinho, gracejar, me viram dormir, me viram fazer tudo. Eu lhes pergunto: no que, uma vez, um pouco que seja, vocês me descobrem que eu, no fundo, tinha isso em vista? E que estava orientado para isso?
Então, podem procurar tudo. Por exemplo, mamãe. Eu queria tanto bem a ela, estou falando dela e, ainda aqui no momento, a estou querendo bem. Mas, na realidade, eu queria, em nela, isto. E se a alma dela não fosse um como que relicário disso, olha aqui…
Claro que como mãe, como aquela a quem eu devo a vida, etc., etc., eu teria respeito, afeto. Mas não é o afeto e respeito que eu tinha a ela, que é muito maior. Maior porque eu sentia nela isto.
Outro dia eu encontrei este fato. Vocês conhecem minha falta de estabilidade material. Entrei em Jasna Gora e estava na minha passagem os eremitas em fila. Eu perdi o equilíbrio e, toquei com a ponta de dedo em um para não perder o equilíbrio, uma coisa leve. Olhei: era o Andréas Meran. No momento em que eu toquei com a ponta do dedo nele e que eu percebi que, era um homem Habsburg pela varonia, aquele em que eu estava tocando com a ponto do meu dedo. Eu me emocionei.
Agora, por quê? Porque, no fundo, o ambiente da Casa d’Áustria tinha isso. E eu tenho esse entusiasmo, essa veneração, pela Casa d’Áustria porque no fundo há disso na instituição deles. Se não fosse isso, o que é que me incomoda? O que é que me incomoda!?
Daí para fora, não há uma coisa que não consoe com isso, não seja a expressão disso. Não há a menor coisa que seja é isso.
* A abundância, precisão e riqueza das observações do Sr. Dr. Plinio, por ter como critério de observação, os Sagrados Corações de Jesus e de Maria
Então, o dizer: “Fulano é homem de meditação e pensamento.” Então, assim: “Fulano é homem de meditação e pensamento. Ele é um homem de ação. É muito bonito aliar pensamento à ação; é muito bonito aliar a meditação à observação. A observação enriquece a meditação, mas de outro lado à meditação esclarece a observação e isto forma um círculo muito bonito.” Essas coisas para mim são verdadeiras, mas vazias. A mim não me moveriam. Eu diria: “Deixa ser. O que é que eu tenho com isso?” Seria um defeito meu, mas é o que eu faria.
Mas se a meditação e o pensamento estão inspirados no Sagrado Coração de Jesus, no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, se tem como ponto de partida isso, como inspiração isso, como conteúdo isso, como dinamismo isso e como ponto de chegada isso, aí eu me explico. Porque eu sou um homem muito observador. Mas, eu sou observador porque é em função deste ponto. Se não é [em] função deste ponto, não me interessa.
Agora, isso explica a abundância de minhas observações, explica a precisão delas, explica a riqueza delas. Por que? Porque é a partir do ponto donde se observa e, onde as coisas tomam sua fisionomia e se explicam a si próprias. E vale a pena observar, porque elas não se explicam sem isso, nem se classificam, nem se catalogam. É inútil observar sem um critério de observação.
A maior parte das pessoas observa pouco porque não tem critério de observação, não sabem observar. Vão observar em função do que? Quem vai observar?
* “Eu observo com critério verdadeiro, a partir do único critério, do único elemento seletivo e este elemento seletivo, eu tenho aos borbotões, vindo da bondade d’Ela”
A expressão francesa tem um verbo que começa com acento circunflexo: ânonner. Vem de [ane?]. Não é um verbo leve. Mas, observar que não seja em função disso, não é nada!
Então diz: “O senhor é muito inteligente… Veja quantas coisas o senhor observa.” Meus caros, sobretudo, eu fui favorecido com essa graça. Eu observo com critério verdadeiro, a partir do único critério, do único ponto de vista, do único elemento seletivo e esse elemento seletivo eu tenho aos borbotões porque Nossa Senhora teve a misericórdia de me fazer vir à idéia de dizer “Salve Regina, Mater Misericordiae”, e sorriu para mim. Daí veio tudo. Veio da bondade d’Ela.
* “Sem a Santa Igreja, eu não teria isto de nenhum modo”
Note: para dizer tudo, de tal maneira eu estou querendo exaltar o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria que eu, aos poucos, até fui deixando de falar da Igreja Católica nessa conversa, para deixar este ponto bem claro. O ponto de inspiração, Ela transmitiu essa fisionomia, Ela tinha um reflexo dessa fisionomia, sem Ela, muito provavelmente não teria sido como foi, etc., sem a Santa Igreja Católica eu não teria isso de nenhum modo, mas de nenhum modo, mas eu queria que a fisionomia moral do Sagrado Coração de Jesus e do Coração Imaculado de Maria fosse bem ressaltada, antes de nossa atenção pousar depois como deve nesses outros elementos. E me parece que sua lembrança está muito bem e, que me dá oportunidade de esclarecer como é que eu estou focalizando o assunto.
(Sr. Paulo Henrique Chaves: Temos planos de ir lá. O senhor até prometeu de ir um dia conosco lá. Gostaríamos que o senhor… se isso é possível mostrar, se tivéssemos abertura para isso, para participarmos um pouco disso.)
O que podia fazer era irmos juntos lá e rezar lá. Porque, com comentários, isto logo chamaria atenção, os padres interviriam, seria uma coisa muito desagradável. Depois aquele beatério que vai lá mais ou menos me conhece, chamaria muita atenção. Infelizmente, de momento, ahorita, ahorita não há condições para fazer isso. Mas irmos juntos rezar lá, pedir, por exemplo, para essas reuniões, para que Nossa Senhora as mantenha, mesmo dentro da borrasca…
(Sr. Poli: Mesmo apesar de nós.)
…mesmo apesar de nós… Isso! Quem sabe se essa semana… Nunca iríamos sem o meu Paulo Henrique. Há! há! há! Ainda que tenhamos que esperar ou antecipar, etc., não faríamos sem estar ao grand complet, não é meu Mário? Isso é certo. Depois pode calendarizar. Mas eu não quereria interromper isto que estou dizendo aqui.
Mas, então, volto a dizer: tudo isso, ou é visto, esse pensamento, tudo mais, ou é visto em função disso, quer dizer, que é este amor que é, como que, a substância que se veicula nisso, ou também não é nada.
* “Um escravo dos Sagrados Corações que não tem vontade; a única coisa que preocupa é que aquele amor vença, aquele ódio vença!”
Agora, vamos dizer, então, como homem de ação. Como homem de ação, in substancia, eu vejo o seguinte: um escravo do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria que não tem vontade e, que faz a todo momento e a toda hora o que é necessário para que Eles triunfem, sem preferências, sem idiossincrasia, sem ponto de amor-próprio, sem recusar nenhuma humilhação, sem fugir diante de nenhum rebaixamento, sem disputar nenhuma honraria, sem nada, nada, nada! Aquilo que eu não perceba que seja uma autodemolição que eu não posso praticar, aquilo que não seja isso, eu cedo de bom grado,desde logo, tanto quanto queira, etc., etc.
E o que chamam habilidade, vista do lado da vontade, é, sobretudo uma flexibilidade de vontade para nunca fazer o que gostaria de fazer, mas o dever do momento. Avançar, recuar, dar jeitinho, não dar jeitinho, investir, etc., etc., inteiramente flexível à única coisa que preocupa: é que aquele amor vença! Aquele ódio vença.
[Vira a fita]
* “Na era de nossas relações um marco está transposto” — “Depois de tudo isto, qualquer repúdio ou menosprezo de mim, indiferença, é um sentido de competição ou de autonomia…”
Vocês devem dar testemunho. Porque vocês não me vêem fazer uma coisa que não tenha isso por meta. Mas também é tão logo eu perceber que há um lucro para nossa Causa nisso que eu faço. Vocês me viram uma vez eu atrasar isso inutilmente? A única coisa que eu atraso é “Despachinho”. É o meu grande pecado. Todas as outras coisas eu não atraso, não antecipo antes da hora, eu não faço não sei o quê, ponho no jeito que eu posso, etc. E mesmo quando eu pareço atrasar porque cheguei atrasado a uma reunião, quando forem examinar — vão examinar — é porque tive que fazer uma coisa mais urgente, mais necessária, que não se apresentaria outra ocasião igual para fazer daquele jeito àquela coisa, etc., etc., mas estar ociosamente perdendo tempo, por exemplo, folheando uma enciclopédia e, por causa disso, “esperem que eu já vou”, nunca viram!
Quer dizer, nunca viram nada de parecido com isso.
Agora, isto é bonito por quê? Porque caracteriza um homem muito capaz? Vamos deixar o homem capaz de lado. Há capacidades dentro disso. Eu vejo bem, mas vamos deixar o homem capaz de lado. Isso não é nada. O que vale aí é o amor com que isto é feito, ou seja, valem Aqueles a quem eu amo, o que há n’Eles e que eu amo, isso que vale. Aí estou explicado. Se em algo não sou isso, peço a Nossa Senhora que me perdoe, mas eu não vejo no que não sou isso.
(Sr. Poli: Propriamente valia a pena ter nascido só para ouvi isso.)
Aí está resumido, está dito em duas palavras, mas está dito o que era preciso dizer, porque é isso. Eu atendi. Eu digo mais: o fato de eu ter atendido o pedido, indica muito a hora que chegamos. De si já indica. Porque, ainda que não fosse em qualquer outra coisa; na era das nossas relações, um marco está transposto. Isso é fora de dúvida. Eu me abri e me expliquei, fruto de um trabalho doloroso, porque eu não sabia como me explicar, não sabia como me abrir, não sabia como me mexer e, foi de repente… depois queria muito. De repente esse ângulo me ocorreu e, eu vejo que esse ângulo dá tudo quanto legitimamente vocês queriam. Mas também, depois disso, qualquer repúdio ou menosprezo de mim, indiferença, mais ainda, é um sentido de competição ou de autonomia…
(Dr. Edwaldo Marques: Desconfiança.)
Torrentes de desconfianças!
* “Como nunca me abri para ninguém na vida” — Vendo esta sacralidade de pensamento e de feitio pessoal, “eu pergunto: rejeitam?”
(Sr. Poli: Aí só na mão da Sra. Da. Lucilia, porque já fizemos tantas!)
Que abre uma história nova, uma época nova. Foi aberta essa noite. Vocês, quando amanheceu hoje, não pensaram que isso se abriria. Mas de fato, e no fundo, isto é muito mais cogente do que um voto. O voto é muito cogente, mas de um voto, pelo pacto do nosso voto, eu mesmo posso dispensar. Está nos mandamentos, não posso fazer, o que posso fazer?
(Sr. Gonzalo Larraín: Se vê muito mais a santidade do senhor, a sacralidade.)
Santidade, não sei. Sacralidade de pensamento e de feitio pessoal: é fora de dúvida. É isso mesmo. Uma responsabilidade enorme. Porque, vendo isso, eu pergunto: “Rejeitam?”
(Sr. João Clá: O senhor dizendo, a gente vê que isso é o que a graça mostrava no nosso interior nos melhores momentos de nossa vida. E há mais, ainda há mais para dizer.)
Não tenho o mínimo medo de um de vocês ser tentado a achar que é “gabolice”.
(Todos: Não, nada disso!)
(Sr. Gonzalo Larraín: A realidade do senhor é esta aqui, quando o senhor se abre assim.)
Como nunca me abri para ninguém na vida.
(Sr. João Clá: A pessoa ter visto e depois ouvir o “ego sum” o que a pessoa viu toma uma solidez que antes do “ego sum” não tinha.)
É verdade.
(Sr. João Clá: Em março de 74 [1974] o senhor dizia, aqui nessa sala, que enquanto não tivéssemos uma noção do senhor e, através do Grupo o mundo. Não viria a "Bagarre". Se não tivéssemos essa noção do senhor, não viria a "Bagarre". Onze anos depois, nessa mesma sala, essa graça.)
É muito bonito mesmo.
* “Se você é frio, saiba, eu sou quente e não tolero sua frialdade e enquanto você se amar a si mesmo desligado d’Aquilo que amo, eu te odeio!”
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor representa o absoluto na Terra. A pessoa do senhor carrega o absoluto, como reflexo, em tudo o que o senhor faz. Na questão do ódio e do amor, até onde chega? Qual a matriz que amplia tanto a alma do senhor que basta o ódio que o senhor tem a Revolução para destruí-la?)
Hoje — não quero dizer de quem se trata — mas quando, durante a reunião eu disse: “Uma pessoa podia me dizer: ‘eu não tenho querido reconhecer que as coisas chegam até lá. Reconheci, está bom. Então deixa acabar’”, essa pessoa deve ter sentido que eu estava respondendo ao que ela pensou. Eu respondi: “Isso é uma coisa que eu não quero!”
Eu disse: “Está bom, mas eu não quero que acabe! Eu não quero de não querer de não querer e, me oponho e, está acabado!”
É preciso dizer que a pessoa se manteve totalmente fria. Totalmente fria. Mas eu ali fui bem claro. Inclusive isso: “Se você é frio, saiba, eu sou quente e eu não tolero sua frialdade. Não tolero por que? Nós chegamos a um ponto em que — aqui toca o absoluto — em que os dois vimos com evidência quais são as coisas. Você não as amou e eu as amo. Você se ama a si mesmo e a si mesmo desligado dessas coisas. Eu não te amo! Pelo contrário te odeio. Enquanto você estiver desligado disso, é assim. E porque, não tenha a menor ilusão, eu não permitirei que você intervenha no curso dos acontecimentos em nada e, isso se fará!” Bom, aí você pode tocar bem no que é o absoluto. Eu mesmo ainda pensei: “Se alguém quiser saber o que é absoluto, entenda bem o que é isso”. Lembro-me de que tomei esse aspirador e bati sobre um objeto qualquer.
Mas ali ele via, na sua simplicidade, ele aderia na simplicidade última do erro dele, ele aderia. E eu, na simplicidade última da verdade aderia também. E a posição, no fundo, era essa: “O Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, a Santa Igreja Católica, que se arranjem!” Eu disse: “Está bom, eu não quero que se arranjem. Eu quero a glória para Eles! E fique sabendo que eu não consinto, mas não consinto, não quero! Está acabado.”
E mais do que explicar o que é absoluto…
(Sr. Gonzalo Larraín: O senhor está sempre nesse estado.)
Sempre.
* A fidelidade do Sr. Dr. Plinio a estes princípios como a proclamação mais autêntica do absoluto — A sede de conhecer a perfeição suprema e o aderir inteiramente a esta fonte de água viva
(Sr. Gonzalo Larraín: Mesmo velado pelo senhor, nós devemos estar vendo sempre esse absoluto.)
Ah! Certamente. E o invariável da tendência para isso, o proceder sempre dessas cogitações e, sempre por essas vias, sempre para esses fins, sem nenhuma defecção, isto é uma expressão do absoluto.
Então, onde é preciso ver o absoluto? Na fidelidade.
Esta fidelidade é a proclamação mais autêntica do absoluto. É aqueles que eu quero e, quero de um querer querido! E, portanto, se não for assim, a coisa não vai, eu não permito e entro em guerra. Ainda que eu tivesse que morrer nessa guerra, eu morria de morte morrida, mas vendia minha vida caro, porque eu não quero! E acabou-se.
A posição é muito simples. Depende do que? Duas coisas: é a alma sedenta de conhecer essa perfeição suprema e, tendo-a conhecido, aderir a ela inteiramente. Há, portanto, uma sede de perfeição e um encontrar a fonte de água viva em que a pessoa se dessedenta. Então, se eu encontrei, eu não arredo pé. Aqui eu morro, aqui eu vivo, aqui eu morro. É isto!
(Sr. Gonzalo Larraín: E isso vence.)
Ah! Eu acho que sim.
(Sr. Gonzalo Larraín: Isso porta o canto da vitória certa.)
É isso sim. É verdade.
(Sr. Gonzalo Larraín: Vendo o senhor assim, o senhor é invencível. O senhor sempre é, mas vendo assim, é totalmente invencível.)
É, isto é assim. A sensação dessa vitória, um ex-amigo meu exprimiu assim: lembram-se de que, durante bastante tempo, andei de muletas, antes do meu braço se desorganizar. E uma noite entrei no Cad’oro, mas era ainda o velho Cad’oro, encontrei um amigo lá…
(…)
…Quer dizer, você diz: “Isso vence.” Vence mesmo!
Eu soube de um comentário que um membro do Grupo fez, quando fiz 60 anos, qualquer coisa assim…
(…)
…Também a reunião terminou. Eu só gostaria de dizer o seguinte sobre…
(…)
Já me dou por bem pago. É um fruto muito menor do que seria razoável esperar, mas já é um fruto. Porque, simplesmente, que os que estão aqui presentes entrem em órbita, comecem entrar em órbita em função disso e no Grupo tudo muda.
(Sr. João Clá: É o que o senhor dizia: “Dai-me cinco almas sacrais e um canivete, [e] eu derroto a Revolução”.)
Essa é a questão. Meus caros agradeçamos a Nossa Senhora. Vamos agradecer diante do Santíssimo Sacramento.
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1) Sl 68,10