Conversa
de Sábado à Noite (Confidencial - SG) ─ 6/7/85 –
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Conversa de Sábado à Noite (Confidencial - SG) ─ 6/7/85
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Para amainar pânicos provenientes de equívocos, o Sr. Dr. Plinio diz que a pessoa com quem sonhou, e parecia estar no Inferno, não tinha relação com nenhum membro do Grupo * Sonho que o Sr. Dr. Plinio teve com uma pessoa na Ilha Fernando de Noronha e que parecia sugerir-lhe não mais fizesse censuras a ela * Na hora da oração, a distância que o Sr. Dr. Plinio sente em relação ao objeto de sua devoção: “Petit vermisseau et misérable pécheur” * Nos momentos de maior aflição, a resignação da Senhora Dona Lucilia não comportava uma interrogação à Deus sobre o porquê daquela dor * A sensibilidade eucarística do Sr. Dr. Plinio é maior quando está diante do Santíssimo do que, paradoxalmente, quando comunga * Comentários sobre o hino à Nossa Senhora: “Si quÀris coelum, anima, Mariae nomen invocat”!
* Para amainar pânicos provenientes de equívocos, o Sr. Dr. Plinio diz que a pessoa com quem sonhou, e parecia estar no Inferno, não tinha relação com nenhum membro do Grupo
(Sr. Guerreiro: Aquele sonho que o senhor teve com uma pessoa do Grupo, que ainda está viva, mas aparecia para o senhor com a fisionomia muito contrafeita. O senhor pergunta se está no Purgatório, a pessoa vai, senta no sofazinho do quarto do senhor, com a fisionomia ainda mais contrafeita. O senhor pergunta se está no Inferno, a pessoa se põe a ter esgares, etc. Isso não é fatalidade, pode ser aviso de Deus, não é fatalidade.)
Não.
(Sr. Guerreiro: Porque a pessoa sabendo, pode cair em si.)
Eu diria. Se fosse com alguns dos que estão presentes aqui, eu diria.
(Sr. Guerreiro: Depois o que o senhor comentou do Grupo, no almoço de 4ª feira, fiquei perplexo. Depois as camáldulas que o senhor dizia precisar apertar mais… Penso: “Ainda mais aperto! Não consigo”. Então, conclusão: Estou numa pista completamente oposta àquilo que o senhor quer.)
Meu filho, vou cortar pelo seguinte: sua exposição toda está num pressuposto que eu não sei donde provém, mas eu não disse ao João, nem ao Fernando que estavam presentes, talvez o Coronel Poli estivesse presente, o Mário ─ Edwaldo certamente estava ─ eu não disse que se tratava de uma pessoa do Grupo. Era uma pessoa que não era do Grupo. E não relacionei o fato com nada do Grupo.
(Sr. J. Clá: Não me lembro do senhor ter dito que era, nem que não era.)
Não. Eu, pela necessidade de tranqüilizar o Guerreiro, eu digo. É possível que eu não tenha querido dizer porque, por um pormenor pode-se descobrir quem é, mas pela necessidade do fato eu digo: a pessoa não era do Grupo, não tinha nada que ver com o Grupo, nunca tinha estado no Grupo, não tinha pensado em entrar no Grupo, nem nada. E quando eu contei, eu não relacionei, pelo menos proximamente, com os assuntos do Grupo, nada.
(Sr. Guerreiro: Isso ficou claro para nós que o senhor não fez a relação mas…)
Se fosse um do Grupo haveria relação, isso é claro. Mas a questão é que não era. Eu não quero entrar em pormenores, porque não quero contar quem era.
(Sr. Guerreiro: Não conviria rezar por essa pessoa, já que tem, essa relação com o senhor?)
Tinha, era uma pessoa relacionada comigo.
(Sr. Guerreiro: Rezar para que a pessoa se convertesse.)
Não, a pessoa já morreu, a pessoa morreu. Por isso que eu perguntei se estava no Purgatório.
(Sr. Guerreiro: A idéia que tinha ficado é que estava viva.)
Não, não, não. Aí houve engano. A pessoa é uma pessoa que morreu e não foi do Grupo. Minha pergunta se tinha… se estava morta. Não se pergunta ao vivo.
(Sr. Guerreiro: Podia ser um sonho premunitório.)
(Sr. F. Antúnez: Parecia morta a pessoa, mas estava viva.)
Isso sim, eu disse isso. Era uma pessoa morta mas que aparecia como viva. Mas que eu sei que estava morta.
(Sr. J. Clá: Foi uma coisa então providencial, porque o fato de si, como entendemos, foi muito útil, porque nunca vi um fato tocar mais as pessoas do que esse. Não na linha de pânico. As pessoas se punham problemas de consciência, mas na linha de compreender ao senhor e amar até onde Nossa Senhora quer que ame, sem inveja, sem comparação, sem revolta. A coisa era essa. Houve tanta graça nesse sentido que as pessoas quiseram, algumas pessoas quiseram fazer confissão geral sob esse ponto de vista, nessa matéria.)
Para dizer mais, eu não contei naquela ocasião o que vou contar agora, mas a primeira desconfiança, quando eu vi a pessoa ─ não tenho certeza de que não tenha sido uma indisposição, uma coisa assim ─ quando eu vi a pessoa, a primeira impressão que eu tive foi a seguinte: a pessoa parecia com uns vinte ou trinta anos a menos do que a idade com que morreu. E parecia uma pessoa saudável, bem disposta. Mas eu notei no alto da cabeça da pessoa algo que parecia uma doença de pele desagradável, uma coisa ruim, qualquer coisa assim, que contrastava com a expressão da fisionomia. E a pessoa se apresentou assim.
Depois então eu disse: “Mas como é, você morreu?” Ou melhor: “Você está no Purgatório?” Porque minha idéia era que podia estar no Purgatório, pedindo orações. E aí ainda perguntei de modo assustado, mas civil. Quando a pessoa não me disse onde estava, eu então: “Você está no Inferno?”
A pessoa passou pelo pé de minha cama, sentou-se naquele sofazinho e ficou me olhando. Eu não sei como, caí no sono.
(Sr. Guerreiro: O senhor não estava dormindo?
Quando apareceu, eu estava. Mas tenho a impressão de que acordei… é verdade, eu mandei vir o Pilares e usei água benta.
(Sr. Guerreiro: Não é para menos!)
Uma coisa horrível! Depois, o olhar dele não tinha esperança, era uma coisa horrível. Essa foi a realidade. O fato é esse. Estou até dando pormenores que eu não tinha dado; sendo que eu nunca tive uma coisa assim na vida.
Agora, volto a dizer, eu tive uma espécie de aflição, uma coisa qualquer assim, quando acordei, pouco antes de acordar, uma coisa assim. De maneira que pode ter sido uma elucubração assim sobre um sonho, uma coisa assim, pode perfeitamente ter sido, eu não distingo. Foi isso. Eu chamei e pedi água benta. Isso foi o que se passou.
Agora, não quero contar. Porque eu acho que não se tem o direito.
(Sr. M. Navarro: E a água benta foi antes da pessoa desaparecer?)
Pela idéia que eu tenho foi antes, mas eu agora estou um pouco na dúvida, se eu dormi e a pessoa aí apareceu no sofá… não foi, não. Acho que foi depois. A pessoa sentou no sofá e eu acordei. Aí mandei vir água benta. Aliás, tinha muito pouco, porque eu tinha intenção de esguichar água benta no quarto, mas no meu vidrosinho de água benta tinha muito pouca. Então me persignei e dormi.
* O Sr. Guerreiro conta um sonho que uma correspondente teve com a Senhora Dona Lucilia
(Sr. Guerreiro: Essa questão de sonhos é misteriosa. O senhor sabe que em contato com essa gente dos “Correspondentes Esclarecedores”, muitas delas têm sonhos incríveis. Uma lá de Itaquera sonhou três vezes com a Senhora Dona Lucilia.)
Mas o que é que foi, como foi o caso?
(Sr. Guerreiro: Ela é uma pessoa que conhecemos há uns dois anos. Uma senhora muito caracteristicamente brasileira, de querer fazer muito bem às pessoas, sentimental, com “heresia branca” pelo meio. E ela estava metida com uma seita [Seicho-no-êi?]. Ela foi se aproximando do Grupo e foi ficando muito chegada a nós.)
Uma pessoa de que idade mais ou menos?
(Sr. Guerreiro: 56 anos, mais ou menos. Eu pensava: “Como é que essa senhora vai nos entender, porque na cabeça dela não entra a R-CR”. Mas ela, pelo lado religioso, foi rezando, obtendo graças de Nossa Senhora. E a impressão que eu tive foi: “Se essa senhora conhecesse a Senhora Dona Lucilia, ela gostaria da Senhora Dona Lucilia”. E pelo que eu conheci da Senhora Dona Lucilia, eu achava que a Senhora Dona Lucilia iria procurar protegê-la. Essas coisas assim…
Ela foi melhorando de fato, foi se aproximando cada vez mais de nós, etc. E uma ocasião ela disse que sonhou com a Senhora Dona Lucilia, que a Senhora Dona Lucilia apareceu para ela, olhava para ela e sorria para ela. Depois um segundo, um pouquinho mais longo, a Senhora Dona Lucilia não dizia nada. E essa senhora tem muitos problemas de família, reza muito pela família, tem muita “apegosa” pela família. Então reza muito, e está muito partidária nossa.
E tem mais ou menos uns três meses. A Senhora Dona Lucilia aparece para ela em sonho e diz: Primeiro, os problemas que ela tinha tido aquele ano, eram provações que tinham vindo para ela; segundo, que ela continuasse a divulgar as pétalas, que a Senhora Dona Lucilia queria fazer muito bem às pessoas, que ela iria fazer muito bem às pessoas divulgando as pétalas, e falasse das pétalas; terceiro, que ela ─ Senhora Dona Lucilia ─ tinha muito a ver com o Reino de Maria. E termina falando do senhor também, comentando alguma coisa assim: “Nossa, a vocação de Doutor Plinio.” E disse que quando ela acordou não cama, ela sentia uma felicidade tão grande que ela disse “Sabe, Sr. Guerreiro, eu não tinha medo de morrer naquele dia. Eu tinha certeza de que se eu morresse naquela hora, eu iria para o Céu, de tal modo eu estava feliz. Nunca senti tanta felicidade na minha vida!)
Que bonito fato, não? Muito bonito!
(Sr. Guerreiro: No outro dia aparece na casa dela um homem esquisito, segundo ela. Homem esquisito que entrou na casa dela. Ela então se lembrou da Senhora Dona Lucilia, pediu, o homem parou, e saiu. Ela disse que era um homem esquisito, e não sabia donde tinha vindo o tal homem.)
É capaz de ser um um demônio.
(Sr. Guerreiro.: Que isso a fez esquecer algumas coisas do sonho.)
Impressionante.
(Sr.Guerreiro: E o último sonho que ela teve foi de todos os membros do Grupo, que moram na sede onde moro, tinham sido mandados para a casa dela, porque a sede tinha sido fechada. Não cabemos todos na casa dela, mas era o sonho.
Então são coisas misteriosas esses sonhos. Então a pergunta é: O que Deus teve em vista que esse fato se passasse com o senhor?)
Não sei. Por mais que o escarafunche, não consigo.
(Sr. Guerreiro: A que propósito uma coisa dessas acontece?)
Eu não sei, absolutamente não sei porque isso tenha se passado, porque a moral do caso era não rezar mais pela pessoa, é a moral do caso. Eu verdadeiramente não sei porque teria sido. Mas são mistérios que tocam lá desígnios da Providência, coisas do outro mundo.
* Sonho que o Sr. Dr. Plinio teve com uma pessoa na Ilha Fernando de Noronha e que parecia sugerir-lhe não mais fizesse censuras a ela
Eu só tive uma vez um sonho assim, mas não me repitam o sonho, com outra pessoa que não é do Grupo também. Quer dizer, com ninguém do Grupo eu tive sonho assim. Mas era uma pessoa de que eu, com certa freqüência, fazia censuras a essa pessoa. E eu tive um sonho, mas aí sonho-sonho, não é a impressão de uma coisa que se passou no meu quarto, nem nada. É sonho.
Eu tive um sonho que eu estava na Ilha Fernando de Noronha ─ vejam a idéia, coisa extravagante ─ e que alguém que estava lá me fazia ver… eu acho que alguém, me contou isso durante o dia, tive a impressão que a ilha foi completamente cimentada. Eu acho que é pouco provável, porque é uma ilha grande, não vejo meio de cimentar toda a ilha. Cimentaram toda a ilha para finalidades militares, e fizeram ali uma espécie de aeroporto, não sei o quê, uma história muito complicada, os americanos durante a Guerra tinham cimentado, uma coisa assim.
E, num certo lugar havia uma casa de pousada das pessoas que estavam por lá, e tinham que servir lá. Nessa casa de pousada estava essa pessoa. Essa pessoa abriu a porta ─ era uma casa com uma porção de quartos de dormir, que davam diretamente para o pátio de cimento e à pouca distância do mar. E que a pessoa abriu a porta, e com um ar muito de bem estar, felicidade, mas não falando nada de religião; encontrou-se comigo e manifestou alegria de estar comigo e depois se levou assim pelo braço e me mostrou o panorama marítimo.
Um panorama marítimo esplendoroso, ondas enormes que vinham em várias direções e sem propriamente se quebrarem, faziam assim uma espécie de redemoinho muito bonito, movimento muito bonito, etc., e a pessoa [se] sentia felicíssima lá, naquele local.
Depois eu acordei. Há qualquer coisa que me fez entender ali que essa alma se salvou e que esse negócio, essa história que eu vi era um sinal da felicidade que essa alma estava encontrando e que, portanto, que eu não a criticasse. Também não falei mais.
No que é que pode ser prejudicial, para uma alma que está no Céu, o fato de alguém na Terra falar dela? São dessas…
Alguém me dissesse: “Seu sonho é falso, porque não é prejudicial”. Eu diria: Você está simplificando. Eu não vejo no que é que pode ser prejudicial, mas se um louvor a uma pessoa que eu faço a uma pessoa que está no Céu lhe aumenta a glória extrínseca no Céu; uma crítica que eu faça na Terra, não vai dar tristeza à pessoa, porque a pessoa no Céu não é capaz de tristeza, mas alguma coisa pode… vamos dizer que meu silêncio dê uma certa glória à pessoa.
Isso digo para você, para você ter em vista que essas são carregadas de mistério.
(Sr. Guerreiro: É o que o senhor diz no MNF, que a vida sobrenatural é muito mais ligada à vida temporal, do que se pode supor.)
Muito, muito.
* Na hora da oração, a distância que o Sr. Dr. Plinio sente em relação ao objeto de sua devoção: “Petit vermisseau et misérable pécheur”
E há aqui uma coisa ─ isso vai nos levando para um rumo diferente das conversas anteriores, mas eu acho que tem cabimento tratar-se disso ─ uma coisa que é incrível: eu estou com 76 anos, mas só outro dia que essa idéia me veio ao espírito, naturalmente, pelo comum das idéias, nada de miraculoso, nada disso, mas pelo jogo comum das idéias, me veio ao espírito essa idéia que até aqui não tinha vindo.
Não sei com vocês como é, mas quando vocês rezam, vocês têm toda impressão de que estão falando com aquele santo, ou com Nossa Senhora, ou com Nosso Senhor Jesus Cristo, e que eles estão ouvindo e tomando como um de nós toma o que o outro diz? Ou tem a impressão de que há um vidro entre eles e nós, de maneira que nossa voz chega até eles, mas há um vidro e que nós não podemos nos pôr propriamente na presença deles?
Não sei porque, notei que estão perplexos com a pergunta. Você, por exemplo, como é que você sente?
(Sr. J. Clá: Eu sinto como se estivesse junto dela, sem vidro, sem véu. Ás vezes até sinto oscular a mão dela, coisas assim.)
E vocês como se sentem? Se querem dizer…
(Sr. G. Larraín: Comigo acontece também isso que o Sr. João diz, mas não tão intensamente assim.)
(Sr. F. Antúnez: E o senhor como sente?)
É uma coisa curiosa: uma superioridade deles, tão, tão grande, tão ─ com Nossa Senhora nem se fala ─ que eu a sinto assim como no alto de uma ogiva meio apertada, de maneira que é uma altura, uma distância de mim, uma coisa colossal e que assim mesmo existe um certo atrevimento de minha parte em me aproximar. Aquilo que São Luís Maria Grignion diz: petit vermisseau et misérable pécheur, é bem a impressão que eu tenho.
Mas então a certeza de que Ela me ouve, mas que me ouve numa impassibilidade de ícone. E que o que eu digo chega lá por um eco amortecido, fraco, distante. Ela toma conhecimento completo, mas da parte d’Ela não procede nada para mim porque não sou digno disso. É a impressão. Eu sei, teologicamente, que não é, e rezo com a certeza de que não é. Mas a impressão é essa.
Exceto numa ou noutra ocasião em que eu tenho a impressão de que Ela sorri, então com uma afabilidade muito grande, daquela distância. Mas não sei bem se sou eu que subo ou Ela que baixa. Não sei bem. Mas eu sinto que a distância diminui e é como se eu falasse muito de perto com Ela mas é de relance. Depois restabelece aquela distância, distância, distância.
Mas note o seguinte: É que eu gosto muita dessa distância.
(Sr. J. Clá: Com a Senhora Dona Lucilia é também assim?)
Não. Essa distância não, de nenhum modo até. Mas não portanto uma distância in obliquo, mas como se houvesse um vidro grossíssimo entre ela e eu.
(Sr. F. Antúnez: Por que o senhor gosta dessa distância?)
Porque satisfaz o meu desejo de admirar. E contemplar… Eu digo que a tendência de minha piedade é de imaginar Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus, Nossa Senhora, todos os Anjos e santos enormes, com distância extraordinária, por assim dizer fabulosos, etc., e sentindo-me muito pequeno eu, de algum modo, nessa separação, sinto uma união. É o prazer de me sentir insignificante. Aquilo me enche de contentamento, de uma alegria, de uma dedicação, do espírito filial que é um modo de ser.
Agora, eu sei, teologicamente, que não é. Não como essa sensação de distância, como uma coisa má, como uma coisa comum. Eu sei que teologicamente não é, Ela é Mãe de misericórdia, etc., etc., e se eu tivesse uma dúvida nesse ponto, eu me desintegrava na hora. Então nada é nada na terra de ninguém, acabou. Mas, enfim, é o modo de ser de cada um.
(Sr. G. Larraín: É como devia ser nosso modo de ser. Arqui, ultra, anti- igualitária essa posição.)
É. Ultra anti-permissivista.
Por exemplo, confiança, quando eu falo da confiança, de sentir até a confiança, etc., é como se partisse daquele alto nicho um verão suave, perfumado, mas a distância continua a mesma.
(Sr. Guerreiro: Se o senhor sente assim, é porque as coisas devem ser assim.)
Isso pode ser visto de modos diferentes.
Eu acho que para mim, provavelmente, é uma via. Mas acho que é uma coisa ─ e se compreende ─ individual. Não acho necessário que um membro da TFP, mesmo muito fiel e muito unido a mim, esteja nessa via. Mas para mim é uma via. Estamos conversando, eu conto o que me ocorre.
* Um modo de rezar o Rosário que comporta um comentário com Nossa Senhora sobre os fatos que os mistérios contemplam
Tudo o que estou dizendo é muito natural, não tem nada assim de extraordinário, é comum. Mas outro dia eu estava rezando e isso sobreveio assim: eu estava fazendo aquela caminhada das tardes, e rezando o rosário. E estava indo rumo a Luz. Não sei como, pela primeira vez, me ocorreu de rezar os mistérios do rosário como quem estivesse junto à Nossa Senhora comentando com Ela o que eu pensava de cada… [ilegível] … aqueles fatos se passaram, mas eu comentando com Ela o que me parecia daquilo. E um pouco como quem pergunta o que Ela teria sentido, imaginando o que Ela teria sentido naquela ocasião. Mas achei que era uma situação diferente das minhas situações habituais. Rezei até muito bem o Rosário assim.
Mas isso é para mostrar a você como isso é uma coisa individual, não deve ser tomada assim como padrão. E rezei muito bem, e até mais de uma vez, de lá para cá, tenho rezado o rosário assim com proveito. E aí uma certa impressão de proximidade d’Ela, fazendo contraste com o que eu acabo de dizer. Quer dizer, essa coisas são muito individuais. Mas estamos falando na intimidade, conto alguma coisa. Não vejo nisso, pelo contrário até, nenhum pouco a necessidade de tomar a coisa assim.
O que eu vejo sim, é o seguinte: da parte de vocês a necessidade de compreenderem que isso possa ser assim, simpatizarem com isso. Tomarem isso para si, já não. Estou arrependido de ter falado.
(Sr. J. Clá: É uma nota muito marcante de humildade e Contra-Revolução.)
(Sr. Guerreiro: A gente vê isso, que o senhor se coloca muito pequeno diante de Nossa Senhora.)
É claro. Também, é o que me cabe.
(Sr. Guerreiro: Bom, mas alguém podia dizer: “Recebeu uma tal vocação que …”)
Não! Ihhh!
(Sr. Guerreiro: Isso que o senhor está dizendo é o oposto da posição de inveja, comparação, pretensão dos membros do Grupo que o senhor comentava na 4ª feira.)
Isso é lamentável!
(Sr. Guerreiro: Eu sinto as graças do Natal, ouvindo o senhor comentar essa postura do senhor diante de Nossa Senhora.)
Um corolário disso ─ esse corolário é saudável ─ é a idéia preconcebida e pré-estabelecida e que eu tenho visto gente ─ aqui estou falando de gente de fora do Grupo, não é gente de dentro do Grupo ─ que é protuberantemente contrário disso, é: “Deus, Nossa Senhora, portanto, tem o direito de nos tratar do modo mais ─ se se pudesse dizer sem blasfêmia ─ despótico que se possa imaginar, permitindo que nos aconteçam as coisas mais irracionais, aparentemente mais irracionais e mais arbitrárias, mais pungentes, é mais do que natural, porque é o que corresponde a essa desproporção. Portanto, não há que reclamar, nem estranhar, nem alegar direitos, nem nada disso. O que está na proporção é isso!
(Sr. Guerreiro: Essa é a posição certa.)
Sim. Eu disse que era um corolário daquela posição.
* Nos momentos de maior aflição, a resignação da Senhora Dona Lucilia não comportava uma interrogação à Deus sobre o porquê daquela dor
(Sr. Poli: Mas não tem aí um jogo harmônico de aspectos opostos que equilibra bem isto? Como a Senhora Dona Lucilia via esse ponto, como o senhor via isso nela, por aí a gente talvez pudesse ver direito qual é o ponto de equilíbrio.)
Era uma coisa que me impressionava nela, é que aconteciam as coisas mais imprevistas e, debaixo de certo ponto de vista, mais ilógicas. Quer dizer, como um homem pudesse imaginar que Deus agisse com ele, situações mais ilógicas, que ela tomava com uma naturalidade, a coisa mais natural do mundo! Ela não tinha direitos a alegar em face de Deus. Não tinha direitos. Deus era Senhor dela como de todas as criaturas, e para fazer o que bem entendesse. Ela sabia que isso correspondia a desígnios de misericórdias d’Ele. Mas, assim como, por exemplo, tem aquele mistério: Nosso Senhor Jesus Cristo pediu para se afastar o cálice d’Ele, “mas se possível”… você compreende que esse possível para Deus, tudo é possível! É um mistério porque Deus quis que a coisa fosse até lá.
[Vira a fita]
…os absolutos de Vossos direitos, de Vossa Sabedoria e de Vossas barreiras, eu me dobro. Dai-me apenas forças.
Isso eu notava nela muitíssimo, muitíssimo. Então ela rezava com muito empenho, com muito afeto, e a devoção dela ao Sagrado Coração de Jesus, à Nossa Senhora, era muito impregnada de ternura, mas ela rezava com muito empenho quando ela queria obter as coisas. Mas se não obtivesse, era com uma naturalidade, com uma paz de alma, a maior do mundo!
E essa fotografia dela que está em circulação mais recente, mostrando-a com mais ou menos 45, 50 anos, coisa assim, está cheia disso. A pessoa está na voragem da dor, não pergunta a Deus por que é. Não pergunta, é assim e é para ser assim. Há um desígnio de Deus e a vida consiste em cumprir os desígnios de Deus. E, portanto, se é assim, é assim, não se discute. Que é uma posição fundamentalmente anti-igualitária.
Agora, eu conheço gente de fora do Grupo que diz a esse respeito ─ eu percebo des lambeaux disso, coisas do outro mundo. Coisas desse gênero: “Pede a Deus, mas Ele lá nas coisas d’Ele, a mim não atende. Atende a todo mundo, não atende a mim. Ele a mim faz o contrário do que eu queria que acontecesse”. Você vê que não é esse estado de espírito, absolutamente. É um estado de espírito de um terceiro em relação a Deus, que cobra, que invectiva, que alega direitos, que não está naquela fotografia que vocês viram, em nada!
Mais ainda: aqui no fundo, essa paz… comentamos que a frase podia ser: ite vitae est, é como quem diz: “Eu fiz a vontade d’Ele até o último elemento do que Ele queria. Bebi todo o cálice de fel até a última gota. Também está bebido e agora chegou minha hora de ajudar os outros.”
E, volto a dizer, uma das coisas mais tocantes para mim, nessa fotografia que mais recentemente apareceu, é essa resignação no meio da dor. A gente vê que ela não entende. A fotografia dela tem qualquer coisa de um pergunta ansiosa: “Como será, porque será?” mas sem o menor laivo de revolta, de inconformidade, nem nada. Como quem adora o mistério do sofrimento que está tendo.
(Sr. Poli: Isso parte de uma idéia que ela tinha de Deus…)
Altíssima, altíssima, altíssima. Aliás, uma coisa curiosa: ela nos ensinou o Padre Nosso de um modo um pouquinho diferente da fórmula corrente. Não sei se no tempo dela se tinha introduzido talvez no hábito brasileiro ou pelo menos pirassungano, uma coisa que era: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje, Senhor. Perdoai as nossas…” Este “Senhor” não está no Padre Nosso. Durante muito tempo eu rezei o Padre Nosso assim. Depois, por conformidade com a Igreja, eu suprimi o “Senhor”. Mas sabem que a minha alma se regozijava de poder dizer este “Senhor”.
Procurem relembrar. O “Senhor” calha ali com uma precisão… no ritmo da oração, muito bem. Mas eu suprimi, porque a Igreja ensina coisa diferente. Mas eu mesmo não estou certo se ela não rezou a vida inteira esse “Senhor”. Quando ela rezava alto, conosco, nas Sextas-Feiras Santas, não saía o “Senhor”. Eu acho que ela, em certo momento, ela se deu conta e suprimiu. Mas é para ver a idéia do Dominus, cheio de bondade, de misericórdia, de carinho, mas Dominus, estava no espírito dela. Ela tinha muito isso, mas muito.
(Sr. Poli: Como também ela foi vendo o senhor no decorrer da vida. Como ela foi passando da posição de protetora para protegida?)
Eu só a vi (…)
…não deve ser tão forçada assim. Deve correr pelos rumos que vierem. E creio que há na nossa atmosfera aqui uma certa graça, um certo benefício.
* Na graça de Genazzano, Nossa Senhora revelou o Seu interior ao Senhor Doutor Plinio
(Dr. Edwaldo: Na questão da oração, voltando atrás, portanto, houve ocasiões em que o senhor tinha certeza de que seria atendido diante de problemas da causa católica?)
Certeza eu tive sempre e continuo a ter, aquela certeza que a Graça de Genazzano corroborou. Por exemplo, na Graça de Genazzano, eu me lembro perfeitamente a impressão que eu tive de Nossa Senhora tomando aquela atitude, me fazendo entender o que fez entender. Ali sim, não tenho dúvida nenhuma que foi um Graça, uma promessa.
Depois o que o João me contou de uma conversa dele com o provincial dos agostinianos de lá, a quem ele contou o fato, e que disse que era uma coisa característica de Genazzano esse tipo de graça. Para mim, não tem dúvida nenhuma, Nossa Senhora me concedeu essa Graça.
Eu me lembro que o quadro d’Ela, como que se animou de vida. não tive nem um pouco a impressão de que Ela estivesse falando comigo. Mas com que se animou de vida e uma vida dulcíssima, muito doce, revelando um interior d’Ela, mas de um suavidade inexprimível. Depois, de uma qualidade, uma coisa inexprimível. Mas sempre conservando essa superioridade, sempre. De maneira que era um sorriso materno dentro do esplendor e dentro da majestade.
Mas, segundo meu modo de ser, essa doçura que se manifesta dentro da majestade é mais doce do que fora da majestade. Essa que é a questão.
* A sensibilidade eucarística do Sr. Dr. Plinio é maior quando está diante do Santíssimo do que, paradoxalmente, quando comunga
(Sr.A.T.: Esse mesmo problema nas comunhões do senhor?)
Minhas comunhões não costumam ser sensíveis. Vou dizer a você mais ainda: eu tenho mais sensibilidade, por assim dizer, se se pode usar a expressão, mais sensibilidade eucarística quando eu estou diante do Santíssimo Sacramento e não comungo do que quando comungo.
Em geral, quando eu estou diante do Santíssimo Sacramento, me toca muito, mas muito. E a noção da presença d’Ele, etc., me toca muito. Na comunhão, paradoxalmente, de um modo habitual, menos. Mas o que predomina é a visita de um visitante desmedidamente grande, a quem se trata de pedir. E aí calhar inteiramente no meu modo de ser o sistema da comunhão sugerido por São Luís Maria Grignion de Montfort, que é pedir que Ela venha a minha alma para recebê-Lo. Mas Ele encontrando-A como dona desta casa, fazendo as honras Ela, por mim, eu encontro então muito comprazimento.
Donde dirigir por meio d’Ela a Ele os atos de adoração, reparação, ação de graças, petição.
Bom, mas isso está dando num interview… o que farão com a fita?
* Comentários sobre o hino à Nossa Senhora: “Si quÀris coelum, anima, Mariae nomem invocat”!
(Sr. Poli: Ouvimos terça e quinta-feira. Depois faremos o que o senhor quiser.)
Desgravam.
(Sr. Poli: Se víssemos como o senhor vê a devoção a Nosso Senhor, à Nossa Senhora, à Senhora Dona Lucilia, esse relacionamento com Eles, temos a impressão de todos nosso problemas se resolveriam. Não há problema que resista ao maravilhamento pelo senhor.)
Em certo sentido está claro. Isso corresponde mais ou menos ao seguinte: quando a pessoa está na fase de ascensão da vocação, entusiasmo pelo “Thau”, etc., etc., que as tentações mais rudes como que desaparece, até as mais brutais. E quando a pessoa está não fase áurea da vocação, fase ascensional, eu tenho visto casos de vícios de impureza que desaparecem simplesmente, nem entra na cogitação da pessoa.
Assim também dificuldades, encrencas, ressentimentos, nós, etc., etc., desaparecem completamente.
Naquele hino de Nossa Senhora. Si quaeris coelum, anima, Mariae nomem invocat, que eu gosto muito, acho muito bonitinho, tem uma estrofe que são assim: “Pelo nome d’Ela fogem as culpas e as trevas, as dores da doença e as úlceras. Aos vencidos se desatam os pés, e para os navegantes, as águas se tornam mansas”.
Eu acho muito bonito. Aliás, toda essa cançãozinha é linda, linda! “Se tu queres o Céu, ó alma, invoca o nome de Maria. Pois que, aos que invocam Nossa Senhora, as portas do Céu se abrem”.
São grupos de quatro estrofes. É como se houvesse asteriscos entre elas. “Glória a Maria, Filha do Padre e Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo; Esposa do Espírito Santo, per omnia saecula saeculorum, Amen.”
“Pelo nome de Maria os Céus se alegram, os Infernos estremecem. O Céu, a Terra e os mares, o mundo inteiro se rejubila”.
Eu acho muito bonitinho, muita candura. Por exemplo, eu estou falando disso, mas não se dissocia de Nossa Senhora altíssima, no Céu puríssima. E, por causa disso, exercendo sobre a Terra essa ação benfazeja mas enorme! Não há mares, não há trevas, não há coisas que Ela não domine, em razão de ser tão boa e estar tão alta.
Bem, meus caros, foi uma noite sui generis, como nunca pensei. Também disse coisas que eu nunca pensei. Vamos tratar de ir andando, e que Nossa Senhora os ajude.
[Oração da Restauração]
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