Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) – 8/12/1984 – Sábado [RSN 056] – p. 5 de 5

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 8/12/1984 — Sábado [RSN 056]

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Antes de dormir, o Sr. Dr. Plinio tem absoluta necessidade de ler alguma coisa de História — Enquanto o mais belo dos períodos, a Idade Média tem a mais monótona das narrações, já a literatura francesa do Ancien Régime o repousa * O Sr. Dr. Plinio não viu na História um guerreiro como Simon de Monfort, mas causa apreensão vê-lo como precursor da artilharia, devido ao papel das catapultas em suas guerras * Como o Sr. Dr. Plinio, Simon de Monfort não teve aparições, mas foi continuamente protegido por Nossa Senhora em seus becos-sem-saída, um homem absolutamente providencial e heróico * Acusados de precipitar, nós adiamos a Bagarre * Os fautores do estrondo da Venezuela não conseguem negar a pureza do Grupo, e não se dão conta de que homens puros não podem praticar as infâmias de que eles nos acusam

* Antes de dormir, o Sr. Dr. Plinio tem absoluta necessidade de ler alguma coisa de História — Enquanto o mais belo dos períodos, a Idade Média tem a mais monótona das narrações, já a literatura francesa do Ancien Régime o repousa

Não sei se vocês são como eu, mas eu tenho uma necessidade absoluta de, antes de dormir, espanar um pouquinho a cabeça, ler alguma coisa de História, qualquer coisa assim, e depois dormir.

(Sr. Gonzalo Larraín: Chega de Venezuela.)

É, chega dessas coisas. A gente tem que… tem necessidade de emigrar para outra época. E eu vou emigrar para uma coisa árdua, mas interessante. É uma narração pau.

O mais bonito dos períodos históricos, nós todos sabemos, foi a Idade Média. Não há período em que a narração histórica seja mais monótona do que na Idade Média. Mas é porque eles não tinham ainda um homem como o Lenotre. Nem de longe tinha na cultura medieval, nem de longe. E eles contam fatos interessantíssimos com a secura de cronistas lamentáveis. É uma coisa… nem sei o quê.

(Dr. Edwaldo: Um pouco alma de criança?)

Não, é o contrário. É… é a alma do sabugo que diante de um certo fato vai e dá o esquema do fato, te dá a essência do fato, dá o esqueleto do fato. Então um esqueleto magnífico, está tudo bem contado, etc., mas o sabor do fato você tem que reconstituir.

(Sr. Poli: São Luís rei.)

São Luís rei.

(Sr. Poli: Marcou a História pela doçura, etc., coisas interessantes, mas se lê qualquer coisa dele…)

É pau!

(Sr. Gonzalo Larraín: Os bons não escreveram sobre a Idade Média.)

É, esses não escreveram sobre a Idade Média. Por exemplo, a Regine Pernoud não é tão entretenida como o Lenotre. Ela é interessante, não é entretenida. O Lenotre é entretenido.

(Sr. Gonzalo Larraín: Por que não escreveram sobre a Idade Média?)

Não se encontrou ainda… Tem o seguinte: você toma, por exemplo, a forma de graça — no sentido natural da palavra — própria ao Ancien Régime encontrou uma forma de literatura própria a ela.

Se você quiser, uma comparação que nós usamos tanto, que pode facilmente tornar-se abusiva, mas assim como o cravo exprimia a coisa do Ancien Régime, o órgão exprimia a Idade Média. Seria preciso que alguém fosse narrador a la órgão e não a la cravo, para narrar as coisas da Idade Média com o sabor que elas tinham.

O Lenotre não estaria à altura de narrar coisas da Idade Média.

(Sr. Carlos Antúnez: Nos cantares, não tinha algo assim de fenomenal?)

Cantares sim. Os cantares têm e têm na altura do órgão.

A Chanson de Roland, por exemplo, é um órgão. Eu li alguma coisinha do cantar do Mio Cid, tem. Mas é preciso dizer o seguinte: são magníficos, mas não dão propriamente para o repouso.

(Sr. Carlos Antúnez: Quando eu era menino, lia isso, mas lia…)

Eu o louvo por isso, porque a mim propriamente repousa literatura francesa concernente ao Ancien Régime. Ou daquele tempo ou de hoje concernente ao Ancien Régime, isso é o que repousa.

(Sr. Gonzalo Larrain: Oberkirch, etc., o homem ficou louco. Se meteu na cabeça de que era Oberkirch… ficou gagá.)

Só isso, de um homem se meter na cabeça de que é uma mulher, já indica que é gagá.

(Sr. Gonzalo Larraín: Agora, que é entretenido, é entretenido.)

Uhhh! É um assombro de entretenido.

Bem, esses livros distraem.

* O Sr. Dr. Plinio não viu na História um guerreiro como Simon de Monfort, mas causa apreensão vê-lo como precursor da artilharia, devido ao papel das catapultas em suas guerras

O que eu estou lendo é Simon de Montfort. Simon de Montfort era o braço militar de São Domingos no abater os albigenses, ele dirigia a cruzada. Era um homem de virar e romper, mas era um colosso! É um frade que conta e faz a crônica. Um guerreiro… mas é um homem perfeito e acabado. Não vi história de um guerreiro comparado com Simon de Montfort.

A questão é a seguinte: ele chama o Montfort de “nosso conde”. Então nosso conde vai para tal lugar, faz tal coisa, chega diante do castelo, vai sitiar um castelo. Mas como ele tem poucas tropas, ele não consegue dar a volta no castelo. Então ele faz um sítio apenas de uma parte. Agora, como é que pode ser sítio de uma parte, a gente quase não entende.

Eles tinham aquelas máquinas, aquelas catapultas e não sei onde encontravam pedra para jogar em tal quantidade em cima dos muros e dos pontos chaves do castelo. Mas jogavam a tal ponto, continuamente, continuamente, que acabava abatendo uma brecha na muralha da fortaleza.

Olhe que uma muralha daquelas fortalezas… que tamanho devia ter aquelas pedras e que pontaria para fazer com que aquela catapulta caísse sempre no mesmo lugar. Uma coisa espantosa! Mas eles faziam. Então, quando abria a brecha, ele entrava correndo e pegava ainda pelo tornozelo os últimos fugitivos. Era a vitória que ele alcançava. Uma vitória minguada, mas era uma vitória.

Daí ouvia falar que tal outro tinha se revoltado contra ele. Ele corria para outro extremo. Vivia andando de um lado para outro com guerreiros e com catapultas. Mas era um precursor… não é censurável, mas um pouco causa apreensão vê-lo como precursor da artilharia. Porque o papel da catapulta na guerra dele é uma coisa que eu nunca imaginei que tivesse na Idade Média. No Simon de Montfort era fundamental.

E eram máquinas enormes. Essas máquinas, quando eles fugiam, eles incendiavam, para não cair na mão do adversário, porque levava um tempo medonho para montar a máquina. Agora, se além disso, você deixa com o adversário, você está perdido, porque o adversário responde com a catapulta de dentro da fortaleza, jogando as pedras em cima do pessoal que está assediando. Então tocavam fogo no madeirame. Aquilo era só madeirame, o adversário tinha que construir outra.

Era uma guerra muito de artilharia, portanto.

(Sr. Poli: Era até romper. Depois era…)

Depois a espada.

* Como o Sr. Dr. Plinio, Simon de Monfort não teve aparições, mas foi continuamente protegido por Nossa Senhora em seus becos-sem-saída, um homem absolutamente providencial e heróico

Mas o que é interessante é o seguinte:

A gente vê que é um homem a la nós, nesse ponto: que não consta na narração o caso — até o momento, eu estou na metade do livro — de aparição de Nossa Senhora, de Nosso Senhor, de milagres, nada, nada, nada. É aquela contínua proteção para ele, mas a proteção consistia em que ele caísse continuamente em beco-sem-saída, a la nós. E continuamente por meios improváveis, que pareciam não ter explicação a não ser por esta forma, quer dizer, por proteção de Nossa Senhora. Ele saía do beco, abria uma brecha e ia para a frente, mas sem aparecer nada.

(Sr. Poli: Solteiro.)

Não, tinha filhos. Mas a mulher num castelo, ignorada por ele, porque vivia na guerra. Se fosse em nossos dias, ela já estava associada com a Sra. Dozda, senhora cacareco, protestando que o marido abandonou a casa, etc. e tal.

(Sr. Nelson Fragelli: Combateu no feudo dele ou onde havia herege?)

Ele tinha um feudo, mas não tenho certeza de que o feudo ficasse nessa região. O certo é que ele drenava os recursos do feudo para a guerra. Ele era o chefe da cruzada contra os hereges, constituída pela Santa Sé. E era uma cruzada. Cruzada contra os albigenses. Aliás, é chamada de Cruzada, etc. Cruzada contra os albigenses, não tem conversa.

(Sr. Aluísio Torres: Ele é herói da história inglesa, não sei por que. Não sei se não eram possessões da Inglaterra a região onde ele combateu.)

Não é mais no sul. Possessões da Inglaterra eram ali perto do Atlântico, Mancha e a Borgonha, mas a Borgonha fica no norte, pelo lado da Alemanha, que se enfeudou com a Inglaterra durante algum tempo. Não sei porque seria herói da história inglesa.

(Sr. Aluísio Torres: Não me lembro em que detalhe, mas ele é bastante conhecido, não sei que circunstância o colocou nessa situação.)

Se você encontrar alguma referência… não tome trabalho com isso, mas se encontrar alguma referência elucidativa, você me mande. Porque não sei como se possa, pelo que li até aqui, não vejo explicação para o fato.

(Sr. Gonzalo Larraín: Ele dá lampejos de santidade?)

Que ele era um homem absolutamente providencial e heróico na execução dos desígnios da Providência, era. Agora, até aqui não vejo… Esses são elementos que falam a favor da santidade, porém não decisivamente. Agora, até aqui não vejo nada que vá neste sentido. Eu desconfio que ele foi santo. Mas a questão é que ele é objeto de um ódio brutal, até hoje.

(Sr. Gonzalo Larraín: Uma glória a mais.)

Uma glória a mais. E uma boa coisa. De tal maneira que se tivéssemos um papa como São Pio X, eu ousaria pedir a ele que me examinasse se há processo de canonização em curso, qualquer coisa, e fizesse reviver a coisa. O mundo inteiro estremeceria. Mesmo porque o que ele enforcou de gente, matou de gente, é uma coisa incrível.

Ah, não fazia cerimônia!

(Sr. Gonzalo Larraín: E havia os laranjas que estavam do lado dele dizendo que não, tinha criancinhas pelo meio, etc. Ele disse: “Eu mato tudo, Deus separa no Céu o que presta e o que não presta. Eu vou matar tudo”.)

Agora, para um processo de canonização é troublant. Ahahah!

* Acusados de precipitar, nós adiamos a Bagarre

(…)

paradoxal, porque nós que somos acusados de querer precipitar a Bagarre, nós na realidade somos os que adiamos a Bagarre para o Brasil. Por exemplo, se tivesse feito a Bagarre no tempo do Jango, com a Reforma Agrária, quer dizer, tivesse vindo, teria vindo mais cedo a Bagarre no Brasil.

(…)

* Os fautores do estrondo da Venezuela não conseguem negar a pureza do Grupo, e não se dão conta de que homens puros não podem praticar as infâmias de que eles nos acusam

Porque é assim, é uma coisa que impressiona. Em todos os outros ataques que eles fazem às tais seitas, etc., entra o ataque em matéria de pureza. Conosco a pureza é tal e é tão evidente — se eles atacarem a pureza ninguém acredita — que eu não vi até agora.

Talvez Carlos tenha visto.

(…)

(Sr. Gonzalo Larraín: Eu vi só uma acusação que saiu de um pai que disse notar em seu filho uma tendência perigosa para a homossexualidade. Só, em quatrocentos recortes.)

Exatamente.

Quer dizer, equivale a nada. Porque os miseráveis não conseguem negar a nossa pureza. Mas eles não se dão conta que onde a pureza existe, não podem existir as infâmias que eles dizem. Porque um homem que mantém a pureza não pode ter as infâmias que eles dizem.

(Sr. –: E vice versa.)

Está claro, está claro, está claro.

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