Conversa da Noite ─ 28/1/84 ─ sábado . 12 de 12

Conversa da Noite ─ 28/1/84 ─ sábado

Fotografia do Senhor Doutor Plinio na época da Linha de Tiro * Jantar oferecido por D. Gastão Liberal Pinto * Jantar oferecido a D. Mayer pelos salesianos * Fotografias do Senhor Doutor Plinio discursando em Santos * O Senhor Doutor Plinio discursando num coreto de praça pública: falava com muito calor, pois sabia que teria muita repercussão * O Senhor Doutor Plinio faz a distinção entre os discursos que fazia com o Santo do Dia de Sábado e a Reunião de Recortes * Comentários de uma foto de José Gaspar em visita a uma casa jesuíta * O Senhor Doutor Plinio fazendo uma saudação a D. José: “não estou nem um pouco entusiasmado” * Fotografia da posse da primeira junta arquidiocesana da Ação Católica * Fotografias do tempo do exílio * Almoço oferecido aos bispos presentes no Congresso Eucarístico do Rio de Janeiro

Quem é o porta-voz?

Então, meu Nelson?

(Sr. Nelson Tadeu: Ouvindo os vários fatinhos que o senhor tem contado ultimamente, ocorreu-nos perguntar algo sobre a vida do senhor. E para isso temos alguns slides. Não sei se o senhor poderia comentar…)

Quer dizer, não é eu me comentando a mim mesmo?…

(Sr. Nelson T.: Não.)

* Fotografia do Senhor Doutor Plinio na época da Linha de Tiro

Esse… Os senhores querem perguntar naturalmente aonde é que foi isso, não é?

[Risos.]

Bem entendido, isso não foi no tempo em que eu fiz a Linha de Tiro, porque eu já era mais velho naquele tempo. Eu calculo que eu tinha assim uns 27, 28 anos neste tempo. Os senhores estão vendo que há dois personagens centrais aqui. Um deles sou eu, o outro é aquele senhor que está ao meu lado, vestido de escuro, e que parece ter aqui no peito umas condecorações, umas coisas assim, que eu não chego a discernir bem o que é que eram.

Agora, o que está à minha direita eu não reconheço bem. Todos os outros não reconheço bem. Deve ter sido um quartel, um lugar militar qualquer… Não tem dúvida.

Aquele homem que está ali dentro não é um militar, é um civil, não é? É… Deve ter sido um quartel, uma coisa militar qualquer onde eu devo ter ido fazer uma conferência. E deve ter sido uma qualquer páscoa de militares. Mas assim mesmo eu tenho a estranheza de não encontrar padre ─ que seria o capelão normalmente, teria celebrado Missa, etc. ─ e só vejo ali autoridades. Não vejo… enfim, pessoas gradas. Não vejo outro gênero de gente.

Infelizmente, portanto, a minha capacidade de informar aqui é praticamente nula. Os senhores notarão talvez o seguinte: que, segundo os costumes do tempo, as três pessoas mais gradas ali seriam eu, o que estava à minha direita e o que estava à minha esquerda. Mas o que estava à minha esquerda, estava procurando tomar uma atitude por onde ele se bancava mais importante do que eu.

O que os senhores notam pela atitude dele e do da direita. O da direita está olhando para a máquina fotográfica, mas ligeiramente voltado para mim, e o que está à minha esquerda me ignora. É preciso dizer que eu também estou retrucando ao pé da letra. Eu estou muito mais cortês e afável para o da direita, do que para o da esquerda, que estou ignorando totalmente. Quem é o da esquerda, quem é o da direita, eu não tenho idéia. O tempo… fugit irreparabile tempus! Vamos adiante.

* Jantar oferecido por D. Gastão Liberal Pinto

Ah! Aqui eu me lembro perfeitamente dessa ocasião. Aqui se trata de uma casa no Rio de Janeiro. É um jantar que o Bispo D. Gastão Liberal Pinto, na casa da irmã dele, que era a Sra. Da. Carmen Irmani, ofereceu a todos os bispos presentes no Rio de Janeiro, ao Núncio Apostólico e a mim.

Os senhores notam então o Cardeal D. Sebastião Leme, é um que está de solidéu bem vermelho, cara bem cheia ali, bem no meio da mesa. Os dois lugares de honra estão no meio da mesa. Então, num lugar, ali está o D. Sebastião Leme, e à direita dele está o Núncio Apostólico. À esquerda, creio que seja D. Duarte. Agora, aquele quarto ali que está em frente a D. Leme, é D. Gastão Liberal Pinto que está oferecendo o jantar.

Agora, à minha direita está o Sr. Irmani, dono da casa. À minha esquerda está uma filha do Sr. Irmani, Da. Vera Irmani, que era filha dele, mas eu não vejo… Havia duas outras senhoras. Este aqui de costas é casado com uma filha do Sr. Irmani. Eu não vejo outras pessoas… Ah, bom, há aqui um leigo civil também, de smoking.

Foi um jantar em que eu vi uma cena curiosa. Antes do jantar estávamos todos nos salão. E o Núncio Apostólico, D. Aloisi Masela chegou muito atrasado, fazendo esperar a família toda, e fazendo esperar D. Leme também. Ele entrou, e foi diretamente dizendo a D. Leme, num tom de voz discreto e distinto ─ que o D. Aloisi Masela era um homem muito distinto, é de família nobre italiana, um homem muito distinto:

Sua Excia. me desculpe, mas eu fui à recepção de um membro da Academia Brasileira de Letras que terminou muito atrasada, e não podia sair antes de terminar o ato.

O D. Leme:

Ah, pois não.

Mas ele não pediu desculpas à Da. da casa, ao D. Duarte e a ninguém da roda. Pediu desculpas exclusivamente ao D. Leme.

Muito tempo depois, lendo um livro de protocolo eclesiástico, eu li isto: que quando um cardeal está presente, como o cardeal tem honras de príncipe de casa reinante, e de príncipe herdeiro ─ porque todo cardeal pode ser eleito Papa ─ quando se chega atrasado a um lugar, não se pede desculpa a não ser ao cardeal.

Nesse tempo eu era deputado no Rio de Janeiro. Os senhores devem notar, eu estou de smoking também, e estou numa certa conversa com o dono da casa, o qual está meio voltado para mim. É também o que me ocorre dizer. Infelizmente não tem muito interesse, mas é isso.

(Sr. Guerreiro: Quem é o D. Leme, o senhor poderia apontar?)

Esse… Não, mais embaixo. Esse. Esse é o D. Leme. Esse é D. Duarte, D. Aloisi Masela.

Bem, podemos trocar.

É a mesma fotografia, mas vista mais de perto. Mas eu estou vendo que estava enganado, esse não é o dono da casa, esse é um eclesiástico. Quem ele seja, não há meio de eu me lembrar. Aliás, eu não me lembro também dos outros eclesiásticos.

Os senhores estão vendo aí mais de perto D. Leme, D. Aloisi Masela, e depois a Da. Vera e… eu.

Talvez os senhores notem pelo olhar e pelo todo, que eu estou me distraindo muito pouco, não é? Não estou nem um pouco entretenido.

(Sr. Guerreiro: O que o senhor vê que o senhor está pensando aqui?)

É evidente que eu estou tocando a conversa amavelmente, eu estou dentro da conversa, mas é evidente que estou pensando em alguma outra coisa que não sei qual é. E se estou pensando em alguma outra coisa, é porque estou achando muito cacete a conversa.

Agora, esses outros ali são bispos, mas eu não me lembro de nenhum deles.

Vamos adiante.

* Jantar oferecido a D. Mayer pelos salesianos

Aqui não. Aqui, se não me engano, é D. Mayer, o bispo que está presidindo lá. Se não me engano, é um jantar de homenagem a ele por ter sido sagrado bispo.

Agora, eu não estou me vendo dentro desse quadro… [Alguém indica a posição do Sr. Dr. Plinio no slide.]

Ah, é verdade, ali sou eu. Eu estou portanto à esquerda dele e tem alguém à direita dele que está conversando com ele. Eu não me lembro… é evidentemente uma instituição eclesiástica. Os senhores estão vendo o crucifixo. Em cima tem um quadro de Nossa Senhora, provavelmente…

(Sr. –: É D. Bosco.)

É D. Bosco? Então é um jantar que os salesianos ofereceram a ele. Seriam talvez salesianos da paróquia dele, qualquer coisa assim, e D. Mayer está sendo saudado por uma pessoa que está ali em pé.

Agora, esse é um jantar de um nível muito inferior ao anterior, não é? Os senhores notam por toda a sala, por todas as pessoas presentes, etc., é um nível muito, muito inferior. Agora, mesmo assim, as pessoas estão no traje corrente do tempo. Para jantar à noite, roupa escura, alguns com gravatas borboleta ─ esses dois, por exemplo, estão com gravata borboleta ─ outros não, mas o ambiente é mais distinto do que seria hoje em dia.

Vamos adiante!

Eu creio que isto aí é… pelo ar parece que estou mais moço aqui do que na fotografia militar, mas… D. Mayer foi eleito bispo bem depois. Era bem D. Mayer aquele que estava lá?

(Sr. –: Não.)

Não era, não? Então quem sabe se essa aí é uma coisa anterior àquela, porque aqui estou mais moço.

[Troca de slide.]

* Fotografias do Senhor Doutor Plinio discursando em Santos

Bom, aqui estou falando. Os senhores estão vendo dois bispos ali na cabeceira da mesa, e eu creio que isto aí é em Santos. Porque se não me engano um dos dois bispos é o D. Idílio, bispo de Santos. Há um terceiro bispo sentado aqui no meio do público, os senhores notam o solidéu dele. É sim.

Esse senhor que está ao meu lado, é um senhor comendador, Morel, de Santos. E aquele que está ali, entre o bispo e o Morel, se não me engano ─ eu sou muito mau fisionomista ─ é o prefeito de Santos que era meu primo, Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, e que ia muito às minhas conferências.

Esse outro é o D. Idílio, bispo de Santos, e este outro é algum outro bispo que estava de passagem por Santos. Dois bispos que eu não sei quais são. Sagrado Coração de Jesus e Coração Imaculado de Maria. Um crucifixo presidindo à mesa. Mas eu não saberia dizer mais nada, a circunstância… não saberia dizer nada.

Aqui também… É isso, sim. É isso. Agora aqui, por exemplo, esse bispo não estou recordado quem seja. Esse é o meu primo Antônio Gomide Ribeiro dos Santos.

Agora, nos ouvintes os senhores notarão a reação diferente: aquele da esquina, bem no canto, está prestando muita atenção. Este, Comendador Morel, era o tipo do medíocre. Os senhores notarão, ele não está prestando atenção. O meu primo, na fotografia anterior estava prestando atenção, aqui muito menos. O bispo estava prestando muita atenção, o D. Idílio. E ele em geral prestava muita atenção nas minhas conferências. Ia a todas e prestava muita atenção.

Este outro aqui que eu não me lembro quem é, está me achando meio arrojado. Está olhando [como] quem olha um trapezista na coda bamba do circo. Eu tenho impressão de que ele está achando que eu estou muito arrojado no modo de me exprimir e na facilidade de falar. Ele não está muito habituado a isso assim e estava dizendo: “Esse homem de repente pára e lhe falta a palavra.”

O pano de mesa ─ crisântemos, etc. ─ característicos de cerimônias religiosas daquele tempo. É característico.

Podemos ir adiante.

Aqui é uma conferência também, mas é em algum convento capuchinho de Santos. Deve ser a Igreja do Embaré, porque aquele padre barbado lá é capuchinho. Logo depois dele vem um senhor, que depois distanciou muito as relações comigo, mas que fazia muito propaganda minha em santos, chamado Reinaldo Cruz.

E… este terceiro, eu creio mais uma vez que é o meu primo… é o meu primo sim. O outro é D. Idílio. Este quarto aqui eu não me lembro quem é.

O arranjo de mesa, os senhores estão vendo o que é: copos-de-leite e crisântemos. Mas o capuchinho não está prestando nenhuma atenção. O Reinaldo Cruz muita, o meu primo também, o bispo também e este aqui não. Este não está gostando, ou não está prestando atenção. O capuchinho está com um ar de quem diz assim: “Essa minha vida de padre é pau, que é uma coisa horrorosa…”

Podemos passar adiante.

* O Senhor Doutor Plinio discursando num coreto de praça pública: falava com muito calor, pois sabia que teria muita repercussão

Ali… Ah, sou eu que estou discursando de novo, é. Infelizmente não me lembro que lugar é. Eu estou procurando identificar essa grade, mas absolutamente não consigo.

(Sr. Guerreiro: Algum coreto.)

É. Pode ser um coreto numa praça pública de interior, realmente. Mas que praça pública, as pessoas eu não estou reconhecendo, não estou identificando nada nem ninguém… É evidente que é um coreto, porque ali estão as pessoas gradas, e em baixo é evidente que são populares. Evidente.

Agora, a posição, a atitude que eles estão tomando, é difícil dizer. Não me lembro de nada.

[Muda de slide.]

É, não dá para ver ninguém em torno de mim.

(Sr. Dustan: A gente vendo o senhor falar para esse povo que é de uma mediocridade única, que estado de espírito, que esperanças o senhor tinha para falar assim para uma tal gente?…)

Tem o seguinte: há para considerar uma porção de circunstâncias. Uma coisa que só se pode compreender que seja dita aqui nesta intimidade, é que eu sabia que seria muitíssimo aplaudido. Quer dizer, eles interrompiam várias vezes o discurso com aplausos. Isso, quer os discursos de sala em Santos, quer esse discurso aqui diante do povo, eles aplaudiam muito, muito. E esses discursos eram em geral feitos para salas repletas e para praças também cheias de gente. De maneira que eram discursos, para o tamanho das coisas do Brasil daquele tempo, população muito menor, cidades do interior, etc., eram discursos que tinham…

Mas sobretudo a minha fama de orador se espalhava daí largamente. Porque as pessoas que me ouviam falar, depois contavam para outros lugares aonde iam, etc., e levavam meu nome, etc., de maneira que tinha certeza que isso tinha uma repercussão enorme. Daí o calor com que eu falava, porque eu sabia que seria muito ouvido, que teria muita repercussão.

Isso talvez as fotografias não exprimissem, mas era a realidade.

Para a frente!

Eu não interpreto bem o que é… O que é essa figura com pelúcia branca aí na frente? Tem um rapaz em pé e depois uma figura com uma pelúcia branca aí. São as costas de uma mulher…

(Sr. –: É a cabeça de um velho.)

Ah, é a cabeça de um velho, é. É isso, é. Eu não sei onde eu estou aí, parece estar fora do foco, mas as pessoas estão ouvindo muito.

Não sei se os senhores notam que não tem ninguém conversando com ninguém, e ninguém olhando fora de um ponto de atenção.

Para a frente, meus caros!

* O Senhor Doutor Plinio faz a distinção entre os discursos que fazia com o Santo do Dia de Sábado e a Reunião de Recortes

Agora, cabe aos senhores dizerem: esse modo de falar é parecido ou diferente com o modo de falar de hoje?

Os que acham parecido levantem o braço. Os que acham diferente levantem o braço.

Então, no que consiste a diferença? Meu Dustan, diga antes no que consiste a analogia.

(Sr. Dustan: Parecido com o Santo do Dia de sábado, inteiramente. Na medida em que o Grupo foi abrindo mais para o senhor, o senhor foi falando de um modo mais parecido com esse.)

Vamos dizer uma Reunião de Recortes: é parecido ou diferente?

(Sr. Dustan: Reunião de Recortes, não. Mas Santo do Dia de sábado, sim.)

Santo do Dia é muito parecido. Os que acham o Santo do Dia de sábado muito parecido, levantem o braço. Parecido não é igual…

Bom. Aqui eu estou falando, na minha perspectiva, para um público que eu trato com certa solenidade. Esse modo de falar é muito solene. O linguajar, a linguagem é uma linguagem também pomposa. O gesto é um gesto pomposo, de quem está fazendo um grande discurso.

Isto é como eu faço o Santo do Dia de sábado?

Eu vou dar a minha impressão. Eu tenho impressão ─ mas ninguém faz idéia exata de si mesmo ─ que no Santo do Dia de sábado há algo disso. E que inclusive na Reunião de Recortes há algo disso. Mas é algo que entra no Santo do Dia de sábado mais algo que não entra na Reunião de Recortes. E entra na Reunião de Recortes mais algo que não entra no Santo do Dia de sábado. Quais são as coisas que entram diferentes?

É que na Reunião de Recortes é mais dada a conferência. E na conferência, o valor com que o conferencista deve se dirigir àqueles com quem ele está falando, é levando sobretudo em linha a lógica. E para levar em linha de contas a lógica, quer dizer, o verum, ele deve apenas ter aquilo de pulchrum necessário a que a exposição do verum seja agradável. Mas a nota dominante é o verum.



Na reunião de sábado à noite, pelo contrário, a gente deve fazer com que haja muito do verum, mas equiparado ao pulchrum. E, portanto, a preocupação de fazer notar o pulchrum é muito mais acentuada na reunião de sábado à noite, do que na Reunião de Recortes.

Agora, como quando a gente faz notar o pulchrum, a gente deve empregar uma certa solenidade maior, a reunião de sábado à noite tem qualquer coisa de mais solene, imagino eu. Mas de outro lado, como são muito jovens aqueles a quem eu me dirijo, essa solenidade ficaria ridícula, se não ficasse acompanhada de uma certa intimidade. E se trata de compor aqui a solenidade com uma certa solenidade benevolente, de pai para filho. Que é diferente deste tipo de solenidade, em que a paternalidade não entra por nada.

Então, entra raciocínio na reunião de sábado à noite. É até toda raciocinada, mas à medida em que se põe o raciocínio, vão entrando os ornatos.

Na reunião de sábado à tarde, não. O ornato consiste apenas num desejo, que eu não sei se alcanço ou não, na distinção da linguagem, e de amenidade atenciosa no trato. Não paternal, mas atenciosa. É como eu imagino que deveria ser uma reunião de sábado.

Eu estou dizendo isso, porque imagino que seja o que os senhores quereriam. [En] avant, messieurs!

* Comentários de uma foto de José Gaspar em visita a uma casa jesuíta

Aqui… O que é isso? Eu nem me estou vendo aí. Ah, isso é a Congregação Mariana de Santa Cecília.

Dá-me aqui esse rebenque, eu faço…

Esse padre aqui é D. José Gaspar de Afonseca e Silva. Esse padre é um padre jesuíta, Rosmann, que dirigia as Congregações Marianas. Esse padre aqui e esses dois eu não estou reconhecendo. Vale a pena os senhores se reterem na figura de D. José Gaspar. Ele não aparece sob os aspectos mais favoráveis dele aqui. Ele está… ele lucrava muito em ser visto não em branco e preto, mas em colorido. Ele tinha um…

Não sei se os senhores notam uma coisa curiosa, a espécie de olheira dele. Olheiras profundas, no fundo das quais haviam assim uns olhos de um olhar muito meigo, muito aveludado, muito agradável, e o timbre de voz dele era também muito aveludado e um pouco sussurrado. De maneira que era por exemplo um timbre de voz muito diferente do meu.

Eu diria:

Sr. Arcebispo, como vai passando?

Vou bem, Dr. Plinio, o senhor como tem passado?

É muito mais envolvente… É interessante os senhores notarem aqui o porte característico do jesuíta da antiga escola: primeiro o tal barretezinho em cima da cabeça que ele não está usando, porque em presença do arcebispo, ninguém está com a cabeça coberta. Todos os padres estão de chapéu, este padre que é secretário do arcebispo, se não me engano é um Padre Nelson, que morreu com ele no desastre de aviação. Mas esse padre, esse e este são jesuítas, e se deve estar numa casa jesuíta e não na Congregação Mariana de Santa Cecília. O D. José é o único que está de cabeça coberta. É o solidéu. Porque solidéu quer dizer “só para Deus”. Tira-se só diante de Deus. Quando ele estava diante do Santíssimo, tirava o solidéu. Mesmo um bispo, quando cumprimentava o arcebispo, não tirava o solidéu. O solidéu era solidéu.

Aqui é o superior da casa, colocado à direita do arcebispo, mas ligeiramente voltado para o arcebispo. Era um jesuíta iugoslavo, mas é o tipo do jesuíta que se domina completamente a si próprio e a qualquer momento está disposto a fazer qualquer coisa que lhe mandarem. Ele está em atitude de obediência a qualquer momento.

Esse os senhores conhecem… Esse era um líder das Congregações Marianas de Santa Cecília, chamado Olavo Calazans. Este… sabe que os outros eu não estou reconhecendo.

Este eu creio que é o tal Paulo Savaia, que tinha sido presidente da Congregação Mariana de Santa Cecília. Os dois eram médicos. Esse era de origem síria. Os outros fugit irrepababile tempus, eu não estou reconhecendo ninguém. Absolutamente ninguém. Nem mesmo esse padre eu estou reconhecendo quem é. É o devorar do tempo… Quantos destes já estarão na sepultura?…

Vamos para a frente.

É, nem mesmo vendo mais de perto eu consigo reconhecer. Esqueci-me das caras, talvez tenha me esquecido das pessoas. Esse é evidentemente um padre, diretor de Congregações Marianas. Não é da casa jesuíta, é de fora, está de chapéu, e… É só o que eu teria a dizer.

* O Senhor Doutor Plinio fazendo uma saudação a D. José: “não estou nem um pouco entusiasmado”

Aqui é, eu estou fazendo uma saudação… É D. José Gaspar que está aqui, e esse aqui é o palácio São Luís antigo. Os senhores vêem aí a parede toda empapelada. E e esse é o cônego Luís Gonzaga da Silva, vigário de Santa Cecília, e este é o pobre padre que depois apostatou, chamado Célio Sebastião de Almeida.

Esse é um padre que uma vez que estivemos no Rio convidamos para jantar. Ele era do Rio, esteve algum tempo em São Paulo e passou para o Rio de janeiro. E ele contou uma operação que ele tinha feito na cabeça tão ao vivo, que o Professor, que estava lá ─ o meu saudoso Professor ─ quase se levantou da mesa de indisposição que teve diante da operação.

Agora, queria que os senhores notassem a atitude de D. José Gaspar. Eu estou fazendo elogios e D. José Gaspar tomando atitude de humildade, submissa, doce, não sei se os senhores notam. Agora, os senhores talvez notarão que eu não estou nem um pouco entusiasmado.

Agora, quem são esses outros… Este, este? Esse bigodinho eu me lembro dele, mas não me lembro quem era. Os outros todos eu não me lembro mais.

Para a frente, meus caros.

* Fotografia da posse da primeira junta arquidiocesana da Ação Católica

Ah, esse é o dia da posse da primeira junta arquidiocesana da Ação Católica.

Aqui está D. José Gaspar, presidindo, mas os senhores notarão que ele está muito pouco contente. Aqui está o chanceler da Cúria, que é o futuro bispo de Jacarezinho e depois de Piracicaba, D. Ernesto de Paula. Esse era bem amigo de D. Mayer, e tinha relações boas comigo.

Esse aqui, eu não sei se ainda está vivo, era um padre da diocese de Taubaté, Mons. Ramon Ortiz, cujo irmão é um padre apóstata que entrou para o comunismo militante, chamado Pe. Carlos Ortiz. O Pe. Ramon Ortiz era da ala mais ardida da Ação Católica, D. José fez questão que esse homem fosse convidado.

D. Mayer, os senhores vêem aí bem mais moço, está lendo o discurso de instalação da junta e do outro lado os senhores conhecem.

Mas os senhores vão olhar, com exceção de D. Ernesto de Paula que não está entendendo muito o que está se passando, todo mundo está com cara aborrecida. Eu não estou nada contente, estou apreensivo. O Pe. Ramon Ortiz está com uma cara pretensiosa, arrogante e de galinho de briga, que é o que ele era verdadeiramente. D. José está com cara de quem está empossando a junta, e dizendo: “Não era este que eu queria empossar”.

D. Mayer aparece aqui num aspecto muito característico da mocidade dele. Com um cabelo que naturalmente vinha muito mais para a frente, e esse cabelinho aqui espetado para a frente. Dava a ele um ar dinâmico, de uma pessoa que fura, que vai para a frente. E está fazendo aí a leitura do discurso dele.

O ambiente é muito mais bonito do que os ambientes anteriores. Os senhores notem essa mesa de damasco lindo que nos foi emprestado pela família José Gustavo de Souza Queiroz. As flores não são crisântemos nem copos-de-leite, são rosas e cravos de primeira qualidade. A poltrona em que está sentado D. José é uma linda poltrona colonial. Todas as cadeiras são cadeiras coloniais que ornavam os vários salões da Cúria e que nós pusemos lá para ornar mais, porque quem organizou a reunião fomos nós. Quer dizer, D. Mayer e eu.

E aqui os senhores têm os joelhos e os pés de um muito bonito crucifixo colonial, que havia no salão de conferências da Cúria Metropolitana. Esse crucifixo, se não me engano, era o crucifixo diante do qual os bandeirantes iam rezar antes de se dispersarem para as bandeiras. Aqui tem uma estátua bonita de São Pedro e havia uma do outro lado de São Paulo.

Vamos adiante!

* Fotografias do tempo do exílio

Isso aqui… Esse aqui eu não estou reconhecendo. É uma pessoa que tem muita intimidade comigo.

(Sr. –: É o Pacheco.)

Ah, é o Pacheco Sales. Pacheco Sales e eu. Estamos aonde? Parece uma estação de águas, uma coisa assim. Estamos descansando, veraneando… Mas eu estou muito ao lado dele, numa posição muito íntima. Vamos adiante.

Pacheco, Dr. Paulo bem moço ainda, este eu não reconheço. É uma roda que está numa… se não me engano é em Águas de São Pedro, mas eu não tenho certeza. Vamos passar para a frente.

Não sei quem é a pessoa atrás com quem eu estou conversando. É o Pacheco. E este aqui… é o Paulo.

Para a frente, meus caros!

E engraçado como o engraxate está prestando atenção no que se conversa. Ele quase não está olhando para o sapato. Ele está olhando para o Pacheco. Eu aqui estou tomando alguma coisa. O garçon, os senhores estão vendo ali com a bandeja, está entregando alguma coisa, Dr. Paulo acaba de entregar a mim e vai pegar o dele. O que tem esse copo? Não sei.

Adiante, meus caros!

Esse quem é? O Pacheco é esse. Esse é quem?

(Sr. –: Dr. Adolpho.)

Adolphinho???!!! Olhe, eu não reconheceria nunca! Mas como mudou! Como mudou! E como ele se tornou mais vivo e mais forte com o tempo do que nesse tempo de mocinho.

Para a frente, meus caros!

Tudo isso é no tempo do exílio. Os senhores deverão tomar [em conta] que eu estava tomando o ar de homem mais seguro de si que possa haver e mais não-exilado, como quem mete o exílio de lado aos pontapés. Exilando o exílio!

É preciso ver a hora… Duas e vinte. É só mais alguns, meus caros, está muito tarde.

Estes quem são? Ah, isso é uma inauguração de uma tipografia da Ave Maria. Eu acabava de ser orador nesta ocasião. Este sou eu, esse é um Sr. José Maria Lisboa, diretor do “Diário Popular”, e muito amigo dos padres do Coração de Maria.

Este era o representante de D. José Gaspar e era então Cônego Paulo Rolim Loleiro, que depois se tornou bispo de Mogi, e morreu num desastre de automóvel.

Esse não me lembro. Era um funcionário da Ave Maria, se não me engano. E esses eram padres da Ordem do Coração de Maria. Esse aqui é trimpigado a mais não poder, uma coisa fenomenal!

Adiante, meus caros!

Ah, isso deve ser em Itanhaém. Deve ser em Itanhaém. Tínhamos acabado de fazer uma caminhada, uma coisa qualquer, eu estava exausto. Eu não fui nunca de muitas caminhadas. Mas também não estou reconhecendo a ninguém. Esse compridão aqui, por exemplo, não reconheço.

(Sr. –: Carlos Alberto Cock.)

Ah, Carlos Alberto Cock. Ah… e esse na ponta?

(Sr. –: O cônego.)

Ah, quando era mocinho, leigo, é? E este atrás?

(Sr. –: Dr. Paulo.)

É o Paulo? E este é o Adolphinho? Aqui?

(Sr. –: AX.)

E este?

(Sr. –: Dr. Eduardo Brotero.)

E este?

(Sr. –: Dr. Paulinho!…)

Ah, Paulinho…

Adiante, meus caros!

Isso é, se não me engano, no palacete do Conde Prates… Não, não. Isso é em Itaici. Esse é o padre Dante, reitor do Colégio São Luiz; esse é o Dr. Arruda; este parece ser o Pacheco; este atrás parece ser o Paulo; esse aqui não reconheço. Os senhores reconhecem mais alguém aí?

(Sr. –: Dr. Castilho.)

Qual é o Castilho, aqui? Ah, sei. Este quem é? Qual é o Camargo aqui? Ah, este. Agora, esses outros não reconheço.

Bem, meus caros… fugit irreparabile tempus. Vamos ver só mais uma fotografia.

* Almoço oferecido aos bispos presentes no Congresso Eucarístico do Rio de Janeiro

Ué? Esse era Pio XII, não é? É… Não há meio de reconhecer. São vários bispos. Ah, aqui estou eu. Deve ter sido a inauguração do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Deve ter sido isto. É sim. Esse deve ser então um bispo dominicano que… talvez D. Alano de Nodé. Esses outros bispos eu não estou reconhecendo. Atrás é o Pão-de-Açúcar.

(Sr. –: D. Mayer!)

Onde é que está D. Mayer? Esse aqui?

(Sr. –: D. Sigaud.)

Qual é o D. Sigaud? Ah… Mas então não foi a inauguração do Cristo Redentor, não. Porque eles não eram bispos ainda neste tempo. Foi algum ato no Rio de Janeiro, a que eu estive presente, mas o qual eu não me lembro.

(Sr. –: Congresso Eucarístico de… No Hotel Glória.)

Ah, no terraço do Hotel Glória. Ah, isso sim. Foi um almoço que D. Mayer, D. Sigaud e eu oferecemos a bispos presentes no Congresso Eucarístico. É, esse lampadário é do terraço do Hotel Glória, perfeitamente. Agora, quais são esses bispos, não me lembro mais.

Bem, meus caros, vamos andando!

[É passado outro slide.]

Isso parece ser no Rio também, conversando com Frei Jerônimo.

Bem, para a frente, meus caros. Vamos acabar. É a última.

Pronto acabou-se, vamos andando. De quem é esse rebenque?

Então vamos rezar. Aliás, nós vamos rezar na capela. Aqui são só três Ave-marias.

(Sr. –: Oração da Restauração.)

Há momentos, minha Mãe…”

*_*_*_*_*