Conversa de Sábado à Noite – 11/6/1983 – Sábado [AC VI ‑ 83/06.15] . 6 de 6

Conversa de Sábado à Noite — 11/6/1983 — Sábado [AC VI ‑ 83/06.15]

As batalhas do passado travadas por nosso Pai e Senhor, foram cheias de obstáculos enormes, opostos por homúnculos, por questõezinhas e picuetadas * O fim trágico de Santa Joana d’Arc, condenada como uma feiticeira * Quanto à Bagarre, “nós temos que ter o espírito pronto para aquilo que Nossa Senhora quiser — Que Ela faça afinal de contas luzir sobre nós o sol de uma glória d’Ela” * O isolamento e o esquecimento em que foi posta a Sra. Da. Lucilia: “Uma imolação gradativa até uma desilusão completa com a humanidade e com a vida — E o holocausto que foi até o sacrifício final” * A Sra. Da. Lucilia não compreendia que o Sr. Dr. Plinio pudesse não ser muito procurado, ser isolado e boicotado * Um presente que nosso Pai e Senhor pretende colocar na Sede do Reino de Maria

* As batalhas do passado travadas por nosso Pai e Senhor, foram cheias de obstáculos enormes, opostos por homúnculos, por questõezinhas e picuetadas

(Sr. João Clá: O que o senhor prevê o que vem no futuro, vendo o presente e analisando o passado?)

O passado tem o seguinte. Vocês se lembram um dia desses eu estava falando da questão, por causa desse mal tempo que tem aí, da sensação que existe o sol, que se tem. Essa sensação não é necessária para a convicção de que o sol existe, mas a gente tem uma espécie de impressão mais direta de que existe o sol quando a gente o vê do que simplesmente ficar no puro raciocínio de que por detrás das nuvens está ele.

Assim também eu posso dizer que a gente lucra, embora saiba que uma batalha pode ter sido muito grande, a gente lucra quando se sente a grandeza da batalha. E na batalha que eu travei, de tal maneira ela é com enormes obstáculos, opostos por homúnculos, por questõezinhas, por picuetadas, por coisas dessas, que eu não tenho — eu — a vivência para dizer uma palavra que eu não gosto, da grandeza da batalha travada. A convicção racional tenho, mas a sensação como quem recebe o sol na pele, isso eu não tenho. Por causa exatamente dessas oposições, não fazem idéia as circunstâncias por onde foi preciso passar nessa coisa, os senhores simplesmente não têm idéia.

Por exemplo, em determinado momento dessa batalha, não me lembro bem em que momento exatamente, eu fui convidado por uma família a ir almoçar. Era uma família de gente mais modesta, mas gente boa, de boa moralidade, etc., mas gente mais modesta. E eu fui convidado para ir almoçar porque constava, o dono da casa dizia, que a senhora dele faria tal prato “x” de modo incomparável. E eu devia aceitar porque ele era uma pessoa, no momento, muito importante para o andamento das coisas.

Aceitei o convite e pensei num convite para um almoço comum. Eu chego à casa, sou recebido por ele no escritório dele, normal.

Conversamos um pouquinho, normal também, daí a pouco entra uma chusma de filhas e um ou dois filhos. Entra tudo no escritório, cumprimentos cordiais, eu não conhecia todos, conhecia alguns, apresentações, etc., passamos para a sala de jantar. Eu pensei que houvesse uma mesa onde todos nos sentávamos para comer, não é? Não! Eles todos já tinham almoçado e formaram em torno de uma mesa pequena um bloco em torno de mim e me fazendo interrogatórios. Sendo que eu não tardei em perceber que algumas das moças estavam mafiadas pelo vigário da paróquia próxima. E que faziam, portanto, perguntas mafientas que depois iriam ser repetidas na paróquia. A paróquia muito chegada ao arcebispo. Portanto, ali era a caixa de ressonancia do arcebispo, e que eu praticamente estava respondendo um interrogatório mandado…

(…)

* O fim trágico de Santa Joana d’Arc, condenada como uma feiticeira

Agora, o futuro. Esse período terá cessado e Nossa Senhora estará querendo agora que nós entremos numa luta com grandeza? Ou pelo contrário, nós estamos de cheio nisso e ainda vamos mais nos arrastar pelos… e pelas insignificâncias das coisas? É uma pergunta que a gente pode fazer. É uma pergunta que a gente deve fazer, e para essa pergunta eu não tenho resposta. Eu estou lendo uma espécie de comentário, um comentário um pouco biográfico, uma biografia muito comentada, que o Mons. Delassus escreveu a respeito de Santa Joana d´Arc. E me traz presente todo o caso de Santa Joana d´Arc. Ela teve a batalha dela, uma beleza. Agoras vejam como afundou.

Ela foi presa inopinadamente pelos ingleses, mais especificamente pelos borguinhões e foi trazida e queimada, etc., pela inquisição. Agora, ela participou de jornadas magníficas e teve uma luta estupenda como guerreira. A entrada dela em Orleans uma coisa magnífica. A presença dela na coroação do rei com estandarte na mão, é uma coisa magnífica, etc… De repente, tudo se transforma na vida dela. Ela é presa ela entra na guerra suja e feia. Interrogada por um tribunal de inquisição espúrio, indecente, indigno, interrogada com toda espécie de chicana, com toda espécie de coisa, ela que não esperava morrer daquele jeito se sentiu caída na contra-história dela. E assim é levada para uma fogueira que ela com certeza nunca imaginou que ela, a heroina resplandescente, fosse queimada como bruxa.

Que foi o que aconteceu com ela? Foi queimada viva como feiticeira e é Santa Joana d´Arc. E foi queimada viva como feiticeira e condenada como tal por um tribunal da Igreja, isso é o mais incrivel.

Agora, são dessas coisas que não são o pior. Ela estava lá, ela via que o rei, por quem ela fizera tudo, não estava se interessando pela libertação dela e ela via que aqueles grandes generais que tinham lutado do lado dela também não estavam fazendo nada. Estava cada um nhonhozando para seu lado. Quer dizer, ela, a heroína, o símbolo da glória da França, um raio de luz feito gente como ela era. [Exclamações]

Os senhores tomem o perfil clássico da feiticeira medieval: uma velha, de 80, 90 anos, toda encurvada com grande nariz curvo também, com queixo desdentado saindo para a frente, quase encontrando a ponta do nariz. Rugas, aonde couber uma ruga cabe a ruga, o rosto que a muito tempo não vê água, consciência que a muito tempo não vê confessionário… Olhar não moço, mas espantosamente vivaz, de uma viveza comunicada pelo demônio. Na velhice do globo ocular uma viveza perene comunicada pelo demonio. Um olharzão assim… Mancando com uns chinelos mal odorados e meio caídos, meio mal arranjados. Essa é a bruxa medieval com uma coruja aqui no ombro, andando. Essa é… é comparada a essa a grande Santa Joana d´Arc. E assim ela se sente, faz parte da luta dela. Ela se sente, de repente, transformada em bruxa. Transformada em bruxa, no conceito dos outros é claro. Os senhores podem imaginar o contra-senso que representa!

* Quanto à Bagarre, “nós temos que ter o espírito pronto para aquilo que Nossa Senhora quiser — Que Ela faça afinal de contas luzir sobre nós o sol de uma glória d’Ela”

Agora, a Bagarre para nós como virá? Eu me pergunto: a reunião de hoje à noite, num desígnio mais profundo da Providência para a formação dos senhores, essa reunião de hoje à noite foi feita, tinha que se realizar como foi realizada. Ela foi feita para quê? Para dar aos senhores uma idéia do que foi ou para dar uma idéia do que se poderá vir? Eu também não sei. Eu não sei. Mas é assim. Nós temos que ter o espírito pronto para aquilo que Nossa Senhora quiser. Podemos pedir a Ela, que Ela faça a coisa com glória para Ela. E que Ela faça afinal de contas luzir sobre nós o sol de uma glória d’Ela. Mais ainda, tenho uma certa impressão, certa impressão, de que é o que Ela desejaria. Mas… quem sabe? Nós temos que nos preparar para isso.

Eu sei que depois de tudo feito, a glória que se desprenderá disso é enorme, mas os senhores já pensaram em tudo isso? É terrível.

Bem, e com isso está respondida a pergunta. E temos 15 minutos.

* O isolamento e o esquecimento em que foi posta a Sra. Da. Lucilia: “Uma imolação gradativa até uma desilusão completa com a humanidade e com a vida — E o holocausto que foi até o sacrifício final”

(Sr. Poli: Como a Sra. Da. Lucilia viu a vida dela, quando ela começou a ser isolada e esquecida, por causa da fidelidade dela?)

Eu tenho a impressão de que ela, mas é uma coisa muito vaga, é mera impressão, Pela sucessão das fotografias, etc., eu tenho impressão de que ela tinha espírito muito elevado, etc., tanto quanto as fotografias permitem acompanhar. Mas sem… não é de nenhum modo uma pessoa feita… voltada a gozar a vida, isso de nenhum modo, mas era uma pessoa que não tinha enfrentado as asperezas da vida. Que ela começou a enfrentar verdadeiramente na seguinte passagem. Mas é imaginária, é uma explicação.

No modo de educar antigo, os senhores acho que já não alcançaram nem ecos disso, mas para dizer para uma criança e mesmo quando pessoas adultas conversavam entre si sobre algum ponto de Moral, diziam muitas vezes: “É bonito fazer assim, é feio fazer assim”. Não é bonito aos olhos dos outros ou feio aos olhos dos outros, é intrinsecamente bonito ou é intrinsecamente feio. Mas que trazia uma certa conotação de que os outros também devem notar.

E, portanto, o bonito e o feio aos olhos dos outros entrava por algo dentro desse sentido, não era esse o sentido princeps, mas entrava por algo. Mas vinha aí uma idéia de honra. A pessoa que deve prezar a sua própria reputação e não deve querer ser tida em má conta por aqueles com quem convive. E por causa disso é uma razão a mais para não querer fazer o que é feio e querer fazer o que é bonito, para manter a sua reputação decorosa, digna. Eram razões secundárias, o mérito intrinseco do fato era o principal, mas essas razões secundárias existiam, coexistiam. Eu não sei se os senhores alcançaram ainda esse linguajar ou não? Não é?

Esse linguajar se compreende. Agora, a gente vê que ela teve o espírito muito tomado por esse modo de ver as coisas, mas levada pela idéia por causa disso, de que quem era muito reta de alma, muito correta de atitudes e muito afável de maneiras, se realizaria a figura de um personagem de quem a Biblia fala, Dilectus Deus et hominis, amado por Deus e pelos homens. E vê‑se que toda a personalidade dela cresceu com este tropismo de agradar a Deus e de se fazer dileta d’Ele e dos homens.

Com uma certeza de que a ordem natural levaria que, ela sendo como ela era e, procedendo como ela procedia, ela obteria isso no meio dela. E era compreensível. E ela largamente obteve durante muito tempo na vida.

Agora, ela conservou… eu tive a impressão de quando os afastamentos começaram a se dar, ela não se deu uma noção muito clara do por que eram os afastamentos. Ela sentia instintivamente que se ela mudasse ela conciliaria, ela evitaria esses afastamentos. Mas que houvesse nisso uma mentalidade oposta com doutrinas, etc., no começo eu creio que não. E que ela foi notando essas mudanças, mas achando coisas tão irracionais, que ela chegou à idéia de que insistindo e até requintando, ela venceria as barreiras. Que se compreende, é o desenvolvimento racional das coisas.

Você, por exemplo, tem uma pessoa a quem você quer agradar, não consegue agradar… se você quer de todos os modos agradar, você fará multiplicando por dois e terminará agradando. E o contrário foi se dando.

E a gente via que na solidão progressiva dela isso foi magoando e fazendo doer enormemente, mas ela conservando sempre a idéia de que se as outras pessoas… o que ela fazia, era próprio a determinar nos outros uma conduta diferente. E uma confiança nesse ponto: no direito dela ser querida e na adequação do modo de ser deal para ser querida, uma confiança absoluta. E nesse sentido, uma segurança em si absoluta, mas absoluta! Mas com a decepção progressiva e cada vez compreendendo menos. Que foi uma imolação gradativa até uma desilusão completa com a humanidade e com a vida. E o holocausto que foi até o sacrifício final. Assim que eu vejo a evolução dela…

* A Sra. Da. Lucilia não compreendia que o Sr. Dr. Plinio pudesse não ser muito procurado, ser isolado e boicotado

(Sr. Poli: Como ela via as coisas em torno do senhor, o ocaso, etc…)

Ela viu isso. Ela percebeu que eu não gostaria de comentar e também não perguntou nada. Mas percebeu bem e deve ter estranhado muito. Ela terá visto que isso era um fenomeno paralelo ao dela? Eu vou dizer com toda franqueza, mas pela mesma ingenuidade originária, toda mãe forma uma visão otimista do próprio filho. E ela não escapava a essa regra. E ela achava que se ela não fosse minha mãe, ela apesar de tudo seria tão minha, que ela tinha mais ou menos a idéia de que apesar de um grosso mal entendido meu com a curia — em que ela não tinha dificuldade de imaginar que o lado ruim estava na curia —, que apesar disso, ela achava que esse meu isolamento — ela não media bem —, era um isolamento que era porque eu queria. Ela não compreendia que pudesse não ser muito procurado e pudesse ser isolado, fosse possível boicotar‑me. E isso ela não entendia.

Não… a gente dentro da indulgência materna compreende isso. É evidente. Então, aqui está a questão.

* Um presente que nosso Pai e Senhor pretende colocar na Sede do Reino de Maria

Meus caros, eu não queria deixar de dizer o quanto eu gostei da festa. Mas já está dito e os senhores sabem bem, eu não tenho mais nada que acrescentar. Eu me esqueci de falar do livro. O livro, meu Zayas, estava magnífico. Uma apresentação estupenda, uma douração muito boa, gostei muito da idéia de imprimir junto o folheto. Estou pensando aonde colocar o livro. Eu quero dar a ele uma colocação análoga a que tem o exemplar que deu o Dr. Castilho e que está colocado no meu escritório em casa.

Mas em minha casa não posso pôr dois… não posso tirar aquele que me deu Dr. Castilho. E em minha casa não posso colocar os dois lugares, duas obras, a mesma obra duas vezes, dois exemplares da mesma obra. É inteiramente impossível. Então, eu estou esperando em colocar na Sede do Reino de Maria. Não vejo bem em que local.

(Sr. –: Sala da Tradição.)

Sala da Tradição não fica bem. Só se eu deixasse em cima de uma mesa. Mas é que ela é de tal maneira uma sala de aparato, que o estudo e a leitura não ficam bem ali, não vai bem. Ou há de ser na sala do Reino de Maria ou há de ser na minha sala de espera, ou há de ser em uma das minhas duas salas, ou talvez na sala São Luís Grignion. Eu queria colocar numa estantezinha parecida com aquela que tem lá no meu escritório. Aquilo me pareceu muito bem achado. Olha… veja que beleza… o leão dourado sobre fundo vermelho.

Um trabalho de couro muito bonito. A douração magnífica. Olha esse papel, de muito boa qualidade. As senhoras Azeredo tiveram alguma participação nisso, meu Zayas?

(Sr. Zayas: Foram elas que fizeram tudo.)

(Sr. João Clá: Tem duas páginas especiais.)

Magnifico, está esplêndido! É uma coisa muitíssimo bonita, muitissimo bonita!

(Sr. João Clá: Estão perguntando se o senhor gostou do vitral.)

Enormemente, gostei muito! Eu não pensei que fosse possível fazer um vitral tão bonito ali como está aquele. Quando eu entrei e me dei com aquele grupo de tres ogivas e a rosácea no centro, eu fiquei deleitadíssimo, achei uma coisa magnífica simplesmente. São as minhas impressões do dia.

Meus caros, são 2:30 hs., é hora de…

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