Conversa
de Sábado à Noite – 4/6/1983 – Sábado
[AC VI - 83/06.06] .
Conversa de Sábado à Noite — 4/6/1983 — Sábado [AC VI - 83/06.06]
“Quem quiser caminhar para o deserto comigo, que venha! — Nos grandes problemas, nos grandes tormentos, a Providência também nos dá graças especiais” * O efeito psicológico dos dias chuvosos e carrancudos nas pessoas * As atitudes de almas produzidas pelo efeito do tempo chuvoso e carrancudo * A reação diante desse excepcional mau tempo que está fazendo, já é uma seleção de almas para a Bagarre — Uma outra seleção: a reação diante da loucura moderna * A greve da polícia na França: a loucura na fina ponta da civilização — A aceitação ou não da loucura como coisa normal já indica uma separação para a Bagarre * O mundo de hoje está cada vez mais conivente com o crime monstruoso — Daqui a pouco só será crime ser da TFP * Para uma pessoa ser fiel na hora da Bagarre, há necessidade de se ver que no mundo de hoje tudo está fora dos eixos — O exemplo de um homem que trabalhasse num hospício * Um exemplo de gagueira do mundo de hoje: em frente ao prédio do São Bento, uma casa em forma de máquina fotográfica * Uma outra casa próxima ainda tem os restos do neo bom senso
* “Quem quiser caminhar para o deserto comigo, que venha! — Nos grandes problemas, nos grandes tormentos, a Providência também nos dá graças especiais”
(Sr. –: Continuar um pouco o quadro da Reunião de Recortes. Porque nos convidou a voar…)
E não em asas de avião.
(Sr. –: Exatamente isso. Se o senhor poderia dizer algo a respeito. Não sei perguntar o que, mas…)
É…
(…)
… considerar como hipótese, não, como hipótese ainda não.
É o seguinte:
Que à vista disso, estando nós no estado de solidão em que estamos… Se há uma coisa que os senhores não podem dizer é que eu os estou arrastando para um caminho sem os senhores verem qual é! Primeiro não estou arrastando, mas a questão é que eu não poderia dizer mais claro isso, qual é o isolamento e qual é o apuro da situação por onde caminhamos, do que disse hoje à tarde. E é uma obrigação de lealdade, e é a política da verdade, uma obrigação de lealdade que eu tinha promiscuamente com todos os senhores, é dizer isso.
Quem quiser caminhar para o deserto comigo, que venha! Não se iluda, que é para lá que nós vamos. Agora, como é que a Providência… eu disse alguma coisinha a respeito do seguinte ponto: como é que nós agiríamos. Eu disse alguma coisinha, mas eu não disse o seguinte, que é um ponto bonito: nas grandes dificuldades, nos grandes problemas, nos grandes tormentos a Providência também nos dá graças especiais. Graças que caminham de modos insuspeitáveis, mas caminham e que são o nervo da resistência.
Quer dizer, se não fossem as graças especiais da Providência para as conjunturas especiais, nenhum homem perseveraria. E nós devemos contar com essas graças especiais e devemos já nos perguntar quais serão. Uma coisa que tem seu cabimento.
* O efeito psicológico dos dias chuvosos e carrancudos nas pessoas
Então, uma pergunta é por exemplo o seguinte: essas chuvas e esses dias feios, mas o que se pode chamar propriamente dia feio é isso, e se sucedem numa extensão de dias espantosos. Eu não me lembro ao longo de minha extensa vida, eu não me lembro uma tal seqüência de dias feios, frios e mal encarados, carrancudos como são esses aqui. Eu não sei se os senhores sentem a coisa como eu sinto, eu vou descrever a minha impressão.
Há uma diferença entre dia chuvoso e dia carrancudo.
Há uns dias chuvosos bonacheirão, em que vem umas nuvens baixas, chove, mas daqui a pouco depois de ter chovido, é uma chuva meio amiga, até torrencial, mas que limpa tudo, fecunda tudo, quanto tudo acabou, a natureza parece que está agradecendo ao céu a chuva que caiu sobre ela. A temperatura é agradável, exatamente tornou‑se um pouco mais fresca. A chuva refrigerou um pouco, a chuva foi um beneficio.
Não há nada de comum com esses dias chuvosos que nós estamos presenciando. Em que as nuvens estão altas, eu não sei bem como é que chove porque a gente olha e tem a impressão de que elas estão altas. As nuvens estão altas, fixas, não deixam aparecer no céu uma nesga de azul, para nada, se aparece é um pouco para logo depois desapontar e desabonar.
Quer dizer, o bom tempo que aparece é à maneira de logro, de debique, de desapontamento para depois ficar essa carranca de um mal ali que cai, que cai, sem beleza, sem glória, sem limpeza, sem nada. É um puro malefício… ou castigo. Pode‑se conjecturar que seja um castigo, mas que tem seus efeitos sobre as almas.
Um efeito psicológico que não é só o do raciocínio: “É o castigo, tá tá…” é outra coisa. Viver debaixo dessa carranca, prepara, modela a alma de um determinado modo. De que modo modela?
Eu estava comentando com minha irmã agora à noite, que toda vida eu fui muito simpático a dias feios em que a gente pode estar em casa, quando mora em uma casa onde a gente se sente bem. Porque o aconchego da casa, o agradável da casa, etc., contrasta com a feiúra lá fora e a pessoa tem o deleite de olhar pela janela, ver o horror lá fora e dizer: “Assim não é o escritório. Assim não é o meu salão. Assim não é a minha sala de jantar, não é o meu quarto, etc…”. Sentir‑se bem aconchegado dentro de casa, é uma situação comum que a pessoa tem.
Mas há uma coisa qualquer que faz com que essa sensação seja impossível nesse tempo feio. Quer dizer, nesse tempo feio, dentro de casa a gente tem a impressão de que a carranca acompanha a gente e vem de ela por contraste, tornar agradável a casa, ela em algo tenta perturbar o bem‑estar da pessoa até dentro da casa. Não sei se pensam como eu? O que eu julgo sentir.
* As atitudes de almas produzidas pelo efeito do tempo chuvoso e carrancudo
Agora isso prepara a alma para algumas atitudes.
Uma atitude é, atitude dura: “Isso não é castigo, é natural que isso seja assim. A coisa são sempre assim e sempre foram assim e eu não me incomodo. Vou me habituar a andar debaixo de pancada e achar bom, porque eu formei a resolução de achar bom tudo quanto aconteça, mas eu não quero é ser uma pessoa que reflete e que sinta castigo de Deus”.
Os senhores conhecerão talvez gente assim. Eu conheço. Gente assim prefere tudo à reflexão que nós estamos fazendo. Essa reflexão eles não querem aceitar. Eles vão se preparando assim para o jugo comunista.
Eu não quero dizer que toda preparação para o jugo comunista seja feito por essa aerologia, é claro que não. Eu digo que é um fator, é um dos múltiplos fatores que entra uma componente aí, é essa.
Agora, para os que, pelo contrário, recusam isso: “Que isso seja feio, que são dias ruins, é esquisito, como é que estarão as coisas”, começa a formar‑se uma insegurança. Mas essa insegurança é uma insegurança salutar. É uma insegurança que pode ser a véspera da oração e depois da contrição. Não se pode conjecturar que dias assim sejam uma das preparações para essa tumoração do que eu falei hoje à tarde? Eu acho a conjectura cabível. Eu não acho indiscutível, mas eu acho cabível.
Agora, essas almas assim, para que é que se preparam?
Essas se preparam para uma atitude boa durante a Bagarre.
* A reação diante desse excepcional mau tempo que está fazendo, já é uma seleção de almas para a Bagarre — Uma outra seleção: a reação diante da loucura moderna
Então já agora, no excepcional mau tempo que está fazendo, os senhores podem se perguntar se já não está havendo um começo de seleção de almas para a Bagarre!
Talvez os senhores estejam notando que eu me exprimo com muito cuidado. Eu não estou dizendo que é certo que é assim, estou dizendo que talvez seja assim. O talvez, cuja extinção foi tão bem proclamada no Auditório São Miguel, tem às vezes o seu papel. E assim os senhores têm um talvez indispensável. Talvez seja assim…
E o bonito da pergunta é nós irmos analisando outras coisas que vão acontecendo e perguntando‑nos se talvez é assim, se talvez é assim, se talvez é…
Então, nos perguntando se esse enlouquecimento moderno, tudo está gagá, debandado, se ele não tem como finalidade fazer com que uns aceitam a loucura como normal e seguem o caminho. E outros recalcitrem contra a loucura e sem perceber ainda já começam a se voltar para a Sabedoria!
* A greve da polícia na França: a loucura na fina ponta da civilização — A aceitação ou não da loucura como coisa normal já indica uma separação para a Bagarre
Eu baseei‑me num grafonema do Sr. Guillaume Babinet para dar aquela notícia a respeito da política francesa. Ele no grafonema dele — que eu não fiz senão ler —, ele por resumo, que eu compreendo, não noticiou o que é talvez é mais frisante do acontecimento: é a razão da greve.
Não sei se os senhores chegaram a ver a razão da greve nos jornais aqui, porque parece que os jornais daqui deram. A razão da greve é a seguinte: é que as leis que o socialismo pôs em vigor na França estão protegendo de tal maneira o bandido, o ladrão, o toxicomano, contra a ação do polícial, que o polícial fica sem garantia do exercício de sua profissão.
E por causa disso é que veio aquela greve, aquele desfile e aquela espécie de ameaça. Os senhores já pensaram numa coisa dessas até onde pode chegar? Ao mesmo tempo que no Brasil um bispo se deita numa ponte para os efeitos que nós comentamos, na França a lei cuida de proteger o criminoso contra o polícial a ponto que a polícia protesta!
Quer dizer, e isso logo num grande país europeu?! Portanto, na fina ponta da civilização, o que isso quer dizer de loucura?
Para os senhores medirem o que isso quer dizer de loucura, os senhores imaginem que há cinco anos atrás eu tivesse dito ao senhor que isso ia acontecer. O senhor ia dizer: “Não, isso é tão irracional que ninguém faz. É o contrário, é preciso reforçar os poderes da polícia”. E notem que não é para favorecer a liberdade do comunismo, é para favorecer a liberdade do crime. Quer dizer, uma coisa espantosa! Que um governo tome dessa maneira a defesa do crime contra o agente da lei, é uma coisa de simplesmente de pegar um chefe de Estado que mencione uma lei dessas e cobri‑lo de bofetadas.
Os senhores já imaginaram uma pessoa que leia isso, e que leia a história da ponte e que leia outras coisas do gênero, e que esteja lendo todo dia coisas do gênero, essa pessoa não deve sentir em face da contextura dos acontecimentos atuais o mesmo que nós sentimos olhando para esse céu escuro?!
Mas é ou não é verdade que 90% das pessoas, para ser muito otimista, quer achar que isto está normal. Pode ser que não esteja de acordo, é outra coisa, mas acha que é normal. Esses desacordos fazem parte da vida normal. Não querem ver a era apocalíptica que está entrando.
Essa posição, essa situação não indica já uma separação para a Bagarre para todos os efeitos? É uma pergunta que se pode pôr. E mais uma vez aquela metáfora que eu aludi, molhar os dedos em um pouco do mar da Bagarre, essa metáfora se justifica, explica o que eu quero dizer, o que estou tentando dizer. Agora, isso é uma das atitudes da Providência com as almas.
Quais vão ser as outras atitudes d’Ela com as almas para chamar os d’Ela e para dar a todos uma última oportunidade que já é, como que uma certeza moral de que a maioria vai recusar e, então, eles estão prontos para o castigo. Não é bonito, então, nós começarmos a acompanhar os acontecimentos também debaixo desse ponto de vista? Eu acho interessante, acho interessante.
* O mundo de hoje está cada vez mais conivente com o crime monstruoso — Daqui a pouco só será crime ser da TFP
Os senhores vejam até onde as coisas chegaram hoje:
De todos as crises possíveis só uma coisa ainda é crime: é seita. Um crime que não está definido no que é que consiste e que é uma espécie de negócio perambulante in tenebris, a seita.
É uma seita. Isso é crime. Então, contra isso vão os furores da lei. O resto, então pode ser toxicomano, homossexual, assassino, pode ser o que for, não tem nada.
E o interessante para nós raciocinarmos um pouco é o seguinte: algum dos senhores, por exemplo, dos que estão sentados, alcançaram o tempo em que os jornais quando se dava um crime monstruoso, publicava. Daquele tempo para cá a humanidade só tem ficado pior.
Os senhores já notaram que os jornais não anunciam mais crime monstruoso?
(Sr. –: Diziam que se espremesse o jornal saia sangue.)
Exatamente. É que eram jornais que exploravam o ódio do povo ao crime. Está bem! De tal maneira está sendo trabalhado para que o povo não odeie mais o crime… Você já pensou nisso? Sabe o que é mais terrível? É que isto que é uma modificação enorme só se percebe numa roda dessas. E não adianta querer abrir os olhos dos outros para isso, porque isso é uma coisa evidente, os senhores sabem que se os senhores falarem isso para os outros: “É…”, o assunto morre. Não tem conversa. E só uma coisa vai ficando crime, no fundo: é pertencer à TFP. É a única coisa que vai ficando crime, é pertencer à TFP.
No fundo, isso não tem analogia com o preferir a Barrabás do que Nosso Senhor? Porque cobrir Barrabás assim de garantias e instituir investigações sobre seitas, de medo do crime?
Então, eles desarmam o polícial diante do crime e depois instituem um departamento para perseguir as seitas na França, dirigido por Mons. Sect. E é para evitar o crime! Isso é uma política séria diante do crime? Não tem um pingo de seriedade. Não tem nada, é doença mental. Isso é doença mental. Mas a questão é que o grave não é que um governo socialista faça isso, porque isso são eles, não tem nada que ver. O problema é outra coisa. O grave é que a gente fala isso para qualquer um, não impressiona a ninguém. É só falar de seita: “Seita?! Ah, não sabe o que é? Ah…”.
* Para uma pessoa ser fiel na hora da Bagarre, há necessidade de se ver que no mundo de hoje tudo está fora dos eixos — O exemplo de um homem que trabalhasse num hospício
É uma coisa espantosa a reviravolta. Mas essa reviravolta é um chamado da Providência para a pessoa se manter fiel na Bagarre. Se lhe abrirem os olhos para essa reviravolta. Para ela ir compreendendo como tudo está saindo os eixos, ela fica no eixo. A fidelidade consiste em ver quanto está tudo fora dos eixos. Que a pessoa não vê e não censura, acaba ela mesma caindo dos eixos. Eu creio que não preciso explicar melhor.
E aqui começa, por exemplo o seguinte, para ver o trabalho da graça:
É assim, mas nunca os senhores que estão falando comigo e depois os que vão ouvir essa fita, nunca tiveram ocasião tal, de pegar com a mão, que não acompanhando a mentalidade do mundo moderno, mas resistindo e notando o quanto ele é louco. Aí é que nós somos fiéis. Mas que tomando a mentalidade do mundo moderno não se percebe quanto ele é louco, [aí] nós caímos na loucura com ele. Acabou‑se! Os senhores deveriam imaginar uma situação assim:
Um homem, que é um homem sensato — estrutura mental comum —, que por uma razão qualquer é levado — vamos dizer por questão de ganhar pão — a trabalhar num hospital para gagás. E é mandado para trabalhar… vamos dizer que seja funcionário de escritório do hospital de gagás. Vamos imaginar um hospital a 20 km de São Paulo, num ponto tranqüilo, etc., 30 km. Se é que a 30 km de São Paulo existe algum ponto tranqüilo, é uma outra questão.
Ele mora lá e ele trata da seção dos gagás que estão semi-recuperados. E como ele não tem outra conversa para ter, ele conversa com os gagás semi-recuperados. Ele, para conservar o equilíbrio mental dele, ele precisa distinguir nos gagás o que é gagueira ou não. Se não naquela conversa e naquela estória ele acaba meio se deixando intoxicar. E certos desvios mansos da gagueira acabam sendo vícios no espírito dele. Quer dizer, para ele manter uma crítica afiada daquela gagueira, de maneira a perceber em cada ponto no que está a gagueira, aquilo para ele é um elemento de importância capital. E será, vamos dizer por exemplo, eu agora aqui por um ato reflexo bati três vezes aqui com o dedo médio sobre a ponta desse bengala, um ato reflexo.
Se eu fiz isso por um ato reflexo que, exceto D. Ivo Lorscheiter, qualquer outra pessoa achará um ato lúcido. Agora, feito por um semigagá pode ser por semigagueira, pode ser. E eu, se não quero deixar penetrar essas águas na minha alma, eu devo até distinguir quando é que ele fez por semigagueira ou quando é normal fazer aquilo.
Porque do contrário, quando eu sair do hospital, um homem fazer assim… eu estou achando que ele é gagá e ele não é. Quer dizer, é porque estou cambaleando…
Então, é preciso ficar numa espécie de alerta para compreender os limites entre a anomalia e o normal. E medir as distâncias da anomalia, mas as distâncias abismáticas da anomalia em tudo e por tudo.
Se fizermos isto, nós ficaremos de pé dentro da tempestade. Seremos esses a quem Nossa Senhora sorrirá.
* Um exemplo de gagueira do mundo de hoje: em frente ao prédio do São Bento, uma casa em forma de máquina fotográfica
Eu compreendo uma objeção que os senhores podem fazer: “Mas Dr. Plinio, será que o senhor tem razão mesmo? Será que um número tão enorme de pessoas está meio amolecida?”.
Veja! Olhe! Olhe no jornal, dêem um giro na rua, façam qualquer coisa, façam qualquer coisa. O senhores têm um teste aqui nesta rua. Aliás, têm dois testes nessa rua.
Mas essa casa em forma de máquina fotográfica. Como pode caber na cabeça de alguém morar dentro de uma máquina fotográfica? Os senhores imaginam alguém que mande fabricar uma máquina fotográfica que tenha jeito de casa. Os senhores não acham que isso é gagá? Então, um homem faz uma casa com jeito de máquina fotográfica, igualmente não é gagá? Mas isso aí, as pessoas passam, acham engraçado, extravagante, gagá de nenhum modo. Aí os senhores podem medir bem a coisa.
Quantos deveres novos de fidelidade às circunstâncias vão pedindo a nós? Quantas graças virão para nos tornar isso possível e atraente? Porque é preciso tornar atraente. Como é que Nossa Senhora maternalmente manuseará as nossas almas para nós sermos fiéis dentro desse caminho? O primeiro passo é esse, mostrando a situação. É ou não é verdade que os senhores à vista do que eu estou dizendo se sentem chamados para um tipo de vida, desconcertante, mas ao mesmo tempo mais bonito que pode haver! Esse serviço à virtude da sabedoria [de se] manterem fiéis a ela dentro do desatarraxamento…
* Uma outra casa próxima ainda tem os restos do neo bom senso
(Sr. –: Estava dizendo que tinha dois problemas nessa rua.)
Ah! não. Isso eu preciso ver durante o dia. É melhor deixar para o almoço de segunda, porque quem não está participando dos almoços nem alcança bem o problema. Eu encontrei as duas casas contrastes aqui na rua. Os senhores [me lembrem] de eu falar da entrada das modas extravagantes e como ficam minguadas as coisas sensatas e bem arranjadinhas diante do insulto da coisa extravagante. Descendo aqui à direita eu mostrei ao João, mas eu não tenho certeza de ter encontrado a verdadeira casa…
(Sr. João: Pelo que o senhor descreve é uma abaixo.)
Não é bem aquela, não é? Eu quero descer de automóvel, se me lembrarem, se Fernando me lembrar, ou Gugelmin, ou Arnolfo, amanhã à tarde a gente vê bem, do lado direito de quem desce uma casinha que é modelo de casinha feita, irrepreensível, dentro do limite do bairro aqui, irrepreensível dentro do ponto de vista do neobom senso. Planejada talvez por uma dona de casa virtuosa, um pouco sem graça, que sonhou durante toda a vida em ter uma casinha para morar e afinal de contas conseguiu e fez ela mesma a planta da casinha, que é a imagem da virtude dela e da sem gracez dela. Está ali, direitinha, irrepreensivelzinha e insignificantezinha, mas limpinha. E eu estou imaginando dentro como é que são as coisas. Eu estou imaginando os moveizinhos, os tapetinhos, as almofadazinhas, o quadrinho e o casal de velhinhos que moram ali dentro.
E que diga‑se entre parêntesis que acolhem os filhos de modo maravilhoso quando aparecem, mas os filhos acham eles cacetes e não vão lá porque detestam o bom senso deles, e eles não compreendem porque é que não acham aquilo tão agradável, porque é que os filhos não vêem. Eles não compreendem que tudo mudou. Isto é insultado pela casa em forma de máquina fotográfica. Mais rica, maior… não seja propriamente rica, mas custou mais dinheiro, mais opulenta, mais extravagante e que mete a língua para essa aí.
Nós poderíamos imaginar que essas duas casas pertencem a duas primas e essa prima que não chega a ser uma prima pobre. Uma prima arranjadinha, essa prima assim, a outra nem vê nem olha.
Mas a outra como é que é? Vale a pena eu tomar bem o número e mostro para os senhores depois como é que é. Se me lembrarem amanhã à tarde nós vemos isso. É preciso dar recomendação para não começar a parar gente. E a pobre senhora ouve que é sem graça, olha aqui, etc., e depois comentários da casa da fotografia. Quem sabe é melhor não indicar…
Eu ia dizer isso exatamente, que a Sabedoria tem seu imperativos, e um dos imperativos é o respeito ao repouso. Sobretudo quando se está nos verdes anos é preciso repousar. Então, vamos ao repouso!
Vamos rezar a oração da Restauração…
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