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Conversa da Noite ─ 12/2/83 ─ sábado

A TFP é uma semente que se desenvolverá e, em certo momento baixará sobre ela uma bênção do Céu que fará dela uma coisa inimaginável * “A Providência tira as mãos de quem, andando nas vias da TFP, não sente que estamos andando sempre para cima” * As graças do Reino de Maria flutuam no ar à procura de nossas esperanças * A beleza do Reino de Maria está condicionada a um raio de luz que está para partir do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria * Esperar longamente sem perder a esperança naquilo que tarda, é mais belo do que possuí-lo * Se nos contentarmos com o que somos, ficaremos piores do que os que não souberam esperar * A TFP no Reino de Maria seria a soma de idades de tudo que combateu, de tudo que desconfiou, de tudo que esmagou ao longo da História * Papel que a TFP deve desempenhar no Reino de Maria junto às Sociedades Espiritual e Temporal

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Título da reunião: TFP gota em que se reflete o futuro! │

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Local da reunião: Data da reunião: 12/ 2/83│

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Copiador: Data da datilografia: __/__/__│

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Extraído do microfilme pela Comissão do Apocalipse em: 10/ 4/96│

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Então, meus caros, vamos rezar três Ave Marias, não é?

Ave Maria... [três vezes]

(...)

Então?

(...)

Você hoje é o pergunteiro incontestável mesmo. [Risos]

(Sr. J. Clá: O modo como o senhor descreve os ambientes, povos, instituições... decoração... perguntas nesse sentido.)

Estou inteiramente à disposição.

(Sr. J. Clá: A decoração da Sede do Reino de Maria, o senhor teve em vista as necessidades atuais e os recursos.)

Em muito os recursos, que circunscreveram muito.

(Sr. J. Clá: Imaginando que estivéssemos no Reino de Maria e o senhor então dispusesse de todos os recursos, como o senhor faria a fortaleza-abadia, as diversas salas, o claustro, a sala do senhor, a sala capitular.)

Uma sala capitular, hein! Uma sala capitular.

(Sr. J. Clá: O refeitório, os corredores, as janelas, tetos, pé-direito, enfim, tudo.)

* Alguns exemplos de maravilhas que o Senhor Doutor Plinio faria construir se houvesse recursos

Ser-me-ia muito difícil dizer isto pelo seguinte: porque de um lado se eu fosse me imaginar com toda liberdade de movimentos possível, eu por alguns lados eu seria levado a conceber tudo quanto se pode conceber de mais audacioso...

[Exclamações]

...em matéria...

(Sr. João Clá: Seria o caso de abrir uma janela daquelas, ou não?)

pode abrir se quiser — em matéria de todas as formas de riqueza possíveis.

Eu em reunião do MNF ─ os senhores ouvem aqui a reunião do MNF, não é?

[Todos: Sim!]

Em reunião do MNF os senhores devem ter ouvido, talvez já, que eu tenha falado da possibilidade de mandar construir um prédio inteiro, digamos uma catedral, com o material com que hoje se fazem vasos, ou fazem vários outros objetos desse gênero não é. Quer dizer, é uma coisa que vai além de toda idéia do possível é o homem mandar construir, mandar fabricar as pedras com que ele faria os seus próprios palácios não é.

[Exclamações]

Sendo preciso dizer o seguinte que: eu sou inimigo de mandar fazer ─ como se faz hoje com esse granitinho que se encontra aqui por dentro de São Paulo ─ essas lâminas muito finas e “ploc!”, pôr as lâminas com umas placas em cima da parece, de maneira que a gente já sabe que aquilo é apenas um revestimento.

Não. Se eu mandasse fazer uma parede dessa grossura, revesti, tendo pelo lado de fora, por exemplo, o colorido daquele vaso, eu queria que a parede inteira fosse daquela matéria.

[Exclamações]

De maneira que se furasse [com] um prego de lado a lado o que se encontrasse era aquilo.

[Exclamações]

E é inteira. Essas falsificações de pôr uma chapinha de alguma coisa, uma chapinha de carvalho, uma chapinha de não sei o quê, uma chapinha de granito, e depois por detrás ou de mármore, e por detrás não tem, eu não gosto disso. Ou é por inteiro ou é nada. Falsificação nem nesse terreno vale para nada.

[Exclamações]

Agora aí a gente deveria imaginar, se fosse entrar por aí, se os senhores estão achando tudo isso bonito, os senhores vão ver de repente as coisas como caem, vamos conversar, vamos conversar, não há como conversar-se.

[Exclamações]

Mas os senhores tomem isso, os senhores considerem que então o homem com essas possibilidades ─ a palavra é horrível, o adjetivo que vou usar agora ─ industriais... O homem com essas possibilidades, ele poderia fazer materiais mais bonitos do que as pedras preciosas que estão na natureza.

[Exclamações]

E portanto, poderia chegar a um grau de beleza de materiais que seria inenarrável.

Naturalmente não se pode imaginar que isto fosse para qualquer casa ou para qualquer construção; mas para, conforme a casa, conforme a construção.

Por exemplo, para uma ─ não se pronunciem antes de eu falar por inteiro... ─ uma via de la Conziliazzione que levasse desde a sepultura de São Pedro, e do trono de São Pedro até o Castelo de Sant’Angello, levasse ─ mas tudo com outros céus, e outras terras ─ a gente poderia conceber que até as pedras da rua fossem preciosas assim.

[Exclamações]

Para honrar um Papa. Se a gente pode imaginar uma laje de asfalto única de ponta a ponta de uma avenida, por que é que não pode imaginar uma laje de uma porcelana exquise para ponta a ponta de uma avenida? Que coisa magnífica!

[Exclamações]

Dessa grossura... ou dessa, ou dessa, e que fosse incomparável, “ou, ou, ou!”, de um cristal único etc. etc.

Quer dizer, o aonde a inteligência é levada a dar os seus recursos, a fantasia é levada a dar os seus recursos, é do outro mundo.

Agora, acontecem algumas coisas. Eu posso falar dessas coisas porque eu estou quase inteiramente dentro delas. Acontecem algumas coisas: é que essas coisas assim maravilhosas são feitas para determinado tipo de panorama e não para qualquer panorama. E são feitas para determinado tipo de gente e não para qualquer gente.

* Importância do panorama para a construção de belos edifícios

Eu vou me exprimir agora ─ disso eu estou inteiramente [de] fora, não tenho uma gota de sangue oriental, se por oriental se entende asiático, não tenho uma só gota de sangue asiático, a não ser algum ignorado sangue árabe que me tenha ficado das incursões dos árabes em Portugal... mas isso eu ignoro completamente, não sei se houve, tenho tanto ou tão pouco quanto qualquer descendente de português.

[Risos]

Bem.

Meu Fiúza senta aí. Avisaram ao Dr. Edwaldo que nossa reunião estava sendo feita?

(Sr. João Clá: Não encontrei, nem o Sr. Fiúza encontrei.)

Vão ver como é bom chegar mais cedo hein, olha lá.

(Sr. João Clá: Sr. Fiúza tem antena, não precisa chegar mais cedo.)

[Sr. Dr. Plinio dá risadas]

Bem. Agora, quer dizer, há panoramas para os quais isso fica lindo. Por exemplo, ficaria lindo para um panorama, até certo ponto belo demais, que é a baía de Guanabara. Eu gostaria um dia de fazer um passeio pela baía de Guanabara com os meus “enjolras”...

[Exclamações]

...sairmos de manhã e percorrermos a baía toda e voltarmos à noite depois de termos presenciado o pôr-do-sol. Acho que os senhores também gostariam enormemente.

[Exclamações]

Bem. Com alguém que nos fosse descrevendo os lugares históricos, a luta de Anchieta, dos portugueses contra os protestantes que quiseram invadir lá, contra os índios pagãos que quiseram invadir. Essa coisas todas bonitas, interessantes, mostrar, a gente recompor seria uma beleza. Bom. Então, ali, por exemplo, caberia.

Mas nós não podemos imaginar um palácio desse nas brumas de São Paulo, ficaria ridículo. Encafuar tantos tesouros numa bruma feia como essa de São Paulo! Onde é que se viu uma coisa dessas! Não vai. Por mais que se seja bairrista ou regionalista ─ eu não o sou ─ não pode ser.

Quer dizer, o Brasil beira-mar, o Brasil beira-rios... eu acho que lá o Brasil do Tocantins, do Xingu, do Araguaia etc. etc., bem despoluído da memória de D. Pedro Casaldáliga...

[Risos]

...pode ser muito bonito, pode prestar-se a coisas muito bonitas. Há zonas do Brasil que de nenhum modo se prestam para isso, em que isso fica completamente ridículo.

Bem. O continente onde essas coisas ficam inteiramente bem é a Ásia.

[Exclamações]

Algum outro ponto bonito do mundo: baía de Nápoles, Mar de Mármara, Bósforo, eu compreendo, mas ali já é Oriente. Mas aonde isso fica bonito mesmo é na Ásia. O que eu imagino dos sóis da Ásia, das solidões, das matas, dos desertos, e de tudo da Ásia, serve magnificamente.

[Exclamações]

África? Sim e não. Um pouco como o Brasil. Algumas regiões prestando-se soberbamente e outras nem um pouco, espantalho das coisas assim.

Bem. E, por que não dizê-lo, a Providência não pôs aqui, está...

São as coisas da Providência, servem para a gente... Não pensem que estou saindo do tema, pode parecer, mas não estou, o tema é vasto. Supõe ziguezague. Bom. Mas enfim, vamos tratando do tema, porque não enfrentar a coisa: esses castelos, essas coisas imaginárias assim não servem para o ambiente europeu. E a Providência pôs na Europa a possibilidade de conseguir com materiais sóbrios, belezas de tal maneira magníficas ─ granito, por exemplo ─ que quando a gente vê alguma catedral, algum castelo gótico de granito, boa pedra, a gente é levado a se perguntar se as tais pedras que eu imagino valem de qualquer coisa diante daquela pedra feita por Deus.

[Exclamações]

Não! É verdade, essas perguntas à gente tem que fazer a pergunta de frente, inexorável, para pegar uma verdade sólida que a gente não esteja imaginando, que esteja delirando.

* A beleza da austeridade e as diferentes formas de “sonhar” do oriental e do europeu

Bem. A gente toma, por exemplo, a arte dos lambris ─ eu que falava contra as coisas falsificadas, encostadas na parede ─ a arte dos lambris, as madeiras de lambris e o bom uso das madeiras para revestimento, às vezes de simples casas campestres, a Europa levou a um gosto, a um requinte, a uma coisa, que fez perceber que a Providência colocou possibilidades de maravilhoso em materiais não diretamente maravilhosos.

[Exclamações]

E colocou possibilidades de faustoso em materiais que a arte e o bom gosto deveria nobilitar, mas que de si não tinham a beleza estourando de dentro como em alguns materiais da Ásia. Não sei se eu estou me exprimindo...?

Resultado: é que nós temos um tipo de arte na Europa que valoriza o intelecto, valoriza o homem, valoriza o bom gosto, e valoriza, no homem, a beleza da alma dele não enquanto ela voa para o que há de mais belo, mas enquanto ela contém e freia seu vôo, enquanto ela dá a conta, e o peso, e a medida de si mesma.

[Exclamações]

A beleza da austeridade, a beleza da simplicidade.

Como é fácil a gente ir falando das avenidas feitas de porcelana, como é fácil ir falando; mas quando a gente imagina bem esse outro lado das coisas. Falando mal de brumas, mas como é bonito imaginar um Big-Ben emergindo pontudo dentro da bruma de Londres. Muitas vezes bruma feia, suja e poluída como a de São Paulo. Mas como é bonito.

[Exclamações]

Quer dizer. Os senhores vêem bem que é preciso ter um senso das coisas para não errar o pulo, um senso das coisas extraordinário.

Depois, os povos. É próprio do oriental que, quando ele faz um palácio assim, a gente situa o oriental dentro, ele está pensando o seguinte: “Bom, isso que eu fiz, mas se podia fazer outra coisa, outra coisa, outra coisa...” E o charme dele está em que ele está imaginando o que ele não poderia fazer.

Quando a gente vê o ocidental, e mais especialmente o europeu, dentro de um ambiente em que ele criou, ele é a obra-prima do seu palácio.

[Exclamações]

Nós não podemos — meu bom Edwaldo, você também tem radar é?

(Sr. João Clá: O Sr, Fiúza anda fazendo umas extensões aí.)

Nós não podemos imaginar uma Maria Antonieta sonhando com um Versailles mais bonito, com uma coisa mais bonita. Ela sonhava em ser mais ela mesma ali dentro.

[Exclamações]

É uma outra coisa, é outra escola, é outro rumo, outra avenida para as maravilhas de Deus.

[Exclamações]

E a pessoa tem que tomar muito isso em consideração. Tem que tomar muito em consideração para saber ver qual é a maravilha das maravilhas que valerá para o Reino de Maria. Desde logo o seguinte: é uma asiatização, é uma nota asiática a vibrar sobre o universo inteiro, ou é uma nobre nota brônzea européia a vibrar sobre o mundo inteiro? Bem. Ou haverá outras notas possíveis?

[Exclamações]

Quais são elas, como são elas? Até que ponto elas se inspirarão das notas que os outros deixaram?

[Exclamações]

São perguntas que é preciso pôr para a gente entender a vastidão do tema diante do que se move, e pensar em vez de sonhar...

[Exclamações]

...porque eu não estou sonhando, eu estou pensando.

[Exclamações]

Bem. Aí...

(...)

...um pouquinho menos que Santo Estevão ─ não é, meu filho? ─ se converteu, e depois Santo Almaurico e daí para a frente, e quantos outros exemplos nós poderíamos dar. E então por que não será também no nosso tempo? E então não estará dependendo de nós?

* Uma pergunta terrível: quais os povos que passarão para o Reino de Maria?

A reunião de hoje à tarde é uma reunião, nesse ponto, importantíssima. Nós não sabemos, as nações de futuro, quais são aquelas onde Nossa Senhora vai recolher materiais para o Reino de Maria. Essa é a verdade.

Os senhores dois se lembrarão talvez que numa dessas reuniões recentes, apareceu no MNF um álbum tendo na capa um afegão, um álbum ou uma revista, não me lembro bem.

(Sr. João Clá: Era uma revista.)

Era uma revista?

Mas era uma plenitude terrena e humana de homem, uma coisa fenomenal! Eu tive vontade de converter aquele povo...

[Exclamações]

...como quem pega um material precioso e diz: “Não, esse vai para o altar de Nossa Senhora”.

[Exclamações]

Pegar esse povo com aquela plenitude humana de força, de equilíbrio, de bom senso, dizer não... Imaginar aí uma ordem religiosa com aquilo, uma TFP de homões daqueles e fazendo capítulo.

[Exclamações]

Oh, maravilha, oh maravilha!

Quais são os povos que vão se salvar nesse sentido? Quer dizer, dos povos da Ásia o que ficará? Dos povos da Europa o que ficará? Dos povos da África, dos povos da Oceania, dos povos da América, o que ficará? É uma pergunta terrível.

(...)

...inteiramente no Brasil. Outra coisa será o Reino de Maria realizando-se inteiramente nas nações irmãs da América espanhola. Outra coisa nos Estados Unidos, outra coisa no Canadá, outra coisa daí para fora. Quais serão esses materiais humanos com que o Reino de Maria vai ser construído?

Ora, tudo isso entra em junção para a gente compreender como é que vai ser o Reino de Maria.

* A TFP é uma semente que se desenvolverá e, em certo momento baixará sobre ela uma bênção do Céu que fará dela uma coisa inimaginável

Mas mais do que tudo, o que entra em junção para compreender o Reino de Maria é o seguinte:

Nós devemos entender que a TFP é uma semente, e ela não passa de uma semente. Por mais magnífica que ela seja em suas horas, ela não passa de uma semente e que essa semente é singular, pelo seguinte: a gente a compararia mal se a comparasse à semente de uma flor ou de uma planta que vai se abrir, depois floresce, ou frutifica. Está mal comparado. É uma planta, uma flor, uma coisa qualquer que vai se desenvolver e em certo momento cairá dela baixará sobre ela uma bênção do Céu que fará dela uma coisa inimaginável.

[Exclamações]

Porque esta é a ação do Espírito Santo sobre as almas.

[Exclamações]

E o Reino de Maria é o Reino do Espírito Santo. O Reino de Maria é o reino de uma plenitude de graça, de uma abundância de “Thau”, de senso católico, de amor às coisas da Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo e tudo mais, como nós não podemos ter uma idéia. A TFP é a corola de flor na qual esta chama pode baixar para dar o que nós ainda não imaginamos. Esta é a TFP.

[Exclamações]

* “A Providência tira as mãos de quem, andando nas vias da TFP, não sente que estamos andando sempre para cima”

E, aliás, é por isso que a Providência tira as mãos de quem, andando nas vias da TFP, não sente que estamos andando sempre para cima, sempre para cima, e que algo de incomensuravelmente alto nos atrai.

[Exclamações]

Não sei se eu devo expor melhor esse pensamento.

[Todos: Sim.]

(Sr. João Clá: A gente entende, mas é fundamental...)

Bem. Quer dizer, você pede para eu expor é isso? Quer dizer o seguinte, eu... pode levar não a nada.

(Sr. João Clá: Não eu vou avisar para entrar algumas pessoas, tem poltrona.)

Ah! Está bom, deixa entrar então.

(Sr. João Clá: Não, pode continuar Meu Senhor.)

Vamos dizer assim: a TFP é em relação ao que a precedeu algo que podia ser previsto em função do que a precedeu. Os que a precederam podiam prever uma coisa à maneira da TFP. Isto é verdade. Mas veio algo a mais que não se podia prever.

[Exclamações]

Não sei se este ponto está bem claro?

Bem. Mas esse a mais que veio não é a totalidade do que virá, isto é um sinal do que virá.

[Exclamações]

Quer dizer, quando, para retrucar a vinda do demônio, Nossa Senhora vier e trouxer consigo o seu Esposo, o Divino Espírito Santo...

[Exclamações]

...e houver um derramar de graças, vamos dizer, ao qual só foi superior Pentecostes, o que quero dizer, superado apenas por Pentecostes; bem, então nós teremos uma idéia do que propriamente virá.

E nós devemos saber ver na TFP que nasce a gota de água que reflete o Céu do futuro que vem.

[Exclamações]

O que alimenta continuamente meu ânimo, minha esperança, minha vontade de agir, etc., é esta esperança, esta convicção: virá alguma coisa da qual nós não temos idéia.

[Exclamações]

Isso que... Por exemplo, vendo o meu afegão, eu estava pensando nisso: “Esse homem é um magnífico espécimem da condição de homem, magnífico espécimem, é um homem que assim de uns 60 anos mas, de uma plenitude grisalha uma coisa extraordinária, um “Tarzan”, lutou contra tudo, enfrentou tudo, e dominou a vida e tem mais 60 para viver.

[Risos]

É uma coisa inenarrável aquele homem, é pena não ter guardado o homem para mostrar aos senhores.

[Risos]

Bem. Mas os senhores já imaginaram o que seria esse homem batizado?

[Exclamações]

O que seria esse homem rezando aos pés de um altar de Nossa Senhora? O que seria um homem desses usando o hábito da TFP?

Senta um pouco.

(Sr. João Clá: Não, não, está bem.)

[Exclamações]

É uma coisa incalculável, uma coisa simplesmente incalculável.

E assim nós não temos idéia do que vem. E não é olhando para as possibilidades do afegão ─ um pouco sim ─ olhando muito mais para o que a graça ainda vai dar à vista da plenitude do Reino de Maria. Aqui está a questão.

[Exclamações]

Então, por exemplo, os senhores como devem se olhar. Os senhores devem se olhar como pessoas que olham para si mesmas e dizem: “Mas como, então, aqui está uma gota dessa futura chuva de graça”...

(...)

...que fidelidade eu estou pondo? Salve Regina, Mater Misericordiae...

[Exclamações]

Confiteor, confiteor, confiteor. Magnificat. É claro, isso tem que ser.

E se os senhores, através de tudo que vêem na TFP, não vêem bem lá no auge uma coisa inimaginável para atingir ─ e que mais baixará a nós do que nós chegaremos a ela, mas assim mesmo o que nós temos de fazer para chegar a ela é uma distância de nos deixar pasmos ─ se não tivermos isso, nós não teremos entendido nada.

Então, quem não tem os olhos voltados para esse ponto extremo, esse não compreende o que é a TFP como veículo, digamos, em via, em via, em via. Imagina a TFP um veículo de museu, as carruagens de que eu tanto gostei dos meus venerados Luises franceses. Bem, muito bonito, mas colocadas numa espécie de hangar, numa cocheira e guardados lá para todo o mundo ver: “Ah, aqui se andou outrora, ahh!!”, pronto, acabou. Não é isso, não.

[Exclamações]

É outra coisa completamente diferente.

* As graças do Reino de Maria flutuam no ar à procura de nossas esperanças

Bem. Se os senhores tomam em consideração o que diz São Luís Grignion, que os santos do Reino de Maria vão ser, para os santos anteriores, como os cedros do Líbano para as graminhas; então nós compreendemos que graças virão. E essas graças esperam de nós, elas, por assim dizer, flutuam no ar à procura da nossa esperança.

[Exclamações]

Nossas esperanças e nossos desejos as procurando, elas por assim dizer, entram em nós e começam a viver em nós.

[Exclamações]

E é propriamente esse desejo desse futuro maravilhoso e, num certo sentido da palavra, miraculoso, é o desejo nesse sentido que deve mover-nos continuamente, continuamente, continuamente, e sem parar.

E isto é fazendo uma cerimônia aqui na galeria, fazendo uma cerimônia na capela, no Praesto Sum, onde quer que seja, no pátio de Nossa Senhora das Glórias, onde for; isto é assim. Quer dizer, sempre mais alto, mais alto, mais alto, porque algo mais alto está nos chamando, nos chamando...

[Exclamações]

E se nós imaginamos ─ como há pouco fazíamos ─ a cidade, e os pavimentos, — as pavimentações quero dizer — feitas de materiais preciosos, fabricados, tão superiores ao que nós temos agora; a proporção é: a virtude dos homens vai ser superior à atual na proporção que esses materiais são superiores aos materiais atuais. E o mundo do Reino de Maria vai ser muito mais belo pelo nosso amor a Maria e pelo nosso amor à Igreja, e por essa presença dessa graça em nós, do que por todas essas razões materiais que serão apenas um reflexo disso.

[Exclamações]

Então, se os senhores querem ter uma idéia ─ tudo isso é para responder... façam idéia que toda essa conferência... Oh, meia-noite e meia!

(Sr. J. Clá: Começou o Santo do Dia.)

Começou o Santo do Dia...

[Risos]

...Bem, eu vim aqui mais cedo para os senhores deitarem cedo.

Bem. Se os senhores começarem a considerar as coisas, os senhores verão que é na esperança contínua disso que a pessoa começa a ser o homem com o qual começará seu Reino de Maria.

[Exclamações]

(...)

* Ao ver a Igreja tão humilhada, devemos pensar na grandeza da glória que Lhe está reservada

...tal é a Igreja à qual nós temos a honra de pertencer.

Bem. Agora, indo para adiante.

A Igreja sofreu humilhações, está sofrendo humilhações como nunca ela sofreu ao longo da história. São humilhações inimagináveis. O que eu falei hoje à tarde aos senhores, do Apostolado da Oração, é uma coisa... Nosso Senhor Jesus Cristo jogando o chapéu no ar, e depois aclamando o protestantismo com disposição igual àquela com que aclama o Catolicismo, depois dizendo que não tem Igreja predileta... homem! São abominações horripilantes, que não tem palavras.

Bem, é natural que Ela vá ter glórias proporcionadas com isso.

[Exclamações]

Quem visse Nosso Senhor, tanquam leprosus factus ─ feito à maneira de um leproso ─ na Paixão, esse se cria na divindade d’Ele, deveria estar pensando depois nas glórias da Ressurreição, nas glórias da Ascensão, em que Ele em todas as suas cicatrizes fulgurava como se cada cicatriz fosse um sol.

[Exclamações]

Ora, a Igreja já está coberta de cicatrizes, falta só que elas comecem a brilhar como sóis.

[Exclamações]

Aliás, eu não me exprimi bem, a Igreja não está coberta de cicatrizes, Ela está coberta de feridas; falta que essas feridas cicatrizem e que as cicatrizes comecem a brilhar como sóis.

[Exclamações]

E como será a glória que Ela receberá nessa ocasião?

[Exclamações]

Ninguém, ninguém pode imaginar.

* A beleza do Reino de Maria está condicionada a um raio de luz que está para partir do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria

Então, se é bom imaginar tudo isso que nós falávamos como introdução, as pavimentações de porcelana, os castelos feitos de material à maneira de brilhantes e de pérolas, etc., etc. Ou então uma civilização da austeridade em que os bronzes, os carvalhos, as nobres sobriedades animadas pelo talento, pelo gênio, dêem tudo quanto delas se pode esperar. E daí para fora. Se é legítimo perguntar se um Brasil, regenerado de todo pecado de Revolução que ele cometeu, o que é que poderia dar. E daí para fora, daí para fora, daí para fora.

Tudo isso são perguntas condicionadas a esta outra coisa: no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria há um raio de luz que está para partir.

[Exclamações]

E a beleza desse raio de luz nós só conhecemos a bem dizer por dois elementos. O primeiro elemento é um elemento negativo, é sinistro, horrível do que está por aí. Então tem que ser uma beleza maior do que esse sinistro é grande, para glorificar a Ela. É um dado.

Agora, o outro dado é que a beleza d’Ela ainda não se manifestou inteiramente na história. Ora, como é a beleza d’Ela? Não se pode ter uma idéia. E aí, então, a nossa alma voa para aquela direção.

Não sem ter evitado a ingratidão de não tomar nas nossas conjecturas, como elemento de prefiguração, essa pedra preciosa que é a TFP.

[Exclamações]

* Esperar longamente sem perder a esperança naquilo que tarda, é mais belo do que possuí-lo

É interessante: que isso que é a TFP, todo mundo sabe, as pessoas não têm coragem de dizer, mas inclusive esta gente [aí] fora sabe perfeitamente o que é. Como eles percebem também que pelo fato de nós termos aparecido isto quer dizer que nossa hora chegará.

[Exclamações]

Eles entendem isso, pelo fato de nós termos aparecido a nossa hora chegará.

[Exclamações]

Não tem conversa. E nesta ordem de idéias eles sentem que nós somos mais ou menos como um gongo que indica que o carrilhão vai começar a tocar.

[Exclamações]

Os senhores sabem que eu sou muito de prestar atenção nas coisas, e principalmente nas fisionomias. E a prestar atenção nas fisionomias, nas fisionomias dos meus filhos. Não pode deixar de ser.

Demorou para que aparecesse na TFP as cerimônias que os senhores executam. Demorou a tal ponto que havia gente que tinha perdido a esperança de que alguma vez a Providência se manifestasse assim na TFP.

Eu não posso me esquecer, no Êremo do Amparo, quando numa das cerimônias que os senhores fizeram lá, quando terminou a cerimônia os senhores todos foram marchando rumo à capela e o meu olhar foi marchando rumo aos outros olhares, os olhares dos que ficavam. E muitos eram dos que tinham perdido a esperança. E eu via no olhar deles assim uma coisa como quem diz: “Por que é que não foi nos dado a nós realizar isto no tempo da nossa mocidade?”

Eu quase disse a eles: “Meus filhos, foi dado a vocês fazer uma coisa muito mais bela, vocês não sabem que esperar é mais belo do que ter”?

[Exclamações]

Que ficar longamente, longamente, sem perder a esperança naquilo que tarda, é mais belo do que possuí-lo?

[Exclamações]

É evidente! “A vocês foi dado fazer a longa marcha invisível das almas através das décadas, através dos dias em que uma cerimônia assim fosse possível. Vocês talvez a tivessem podido realizar se tivessem esperado com mais integridade.” Não sei se está claro o que eu disse?

(Todos: Claríssimo.)

* Se nos contentarmos com o que somos, ficaremos piores do que os que não souberam esperar

Agora, a esses filhos daqui o que é que eu digo? Continuamos a conversar mais isso? O que é que eu digo a esses filhos.

Eu digo o seguinte: está tudo muito bem. O que para além do que está feito, o que cumpre fazer?

[Exclamações]

Se os senhores se sentarem sobre o que são e olharem contentes para o panorama, os senhores voltam para trás.

(Sr. J. Clá: Seríamos piores do que aqueles que não souberam esperar.)

Serão piores do que os que não souberam esperar.

Aos senhores a pergunta é: qual é o próximo passo? Está bem, eu digo. O próximo passo, os senhores sabem qual é? Foi dado nessa noite, a uma pergunta do João. Quer dizer, foi manifestado o para onde devemos olhar, o para onde devemos caminhar, o para onde devemos ser...

[Exclamações]

...para onde devemos singrar continuamente, continuamente, continuamente...

[Exclamações]

...com uma vastidão e uma universalidade de desígnios que não tem limite.

De maneira tal que por exemplo, alguém me deu ─ é um pobre meio apóstata ─ me deu uma pedra, que é uma pedra verde bonita, se eu me lembrar até trago aqui para verem, é pequena ─ como é que chama aquela pedra...

(Sr. João Clá: Malaquita.)

Malaquita da Nigéria. Em Roma há duas colunas dessa malaquita. Eu às vezes brinco com aquilo, mas o que eu penso no fundo é o seguinte: “Se Deus pôs no continente africano, no subsolo do continente africano, tais riquezas materiais, não é só para irem adornar ─ também, mas não só ─ as Igrejas da Europa; é para adornar palácios e igrejas da África. Que no subsolo da mentalidade negra que tesouros há, que malaquitas há, para serem aproveitadas?

[Exclamações]

Que maravilhas?!

E assim por diante, quantas e quantas reflexões. Quando eu vejo os senhores aqui, de tantas nações diferentes, quantas esperanças de que velhas tradições se reergam, como Lázaro e continuem a caminhar.

[Exclamações]

Desejos de uma veemência que os senhores não podem calcular.

Bem. De outro lado quando eu vejo quanta coisa começa aqui, a começar pelo nosso Brasil, que vontade, que vontade, que vontade de ter um Brasil inteiramente de Maria e voltado para essas grandezas e realizadas!

[Exclamações]

Mas eu vejo asiáticos, eu vejo asiáticos da Ásia amarela, da Ásia semítica, toda espécie de asiáticos eu vejo representados aqui. Que vontade de ter tudo isto, tudo isto, tudo isto, caminhando naquele desfile monumental do Reino de Maria!

[Exclamações]

Bem, há alguma coisa que por enquanto possa nos dar uma certa idéia disso?

Eu acho que há. É a idéia da monumentalidade inconcebivelmente grande, uma bondade inconcebivelmente grande também.

[Exclamações]

A idéia das reversibilidades incessantes. São dois elementos, talvez centrais, disso do que nós devemos olhar.

E está aqui, é o que eu tinha que dizer. Não é, meu bom João?

(Sr. J. Clá: Quer dizer, o senhor tem mais tempo ainda?)

Eu tenho um pouco mais de tempo, mas diga, o que há para tratar?

(Sr. J. Clá: Dr. Edwaldo, o senhor quer fazer uma... evidente que a pergunta que foi feita ficou muitíssimo aquém de tudo o que o senhor tratou, mas o senhor tratou do auges dos auges do plenitude, e o senhor respondeu muito mais do que estava no desejo de cada um aqui. Somado os desejos de todos multiplicados por cinco dão o que o senhor teria dito nunca. Mas assim mesmo, não sei se não seria até abaixar o nível diante do que o senhor disse, mas se fosse possível diante desse panorama todo que o senhor levantou, de todas as grandezas que o senhor tratou, etc. o senhor ainda dizer dentro de um lugar ideal, ainda que fosse na Ásia ou nas brumas de uma Inglaterra ou coisa que valha, não acredito que seja mais enfim,.o senhor tendo instalado a TFP numa ilha, como é que o senhor quereria viver dentro dessa ilha. Se não é possível o senhor tratar do ambiente material que dependeria muito dos povos, das constituições, das raças etc. O senhor que tipo humano gostaria de ter como massa de manobra para a influência de todo arco terrestre?)

Mas o senhor chama aqui tipo humano, o que é o tipo humano? Você queria Afegãs, ou Suíços?

(Sr. João Clá: Não, não, um tipo humano ideal, não levando em consideração as raças todas, um perfil?)

O perfil moral humano ideal?

(Sr. J. Clá: Sim.)

* A TFP no Reino de Maria seria a soma de idades de tudo que combateu, de tudo que desconfiou, de tudo que esmagou ao longo da História

O senhor imagine o perfil humano do contra-revolucionário total que carregasse consigo ─ é verdade ─ todas as alegrias da Contra-Revolução vitoriosa, mas todas as machucaduras de todas as dores da Contra-Revolução perseguida.

[Exclamações]

E por causa disso também todas as experiências e todas as desconfianças da Contra-Revolução que passou por tudo e sentiu tudo.

Então o senhor teria que imaginar um tipo humano que representasse, para representar... fosse o seguinte: não apenas o auge ─ isso levaria a uma explicação um pouco longa, um pouco doutrinária, eles iam dormir, mas...

[protestos filiais]

Bom, eu exprimo isso assim, aí vai: há um princípio de organização das coisas que me é muitíssimo caro e que se chama princípio da subsidiariedade. Nós já temos falado desse princípio aqui. Os senhores sabem qual é o princípio, mas para lembrá-lo assim num instante eu o enuncio da seguinte maneira:

O princípio da subsidiariedade ele leva um comandante de um navio a ser aquele que faz aquilo que só o comandante pode fazer. Aquilo ele faz inteiramente e ele basta inteiramente para aquilo.

Mas, ao mesmo tempo, tomando em consideração que ninguém carrega na alma o amor pela nau e pela navegação tanto como um comandante, ele está continuamente à espreita do que fazem todos os outros, para puni-los, para admoestá-los, para pô-los no lugar, porque a todo o momento aquela máquina humana que é a tripulação de um navio, está para se desconjuntar em virtude do pecado original. E ele tem que estar a todo o momento vigiando. E não é cada marujo apenas no seu lugar, mas é cada tábua do navio, e cada prego, ele tem de saber se está bem firme, se está bem preso. Ele que só cuida das coisas mais altas vai saber até direito se a colher com que o cozinheiro remexe a sopa de bordo está em ordem, se lhe chega a menor idéia de que isto está em desordem. Senão, não, ele manda funcionar pelos outros. Mas ele tem um faro por onde um pouco de sal demais na sopa ele percebe: tal coisa está errada.

[Exclamações]

E, pela subsidiariedade ele substitui a todos e a cada um, num esforço de todas as horas, de todos os momentos.

Eu quisera que esse comandante fosse, às ordens de um Papa...

(...)

...a TFP no Reino de Maria. E portanto, eu imaginaria antes de tudo e acima de tudo com aquela perfeição de bom espírito por onde tivesse o santo faro da ortodoxia. Por toda a parte onde alguém dissesse uma palavra excelente na linha da Contra-Revolução, ouvir ali o timbre da autenticidade e da sinceridade e mandar um apoio.

[Exclamações]

Mas por toda a parte também onde houvesse qualquer coisinha que indicasse um minus de aceleração, uma diminuição na aceleração; “Hummm”! Todas as desconfianças de um inquisidor como São Pio V, ou como São Pedro Arbués, seria o começo da conversa.

[Exclamações]

E antes de tudo esta visão de direção e de subsidiariedade, era o que representaria a TFP no Reino de Maria.

[Exclamações]

Donde, donde uma capacidade de luta como a que os contra-revolucionários imaginam no Duque de Alba no tempo de Felipe II, enfim, como o ímpeto de um Godofredo de Bouillon, e daí para frente, daí para frente, daí para frente. Os senhores podem somar tudo, seria uma soma de idades de tudo que combateu, de tudo que desconfiou, de tudo que esmagou, de tudo que tramou e que urdiu com inteligência para fazer as coisas chegarem para maior glória de Nossa Senhora.

[Exclamações]

Assim eu imagino a TFP. Eis aí, meus caros, o que eu teria a dizer.

* A tristeza do Senhor Doutor Plinio por ver que as melhores capacidades, os melhores talentos quase sempre estiveram a serviço da Revolução

Corta-me o coração quando eu vejo na história dos tempos modernos, inclusive para cá, portanto, mais ou menos do século XVI para cá, história da Revolução, me corta o coração quando eu vejo que quase todos os homens de uma alta capacidade são do lado da Revolução, sistematicamente.

E eu começo a pensar: “Mas porque é que a Igreja, que é capaz de suscitar coisas mil vezes melhores do que isso, capacidades maiores, talentos maiores, etc., etc. etc., a Igreja não suscitou? [O Sr. Dr. Plinio bate varias vezes com a palma da mão] Os homens certos estão do lado errado, e quase se poderia dizer que os homens errados estão do lado certo. Por quê, por quê, por quê, por quê?” E essa série de derrotas, de derrotas. Por quê, por quê, por quê?

É a lamentação dilacerada de minha alma, quando eu vejo, por exemplo, um Richelieu, espertíssimo, velhaquíssimo, muito mais do que Mazzarino. Mazzarino comprava, quando todo o mundo já não tem mais caráter não é difícil comprar. Mas Richelieu tramava, ele sabia fazer a coisa. Soldado da Revolução.

A lamentação de Leão XIII: “Me manca Bismarck”, faz-me falta ter um Bismarck.

É uma coisa que eu não posso compreender, me dilaceram, não entendo como é que é isso. Eu quisera que todas essas formas de talento de que a Igreja esteve privada, brilhassem dentro d’Ela...

[Exclamações]

...estimuladas pela graça, prodigiosamente estimuladas pela graça, para assegurar a longevidade do Reino de Maria.

[Exclamações]

Aqui está.

(Sr. J. Clá: Agora, como é que o senhor veria no Reino de Maria, o relacionamento da TFP com a esfera temporal e com a esfera espiritual?. A TFP estaria dentro da vida social, ela estaria dentro da vida religiosa.)

O que é que está acontecendo lá?

(Sr. J. Clá: Mandei trazer água, que o senhor está com sede, não é?)

Não, eu não vou tomar água não. Ahahaha! É extremamente filial mas eu não estou com sede não.

Diga meu filho!

(Sr. J. Clá: Ou seja, o senhor vê a TFP participando de cerimônias temporais, festas, ou então da própria vida social, ou dentro da Igreja que lugar ocuparia a TFP porque dentro de tudo o que o senhor disse, não sei se...)

[Risos]

* Papel que a TFP deve desempenhar no Reino de Maria junto às Sociedades Espiritual e Temporal

Eu não estou certo do que eu vou dizer agora. Os senhores se lembram bem de que eu falei hoje à tarde de quanto à gente é preciso a gente saber desconfiar das coisas que a gente diz, das quais não está certo.

Portanto, do que eu vou dizer agora não estou certo, mas é uma coisa que certamente tem-se dado muitas vezes ao longo da história da Igreja, mas não estou certo que seja o caso mais freqüente. Mas eu acho que se dá na história da Igreja, que a Igreja e a Ordem Temporal estão numa relação parecida entre si com Adão e Eva. Quer dizer, Adão era o forte, o rei, o senhor. Eva era feita de uma costela de Adão...

(...)

... os efeitos que os senhores conhecem. Mas pior é que a serpente tentou Eva. E no Paraíso acabou mandando a serpente. Foi tudo na ordem inversa do que deveria ser.

E assim também, eu sou levado a achar que as maiores crises na Igreja partiram da Ordem Temporal.

É uma coisa que eu nunca vi tratada por historiador da Igreja, nenhum, mas é uma tese que se for consentânea com a doutrina católica, eu aceito e aceito de bom grado. Mas dependendo ainda de estudo. É que em geral acontece que a Igreja, movida por seu dinamismo próprio, Ela vai caminhando para o Céu, mas que a tentação das coisas temporais desvia os homens da Igreja, do caminho da Igreja.

E que, portanto, uma obra suscitada pelo espírito da Igreja na Ordem Temporal, para segurar a Ordem Temporal pelo gasnate para que Eva não tente Adão! Ou para que a serpente não tente Eva. Parece-me o ideal.

[Exclamações]

Não sei se querem que eu explique melhor isso.

[Todos: Sim]

Bem explicado, ou como é que é?

[Todos: Sim]

Quer dizer o seguinte: Os senhores tomem, por exemplo, o período... fala-se muito de Contra-reforma, magnífico, e eu, graças a Nossa Senhora, sou entusiasta da Contra-reforma. Quem é que fala de quando terminou a Contra-reforma?

Fala muito quando começou, uma beleza, começou em tal data, tatatá, está muito bom. Quando terminou a Contra-reforma? Querem fazer o favor de dizer? Bem. E, sobretudo, como terminou a Contra-reforma?

A gente vai ver ─ todas as minhas suspeitas correm para esse lado ─ sociedade temporal muito apodrecida que deita seus germes dentro da Igreja. Então é o quê?

Vida de corte muito apodrecida, os bispos são integrantes ─ são e devem ser em alguma medida, em alguma medida ─ elementos integrantes da corte, eles freqüentam a corte e bebem da atmosfera apodrecida da corte e querem ser cortesãos. O resultado é que eles ficam cortesãos e os senhores peguem os quadros que representem bispos do Anciem Régime, são em geral uns marquesões de mitra, de báculo, etc., etc., mas prontos para dançar o minueto. Eles se deixaram apodrecer pela vida temporal.

Bem. O senhor toma nossa época. O que quer o padre miserabilista? Imitar o punk. Mas por que é que ele quer imitar o punk? Porque ele imagina que a sociedade temporal que ele quer imitar acha bonito o punk.

Em geral a coisa é assim: a Igreja tem, a Hierarquia tem dentro de si os moles que não punem. A partir do momento que o mole não puna, o eclesiástico começa a se esfregar no temporal, não punido. A partir desse momento o temporal começa a tomar conta do eclesiástico.

[Exclamações]

Então me aprece que seria de toda a indicação uma Ordem religiosa temporal para segurar a ordem temporal pelo gasnate.

[Exclamações]

Daí... Bem. Mas seria só isso?

Esta Ordem deveria poder dizer à Igreja: “Abri vossos olhos, Vós estais dormindo. Aconteceu tal coisa, estais cercados de tais perigos, está subindo tal perigo, tal outro, tal outro, na Ordem Temporal. Combatei, nós Vos pedimos pelo direito que nós temos de combater essa gente, nós vamos começar a combater”.

[Exclamações]

Mas combatei-os Vós, porque Vós tendes uma parte insubstituível nessa batalha. Começai!”

Aí eu imagino a posição da TFP no Reino de Maria.

Bem, meus caros, agora sim pode-se dizer que nós fomos mar altíssimo.

São quinze para uma, à uma em ponto eu devo me retirar. Até uma, se houver mais uma pergunta, com todo o gosto.

(Sr. J. Clá: Nota-se o desejo de mais sublime, mais sacral, mais, mais, em cetro olhar. O senhor poderia dizer o que o senhor vê nesse olhar?)

(...)





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