Conversa
da Noite ─ 15/01/83 ─ Sábado .
Conversa de Sábado à Noite ─ 15/01/83 ─ Sábado
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O setor infantil de uma sociedade, quando bem preservado, é um elemento poderoso para expulsar o demônio * A criança é um campo de batalha especial para a luta entre a verdade e o erro, o bem e o mal * O Senhor Doutor Plinio dá diretrizes de como deverá ser o ensino no Reino de Maria, com vistas a preservar a inocência da criança * Há crianças que têm um particular senso para procurar tudo quanto é mal. São os apóstolos do mal * O Senhor Doutor Plinio indica como deve ser a batalha contra os apóstolos do mal dentro de um colégio * O homem contemporâneo é utilitário e só se move em função de seus interesses. Por isso, o demônio procura a adoração das crianças * A ação preternatural que se desprendia do “rapport Joyeux” * Por ocasião do lançamento do “Em Defesa”, um episódio na vida do Sr. Dr. Plinio em que ele sentiu particularmente a ação do demônio * Há pessoas que criam o hábito de serem tentadas pelo demônio. O “sabugo” é um homem que ligou um autofalante do demônio em sua cabeça
(Sr. J. Clá: No filme ET, o fato de terem mais relacionamento com ele três crianças, a influência que eles pretendem por aí exercer sobre o mundo futuro, etc… De outro lado a Senhora Dona Lucilia tinha a inocência de uma criança, o próprio D. Mayer disse que ela se confessava mas não havia razão para tal. Depois tem o episódio dela em menina, que numa sessão espírita na casa em que ela estava o “espírito” não baixava…)
Mais de uma sessão. Não sei quantas, mas sei que foi mais de uma. Era um hábito naquela casa fazer sessão espírita e habitualmente passava-se essa cena.
(Sr. J. Clá: Essa ação da presença dela, até onde se exerceu agora, pelo fato do Túmulo, da casa dela, do quarto, etc., ação essa que pode ter se exercido de modo a furar o balão deste filme no Brasil.)
É preciso distinguir a questão geral que você pôs depois da questão especial dela. Mas tratar da questão geral, mas eu não quero fugir da questão especial, se eu não tratar os senhores me lembrem.
Então vamos à questão geral.
* O setor infantil de uma sociedade, quando bem preservado, é um elemento poderoso para expulsar o demônio
O papel da criança na história e no mundo é um papel que pode ser visto de dois lados; de um lado ─ e era como era visto no meu tempo ─ a criança era o ser desprezível da casa, porque era tontinha, não estava em condições de assumir responsabilidade nem nada, iria ser alguma coisa de futuro mas uma coisa incerta, um futuro longínquo. De maneira que por horas era só não dar trabalho, não amolar, falar pouco, não fazer barulho, não quebrar nada, não responder impertinências, ir sendo educada para o tempo que fosse grande. Está acabado. E ninguém prestava maior atenção nas crianças, as pessoas adultas se distinguiam por um certo pouco caso para com as crianças.
É bem essa a posição da criança na economia geral das coisas?
De algum modo sem dúvida, a criança é isso mesmo. Agora, de outro modo também não é, porque a criança está na inocência da graça de Deus e é escolhida freqüentemente por Deus para receber graças especiais, ter uma comunicação com Deus muito especial, há santos que se santificaram em criança, exemplo, São Domingo Savio, São Tarcísio, São Pancrácio, que são santos que atingiram uma virtude heróica e portanto um alto grau de sabedoria, com uma idade infantil. Santa Maria Gorette, etc., com uma idade infantil.
E a gente percebe que há então uma espécie de sabedoria de inocência que vale mais do que a sabedoria de maturação, e que essa sabedoria de inocência agrada à Providência de modo todo especial.
Naturalmente alguém poderá me objetar: “Mas eu não entendo bem isso, porque então é uma coisa excelente e que a criança perde forçosamente pelo curso do tempo, quando ela deixa de ser criança”.
Não. Se ela, pela soma das idades, leva a condição de criança para as idades sucessivas, ela fez uma grande obra. Ela é, por assim dizer, sobre certo ponto de vista, um monumento. De maneira que tem muito propósito a gente glorificar o papel da criança.
Quem viu muito bem isso foi São Pio X, com o golpe magistral que ele deu na Revolução com a Comunhão Eucarística precoce das crianças, basta a criança estar em condições de distinguir entre pão e Pão, o que é o Pão Eucarístico, com a presença de Nosso Senhor e o pão comum, para poder comungar. Indica bem ─ pelo sério, pela importância que ele deu à coisa, etc. ─ indica bem o papel da criança na conservação de uma certa dosagem de virtude na sociedade que facilmente os mais velhos perdem.
Então, o setor infantil bem preservado de uma sociedade é um elemento poderoso para expulsar o demônio, para fixar, para dar equilíbrio, um lastro à sociedade.
* A criança é um campo de batalha especial para a luta entre a verdade e o erro, o bem e o mal
Essa situação nós a vemos também ─ como o João lembrava há pouco ─ realizada por outra coisa; é que os demônios procuram muito as crianças. E sem que a gente se dê conta há uma batalha em torno das crianças. Por exemplo ─ e eu falava com o João hoje no automóvel, quando íamos a Jasna Gora ─ seria interessante ─ eu ia fazer isso na reunião à tarde, mas não me pareceu conveniente fazer àquela hora ─ seria interessante perguntar num lugar onde houvesse muita gente do Grupo, quais foram aqueles que em criança viram ou julgaram ver fantasmas. Esses eu recomendo que levantassem o braço…
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze.
Nota muito curiosa; os que viram fantasmas se situam, no auditório, definidamente de um lado e do outro, e o centro aqui. [Risos]
Eu faço só mais uma pergunta; aos que viram eu pergunto; quais os que viram uma vez só e quais os que viram algum tipo de fantasma, real ou não real ─ não discuto aqui a questão ─ que aparecesse uma série de vezes. Aqueles que viram uma vez só levantem o braço…
Ainda uma coisa engraçada, você vê João? A distribuição é dois lados e o centro… é como os partidos centristas. [Risos]
É uma coincidência curiosa.
Bem, desviaria um pouco o assunto, mas numa outra conversa seria talvez interessante, que aqueles que viram fantasma contassem o que viram.
(Sr. J. Clá: Nós contamos entre nós e depois o senhor nos conta do Senhor.)
Não, não, essas coisas ou a gente faz junto ou perdem muito da sua realidade. Não sei se os senhores concordam em que isso contado tem outro sabor, outra aparência de realidade do que escrito. É preciso ter dons literários muito especiais para que isso escrito possa ter interesse.
Enfim, os senhores estão vendo portanto com que freqüência os espíritos aparecem. Alguém dirá: “Criança é boba, e vê uma porção de coisas que não tem realidade”. A gente deve dizer o seguinte: “Para que tantas crianças tivessem visto uma coisa que não tem realidade seria talvez preciso dizer que elas são um pouco gagás. Na realidade uma criança equilibrada não vê o que não é real.
Uma coisa é ter medo de entrar numa sala porque tem uma dobra de uma cortina que tem uma forma estranha, a criança no escuro não reconhece bem. Isso não é um fantasma, é uma figura, é uma impressão; não é a isso que eu aludo, eu aludo realmente à impressão de que um ente que não é desta terra apareceu e se fez sentir, fez sentir a sua presença.
Agora, deixando de lado essa questão, os senhores estão vendo que as crianças são realmente um campo de batalha especialmente interessante entre a verdade e o erro, o bem e o mal, etc., etc. E que debaixo desse ponto de vista, até, é preciso dizer, se nós tivéssemos tempo de pensar nessas coisas e tivéssemos um ensaio primário especialmente voltado a educar na criança o desenvolvimento da inocência e conservar essa inocência para a idade madura, se tivéssemos isso, o Grupo realizaria uma grande coisa.
Eu tenho impressão de que, dos três graus de ensino ─ ensino primário, ensino secundário, ensino universitário ─ o mais importante para formar pessoas é o ensino secundário, depois vem o ensino primário e o menos importante é o ensino universitário. Para formar a pessoa eu tenho impressão de que é. Mas desde que se imagine um ensino… ─ meu caro Marcos, como vai você? Está bom? Sedeas ─ …desde que se imaginasse um ensino realmente formativo, que tomasse a criança e formasse a criança. E seria até uma coisa interessante a gente imaginar como é que deveria ser um ensino assim.
* O Senhor Doutor Plinio dá diretrizes de como deverá ser o ensino no Reino de Maria, com vistas a preservar a inocência da criança
Vamos dizer um ensino secundário, não primário, talvez já primário, dependendo do país, que tivesse no recreio, no centro do recreio, uma estátua de Carlos Magno, ou uma estátua convencional de um guerreiro com couraça, etc., etc., tomando a cidade de Jerusalém. O efeito que isto produziria e como seria inteiramente uma coisa dessa.
Se tivesse, por exemplo, em outro recreio uma outra estátua representando o Bem-aventurado Urbano II com paramentos pontificais convocando a primeira Cruzada, ou então um inquisidor como São Raimundo de Pena Forte, fazendo um interrogatório, que coisas boas, e como isso formaria a inocência de uma criança.
Uma sala de aula [onde] uma parede fosse toda tomada por reproduções em ponto gigantesco de Anjos de Fra Angélico, de maneira que a criança se formaria na admiração daquilo várias vezes.
E mais ainda, eu imagino que essas figuras fossem móveis, não seriam pintadas na parede mas aplicadas à parede, de maneira que poderiam se mudar de localização conforme as partes do ano dando uma certa novidade para a criança. E como isso seria uma coisa interessante.
Enfim, haveria tantas coisas assim para formar na criança um senso angélico das coisas, e prolongar, fazer com que a criança entrasse madura para o curso secundário que eu nem sei o que dizer. Quem sabe se algum dia o Grupo engendrará uma coisa dessas. Eu, no Reino de Maria não prevejo ensino primário de outro gênero, esse ensino primário de professora pública, aqui, que tem por aí é uma coisa… não falemos! Os senhores preferem não conspurcar a reunião analisando a falta de ideal completa e o espírito puramente prático, utilitário que domina tantos cursos primários.
Então, aqui está uma primeira resposta ao nosso João: é fato, a criança tem realmente, ela é objeto de uma batalha especial, e porque ela tem o senso do maravilhoso real, com muito mais facilidade compreende que deve haver fantasmas pelo ar. E daí a estar aberta a ver os fantasmas, ou a ver os anjos, o espaço é pequeno. A criança percebe que deve haver, que é natural que haja e com isso ela naturalmente está disposta, está preparada para receber uma comunicação dessas.
* Há crianças que têm um particular senso para procurar tudo quanto é mal. São os apóstolos do mal
Os senhores me dirão: “Mas, Doutor Plinio, é singular que o Senhor pinte isto assim, porque dir-se-ia que a criança pela própria inocência não é atingível pelo demônio”.
Não é bem real. Eu vi, eu conheci no tempo que eu era criança, crianças que eram diabinhos. E se os senhores se reportarem a seu tempo de meninos, os senhores devem se lembrar da criança diabinho.
Como era a criança diabinho? Não era necessariamente a criança que quebrava, que se revoltava, que tinha mau-humor; mas era certo tipo de criança que tinha um senso, desde logo, do mal. E que queria tudo quanto era mal. E favorecia e fazia um apostolado pelo mal que era um apostolado específico. E que conseguia espalhar o mal em torno de si.
É compreensível. Se Adão e Eva no Paraíso ─ eles eram inocentes ─ eles foram assaltados por um demônio e caíram, por que é que a criança, nesta época paradisíaca, não é sensível à ação do demônio e pode não cair?!
E que bem faria para a criança se a gente explicasse para ela que ela pode ter colegas que são demoninhos e contra os quais ela precisa lutar!
Eu me extraviei um pouco por considerações que não estão inteiramente dentro do tema, mas que ─ suponho eu ─ alargam os nossos horizontes, para os senhores se darem conta de modo vivo que o Grupo tem meios próprios para fazer todas as coisas. É só dar-lhe liberdade de ação e tempo para agir, meios para agir, que o Grupo tem… é insondável. E o que ele pode preparar, pode fazer, é inimaginável também.
A idéia bobinha da criança boazinha, necessariamente inocentezinha e que só se dá com outros anjinhos; é uma idéia cujo assalto eu senti no meu tempo de criança, me diziam isso: “Olha lá, tal criança inocente como você”. Eu me lembro que eu dizia: “Será? É preciso ver, não é? ─ como se dizia em castelhano ─ a ver, eu noto até indícios do contrário”. Eu me lembro que eu, uma das três vezes aventurei-me a contestar essa idéia de todos os priminhos e priminhas muito bonzinhos. E, réplica da Frαulein: “Homem! Eu esperava que você fosse uma alma mais elevada e que não estivesse procurando defeitos naqueles que lhe estão tão próximos pelo sangue”. Eu pensava comigo: “Não entendo mais nada! Porque se uma alma não elevada foi posta ao lado de mim, embora muito próxima pelo sangue, ela não é elevada, é o contrário, o que é que eu vou achar, que é elevada?! Porque é meu primo! Onde é que cabe uma coisa dessas?! Não tem propósito!”
Aqui mais uma vez uma pergunta: aqueles que conheceram crianças ─ ou pelo menos uma criança ─ apóstolo do mal…
Oh, dessa vez o centro não ficou atrás.
(Sr. J. Clá: Dessa vez é só o centro.)
Quase que só, coisa curiosa. Na direita e na esquerda, conheceram também?
(Sr. –: Sim.)
(Sr. J. Clá: Sim, apóstolo do mal.)
E depois outra coisa, toda forma de mal. Apóstolo. Apóstolo de toda forma do mal e com ódio a qualquer forma de bem. Criança, hein!
E é bom nós irmos dizendo isso para desfazer umas idéias mais ou menos bestas a respeito de infância, que ficam postas no lugar.
*
Mas o que quer dizer isso?
É que exatamente a criança, pelas condições em que está, se ela tem muita facilidade de comunicação com os Anjos ─ como é essas facilidades eu vou dizer daqui a pouco ─ a criança também tem muita facilidade de comunicação com o demônio. E há por assim dizer uma vida mística da criança ─ por assim dizer, não é no sentido próprio da palavra ─ uma vida mística da criança que deveria ser muito analisada para se fazer uma educação boa.
Levantando alguns problemas interessantes, o que é que os senhores fariam se os senhores dirigissem um colégio onde tivesse 4, 5, vamos dizer, em 300 meninos ─ curso primário ─ tivesse 4, 5, 10 crianças apóstolos do mal. Os senhores expulsariam todas essas crianças?
(Sr. –: Não.)
Ou advertiriam as crianças apóstolos do bem a manter o cerco, organizar o combate e empurrar no canto as crianças apóstolos do mal?
(Sr. –: Sim.)
Parece inquestionável que é isso.
Está bem, mas isso mesmo comporta um matiz. Qual é o matiz? Há certas crianças que têm uma capacidade de comunicação do mal tão grande, uma tal capacidade de expandir o mal e de urdir coisas escondidas que os superiores não podem pegar. Para expandir o mal, elas têm mais capacidade que qualquer dos bons que estão no colégio. Eu vi casos assim. E nesse caso não se pode permitir, porque os superiores não dão cabo desta batalha com certo gênero de apóstolos.
O João tem aí um remédio andaluz que ele está…
(…)
…vou baixar o nível, por um minuto. Mas isso esbarraria com uma dificuldade jurídica, jurídica e moral. Os pais têm o direito, quando eles colocam o menino no colégio, a que o filho não seja cobaia de educação, e que o menino mal, portanto, o professor faça todo possível para fazer dele um homem bom, em vez de soltar como matilha de cães os bons em cima e deixá-lo perseguido, o professor deveria formar.
A resposta é: na maior parte dos casos não há nada melhor, para quebrar a castanha do menino mal, do que fazê-lo vergar sob o peso da perseguição do pátio a favor dos bons.
(Sr. J. Clá: É a chance dele.)
A única, para o bem dele.
Eu nunca imaginei que a conversa haveria de derivar para essas idéias sobre educação primária.
(Sr. J. Clá: É que isso não é só primário não…)
[Risos]
* O Senhor Doutor Plinio indica como deve ser a batalha contra os apóstolos do mal dentro de um colégio
É, é isso. A coisa é duríssima. Mas vamos para frente.
Poder-se-ia objetar o seguinte: que se um menino bom, num colégio, é totalmente protegido pelo ambiente, ele não aprende a lutar contra o ambiente. E que, portanto, não se forma aí um verdadeiro herói, mas o indivíduo bem instalado na vida. Para o qual… [Vira a fita]
…toda forma de proteção para o bem conflui, e para o qual, portanto, a idéia da luta para praticar o bem não está presente. Pois todo ambiente, toda a direção do colégio é a favor dele! Ele, é se deixar tocar e a coisa vai bem.
Então, não é verdade que deveria ser menos marcante a proteção que o colégio dá ao bem, à Religião, etc.? É uma pergunta.
A pergunta se responde da seguinte maneira; por mais marcante que seja essa proteção ao bem, o colégio dever ter presente que haverá sempre meninos maus, que fazem a obra das trevas, e que gozam sobre os colegas de um prestígio que o pátio bom não terá. Nesse vale de lágrimas todas as circunstâncias favorecem os maus. E se é verdade que o menino ficará posto nas grimpas pela direção do colégio, haverá sempre uns meninos que caçoam dele e que formam um patiozinho subterrâneo, [que] ri dele porque ele é o amigo dos professores. De maneira que a batalha ele tem que travar. E a direção do colégio tem que dizer a ele: “Tudo quanto está feito aqui está feito assim, mas isso tudo não é nada, o pior de sua batalha é quando o professor não estiver presente e que você vir chegar sob o aspecto de outro menino o inimicus homo que virá levantar contra você os bobos, os molóides, os cretinos cujus infinitus est números, e você vai ficar, na parte mais ativa da opinião do colégio, você vai ficar mal [visto]. Você é um perseguido que deve saber devolver ferozmente a perseguição, nos lugares, nos ambientes em que o professor não pode te ajudar”.
E quando é isso?
É quando voltam os meninos do colégio, quando eles brincam uns nas casas dos outros, quando no colégio, por exemplo, dois ou três meninos vão pegar um lenço no dormitório e se encontram sozinhos ali, e corre uma eletricidade ─ eu diria quase um eflúvio ─ que lhes dá uma vontade enorme de serem eles mesmos por oposição ao professor ou ao diretor, no momento em que estão ali. E portanto uma carga de mal diabólica. Um riso safado, o contar uma anedota porca, umas coisas dessas ─ “psit!” ─ pega na hora.
É preciso saber educar o menino para resistir a isso. Se ele não for educado para isso não vale nada! E todo resto da ação do colégio não vale dois caracóis.
Então, como conseqüência, eu sou favorável ─ salvo melhor eruditio ─ quer dizer, é uma matéria que eu não estudei a fundo, eu nunca li nada a respeito disso ─ eu sou favorável a toda carga oficial do colégio a favor do bem. E depois a organização da resistência guerrilheira do bem contra o mal, nos desvãos da vida infantil. Não sei se eu exprimi adequadamente ou não, como é que é, como é que não é.
Uma coisa errada a esse respeito é o pai e a mãe perpetuamente ausentes disso, e que fazem de conta que ignoram que essa é a realidade da vida da criança e que têm a idéia boba da criança, de que eu falava há pouco. A criança se sente aviltada por ver que o pai e a mãe, que deveriam dar um apoio, ignoram os problemas dela, ela começa a viver de fora dos pais uma vida que os pais não souberam ver. Ela começa a se opor aos pais. É o erro.
Aqui está uma coisa assim, em duas palavras, sobre o que seria a vida da criança, fantasmas, etc., etc.
(Sr. J. Clá: No filme ET são três crianças que têm um contato mais próximo com ele, ET. Isto deve estar preparando as crianças do mundo inteiro para o demônio que vem.)
* O homem contemporâneo é utilitário e só se move em função de seus interesses. Por isso, o demônio procura a adoração das crianças
É verdade, mas isso é da seguinte maneira: o homem de nossos dias é eminentemente prático e se ele adere a ET e a discos voadores essas coisas assim, é em última análise porque ele espera uma vantagem. Mas por mais que o ET seja comovedor, ele de fato não se comove com o ET. Ele vê no ET um personagem influente que entra em sua vida e que pode resolver alguns problemas. Na medida em que o ET resolva esses problemas ele é amigo do ET, se o ET não resolver esses problemas ele não se interessa pelo ET, a idéia de fazer um sacrifício pelo ET é inteiramente impossível.
Portanto o homem contemporâneo vai ser utilitário face ao habitante do disco voador, como ele é utilitário face à Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vamos dizer que aparecesse numa cidade contemporânea um santo e que esse santo começasse a fazer milagres. O que aconteceria? Muitas pessoas se converteriam? Sim. Mas o que é que significava essa conversão? A convicção de que elas de fato vão para o inferno senão seguir aquele caminho. Então elas seguem para evitar o inferno. Mas que elas se deixem levar pelo amor, que elas se deixem levar pela união de alma, absolutamente não se deixam. Por assim dizer elas não têm alma, elas são exclusivamente utilitárias.
E o demônio o que quer dos homens é o culto com amor. Que desse culto, hoje em dia, são só capazes as crianças. Então fica muito claro naquela fita que o ET quer ser objeto de compaixão, ele quer ser objeto de amizade. E ele quer uma divisão de sortes com a criança. Quer dizer, ele e a criança são um só e o que acontece para ele acontece para a criança e reciprocamente.
O homem contemporâneo não quer isso. Ele é ele e o o ET é o ET. Mas se o ET resolve os problemas dele ele trata com o ET como com um bom médico. Este nem odeia o verdadeiro Deus nem ama o demônio. Mas a criança é capaz de amar o ET e odiar a Deus, que reduziu o “pobrezinho do ET àquela situação”.
Então, o senhores estão vendo que há uma necessidade de que o reino do ET seja um reino de adoradores. Quer dizer, um reino em que ele reine sobre adoradores e, portanto, sobre crianças. O resto é bordadura do reino dele, são os mercenários do reino dele, mas não é a matéria prima do reino dele, a matéria-prima são as crianças.
Está claro isso ou não?
(Sr. –: Sim, claro.)
Você assistiu o ET, Marcos?
(Dr. Marcos R. Dantas: Não.)
Os senhores que assistiram isso viram bem, o ET está tão certo de que amor ele não consegue que a gente indo ao cinema é envolvido por uma atmosfera, é por assim dizer infiltrado por uma atmosfera. Mas essa infiltração não é o verdadeiro ato de amor, é uma hipnose. E um tipo que se deixa hipnotizar por mim não me quer, ele teve uma certa necessidade de se deixar hipnotizar, então deixou. Mas é um negócio, não quer dizer que ele me queira.
Ora, o ET propriamente quer uma troca de vontades. É o que ele quer propriamente. Ele precisa apelar para as crianças.
Eis aí o conjunto da resposta de uma pergunta realmente muito boa.
(Sr. J. Clá: Falta a parte referente a uma certa, Senhora até onde pesou ela ter nascido em São Paulo, etc.)
* A ação preternatural que se desprendia do “rapport Joyeux”
Eu acho que se o Grupo pesa, é evidente que pesou essa circunstância enormemente. Enormemente. Uma coisa traz a outra, de modo necessário. Não é possível ver bem cada fator quanto é que pesa, isso são mistérios de Deus, mas é uma coisa evidente que pesa. Agora, como pesa? Eu não sei.
Uma pergunta muito interessante seria essa ─ é uma pergunta boa, não sei se é a pergunta que é melhor para o momento, o senhor está com o filão das perguntas na mão e responda ─ até que ponto nós podemos já notar pequenos sinais desta ação do demônio no mundo contemporâneo?
(Sr. Fiúza: Nas crianças.)
De modo geral, como eu não trato quase com crianças e que eu tenho mais observado é em adultos e até uma tentativa de exercer-se em mim. Nota-se ação do demônio em determinadas circunstâncias do mundo contemporâneo?
Com isso eu creio que nós já vamos caminhando para nosso fim, também. Tanto mais que como eu cheguei muito cansado da reunião, meu bom João me ofereceu de nem fazer essa conversa aqui à noite, mas eu considero muito frustrante a pessoa ir se deitar sem uma convesinha. Será talvez bom para a vida vegetativa, mas não vamos além disso.
Eu vou dar um exemplo curioso. Quando chegou aqui o rapport Joyeux eu naturalmente li o rapport. Eu conheço perfeitamente o autor do rapport e em matéria de inteligência o mínimo que se pode dizer é que é uma pessoa perfeitamente dentro da média, é um elogio até dizer isso dele, ele está nas camadas mais baixas do mediano. Eu sabia que eu ia encontrar, portanto, um trabalho de nenhum valor. E me pus a ler aquilo disposto a fazer uma refutação que seria com três petelecos.
Sabem que é uma coisa curiosa, eu comecei a ler e se dava com aquilo uma espécie de jogo por onde eu custava para pegar o fio da meada por onde aquilo pudesse ser refutado. Aquela seqüência de fatos, dos quais alguns eram mentiras, imposturas escandalosas; outras deformações jeitosas da realidade; eu não sentia o seguinte por onde provar ao meu leitor que aquilo era mentira.
(Sr. J. Clá: E os que leram ficaram com essa impressão ainda mais acentuada, e, na interlocução com o senhor em vez de ajudar aumentavam essa impressão preternatural.)
Isso. Não é que eles achassem que o rapport tinha a menor dose de verdade, eles sabiam pela vida cotidiana que não tinha; mas, eles ficaram mais ou menos como um homem que tem o texto colado demais diante dos olhos, e que portanto não acredita no texto mas não pode ler porque está próximo demais dos olhos.
Eu notei que era uma espécie de ação do demônio que se desprendia daquelas páginas. Era uma espécie de fermentação do texto que evitava uma análise inteiramente calma para desossar aquilo e estrangular com normalidade. É verdade que a tarefa que eu tinha dos leitores a quem eu me dirigia, não bastaria eu dizer a eles que o homem não provou que era verdade, eu teria que provar, eu, que não era verdade. Agora, como provar a um leitor que está a milhões de quilômetros de São Paulo que [não] é verdade o que um caluniador diz ter acontecido em São Paulo? Em princípio não é fácil, mas há meios de fazer uma coisa dessas, muitas vezes.
Os senhores sabem que eu percebia que havia qualquer coisa que jogava, que fazia com que por assim dizer uns conceitos entrassem nos outros. E eu tive que fazer nada menos que três tentativas de redação para em determinado momento aquilo cair, e eu ver a coisa como era. E aí a refutação foi facílima.
Se os senhores analisarem a refutação vêm que ela é muito corrente, que se percebe que a pessoa que escreveu, escreveu — como se diz em latim —corrente calemo, ao correr da pena, sem parar.
(Sr. J. Clá: Quem lê o “rapport” sem ter lido a “refutation” fica aturdido, mas lido a “refutation”, o “rapport” fica ridículo.)
E é verdade que eles engasgaram. Mas é que eu acho que por ocasião da terceira tentativa Nossa Senhora deu ordem ao demônio de sair.
Os senhores poderiam dizer: “Mas Doutor Plinio, não seria isso efeito psicológico de fatores naturais? Cansaço do senhor, outras coisas assim?”
O meu cansaço não se exprime numa dificuldade de raciocinar, habitualmente não se exprime em dificuldade de raciocinar, os meus sintomas de cansaço são outros. E portanto não cabe isso.
Os senhores estão vendo, eu estou cansado e não fiz o Santo do Dia, mas não estou com nenhuma dificuldade de raciocinar, eu estou enfileirando os raciocínios uns depois dos outros com desenvoltura, desenvoltura normal.
Se é assim não era cansaço. O que era?
Uma certa coisa que pega desse jeito.
(…)
* Por ocasião do lançamento do “Em Defesa”, um episódio na vida do Sr. Dr. Plinio em que ele sentiu particularmente a ação do demônio
Houve ─ fatinho ─ ao longo da minha vida efeitos assim, fatos assim?
Eu me lembro de um muito remoto. Eu, no “Em Defesa” ─ creio que já contei esse fato aos senhores, mas não contei o aspecto preternatural do fato ─ eu, quando escrevi o “Em Defesa” dei para D. Mayer rever. E entreguei ao Pe. Dainesi que achou que estava bem também, e o livro foi objeto de uma carta de elogio da Nunciatura Apostólica, e com isso foi para a tipografia.
Uma manhã, quando o livro estava sendo impresso, estava quase impresso, eu nem sabia bem se estava já todo impresso ou não; D. Mayer me telefonou para casa e me disse: “Olha, você sabe um texto que você diz lá que faz parte dos esquemas do Concílio Vaticano I, a tese de que toda sociedade necessariamente é hierárquica, etc. e tal ─ é uma das peças mestras da minha argumentação ─ esse texto é falso, eu estive consultando agora tal autor, etc., não é um texto do Concílio Vaticano I, é um texto apresentado ao Concílio por alguns padres conciliares e que não chegou a ser aprovado. Você, portanto, está com seu livro furado”.
A impressão que me veio ─ eu já tinha mostrado esse livro a alguns dos nossos adversários, a D. José Gaspar, ao D. Pedrosa, a D. Teodoro Kock e outros adversários ─ eu vi que seria um ridículo enorme e que seria a derrota de toda a nossa Causa. Como eu estava saindo para comungar e D. Mayer morava na atual Martim Francisco, a dois passos da igreja Coração de Maria onde eu ia comungar, eu disse a ele: “Monsenhor ─ ele era monsenhor naquele tempo ─ monsenhor, espere um pouco, eu vou comungar e depois vou aí”. Porque me pareceu que era de boa disciplina eu comungar antes de ir tratar dessa questão, não correr tanto para a casa dele.
Mas durante todo tempo eu tinha a sensação de que um poder misterioso, uma força fora de mim, me gritava, “Tudo perdido! Tudo perdido! Tudo perdido! Cretino! Cretino! Sua besta!” Como se fosse uma presença escura que me sacudisse com ódio e desse risada. “Você está vendo, está tudo escangalhado!” etc., etc.
Eu percebi que era o demônio. Eu disse: “Seja como for, ainda que o que você diz é verdade, de sua parte eu não aceito; eu vou comungar com calma”.
Mas era um modo de dizer, porque eu comunguei, mas o tempo inteiro: “Pá-pá-pááá! Pá-pá-pááá! Olha lá! Presta atenção! Você está perdido! Burro! Você não percebeu como era que você tinha que fazer, olha lá, idiotas como você são os esmagados da história”, etc., etc.
E pior do que o que ele dizia era uma espécie de presença próxima que me fazia até disparar o coração. Uma presença próxima e péssima que me fazia até disparar o coração.
Eu comunguei e não me permiti de ir com uma pressa desabalada à casa de D. Mayer, fui passo a passo.
D. Mayer me recebeu me dizendo: “Olha, o caso é esse”. E eu vi que era, que ele tinha razão. Mas aí me lembrei que por brevidade eu tinha omitido um outro documento, que era uma encíclica papal ─ não me lembro de que Papa ─ que dizia a mesma coisa. Porque como um Concílio valia mais do que uma encíclica papal então eu preferi pôr o Concílio, porque os dois documentos sobrecarregavam demais.
Eu disse: “Monsenhor Mayer, eu tenho esse documento aqui, olha aqui, é isto. Ele leu e disse: “Ah, mas está resolvido o caso. Vamos aqui em frente ao coração de Maria, falemos com os padres, e trocamos essa página”.
Estabeleceu-se uma tal calma, tão deliciosa que falamos sobre alguns fatinhos que se tinha que falar, depois atravessamos a rua passo a passo e falamos com o padre. O padre disse: “Ah, não tem duvida, eu substituo e está certo, e assim saiu.
* Há pessoas que criam o hábito de serem tentadas pelo demônio. O “sabugo” é um homem que ligou um autofalante do demônio em sua cabeça
Mas agora o lado interessante. Os senhores não pensem que a ação do demônio teria cessado pelo simples fato de a causa, que era a perturbação diante da ausência de um texto concludente ter cessado também. Se eu tivesse aberto a alma para aquilo, aquela coisa teria ficado e operaria em série, durante o dia aconteceriam outras coisinhas que assustassem e “pá-pááá!”, viria de novo. E podia ser que eu criasse o hábito de ser assim tentado pelo demônio
Ora, deste tipo de tentação eu tenho impressão de que um grande número de pessoas hoje é vítima, porque não reagem. E se cria o hábito. E a ansiedade do homem moderno ─ que o homem moderno é ansioso, não tem dúvida ─ eu acho que é uma tentação parecida com isso. Por essa razão que os homens correm, que os homens se esbaldam, que os homens perdem a distância psíquica, etc., etc., é por causa disso…
…lembrem-se de que eu falei hoje à tarde, na Reunião de Recortes do tipo tentado que deita eflúvios. Em geral, esse estado de espírito assim, começa com uma tentação axiológica infestada desta maneira pelo demônio. E porque está infestado desta maneira o demônio se habitua a atormentar as pessoas desse jeito. Então esse tipo assim deita eflúvios. E muitas e muitas vezes o “sabugo” não é outra coisa senão um homem que ligou um altofalante do demônio na cabeça dele.
Meus caros, os senhores se dão conta de que nós estamos há um bom tempo conversando aqui, com muito agrado para mim, mas que dessa vez realmente eu estou achando conveniente ir dormir? De maneira que eu me despeço e vamos dormir.
“Há momentos minha Mãe…”
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