Conversa de Sábado à Noite (Êremo de São Bento) – 13/11/1982 – Sábado – p. 9 de 9

Conversa de Sábado à Noite (Êremo de São Bento) — 13/11/1982 — Sábado

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Uma objeção que havia durante a Reunião de Recortes: “ninguém é tão mau quanto Dr. Plinio execra, nem tão bom quanto ele admira” * No fundo do ódio à radicalidade está uma posição gnóstica * A alma não gnóstica ama a manifestação da grandeza de Deus * Quando admiramos a grandeza, em certo momento ela penetra em nós * Só são capazes de dar glória a Deus as almas capazes de compreender a imensidade de Deus e as imensidades do crime * As almas medíocres são tais que têm pena de Brezenev, mas assistem com coração de pau à “Via Crucis” * “Os que não freqüentam os extremos de nossos horizontes, não podem achar necessária nem certa a “Bagarre”

privilégio para a pergunta nº 1, meu Marcos.

Onde está nosso Coronel? Evaporou‑se ou foi requisitado para o serviço?

(Dr. Marcos R. Dantas: Geração nova teria união maior com o senhor para não soçobrar. Os “enjolras” teriam essa união para glorificar. E, mal comparando seria o medo do inferno e desejo do Céu.)

Sendo que o desejo do Céu é mais alto que o medo do Inferno.

(Dr. Marcos R. Dantas: Mas um não exclui o outro.)

Não. Um supõe o outro.

(Dr. Marcos R. Dantas: Se o senhor pudesse desdobrar mais isso, tendo em vista a Reunião de Recortes.)

Com muito gosto. Eu volto um pouquinho à matéria de hoje à tarde, a respeito do Brezenev. É baixar muito o nível, mas como os senhores vão ver, eu vou entrar no tema sugerido pelo Dr. Marcos, não como preparação remota, mas como preparação próxima.

* Uma objeção que havia durante a Reunião de Recortes: “ninguém é tão mau quanto Dr. Plinio execra, nem tão bom quanto ele admira”

É um fato concreto que eu estava de frente para o auditório e eu notei assim em camadas geológicas sucessivas ‑ as camadas psicológicas são parecidas com as camadas geológicas — eu notei em camadas geológicas sucessivas, não assim em cada um, mas assim no auditório, a seguinte coisa: “Olhando para o Brezenev, nesta cara que está aqui, aparece nele alguma coisa de homem, por exemplo, numa das caras, de bête [traquer?], de animal perseguido e que olha assim. Mas, enquanto perseguido, percebe‑se nele uma potencialidade de dor que se apresenta, que nos dá uma certa pena.

Este homem visto enquanto um potencial sofredor, desperta uma compai­xão.” E essa compaixão traz assim como um corolário inconfessável, mas real, trás a idéia de que malharam o homem — porque só Judas foi mais malhado do que ele foi malhado por nós hoje à tarde, ainda mais que ele morreu — “é uma coisa que vai um tanto além do grau do equilíbrio perfeito”.

Na outra ele não estava com ar de dolorido, mas estava de um homem que faz uma força medonha e, por detrás assim: “Coitado, ele é um esforçado, para fazer essa cara de fera, ele, no fundo se esforça, no fundo ele não é tão mau”.

Mas, no fundo mais — e é onde eu quero chegar — tinha a seguinte coisa: “Ninguém é tão supinamente mau quanto Doutor Plinio está apresentando a ele. Não está na natureza do homem chegar ao requinte negro e total do mal como Doutor Plinio está apresentando. E isto, eu, de algum modo sinto em mim, porque sou homem, eu teria horror a chegar a essa situação do mal. Acho que não chegaria nunca. E, portanto, esse Brezenev… ninguém chega a esse extremo de mal que Doutor Plinio está apresentando.

Aliás, também ao supremo requinte do bem onde Doutor Plinio quer imaginar certas pessoas, também a alma não chega. E eu, Joanistroque, sentado aqui na minha cadeira — empoleirado, diria Doutor Plinio — encastelado digo eu, no meu bom senso, eu sou levado a achar que nunca o homem é tão ruim quanto o Doutor Plinio o execra e nunca o homem é tão bom como Doutor Plinio o admira.

Eu estabeleceria atenuantes, quer no elogio que ele faz a Carlos Magno, quer na execração que ele tem de Brezenev, porque o bem e o mal nunca vão até onde Doutor Plinio julga ver que vão. Mas, sempre fica, pelo menos, um tanto aquém”.

Eu acho que, se os senhores, em tranqüilidade de alma, analisarem esse estado de espírito, o encontrarão muito nos ambientes que o senhores conhecem. E que, por exemplo, se uma pessoa desses ambientes, conversasse comigo o dia inteiro, quando na saída alguém dissesse: “Doutor Plinio tem isso, a gente precisa saber dar o desconto… — vou dar um modo baixa‑de‑nível de apresentar — … sabem que o pai dele era um pernambucano. Aquele é um pessoal truculento, todo mundo sabe. E, verbo fácil como eles têm, eles são facilmente lançados ao exagero. Ele foi educado por uma alemã, podem imaginar tudo isso misturado no que deu.

Ele é uma boa pessoa, se exprime de um modo potável, pensa com uma clareza razoável, é no todo uma pessoa estimável. Mas, com a condição de que a gente não o acompanhe nos fins de linha dele.

Se a gente souber não acompanhá‑lo até os últimos acordes dos entusiasmos dele, nem das execrações dele, se compreende a ele melhor”. Isso seria apresentado assim. “Se compreende a ele melhor”.

Continuaria: “E, você mesmo, tenho certeza que agora, com o que eu estou dizendo, está sentindo um certo desarmamento em face do Doutor Plinio. E, portanto, eu estou facilitando a compreensão entre Doutor Plinio e você”.

* No fundo do ódio à radicalidade está uma posição gnóstica

Os senhores não podem negar que essa é uma idéia muito espalhada em nosso ambiente, no ambiente geral aí. E, vou dizer mais, seriam os mais moderados dos meus inimigos, seriam também os inimigos mais próximos a me arrancar amigos.

Por quê?

Deus é infinito, e suas obras são obras que, por causa disso, tem assim enormidades de dimensões que irritam os gnósticos. Porque, para os gnósticos, Deus é monótono, monocórdio, monocolor, inexpressivo. Deus não é ninguém, é uma idéia.

Para nós não, nós sabemos que Deus é uma pessoa. Deus, há em Deus três pessoas, infinito em tudo quanto ele faz.

Eu estava falando aos senhores da Eucaristia. Há uma coisa mais prodigiosa do que esse aparente desacordo: Deus que vem à nossa alma, faz‑se tão pequeno que as contém, está ou é um disco de água com farinha. Ele, sob essa espécie, está Ele?

De outro lado, entra em nós, não nos diz uma palavra porque não somos dignos. É como alguém que nos visita, mas não conversa conosco porque não somos dignos que Ele converse conosco. Não há contato mais íntimo do que o contato eucarístico. O que ali se diz, palavra humana nenhuma sabe dizer. Ele não nos fala.

Não sei se percebem o zig‑zag, os tamanhos diferentes, as proporções diferentes. E espírito gnóstico, fundamentalmente detesta isso. E, muitas e muitas vezes, quando eu noto que as pessoas têm dificuldades em me acompanhar, é porque elas têm dificuldades e relutância de temperamento em acompanhar toda movimenta­ção que eu faço de um extremo de horizonte a outro. E acham que eu sou radical, que eu sou extremista, por causa disso, porque eles são gnósticos.

Então, na hora de eu elogiar Carlos Magno, eu ponho Carlos Magno “nos cornos da Lua”. E, na hora de falar mal de Brezenev, é uma execração que não tem nome.

* A alma não gnóstica ama a manifestação da grandeza de Deus

Bom, quando eu estava vindo para cá, eu estava ainda pensando nisso: acaba se passando isso de concreto: nós estávamos falando que Deus às vezes se apresenta a nós como um paredão assim infinito, a gente olha, fica assim… depois, de repente, tão amigo, tão bondoso, tão próximo que a gente fica sem saber o que dizer. Eu penso às vezes nisso quando eu vejo nessa imagenzinha de Nossa Senhora do Bom Sucesso, o Menino Jesus brincando nos braços d’Ela e estendendo as mãos para a gente.

Que Deus se tenha feito um menino, é uma coisa… Quando a gente pensa — no tempo em que fui educado, os senhores também — as crianças ocupavam a ponta da mesa nos dias em que eram autorizados a jantar com os pais e com os mais velhos, com a condição de ficarem quietos…

Agora, Deus é um menino, nessas condições! E que na Sagrada Família o “último” era Ele! O chefe era São José. Nossa Senhora obedecia a São José e só Ele obedecia a São José e à Nossa Senhora. Então esse paredão infinito, de repente, se transforma nisso?! Que diferença!

E eu estava pensando: é bonito a gente medir essa diferença assim espetacular, essas diferenças espetaculares entre um aspecto e outro da obra de Deus. E a alma não gnóstica ama essa espetacularidade de Deus.

Porque não se chama adequadamente espetacularidade. Espetáculo tem algo de mentiroso, de vão. Aquilo é manifestação real de grandeza de Deus.

* Quando admiramos a grandeza, em certo momento ela penetra em nós

Se a gente tomar uma formiguinha, pequenininha, que passa diante de uma parede de altura do Pão de Açúcar; se essa formiga se puser numa atitude revolucio­nária: “Não compreendo como foram feitas as coisas desse tamanho, quando eu, afinal, sou tão pequena assim, essa massa de pedra me injuria…”, ela faz menos do que o papel de um [“canixe”?], ele não é nada.

Mas, se a formiga olhar e disser: “Ó, Paredão, como eu te admiro!” Por assim dizer, toda a grandeza do paredão penetra nela. E é pela admiração do que é imensamente maior do que nós que, de repente, aquela grandeza se abaixa e se precipita dentro de mim. Não se trata de fazer igualdade, trata‑se de fazer esta forma de participação.

(…)

participou da realeza. No momento em que ele a reconheceu, ela, de algum modo, entrou dentro dele. E um tanto de dignidade régia penetrou em cada inglês. Aliás, percebia‑se pelo filme que eles sentiam que eles todos estavam muito dignificados lá. E a gente vê que eles olhavam os estrangeiros de cima para baixo nesse dia. Bom, costumam olhar, mas, nesse dia mais do que de costume.

Bem, são dois sentimentos que glorificam eminentemente a Deus, porque desengonçam a alma humana e dão à alma humana possibilidade de ser o reflexo de Deus e de estar, não digo na proporção de Deus, mas em harmonia com Deus.

São coisas que…

(…)

tão, tão íntima, que era como a formiga na qual entra, de repente, a grandeza de todo Pão de Açúcar. Era o contrário da posição da gnose. Ela assim dava glória ao Sagrado Coração de Jesus.

(…)

do mundo. Nós Vos adoramos, Jesus Cristo e Vos bendizemos, porque por Vossa Santa Cruz, Vós redimistes — aliás, remiste — o mundo! Bem, isso ela era capaz de dizer de alma inteira. Por isso, apareceu na outra ponta o demônio e a execração. As outras almas muito menores, menores.

* Só são capazes de dar glória a Deus as almas capazes de compreender a imensidade de Deus e as imensidades do crime

Eu me lembro uma senhora que tinha esse convívio de família muito íntimo com ela — creio que ela já estava morta quando essa pessoa disse algo que me chegou aos ouvidos. Falaram assim, em conversa de família, falou‑se de passagem — mas com compostura, não havia nenhuma imoralidade nisso — falou‑se de homossexualidade. E a senhora, uma senhora de vida direita disse isto: “É, os homens detestam a homossexualidade”.

Eu vi que era uma senhora tão preservada que ela nem tinha idéia que homossexualidade pode existir entre mulheres. Ela pensava que “homo” era homem e não “homogêneo”. Mas que, ao mesmo tempo, para ela o mal da homossexualidade era de que era uma coisa detestada pelos homens. Onde é que estava Deus?

Quer dizer, se os homens não detestassem, não seria ruim. Então ela, até que ponto detestava de fato a homossexualidade. Ela poria a mão na cabeça se algum filho dela praticasse, mas onde estava ela nisso? Ia ver o que ela era capaz de adorar, o que era capaz de odiar: pontas pequenas. Alma do tamanhinho de um lápis, de um toco de lápis que já está para ser jogado fora. Dentro de uma vida correta.

Onde está essa capacidade de odiar e de amar, do não gnóstico? Eram almas que a tibieza prepara para a gnose. Essas almas não dão glória a Deus.

Eu já [ouvi] uma pessoa dizer: “Não compreendo por que é que Deus tomou todo esse trabalho de fazer um universo tão complicado para dar para os homens estudarem, estudarem, estudarem e, na ponta de tudo tem isso que Ele é infinito, poderoso. Ele podia dizer isso num catecismo, que Ele é infinito, poderoso, a gente fica sabendo, não precisava fazer tudo isso tão grande, tão complicado. Com meia dúzia de estrelas, Ele compunha o equilíbrio desse universo. Tudo d’Ele é de uma grandeza que a gente não compreende”.

Eu fiquei com vontade de dizer: “Olha aqui, é pena não haver uma Inquisição para deferir a você imediatamente”. São almas apequenadas, [rapetisser?], pequenininhas.

Os senhores já viram esses esqueletos — não é bem esqueleto: esses povos da África que matam as pessoas, arrancam o crânio de dentro e ficam umas cabecinhas assim. Há umas mentalidades assim, é isso. Essas não podem dar glória a Deus.

Glória a Deus dá quem é capaz de compreender as imensidades de Deus. E, portanto, também as imensidades do crime.

* As almas medíocres são tais que têm pena de Brezenev, mas assistem com coração de pau à “Via Crucis”

Então, voltando ao Brezenev, eu digo, considero o seguinte: As pessoas que tiveram, em qualquer camada geológica de sua alma, pena do Brezenev, estas têm irredutibilidade comigo, para não dizer implicâncias. E os senhores vão ver implicância no fundo o que é que toca, toca nisso. Toca em que eles são irredutíveis para essa dimensão de alma, irredutíveis para isso.

Um vitupério que uma vez uma pessoa me fez, a propósito disso — eu bati nisso, pedi desculpas ao que vão ouvir a fita — a pessoa me disse: “Você não poderia ser ao mesmo tempo muito menos cerimonioso e menos afetivo mas também menos carregado de cólera? Tornaria o convívio com você muito mais agradável”.

Eu não dei a resposta que gostaria de dar: “Meu convívio não foi calculado para você”… “e se você não se dá bem com meu convívio, Haus! Eu não te chamei, não te conservei e te despeço”.

Mas, essa mesma pessoa, se me ouvisse dizer isso agora, que eu vejo que é inexorável — eu não te chamei, não te retive, vai embora — diria: “Coitado, não se faz isso com ninguém. Ela não se daria conta de que tinha acabado de me dizer uma coisa pior do que isso. Não se dava conta.

Então, esses apequenados, não é que são almas sem crueldade. Eles têm um reversement, uma inversão das crueldades, eles têm essa crueldade para o lado errado, não têm para onde deveriam ter e têm para onde não deviam. Têm pena do Brezenev, mas assistem uma Via Sacra com o coração de pau.

Então, aqui está a gnose, mas aqui está também a semelhança entre as almas. E, junto, apontado uma dessemelhança que no fundo de muitas almas…

(…)

pergunta do meu caro Marcos.

Alguém dirá: “Talvez com uma exuberância supérflua”. Eu digo: Pode ser que você ache, eu não acho. Meu Marcos, está bem isso?

* O Senhor Doutor Plinio conta um fatinho para, de um modo cerimonioso, explicar o abafamento da sala

(Sr. Guerreiro: Se o senhor poderia continuar a tratar dessa problemática do mal…)

E, portanto, do bem, porque o mesmo problema das insondabilidades do mal é o problema das insondabilidades do bem.

(Sr. Guerreiro: Então, se o senhor pudesse tratar mais sobre isso.)

Um senhor a quem eu até devia muitos favores — era pai do José Gustavo de Souza Queiroz que era muito meu amigo e ele, com a morte do filho, tornou‑se muito meu amigo etc., etc. — com o estreitamento de relações, uma vez ele me disse — eu era amigo do filho dele, era de uma geração mais velha que eu, ele tinha conhecido mamãe quando eram solteiros — ele me disse: “Plinio, por que você não me trata mais sem cerimônia? Eu queria que você fosse natural comigo”.

Eu disse: “Sr. Antony, eu sou naturalmente cerimonioso. Quando eu me ponho bem espontâneo, eu começo a fazer cerimônias, porque é o meu natural”.

Eu não posso impedir, portanto, minhas espontaneidades… não posso impedir de dizer aos senhores que lamento trancá‑los nessa falta de ar. Resisti o quanto pude. Mas, notando que não havia remédio, não posso fazer outra coisa.

Mas, vamos então para frente.

* Ao contrário do que sustenta a mentalidade “Pnom Penn”, o demônio quer chegar ao extremo do mal

Pnom Penn. Eu noto uma tal resistência das pessoas reconhecerem o mal, aquele requinte de mal que o mal tem, que eu nunca comentei o fato Pnom Penn tão explicadamente como comentei hoje à tarde com os senhores.

Os meus “enjolras” nem estavam no Grupo quando o fato da Pnom Penn se deu — não sei se alguns não estavam no berço, por aí, quando o fato de Pnom Penn se deu. Eu não tenho boa cronologia… [Vira a fita]

vamos para frente, deixando de lado essas cronologias.

Os que estavam no Grupo nesse tempo, sabem que eu tratei assim da coisa, não tratei a fundo, porque se eu fosse dizer o que eu penso, eu produziria uma recusa que seria fatal para o bom entendimento de nossas almas. Portanto, eu tratei muito superficialmente.

Hoje tratei um pouco mais, mas não fui bem até o fundo.

Eu creio atender à sua pergunta, indo ao fundo. Mas o para onde conduz tudo quanto eu disse a propósito de Pnom Penn, porque em determinado momento eu peguei o caso de Pnom Penn e ergui como um paradigma. Mas eu disse antes, que nas 3 Revoluções o demônio tinha feito “Pnom‑penniadas”. E eu não expliquei bem — o que eu disse é verdade, mas eu não disse o fundo da coisa, do que eu penso, quando eu disse o que eu disse. Quer dizer, habitualmente os senhores vêem em tratados — por exemplo, história do protestantismo, coisas assim — o particularismo, a vontade natural de mando do povo alemão, outras incompatibilidades que se pode apontar entre o gênio germânico e o gênio latino; de outro lado, o luxo muito grande do culto católico — fica insinuado que esse luxo era soprado pela influência italiana na religião católica — despertaram no povo alemão um tal ódio, uma tal indignação que deu naqueles sacrilégios, naquelas coisas todas. Exagerado, sem dúvida nenhuma, mas feios, não tem dúvida nenhuma, mas não deixa de ser verdade que foi despertado por esses fatos.

É um engano! Eu não nego que o demônio possa ter aproveitado circunstânci­as dessas para azedar na alma dos que fizeram o protestantismo. Mas, a intenção dele, levantando esses temas, não era nenhum pouco essa. É que ele queria produzir o sacrilégio pelo sacrilégio, a blasfêmia pela blasfêmia, porque o fato dele manifestar isso aos homens, e sobretudo, a cristãos e fazer cristãos fazerem isto, lhe dá — a maldade satânica dele — o gosto do mal pelo mal, que ganhou a alma dele, a partir do momento em que, colocado diante de Deus, ele quis se igualar. Ali entrou o gosto do mal pelo mal. Mas, o mal o mais radical possível e, quanto mais radical, melhor.

O extremo do mal, ele passou a amar e a desejar. E, portanto, o fato de ele ter feito viver um pouquinho esse mal na história, fa‑lo dar uma gargalhada cheia de dor, mas que reboa por todos os antros infernais. Essa gargalhada é: “Olha o mal, olha o mal, eu quero o mal!”

Ele é sinistro e quer isto assim. E visa estabelecer neste mundo a tal república universal dele, em que todo mundo é “pnom pennizado” como escravos dele, para ele judiar o mais possível, porque gosta que se judie, porque ele é sádico e gosta de ouvir o gemido dos homens. Ele se encanta com os campos de concentração, com as torturas, com as pessoas dilaceradas, com os corpos arrebentados, com as almas que uivam, tudo isto é o ambiente próprio dele. E por quê?

Porque Deus fez o universo de outro modo e isto é o anti‑Deus. Ele quer porque é ruim. E quer com o ímpeto de uma personalidade angélica.

Quer dizer, Lúcifer — parece que era o primeiro dos anjos — tem portanto uma personalidade fabulosa. E é com todo o calor dessa personalidade estropiada e rompida pelo pecado que ele deseja o mal pelo mal. E o pecado de Revolução é uma pepita do desejo do mal pelo mal. E a la Lúcifer.

E é acompanhado sempre — embora o indivíduo faça o pecado de Revolução por uma coisinha à toa — é acompanhado de um desejo do mal pelo mal. Que vai ganhando terreno à medida em que enterra o indivíduo. E por isso que ele quer que realmente haja domínio no mundo, disso que regala ele: é o povo eleito que ele transformou no povo deicída. Por quê?

É o povo eleito que ele transformou. Olha o mal. Ele pegou um plano de Deus e subverteu, ficou um povo deicída, o pior pecado. E depois, instrumento da Revolução, e ele quer sujeitar esse povo, que passou a ser o povo eleito dele, ele quer sujeitar a la bagaço, tratado a la inferno, ele quer sujeitar o mundo.

Aí eu vejo esses “laranjas” que há por aí, que escrevem que isso corresponde ao desejo de dominação do judeu, desejo de riqueza. O verdadeiro judeu não se incomoda com dominação, nem com riqueza. Ele quer fazer este reino. E ele sente em si a maldição e quer que essa maldição tenha o poder para ele dar risada e dizer: “Olha em mãos de quem foi parar o poder!”

(…)

ele esfregava as mãos de contente. E assim, o mesmo foi feito na Revolução Francesa, aqueles crimes da Revolução, eles cometerem os crimes, pelo prazer de fazer crime. O regicídio foi feito pelo prazer de matar um rei, de matar uma rainha do reino cristianíssimo. É para aquilo. Muito mais do que para coisas políticas, é uma liturgia satânica.

E todo esse apagar gradual de toda forma de moral e de bondade, e de beleza, no mundo ocidental, é feito pelo demônio para chegar a esse extremo do mal. E os homens que colaboram com isso querem isso. E quem nos odeia, pode nos ser caro como for, não escapa daí: quer o mal pelo mal, na medida em que nos odeia.

Ainda que seja um grão de antipatia frenética e simpatia por vários outros lados, ali nos odeia.

* “Os que não freqüentam os extremos de nossos horizontes, não podem achar necessária nem certa a “Bagarre”

Eu compreendo o argumento: “Não estão habituados a morar nesses panoramas extremos descortinados pela Fé”.

Então, o senhor quer ver no que resulta tudo isso aí?

Eu estava prestando atenção no alardo de hoje à tarde. Meu valente Coronel fez daquilo uma cerimônia exímia. Mas, várias caras estão recentes ali como se fizessem parte de um brinquedo de soldadinho de chumbo.

Agora, por quê? Não freqüentam esses extremos do horizonte. Por causa disso não têm uma idéia tão viva de qual é todo esplendor do bem pelo qual nós lutamos. Têm inclusive preguiça de ter essa idéia. Não têm uma idéia tão viva de todo horror do mal contra o qual nós lutamos.

Quem não tem os [dois?] dessas posições, não se dá conta de algumas coisas que são a vida do alardo, das quais, ainda no Chazinho de ontem à tarde, eu falava com os senhores. Por exemplo, como é que uma pessoa que não se dá bem conta disso, pode achar tão necessária a Bagarre? Não pode, não pode! Nem o castigo ela deve achar tão necessário, nem tão urgente, nem tão certo. Não achando tão necessária a Bagarre, aquele cerimonial todo não tem sentido. Aquele cerimonial da espera profética da Bagarre. Não é outra coisa.

Agora, de outro lado, se a pessoa não tem a espera da Bagarre, qual é a diferença entre o grupo e um “Exército da Salvação”?

O “Exército da Salvação” está a serviço de uma heresia, o Grupo está a serviço da Fé. Mas, “no total, a fé será tão boa, a heresia será tão má, para Doutor Plinio falar como se um abismo houvesse entre o não era melhor!

Funciona assim, funciona assim. O que vale uma alma dessas? Ela não freqüenta os extremos do nosso horizonte. Resultado, nada decorre daí.

Por exemplo, sempre na mesma idéia: a “insubstitutabilidade” que passa…

(Sr. –: Aaaahhh!)

o mal da gente se atrasar quando deve ser alerta no dever…

(Sr. –: Aaaahhh!)

o bem da gente sacrificar coisas do dia de hoje para o perfeito cumprimento do dever no dia de amanhã… são coisas que é preciso tratar assim, não é?

(Sr. F. Antúnez: Pode continuar agora e amanhã cumprir o dever.)

Continuar agora, amanhã está todo mundo assim…

(Sr. –: Nãããooo!!!)

o apostolado se faz de um modo arrastado, preguiçoso. Por quê? Porque nós nos espichamos demais numa exposição… razão pela qual fugit irreparabile tempus, chegou o momento que nós temos que nos despedir…

(Sr. –: Oh!)

sem eu ter a alegria…

(Sr. –: Aaahhh!)

de receber perguntas dos outros mais velhos, nem de apertar outras mãos que não a dos mais velhos.

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