Conversa de Sábado à Noite (Êremo de São Bento) – 23/10/1983 – Sábado [RSN 036 e AC V 82/10.31 e 32] – p. 7 de 7

Conversa de Sábado à Noite (Êremo de São Bento) — 23/10/1983 — Sábado [RSN 036 e AC V 82/10.31 e 32]

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A Bagarre tem o sentido de uma punição perante a justiça

divina e deve ter uma função destruidora * Além do fim punitivo, a Bagarre tem um fim instrutivo, o qual deve apoiar a ação do Espírito Santo * Começam a aparecer os problemas do Reino de Maria — Exemplo de um problema com muito pulchrum: o da conversão dos judeus * Não se pode estudar a história da Contra-Revolução sem estudar a história da Revolução e de suas infiltrações nos sólios eclesiásticos e temporais * Durante a Bagarre, Deus revelará aos olhos do povo as traições dos altos hierarcas, que pareciam inverossímeis * O Grupo entrará aí com o seu próprio depoimento, dando a interpretação RCR dos fatos * Os judeus não teriam feito o mal que fizeram se não fosse a nossa fraqueza * Problema que não é tão simples: convém que fiquem alguns judeus para o Reino de Maria, organizados e conspirando? * Se houver clima de modorra no Reino de Maria, dir-se-à que os males do passado, já tão distantes, não se repetirão * Devemos ser os “olheiros-desconfieiros” do Reino de Maria

Então, quem é o pergunteiro, é o Guerreiro?

(Sr. Guerreiro: […] Tinha uma pergunta da Reunião de Recortes, mas não peguei o Santo do Dia onde sopraram grandes ventos. Proponho que esses ventos continuem.)

* A Bagarre tem o sentido de uma punição perante a justiça divina e deve ter uma função destruidora

(Sr. João Clá: […] O tema do almoço de hoje, a “Bagarre” enquanto lição para o futuro e não só castigo do passado. Como o senhor imaginaria um Concílio condenando os erros passados?)

Eu acho que a Bagarre tem o sentido objetivo de uma punição perante a justiça divina e que é necessária porque a justiça divina assim decretou.

Ainda hoje eu estava vendo umas palavras de uma religiosa cujo nome o João sabe…

(Sr. João Clá: Sóror Catarina de Jesus Herrera.)

Isto. Uma religiosa do Equador, mais ou menos da época da… é de uma outra congregação, agostiniana, enquanto que as outras são concepcionistas

(Sr. João Clá: É dominicana.)

Exatamente, é dominicana, enquanto que as concepcionistas de que nós temos cogitado são franciscanas. Mas é mais ou menos daquela época.

Naturalmente com esses contatos que há de convento a convento, etc., deve ser considerada uma pessoa que está naqueles mesmos resplendores.

E essa Sóror recebeu uma revelação de Nosso Senhor em que Nosso Senhor se queixava das almas que pediam demais misericórdia para Ele, dizendo que essas pessoas às vezes desagradavam a Ele porque pediam unilateralmente misericórdia, esquecidas de que a justiça divina também quer se exercer. E que há, portanto, um limite para a misericórdia, como há um limite para a justiça. E a pessoa deve pedir uma misericórdia com limite, como pede uma justiça com limite. Isso é o bem pedir das coisas.

Nessas condições, eu também acho que a justiça divina deve exercer-se na Bagarre e deve ter a função destruidora, etc., que nós consideramos.

Dizia bem essa Sóror que Nosso Senhor dizia a ela: “As pessoas rezam por seus países, está bem, está de acordo com a natureza. Mas elas não tomam em consideração que mais do que o amor de seus países, elas devem ter amor da glória de Deus”.

Se seu país perde, vamos dizer, algumas cidades por castigo, pode desfigurar o país, mas é conforme o esplendor da glória, e a beleza da glória de Deus é maior do que a beleza de seus países, por mais bonitos que esses países sejam.

É uma coisa muito verdadeira. Então, a justiça tem essa função: pune por justiça.

* Além do fim punitivo, a Bagarre tem um fim instrutivo, o qual deve apoiar a ação do Espírito Santo

Agora, é fato também que ela prepara o futuro, e ela prepara o futuro da seguinte maneira: ela torna patente, pelo castigo de Deus, a abominação em que Deus tinha os pecados que se realizavam agora, e como Deus quer uma ordem de coisas oposta à que agora existe, como todo o mundo futuro deverá construir-se sobre o contrário daquilo que é o miserável e perturbador fundamento da assim chamada ordem atual, do pandemônio atual, da situação atual.

Então, nós temos para a Bagarre dois fins: o fim punitivo, mas o fim instrutivo. E esse fim instrutivo deve apoiar aquilo que eu imagino que seja a ação do Divino Espírito Santo nessa ocasião.

A ação do Espírito Santo qual é?

Assim como a Revolução se baseou, teve como ponto de partida um pecado imenso que era uma apetência, em última análise, do hipismo e da 4ª Revolução, e uma apetência desbragada, desmedida, que foi vencendo obstáculos psicológicos e lógicos — lógicos e psicológicos — até chegar onde nós estamos; assim também a aurora do Reino de Maria deve ser uma apetência veemente e entusiasmada do contrário, que vá vencendo obstáculos que sempre há no homem para a ereção da ordem reta, vá vencendo e fazendo caminhar de brilho em brilho o Reino de Maria.

É preciso notar que se enganam muito os que pensam que a Idade Média — que foi uma espécie de presságio, foi uma espécie de avant figure , de pré-figura do Reino de Maria — não conheceu dramas e tragédias. Ela conheceu inclusive várias revoltas, e revoltas grossas, perigosas, cátaros, albigenses, várias outras heresias que foi preciso esmagar, contra as quais foi preciso lutar, etc.

Assim também no Reino de Maria haverá coisas dessas contra as quais vai ser preciso lutar. O Reino de Maria não vai ser uma estrada macadamizada onde não há obstáculos. Não é humano, não é terreno, não teria glória, não seria um reino de glória se fosse um reino sem obstáculos. O Reino de Maria vai ter obstáculos, mas esse desejo do contrário do pecado imenso é que deve levar a Humanidade a vencer todos esses obstáculos e levar até a perfeição a ordem de coisas que deve caracterizar o Reino de Maria.

E a fisionomia dos acontecimentos na Bagarre vai ao mesmo tempo significar as duas coisas. Ela vai exprimir a cólera de Deus, magnífica, majestosa, denunciando, desmascarando e apontando em todo o horror o pecado cometido. Mas vai ter, de outro lado, esse caráter: é que vai ensinar aos homens a evitar que uma coisa dessas se recomponha.

* Começam a aparecer os problemas do Reino de Maria — Exemplo de um problema com muito pulchrum: o da conversão dos judeus

Então, começam a aparecer os problemas do Reino de Maria. Os senhores querem ver um problema delicado? Eu não me lembro de ter exposto esse problema aqui. É um problema que não vai ser sem pulchrum e até muito pulchrum.

Nós sabemos que para o fim do mundo os judeus devem se converter. Nós sabemos que — não por razões étnicas, isso nós recusamos, mas por razões teológicas e morais — foram os judeus os propulsores da Revolução, estão sendo e serão até o fim.

(Sr. –: Se eles ficarem soltos no Reino de Maria, eles vão recomeçar tudo? Ou deverá dar-se a conversão da maior parte deles de maneira que fique apenas um gérmen que deverá acabar de se converter pelo fim do mundo? O que é a conversão do povo judaico nesse caso?)

De qualquer maneira, deve haver judeus para converter-se no fim do mundo, e judeus bastante numerosos para representarem a nação. Por mais numerosas que sejam as conversões agora, deve haver judeus bastante numerosos para representarem a nação judaica, para se poder dizer que a nação vai se converter. Ao menos é o que parece.

Se é assim, se permanecerem judeus não convertidos, como é que os católicos vão se defender contra eles?

Parece que só pode ser conhecendo como foram os nossos pecados — portanto, também nossas fraquezas — e como foram os jogos deles. E será bem necessário dizer que esse jogo teve como elemento mestre a infiltração dentro da Igreja. E na Igreja, na hierarquia. E será bem necessário denunciar que a Revolução teve como mola propulsora, dentro da Igreja, a hierarquia que ela visava destruir. E dentro da sociedade temporal, a aristocracia e as dinastias que ela visava destruir também.

A tese é que a Revolução não teria sido feita se não fossem essas colaborações. Não de que eles sejam os únicos autores da Revolução, mas que a Revolução não teria vencido — ou pelo menos não teria vencido como venceu — se não fosse a colaboração deles. Para que a Cristandade saiba defender-se de todo esse mal.

Como é que nós podemos imaginar tudo isso?

(…)

* Não se pode estudar a história da Contra-Revolução sem estudar a história da Revolução e de suas infiltrações nos sólios eclesiásticos e temporais

Poder argumentar que tal coisa é má, que tal coisa é boa, que isso, que aquilo. Vai ser preciso que a história da TFP seja bem conhecida. E não é possível conhecer bem a história da Contra-Revolução sem ter conhecido bem a história da Revolução. É uma impossibilidade.

É como numa guerra. Por exemplo, a guerrinha do Brasil com o Paraguai, nós não podemos dizer que nessa guerra basta estudar o que fez o exército brasileiro sem tomar em consideração o que fez o exército paraguaio. Então, não é a história de uma guerra, é uma coisa gagá. A guerra é fundamentalmente o entrechoque dos dois exércitos; se eu abstraio de um dos exércitos, eu tenho o outro exército dando tiros no ar, não é fazer uma guerra.

Assim também não se pode estudar a história da Contra-Revolução sem estudar a história da Revolução. Se vai ser preciso estudar a história da Revolução, vai ser preciso estudar a história da infiltração, a história de tudo quanto representou essa infiltração, e todo o mal que essa infiltração do alto dos sólios episcopais e até do trono de São Pedro, do alto dos sólios da grandeza temporal, da aristocracia e da grandeza temporal, da realeza, que mal fez.

* Durante a Bagarre, Deus revelará aos olhos do povo as traições dos altos hierarcas, que pareciam inverossímeis

Agora, isso é tão inverossímil, o bom católico é tão levado a confiar no papa, nos bispos, no rei e nos nobres ou nos chefes de Estado, se outra for a forma de governo, o bom católico é tão levado a confiar nisso, que se não houver durante a Bagarre uma manifestação por parte de Deus aos olhos dos povos do que foi feito, eu não creio que isso entra. Portanto, eu creio que haverá essa manifestação.

De que maneira?

Pode ser, por exemplo, Deus fazendo projetar… Os senhores conhecem a revelação — que, se não me engano, é do Profeta Ezequiel, não, Dr. Edwaldo? — das abominações que se cometiam no Templo, no tempo do Profeta Ezequiel, a quem Deus mostra, de repente, todos os horrores que estão se cometendo e até no Sanctus Sanctorum, e a prevaricação do clero de Israel.

É possível que aparecesse de repente em um show monumental, simbolizando tudo quanto a Estrutura está fazendo. E que os povos dobrem o joelho e reconheçam horrorizados o que está acontecendo. É possível, é até totalmente possível, é até inteiramente possível.

Por essa e por outras formas, que, por exemplo, …

(…)

mais gloriosa. Que além da revelação por Deus do que tenha feito a Estrutura, haja um concílio de bispos, papa, bispos, bons, convertidos pelo enorme chacoalhar das coisas, que condene e denuncie tudo isso aos olhos de todos os povos: “Foi assim!”.

Houve concílios já condenando até papas. Isso é freqüente na História da Igreja antiga. Não condenando como hereges, mas condenando por má vida, por maus costumes, por aquilo, aquilo outro. Um outro condenou até a doutrina. Houve uma defenestração do papa português Formoso. Defenestração… ele foi arrancado da sepultura e jogado no Tibre. Um concílio é que mandou arrancar, porque achou que o papa Formoso governou para lá de pessimamente a Igreja.

Quer dizer, pode acontecer de tudo, tudo pode acontecer.

* O Grupo entrará aí com o seu próprio depoimento, dando a interpretação RCR dos fatos

O fato é que incumbirá à TFP entrar aí com seu próprio depoimento. Eu creio que o que acontecerá é o seguinte: nós poderemos, por documentação ou por revelação celeste dada a todos os povos, conhecer os fatos como se passaram e dar a interpretação RCR que torne esses fatos luminosos, evidentes, etc. Eu tenho impressão que será missão da TFP. Se é que esses documentos do buracus buracorum não revelem o pânico que tinham da TFP e a celeste autenticidade da TFP Pode-se pensar nisso, nada impede de pensar nisso.

Então, os senhores têm aí as várias hipóteses que a gente deve considerar para o caso da Bagarre. E também as várias formas de triunfo e de misericórdia no Reino de Maria.

* Os judeus não teriam feito o mal que fizeram se não fosse a nossa fraqueza

Sobre isto, um ponto.

Nós acusamos muito os judeus, e temos razão para acusar. Mas uma coisa é certa, a meu ver: é que eles nunca teriam feito o mal que fizeram se não fosse a nossa fraqueza. Quer dizer, a força deles é o indício da nossa fraquesa. Se nós não fôssemos fracos, eles não teriam conseguido nada, porque eles não são senão tentadores, eles não têm o domínio de nossa almas. Eles podem propor como a serpente propôs a Eva, e a Eva ligada com a serpente em frente única propôs a Adão. Isso é uma outra questão. Mas de si, a serpente não impõe o pecado; se pecamos, a culpa foi nossa.

Portanto, os principais culpados da Revolução foram os católicos! Se fossem fortes, não teria acontecido.

E o poder dos judeus é sempre um índice de que nós estamos fracos. Portanto, é um barômetro, um termômetro que serve para indicar qual está sendo a nossa força.

* Problema que não é tão simples: convém que fiquem alguns judeus para o Reino de Maria, organizados e conspirando?

Convém que fiquem alguns para o Reino de Maria, organizados e conspirando, ou é melhor que não existam?

À primeira vista diria: “Não, não existam! Assim o Reino de Maria dura muito mais”.

Eu digo: não é tão simples. Porque, em primeiro lugar, não depende de nós eles existirem ou não. Deus é que sabe, nós não vamos exterminá-los. Em segundo lugar, e principalmente, um Reino de Maria que dure sem desconfiança deixa de ser Reino de Maria. Ora, se não houver judeus, de quem desconfiar?

É uma pergunta que a gente põe também em outra forma.

Os senhores imaginem que nós tivéssemos um grande internato católico, um colégio católico, internato ou não, pouco importa. Nesse colégio vigora o bom espírito, mas há uns três, quatro ou cinco alunos que estão meio mancomunados entre si e que espalham o espírito mau. O que é melhor fazer: um diretor de colégio sábio reunir os melhores alunos e organizar com eles uma contra-revolução branca contra esses, sem expulsá-los, de maneira que excitem a desconfiança, excitem a vigilância e excitem oposição, e esses terminem o curso isolados e derrotados, ou o melhor é expulsá-los logo de começo e haver aquela placidez dentro do colégio, total?

Parece mais interessante a primeira hipótese. É evidente!

Os senhores compreendem, por aí, entretanto, se é mais interessante haver judeus, será necessário que haja uma revelação do que eles fazem. Para haver, eu não vejo outro modo a não ser esse.

* Se houver clima de modorra no Reino de Maria, dir-se-à que os males do passado, já tão distantes, não se repetirão

Naturalmente, o que vai acontecer é que uns trezentos ou quatrocentos anos depois da Bagarre, na paz profunda do Reino de Maria, paz desconfiada que seja, vai se formando uma ilusão aos olhos dos homens que os senhores sentem consigo.

Os senhores é impossível que não tenham a idéia de que os fatos do século passado e do começo do século, pelo menos, pelo menos, até a Segunda Guerra Mundial, para os senhores são fatos que são de um passado tão longínquo que parece já não ter nexo com o presente, e que todas as coisas que se deram naquela ocasião dificilmente se repetirão, de tal maneira estão longe do homem de hoje. De fato, nós vimos como, pelo contrário, eles vão se repetindo e se agravando.

Quando tiverem idéia de que houve um tempo em que os homens foram muito maus, realmente, etc., mas que esse tempo depois mudou e tem trezentos anos de paaazzzz e de tranqüilidade, aí essa idéia, essa falta de perspectiva histórica onde o passado parece distante demais e o presente autônomo demais do passado, criará o clima para a modorra. Na modorra, dizer: “Não, aquilo aconteceu naquela ocasião, agora não acontece mais, está tudo direito, está tudo bem arranjado”, etc. Isto posto, a abominação sai!

Eu termino com essa memória, essa recordação, da qual os mais velhos sentados aqui devem ter lembrança. Os senhores são tão, tão mais moços do que eu, eu peguei isso de cheio.

Quando se estudava história do protestantismo ou das heresias mais antigas, a gente tinha a impressão de que isso tinha acontecido no passado, mas que a Igreja tinha atingido um tal grau de perfeição interna, que não podia mais acontecer, e que a história das heresias era para o passado, nunca mais haveria heresias. E estava-se minando a pior das heresias naquela ocasião!

* Devemos ser os “olheiros-desconfieiros” do Reino de Maria

Para tudo isso é muito conveniente que a TFP vá alimentando as desconfianças, e os senhores deverão ser os grande “olheiros-desconfieiros” do Reino de Maria. Preparem-se porque essa é a coisa.

Meus caros, o “desconfieiro” procura acompanhar tudo, nada passa despercebido do “desconfieiro”, nem a corrida do tempo. O “desconfieiro” nunca perde a noção do tempo que foge irrecuperável. Portanto, ele se dá bem conta que são duas horas e meia… que dá tempo para uma pergunta pequenininha ou para nós termos — eu o prazer e os senhores a ocasião — de nos cumprimentarmos. Os senhores escolham o que preferem, o cumprimento…

(Todos: Os dois.)

Os dois não é possível! Os senhores escolham o que lhes parece preferível. Os que preferem a pergunta levantem o braço.

(Sr. João Clá: Cada um está pensando em si.)

No momento em que todos pensaram em si, todos pensaram no todo. [risos]

Meu João, vamos começar pela primeira fila.

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