Conversa
de Sábado à Noite – 17/7/1982 [RSN 032] .
Conversa de Sábado à Noite — 17/7/1982 [RSN 032]
Em certo momento, o Sr. Dr. Plinio compreendeu que, para a vitória da Contra-Revolução, era necessário um oferecimento como vítima expiatória * Segundo a concepção da Sra. Da. Lucilia, o papel da mãe de família era embalsamar o lar de benquerença * Com a invasão da brutalidade moderna, o isolamento da Sra. Da. Lucilia * Diante da recusa, resolução da Sra. Da. Lucilia: “Continuarei a mesma até o fim. O Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria receberão de mim o que os outros rejeitam” * A presença da Sra. Da. Lucilia fez o Sr. Dr. Plinio compreender que a ternura e combatividade são irmãs inseparáveis * Se não fosse a doçura com que o Sr. Dr. Plinio nos trata, o Grupo seria bem menor e não propagaria, como deve, a devoção a Nossa Senhora * Ao cruzar os umbrais da eternidade, a Sra. Da. Lucilia compreendeu que conhecera, no final da vida, quem atrairia a ela o objeto de sua longa espera * Um forte trauma sofrido pela Sra. Da. Lucilia ao ver o mau trato recebido pelo Sr. Dr. Plinio nos meios católicos * Como o Sr. Dr. Plinio fazia para formar a Sra. Da. Lucilia
Índice
* _ * _ * _ * _ *
(Sr. João Clá: O coronel estava propondo que o senhor tratasse de um tema. Não sei até que ponto o senhor quer tratar desse tema, ou não, mas se o senhor quiser, todos ficarão contentes. Relaciona-se com o que o senhor tratou no MNF desta semana, um pouco com o que o senhor tratou no almoço de hoje: o que significou para o senhor todo o martírio da espera com relação à “bagarre”. O senhor esperou e continua esperando ainda pela “bagarre. E o senhor chegou até a contar em outro MNF que houve um determinado momento em que o senhor chegou até a oferecer-se como vítima pelo esmagamento da Revolução e pela implantação da Contra-Revolução.)
[Apresentam alguns copos de cristal ao Sr. Dr. Plinio]
* O alemão é um militar, o espanhol um guerreiro
(Sr. João Clá: Estes copos, os espanhóis trouxeram de presente para o senhor. São copos alemães comprados na Espanha.)
Mas é a quintessência da combatividade! O gênio militar alemão com o espírito guerreiro do espanhol! E servido por um espanhol que demonstra bem esse espírito guerreiro.
Mas por que eu me refiro ao alemão como militar e ao espanhol como guerreiro? Isso não veio a esmo. É porque o modo do alemão combater é formando milícia e, portanto, é militar; pelo contrário, o modo do espanhol é do guerreiro isolado, sozinho. Não forma milícia de muito boa vontade.
* Em certo momento, o Sr. Dr. Plinio compreendeu que, para a vitória da Contra-Revolução, era necessário um oferecimento como vítima expiatória
(Sr. João Clá: Mas ligado a esse tema há um outro: quanto uma senhora resolveu sofrer, quis ser vítima para que a vocação de um filho desse inteiramente certo, cem por cento certo e atingisse o seu alvo!)
Eu não cheguei a me oferecer como vítima expiatória.
Eu tinha idéia de que se fosse preciso alguém chegar, quer dizer, uma vez que eu via tanta gente — porque isso ainda foi no tempo bom da Igreja — eu via tanta gente trabalhando, tanta gente lutando etc., e eu não via a Revolução prostrada no chão, eu chegava à conclusão de que faltava alguém sofrer. Se faltava alguém sofrer, então o verdadeiro caminho, a carência das coisas estava em alguém que sofresse até o fim do caminho.
Como poderia ser esse sofrimento que resolveria o caso? Seria o sofrimento de uma pessoa que não tivesse nenhuma atração para vítima expiatória, que tivesse atração para uma forma completamente diferente de dedicação à Igreja, que aceitasse isso para o que não tinha nenhuma atração, como uma espécie de sangue que voltava em sentido contrário pelas próprias veias. E esse seria o sacrifício pior — porque era o sacrifício da própria vida, mas era o sacrifício da vida pelo modo mais detestável, menos desejado onde, portanto, o sacrifício se multiplicava pelo sacrifício.
Então me parecia que se eu me oferecesse como vítima expiatória nesse sentido, a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, nesse sentido me parecia uma coisa horrível, para o meu modo de ser! Morrer com 24 anos, tuberculosa, deitada confortavelmente numa cama, numa aridez do outro mundo, com tentações contra a fé e apenas, no último instante, tendo uma revelação prodigiosa, em que ela acompanhou, em que ela viu alguma coisa, ela se pôs de pé num êxtase de alegria e caiu morta. Mas, conta a vida dela, que logo depois dela morrer um perfume de violeta se espalhou por todo o carmelo. A violeta era símbolo da pequena via, da pequena flor, mas que faz perfumar muito, etc., então isso era uma verdadeira maravilha.
Eu pensava o seguinte: eu não me sinto chamado para nada disso. Nem morrer numa cama, tenho horror à tuberculose, tenho horror à aridez, não possuo nenhum dos encantos das almas pequenas; pelo contrário, me encantam as coisas grandes, grandiosas, as grandes proezas; isso me encanta. Se eu aceitasse tudo isso junto, não seria o auge do horror? E esse auge do horror não seria o sacrifício libertador? A gota d’ água esperada para unir-se ao Sangue infinitamente precioso no Sacrifício da missa? Então, não é o caso de eu fazer esse oferecimento?
* Na dúvida sobre se Deus queria dele um oferecimento, o Sr. Dr. Plinio resolveu aceitar os sacrifícios que Nossa Senhora lhe quisesse enviar
Mas eu tinha muita consciência de que se o oferecimento fosse feito não de acordo com a virtude da sabedoria, que eu tinha obrigação de consultar, que esse oferecimento poderia ser punido. E a Deus não agradam os holocaustos terríveis só enquanto terríveis. Agradam a Ele quando são feitos quando O agradam.
O holocausto que Ele pede é o que O agrada e não o holocausto que a gente inventa. Aí eu já estou argumentando contra minha própria idéia, quase para impor a Ele uma solução que Ele quer de outra maneira; Ele quer conservar a Sua sabedoria, a Sua soberania de todos os modos. Esse modo não é meio impositivo?
Então, eu me lembrava de uma outra coisa, uma dúvida que me acudia ao espírito quando eu comecei a me aproximar do movimento católico: Se eu acho que o esplendor da Igreja é a causa do esplendor da ordem temporal, e eu vejo que há coisas na Igreja a serem reformadas, por que razão não me fazer padre em vez de continuar leigo? Por uma razão misteriosa que eu não sei qual é, eu venero a condição sacerdotal, mas eu sentia na minha alma como algo a dizer: Não entre, não é por aí. E por isso eu não fiquei padre.
E alguma coisa parecida eu sentia com relação a esse sacrifício à la Santa Teresinha do Menino Jesus. Quer dizer, se eu me tivesse feito padre eu teria feito uma tontice. Se eu oferecer essa oblação, eu não farei uma tontice? É melhor não dizer nem sim, nem não, e esperar o que venha. Nossa Senhora fica sabendo que se Ela quer, eu não recuso, se Ela não quer, eu caminharei para outro lado. E isso me parecia o mais acertado.
Eu me acusava: “Não haverá covardia nisso?” Eu analisava e dizia: “Não parece. Eu sou obrigado a andar pela vida mais provável. Quanto ao mais, eu confio, ou melhor, eu me confio a Mater Misericordiae, à Senhora Mãe de Misericórdia. Eu não posso fazer outra coisa”. E foi o que eu fiz.
Eu não queria apresentar a coisa mais bonita do que ela foi.
Não cheguei a fazer o oferecimento.
* Segundo a concepção da Sra. Da. Lucilia, o papel da mãe de família era embalsamar o lar de benquerença
(Sr. João Clá: Se fosse possível, gostaríamos que o senhor mostrasse que papel, na linha do holocausto, na linha do oferecimento, na linha do sofrimento, etc., deve ter tido uma certa senhora para que o filho dela pudesse corresponder cem por cento de tudo aquilo que Nossa Senhora esperava dele.)
O senhor formulou muito bem a pergunta: “para que ele pudesse fazer isso”. Terá feito ou não, é outra questão.
(Sr. João Clá: Se fez ou não fez, isso nós conhecemos.)
O senhor sabe que há possibilidade do homem pecar por juízo temerário bom?
(Sr. João Clá: Sei. É o que os espanhóis dizem: “Piensa mal y acertarás”. Nós vamos pensar mal do senhor, pode ficar sossegado. Então, que papel ela pode ter tido, que não conhecemos — até hoje o senhor nunca tratou disso, nunca foi perguntado também — que papel ela pode ter tido na linha do holocausto, na linha do sofrimento, na linha da vítima?)
Eu notei muito bem, pela longa evolução que eu presenciei na alma dela; quando eu comecei, por assim dizer, a conhecê-la, ela tinha uns 35 anos; ela morreu com 92 anos; eu a conheci, praticamente, durante 60 anos. É conhecer bem uma pessoa. Depois ela me falava muito do passado dela que, aliás, não era um passado longo; mas me falava do passado da família, etc., e com isso tudo eu a conhecia ainda melhor. E com isso eu pude acompanhar bem o que foi o holocausto da alma dela.
Ela era formada numa concepção do mundo que era a que existia nas senhoras do meio dela em que ela se formou, na São Paulo dela. Nessa concepção ela tinha a idéia, muito acentuada de que o afeto, o carinho decorrente da compreensão das almas, da mútua compreensão das almas, e o bem, era a maior riqueza da vida no que diz respeito às relações terrenas. Era uma riqueza menor do que a fé, mas no que diz respeito às relações terrenas era o maior bem que a vida pode apresentar.
E o papel de mãe de família, de esposa, era de irradiar isso em torno de si, de maneira que a família fosse uma espécie de santuário dessa compreensão mútua, desse entender mútuo, desse querer-se bem; um lugar onde as almas todas se encontrassem num certo convívio e ali encontrassem a força necessária para enfrentar as dificuldades da vida.
E o que a mulher devia fazer, ao menos a mulher que não precisasse fazer trabalhos materiais, que não dependesse também de ganhar o seu pão — graças a Deus ela não dependeu e nunca precisou também fazer trabalhos materiais — devia fazer a grande prestação que ela devia dar à família, era exatamente embalsamar a família com tudo isso.
E eu concordo com essa concepção. Essa concepção, catolicamente entendida, não tem nada de sentimental, nem de romântico. Eu concordo com ela, é uma concepção perfeitamente verdadeira.
Nessa concepção vinha a idéia — eu concordo também com essa concepção que vem agora — de que quando uma pessoa, dessa maneira, irradia a bondade, ela vence todos os obstáculos; porque a bondade comove todas as almas, arrasta todos os corações e resolve de um modo inefavelmente eficaz as dificuldades que outros modos de proceder não resolvem.
Aí eu concordo… Quer dizer, para os tempos em que ela viveu e naquele meio, haveria muito disso sem ser inteiramente isso. Ela mesma contava fatos da família dela em que a bondade não tinha resolvido nada; contava fatos da vida dela em que a bondade não tinha resolvido nada. Mas ela contava isso como fatos excepcionais, memoráveis de horror, e meio espantada de que isso tivesse sido possível.
Mas eu nasci em outra época, e eu acompanhei a época em que a bondade não resolvia nada, em que era a porrete que as coisas se resolviam.
Mas eu compreendia que numa determinada ordem de coisas boa isto poderia ser assim e aí eu concordava inteiramente com ela. Era um defeito de nossa época que punha as coisas de modo diferente.
* Com a invasão da brutalidade moderna, o isolamento da Sra. Da. Lucilia
Mas eu assisti e vi que ela fez o programa dela de vida de ser a mãe católica que espalhava, assim, esse amor católico e cristão em torno de si e levava todos a Deus, nas vias da virtude. Mas que ela foi se defrontando com a invasão da brutalidade moderna, que foi fazendo com ela, muito acolhida, muito festejada e muito recebida no tempo de moça… Ela foi uma moça notavelmente relacionada. Isso não foi ela quem me contou apenas, mas a mãe dela, as irmãs dela; mas quando ela ia em sociedade, era uma dificuldade tirá-la de uma reunião, de uma festa, porque todo mundo tinha mais uma palavra para dizer para ela, todo mundo procurava agarrar-se a ela, ela era procuradíssima. E, na família, era ela altamente considerada como exatamente uma ânfora de onde esse bom perfume se irradiava.
E isso eu assisti, porque no meu tempo de infância era assim. Mas eu percebi que com a entrada da brutalidade moderna depois da Primeira Guerra Mundial, começou a vir um outro mundo; e que as pessoas que ela esperava mover assim não se moviam assim, e que a deixavam incompreendida, isolada e posta de lado, como pessoa que oferecesse, vamos dizer, por exemplo, uma bebida que saiu da moda e que ninguém mais quer beber. Prova um pouquinho: “Ah, era um sabor bom…”, deixa de lado e não se incomoda mais. E isso ia representando para ela uma tristeza que era a tristeza da repulsa. Mas junto com a tristeza da repulsa, era a incompreensão do incompreensível. Como é que isso chegava a ser assim? Era uma coisa ininteligível.
* Diante da recusa, resolução da Sra. Da. Lucilia: “Continuarei a mesma até o fim. O Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria receberão de mim o que os outros rejeitam”
E, mais ainda do que isso, uma outra questão, e era esta: “Essas coisas postas assim, eu fico sobrando na vida sem missão e sem sentido; pronta apenas para receber as recusas, os desprezos, as ignorâncias ao longo de minha existência. O que farei? Continuarei a mesma coisa, sem tirar nem pôr, até o fim do fim. O Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria receberão de mim o que os outros rejeitam”.
É certo que ela pensava que o filho dela também recebia; largamente, a largos haustos, um filho truculento também no querer bem, recebia a largos haustos o que os outros recusavam. E eu não fazia cerimônia. Porque eu a agradava, tratava, mimava inteiramente nesse nível e os outros achassem o que achassem. Funcionava assim e os senhores me conhecem e sabem; a plenos pulmões e a todas as luzes.
Volto a dizer: isso não quer dizer que fossem brutos com ela, incivis, indelicados. Era aquela incompreensão polida, com uma recusa como um vidro entre ela e a realidade. Ela está do outro lado do vidro e a realidade toca sua vida para cá.
Eu notava que ela compreendia que isso tinha um determinado sentido, e que de algum modo era um modo de ser da Igreja, era um modo de ser de Nosso Senhor Jesus Cristo que ela prolongava, na medida do que podia, e que ela assim fazia viver; e que ela recebendo essas recusas, ela recebia recusas análogas à que Nosso Senhor Jesus Cristo recebera durante a vida, com uma doçura análoga, com uma bondade análoga, e a cada pancada da incompreensão polida, a cada ignorância, a cada irreflexão da brutalidade florida, respondendo como se fosse a primeira pancada, a primeira vez e esquecendo daqui a pouco.
Essa era a conduta uniforme, perdoando, perdoando, perdoando, sem limite perdoando.
Eu vi bem que ela não tinha a esse respeito o menor problema axiológico, e que ela compreendia perfeitamente que estava realizando uma determinada vocação.
Mais precisamente dito, não precisamente uma vocação, mas uma determinada via; que corriam as coisas com ela como era razoável que corressem. Muito duras, muito difíceis, mas que ela se entregava totalmente. Era isto que ela quis levar até o fim.
E quando chegou o momento da morte dela, o grande “Nome do Padre” que ela fez antes de morrer — ela não fazia grandes “Nomes do Padre”, nem as senhoras costumavam fazer, e ela mesma não era de grandes gestos, era muito comedida, muito composta em todo o modo de ser dela — mas eu creio que representava isto: “Está feito!”. Talvez ela tenha pensando no Consumatum Est. Desta maneira ela caminhou.
* Tudo leva a crer que a Sra. Da. Lucilia oferecia seus sacrifícios para que se realizassem o desígnios da Providência a respeito do Sr. Dr. Plinio
Agora, ela teve a intenção, ela compreendeu inteiramente minha vocação para ter a intenção de oferecer esse sacrifício para esse efeito? Para que eu continuasse a ser como era e que, graças a Deus, sou, é muito provável. Tudo leva a crer. Não posso afirmar, porque ela nunca me disse. Nunca perguntei, garantia não posso dar. Mas é muito provável. Eu tenho impressão de que nada a mortificaria mais do que se eu saísse do caminho no qual ela me via.
Eu contei aos senhores a atitude dela comigo quando eu voltei da primeira viagem à Europa. Ela me abraçou, beijou, agradou, tomou um pouquinho de distância e me olhou bem. Eu nem sabia o que estava na cabeça dela, e deixei-me olhar. Ela me abraçou de novo e disse: “Não, meu filho, você é sempre o mesmo”. Os senhores entendem bem o que há nisso, o que representaria para ela não ser o mesmo. Seria pior do que a morte.
Os senhores estão vendo que ela tinha medo disso, porque tinha em relação a mim um olhar de mãe vigilante. Então, daí essa atitude dela, essa alegria. Depois fomos comer alguma coisa que ela tinha preparado para mim.
Desse modo, eu afirmar não posso, mas tudo leva a crer que ela, de um modo ou de outro, percebia que havia um desígnio da Providência a meu respeito, e que ela queria que esse desígnio se realizasse, e é moralmente certo para mim que se ela não ofereceu sacrifício só para isso, ofereceu pelo menos também para isso. Eu não concebo que não tivesse sido. Se ela tivesse compreendido, é certíssimo que teria oferecido.
* A presença da Sra. Da. Lucilia fez o Sr. Dr. Plinio compreender que a ternura e combatividade são irmãs inseparáveis
Que valor teve a presença dela junto a mim? Esse valor que está muito presente nas coisas de Nossa Senhora. A gente pensa que a coisa vai para um lado e a coisa desvia e vai para outro e assim atinge o alvo, que a gente não podia imaginar que andasse assim. Ela queria de tal maneira afirmar a prevalência desta virtude cristã no meio dela, ela não conseguiu isso, mas ela conseguiu uma outra coisa. Ela conseguiu que eu, objeto desse amor assim, inundado desse amor e extasiado com esse amor, conservasse dele uma memória a vida inteira; e entendesse bem que levando a minha combatividade e limites aos quais a conferência de hoje à noite não atingiu, eu conservasse toda a minha admiração por aquilo que ela representava.
Mas como vêem, uma admiração cheia de veneração e de afeto, toda espécie de comprazimento possível em todas as formas e graus, e que eu compreendesse bem que essa bondade, essa ternura toda são as irmãs inseparáveis da combatividade verdadeira; de maneira tal que eu ficasse um lutador, mas não ficasse um brutamontes.
Porque exatamente o brutamontes é diferente disso. Ele ignora essas coisas e, enfim, é uma caricatura do que é o verdadeiro batalhador. Eu entendi bem que aquilo vale entre contra-revolucionários, mas com os filhos da Revolução não vale. Vale talvez para um pagão, um afegão ou um quirguiz. Mas para um filho da Revolução não vale.
* Se não fosse a doçura com que o Sr. Dr. Plinio nos trata, o Grupo seria bem menor e não propagaria, como deve, a devoção a Nossa Senhora
Mas aqui vem um outro lado, eu entendi bem que devendo ser um cavaleiro e näo um brutamontes, eu deveria ter reservado, na medida de minhas limitações, eu deveria ter reservado isso para os que me seguissem; de maneira tal que eu procurasse imitar isso em relação aos que me seguissem.
E daí a diferença do modo de tratar meu entre os que estão fora e os que estão dentro. É provável que os senhores sintam algo disso. Eu creio que se não fosse essa diferença de modo de tratar, a TFP seria bem menor, mas bem menor.
Se eu fosse tratar a brutamontes as almas aflitas, as almas provadas, as almas fracas. Enfim, tudo o que constitui a condição humana, enfim, eu teria feito um deserto em torno de mim e teria perdido muitas almas que Nossa Senhora desejava salvar.
Mais ainda: devendo eu e todos nós juntos pregar até o último limite do que a doutrina católica permita a devoção a Nossa Senhora, com uma alma de brutamontes eu não faria; porque a devoção a Nossa Senhora ou comporta todas essas doçuras de um modo indizível, ou não há devoção a Nossa Senhora. É tão óbvio que eu não perderei um minuto em demonstrar isso. O próprio óbvio por excelência é isso. Portanto, o que é a estrela de nossa missão é propagar a devoção a Nossa Senhora, isso seria desfeito.
Mais ainda: tantos aspectos da Igreja Católica eu não teria compreendido; eu teria taxado nazisticamente de moleza, de capitulação.
Eu teria entendido bem Nosso Senhor Jesus Cristo? Não sei. E dizendo isso, eu digo tudo. Não tenho que dizer mais nada.
Então, aí está o valor enorme do exemplo que ela me deu, mas que foi exemplo não só porque eu a vi observando essa linha de ação sempre, mas porque eu vi gotejar o sangue da alma dela.
Mais ainda: um certo feitio de espírito calmo, por onde, graças a Nossa Senhora, eu não tenho ódio a ninguém e, por mim, eu quero a todo mundo o bem que não seja nocivo à causa católica — e quero com toda facilidade — quanto me ajudou ao longo da vida para uma arte que a nossa vocação exige: a arte de esperar.
A arte de esperar sem ficar amargo, sem ficar azedo, sem se revoltar, sem me indignar; esperar, esperar, esperar na suavidade em que ela esperou.
Essa arte é muito. E mesmo certo senso político eu devo em larga medida ao exemplo dela. Quer dizer, o sangue por ela derramado teve para mim uma imensa utilidade. Aí está a minha resposta.
* Ao cruzar os umbrais da eternidade, a Sra. Da. Lucilia compreendeu que conhecera, no final da vida, quem atrairia a ela o objeto de sua longa espera
(Sr. João Clá: O senhor tocou num ponto que toca muito a alma de todos nós e que é a questão do esperar, esperar, esperar. Ela, evidentemente, teve que esperar pelo que a gente não sabe dizer bem, mas olhando para o quadrinho a gente vê muito.)
Ela esperou os que só vieram depois que ela morreu.
(Sr. João Clá: Se o senhor pudesse mostrar o que ela esperava, o que ela ainda espera e o senhor, por sua vez, o que o senhor espera, o que o senhor esperou, e que o senhor ainda espera que deve vir.)
Eu hoje à tarde ainda falei alguma coisa a respeito do Reino de Maria; como seria o Reino de Maria. O Reino de Maria nascido do gládio, na ponta desse gládio, porque teve a coragem de ser gládio até o fim, nasceria uma flor, nasceria uma rosa, Rosa Mística de Nossa Senhora.
Em que sentido da palavra?
Aí a verdadeira doceur de vivre renasceria, mas em medidas inimagináveis. E para mim ela foi um modelo que quem não conheceu de perto pensa que entende o que é, mas não entende da doçura de viver. Eu creio que renasceria no Reino de Maria. Eu acho que ela esperava essa doceur de vivre florescer, e florescer largamente, ser uma categoria do espírito humano. Eu creio que ela, ao fechar os olhos e abri-los para a eternidade, entendeu que não tardaria e que aqueles — eu falo no plural para ser discreto — que ela conheceu no fim da vida dela haveriam de trazer para ela o objeto da espera dela. Porque isso que ela esperou depois, em torno da sepultura dela, se fez e se constituiu magnificamente.
Quando eu vou os domingos à tarde, ao cemitério, e que eu vejo aquela multidão que, nas férias, forma comício em torno de uma sepultura… Onde há isto?! Eu penso: “Se ela estivesse viva, que doçuras ela teria para cada um, como acolheria um por um individualmente com um modo tão engageant, de tal maneira própria a engajar — mas a palavra engajar está poluída pela lama, em português — tão atraente, tão simpático, tão digno ao mesmo tempo, e os senhores não podem ter idéia quanto cabia de senhorio e quanto cabia de suave feminilidade materna em todo esse modo de ser dela! Quem vê o quadrinho, vê algo e pensa que viu tudo porque não teve ocasião de ver muita coisa assim em toda a sua vida. Mas, não se desolem, vê muito pouco.
* O Sr. Dr. Plinio se lamenta de não ter gravado o timbre de voz da Sra. Da. Lucilia, e o descreve
Quantas vezes me passou pela cabeça — não sei porque não realizei — gravar o timbre de voz dela. Meu João que esteve com ela cerca de dois meses antes da morte dela, e que tanto a fotografou, não teve idéia de gravar.
(Sr. João Clá: Porque não se tinha idéia de que ela fosse morrer. Não passava pela cabeça de ninguém.)
Era uma das coisas. A gente ia adiando, porque achava que aquilo era uma precaução diante de um desenlace que não se queria ver próximo, etc., etc. Mas, enfim, não foi gravada. E poderiam ter tido uma idéia do que era, por exemplo, o modo de dirigir a palavra a uma pessoa. Como as frases iam subindo, depois decrescendo, a entonação de voz, o olhar, a inflexão, e depois o desejo gentil e afetuoso de introduzir o interlocutor no assunto se expandiam, se manifestavam.
Se não estivesse aqui quem não era filho dela pelo sangue e que pudesse atestar, eu nem diria, porque pareceria louvaminhança inútil, que qualquer um pode fazer de sua própria mãe. Tudo isso ficou para depois.
Eu tive uma amostra disso naquele episódio, para mim inesquecível. Ela morreu e eu pedi a Nossa Senhora que, pela dedicação que eu tive à minha mãe, que Nossa Senhora me desse a graça de ter um sinal qualquer de que ela tinha saído do purgatório. E na missa de sétimo dia, de modo graciosíssimo isso me foi dado, os senhores sabem como. Foi o último raio de luz que penetrou numa orquídea inteiramente, depois afastou-se. Dava idéia dela percorrendo aquele corredor do meu apartamento, chegando perto de mim — eu trabalhava naquele tempo usando um pouco minha escrivaninha, então, eu me imaginava sentado na escrivaninha — para não me interromper e depois continuando. Eu não sei o que dizer. Assim, quantas outras coisas.
(Sr. Guerreiro: Gostaria que o senhor continuasse falando sobre isso.)
* As harmoniosas alternações de estados de espírito na Sra. Da. Lucilia encantavam o Sr. Dr. Plinio
Eu disse o que poderia dizer. Por exemplo, a alternação do seguinte estado de espírito nela. As alternações harmoniosas: como ela, com doçura e harmonia, passava de um estado de espírito para outro, me encantava, porque nisso havia uma particular condição da bondade dela.
Eu jamais gostei muito de gente que pula de um extremo unilateral de estado de espírito para outro extremo unilateral do estado de espírito. Agrada-me ver nesse estado de espírito harmônico — não falemos de estados de espírito viciosos — o que agrada ver é quando a alma vai harmonicamente até o extremo e a gente olha, dentro desse extremo está o outro extremo presente. Isso é que forma o verdadeiro equilíbrio. O equilíbrio não consiste em ficar no meio termo. Mas tomar, por exemplo, um guerreiro que, na força de seu furor, ataca o adversário e, de repente, é capaz de parar para socorrer uma criança… socorrer uma pessoa que ele quer muito, mas houve alguma coisa que ele deve repelir, que ele deve rechaçar, e do meio do seu carinho levanta uma labareda de indignação. Mas isso não é pular de um estado de espírito extremo a outro. Isso é ter equilíbrio, isso é ter temperança. Temperança é isso. Não é ser água morna, songa-monga, idiota.
E ela tinha muito isso. Era uma alma irisada. Nas pedras irisadas as cores nascem umas das outras.
Eu me lembro que quando eu era menino, o feitio das senhoras mudou completamente… As senhoras do meu tempo de pequeno eram senhoras que, quando se apresentavam em sociedade, se apresentavam com solenidade, se apresentavam com gala. E a gala supunha um certo senhorio, uma certa sobranceria, e portanto, até um certo domínio.
Os senhores têm um certo sinal disso quando consideram a fotografia dela em traje de gala, que está no meu quarto. Eu me lembro com encanto que várias vezes eu a vi vestir-se para ir a festas assim. As senhoras, naquele tempo, usavam vários vestidos. Era pôr o último traje de gala sobre os demais. E com uma empregada, uma espécie de mucama que ajudava a compor, que olhava os espelhos para ficar tudo direito, etc. Era uma coisa muito complicada.
Enquanto ela se vestia, ia conversando com minha irmã e comigo que éramos pequeninos e que fazíamos aquelas perguntas bobas que as crianças fazem. E ela ia conversando conosco, com aquela afabilidade incomparável. Quando a toilette estava pronta, e que ela dava o último toque na toilette, ela fazia o tom da senhora que parte na sua gala. Eu achava aquilo muito bonito. E como sempre gostei das coisas imponentes, eu ficava encantado. Mas meninos como éramos, tanto minha irmã quanto eu, fazíamos intercurssões de crianças no meio disso. Ela parava imediatamente, voltava àquela mesma doçura, brincava, falava, depois tomava o seu ar…
Eu contei aos senhores um fatinho, infelizmente o único de que eu me lembro nesse sentido. Naquele tempo as senhoras usavam cabelo comprido. E compor os cabelos para ficar decorosos e bonitos era muito mais difícil do que com o cabelo cortado de hoje.
Ela tinha acabado de se pentear quando, levado meio por afeto, meio por admiração, despenquei em agrados estabanados nela. Mas eu não tinha noção do estrago que eu estava fazendo. E para agradar bem, mexi no cabelo. E as criadas, pessoas que estavam perto, disseram: “Plinio, vai embora que você está estragando o cabelo de sua mãe!” Ela disse: “Deixem ele fazer a vontade. Eu não quero que meu filho diga nunca que, por causa de um penteado, eu o afastei de mim”.
Eu que tinha presenciado uma coisa muito bonita e que eu não tinha entendido bem, eu pensei: “Eu vou guardar na minha memória para eu entender quando for homem”. É natural. Só aí os senhores têm um dado.
* Um forte trauma sofrido pela Sra. Da. Lucilia ao ver o mau trato recebido pelo Sr. Dr. Plinio nos meios católicos
(Sr. –: Na fazenda o senhor falou naquela campanha para deputado estadual, e ela deu aquele donativo para o senhor. Como foi a reação dela, com o desenrolar da campanha e aquele final todo?)
Ela ficou traumatizada, como talvez eu nunca a tenha visto em minha vida, com o seguinte: Eu, por amor à Igreja, não queria que ela percebesse a defecção da autoridade eclesiástica a meu propósito. Então, eu dava a ela notícias incompletas, etc., mas eu percebia que ela notava que eu não estava contando alguma coisa: Publicava-se no “Estado”uma secção que ficou depois com o Hélio Damante, que se chamava “Movimento Religioso”. Eu não sabia que ela pensasse isso, mas ela pensava que aquilo era material mandado pela Cúria.
O encarregado desse “Movimento Religioso”antes do Hélio Damante, era um velho chamado Júlio Rodrigues, muito inimigo meu. Por que eu não sei, mas ele me detestava. Quer dizer, por que eu sei, mas nunca houve um incidente concreto entre nós. Ele me detestava por outras razões. E esse homem escreveu um artigo dizendo que os católicos não deveriam votar em candidatos avulsos — e eu era candidato avulso — por isto, por aquilo e por aquilo outro. Estiveram pessoas da família em casa e que pensavam também que aquilo era da Cúria, e levaram para ela.
“Lucilia, olhe o que foi publicado”, etc. “É o cúmulo D. Duarte fazer isso com o Plinio ”etc.
Quando eu cheguei em casa para almoçar, eu a encontrei verdadeiramente alvoroçada. Uma coisa que eu nunca vi em minha vida, com os olhos ligeiramente saltados — não de indignação, mas de horror, ao pé-da-letra, e com o coração batendo [forte]. Notem que ela tinha um coração excelente, para morrer na idade em que morreu! Mas eu tenho impressão de que se aquilo durasse mais, ela podia ter alguma coisa.
Então, eu li, percebi logo no engano que ela estava e lhe expliquei que era um engano, que aquilo era um particular que estava escrevendo. Ela então perguntou onde é que estava a assinatura e eu mostrei o “JR” em baixo. As convenções jornalísticas ela entendia de um modo incompleto; era um mundo que não era o dela. No final, explicando, etc., ela serenou um pouco.
Mas aí ela disse: “D. Duarte não está sendo com você como deveria ser, e é uma coisa que ninguém ousa dizer a você, mas que se comenta. Ele está agindo de modo muito incorreto…” etc.
Eu então disse: “Mãezinha, da senhora eu quero uma coisa: que nunca a senhora me repita esse comentário, e nunca permita que nesta casa isto se comente”.
Ela me olhou… recobrou o estado de tranqüilidade, depois almoçamos e eu saí. À noite, quando cheguei para jantar, ela estava inteiramente tranqüila, nunca mais falamos no caso.
Quando eu publiquei o “Em Defesa”, muitos anos depois, e ela ia ver que eu publiquei um livro — até então eu não tinha publicado nenhum livro — para ela era uma coisa importante; um filho publica um livro, para a mãe é uma coisa de certa importância — mas ela iria ler; eu tinha que dar um livro para ela, com uma dedicatória, e ela iria ler. Naturalmente, ela lendo perceberia a situação. Eu achei muito melhor pô-la ao corrente da situação. Ela ouviu tudo aquilo com muita atenção, mas via-se que ela…
(…)
“…isso a que você deu tudo para o clero, e agora te pagam dessa maneira, ainda te armam essa história, e que agora ela acha que você fez bem em escrever este livro, porque você não pode se desmentir. Mas você fica com sua carreira cortada, porque agora você vai ser perseguido pela Igreja. Você fez bem de escrever, mas vai ser perseguido pela Igreja”.
Eu perguntei: “O que a senhora respondeu?”.
Ela disse: “Eu disse que você cumpriu o seu dever. Mas ela disse que sim que você cumpriu o seu dever, mas que foi se meter com o clero e quem se mete com o clero só tem essas decepções”.
Minha irmã tinha umas idéias anti-clericais assim, que ela não perdeu.
E com o escândalo que o clero dá, isso se multiplicou até a vertigem. Podem imaginar o que ela acha do clero esquerdista! Acha tudo!
Ela tomou com toda tranqüilidade, e acabou-se e não tem mais nada, aceitou. Quer dizer, os acontecimentos a tinham modelado para tomar essa cruz aos ombros.
* Como o Sr. Dr. Plinio fazia para formar a Sra. Da. Lucilia
(Sr. João Clá: O temperamento do senhor era inteiramente afim com o dela e vice versa, mas o feitio dela era um feitio feminino; o senhor, um varão, ela, uma senhora. Nunca houve nenhum choque entre o senhor e ela?)
Nunca deixou de haver a maior harmonia.
(Sr. João Clá: Apesar dessa harmonia, o modo do senhor ver as coisas era o modo de um varão, acrescentando a isso a Vocação, etc., e o modo dela ver as coisas era o de uma senhora. Também, às vezes, todo um feitio pessoal; ela era do século passado, o senhor deste século; ela criada num ambiente onde havia todo o lado bom do romantismo, etc., o senhor já vendo isso com uma clareza única, havia momentos em que o senhor tinha que transmitir coisas a ela; assim como houve uma fase em que ela transmitiu ao senhor, houve outra fase em que o senhor transmitiu a ela. Ela foi mãe do senhor durante um bom tempo e o senhor, depois, quase que foi pai dela a certo título.
O que o senhor poderia contar na linha do senhor formando a ela, do senhor transmitindo algo a ela, sendo “pai” dela? E, às vezes, certas coisas que o senhor ouvia, ou melhor, via de um modo e ela via de outro, se bem que fossem harmônicos, mas as notas tônicas eram diferentes. Como era esse contraste de notas tônicas?)
Era a própria formação religiosa que ela tinha tido… uma Igreja combativa e cercada… Ela sabia que a Igreja tinha inimigos, mas ela não tinha a idéia de Igreja estável e permanentemente assediada por adversários, de maneira que a condição de militante era característica da Igreja.
Eu explicava muito isso a ela, dava fatos do Evangelho, fatos do Antigo Testamento, mas não… Ela me via conversar com D. Mayer, com outra pessoa, e eu enxertava na conversa coisas que era para ela ouvir. Porque eu não queria tomar ares de filho que está ensinando sua mãe. O meu interlocutor até não percebia que era para ela que eu estava dizendo — nem tinha necessidade nenhuma de entender — mas eu enxertava coisas inteiras para ela.
Só no fim da vida que ela perdeu a lucidez em parte, e ficou tão surda que, apesar do aparelho, ela tinha uma certa dificuldade em apanhar, etc. Antes disso ela acompanhava bem a conversa. E eu expunha a coisa e ela prestava atenção. Quantas e quantas vezes eu me lembro de eu conversando com D. Mayer, Dr. Paulo, Dr. Adolpho, um outro que freqüentava minha casa, e falando desses temas, e ela acompanhando muito séria. Em geral era durante as refeições e no intervalo entre um prato e outro — era muito freqüente, não digo que fosse sempre — eu pegar a mão dela e ficar acariciando, e eu me lembro a mão dela parada na minha, ela deixava de agradar para prestar atenção.
Se meu interlocutor respondia, ela desviava a atenção para o interlocutor, etc., prestando muita atenção.
E, em geral, não objetava. Mas o que ela fazia era conservar no coração e conferir. Ela devia imitar a Nossa Senhora.
Uma ou outra vez isso dava numa pequena discussão. Era a respeito da interpretação de tal ou tal gesto do pai dela, de tal ou tal gesto de pessoas do passado que ela admirava, estimava, tinha em alta consideração e eu atazanava, cortava e mostrava o lado ruim. Eu fazia com uma certa vivacidade, porque sou vivo, mas com o respeito que os senhores podem imaginar. Por exemplo, um personagem…
(…)
Meus caros, se ela me visse a esta hora ela me aconselharia que fosse embora, de acordo com o velho princípio dela de que quanto menos eu falasse, melhor seria.
*_*_*_*_*