Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1 andar) – 24/10/1981 – [AC V ‑ 81/10.20] – p. 16 de 16

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1 andar) — 24/10/1981 — [AC V ‑ 81/10.20]

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* O alheiamento do auditório durante a Reunião de Recortes * O distanciamento dos membros do Grupo em relação ao Sr. Dr. Plinio que faz com que suas palavras não tenham eco interno * A Revolução tendencial “A” que prepara para a Yoga e o dissolver‑se no nirvana * Na falta de reatividade diante das ignomínias está a vidoca * Se houvessem tomado direito a comissão de Opinião Pública estariam melhores preparados para a atual situação * O estertor que isso provoca é um estertor orto‑psíquico * “O que eu sofro nenhum de vocês imagina!”

Índice

* _ * _ * _ * _ *

* O alheiamento do auditório durante a Reunião de Recortes

Meu Paulo Henrique!

(Sr. Paulo Henrique: O senhor descansou da reunião?)

Descansei, “ahahah!”.

(Sr. Paulo Henrique: Muito dura a Reunião de Recortes, muito árdua.)

Muito árdua, porque foi uma batalha muito árdua, porque não havia meio de ligar o motor.

(Sr. Paulo Henrique: Comentamos entre nós aqui de que realmente havia um clima preternatural enorme.)

Enorme, mas desde o começo, quando eu tratei daquela questão da conferência do Rodrigues.

(Sr. Paulo Henrique: No alardo, antes do senhor chegar já estávamos no auditório uns cinco, dez minutos, e já havia um clima de sonolência, bocejos, e parece que foi num crescendo.)

Agora, eu não senti, — havia sonolência — mas o que eu mais senti foi um alheamento, não era tanto sonolência, mas um alheamento.

(Sr. Paulo Henrique: Como que não ouvíamos a voz do senhor.)

É, isso!

(Dr. Edwaldo Marques: Antes do senhor ter falado a sensação que eu senti era que o mundo e o auditório estavam dentro de uma gelatina transparentes e o senhor falando do lado de fora.)

Isso, isso, exatamente!

(Dr. Edwaldo Marques: Isso é a idéia de estado de coma!)

Estado de coma. E, realmente, foi anunciado ali, por mim, foi uma espécie de estado de coma… Porque quando a coisa chega a esse ponto da pessoa ter preguiça de ser ela mesma, é estado de coma!

* Encantado com as fotos da Sagrada Imagem em Toronto

Mas olhem que verdadeira maravilha, são as fotografias da Sagrada Imagem de Toronto, que mais impressionaram. Se quiserem, podem acender a luz. Achei, mas excepcionais, estupendas!

(Sr. Paulo Henrique: Aparece um dente, como de uma pessoa em pranto, deforma um pouco os lábios, pode acontecer…)

Agora, aqui não vejo nenhum dente.

(Sr. Paulo Henrique: Nesta aparecem dois.)

(Dr. Edwaldo Marques: Tem‑se a impressão que os lábios se entreabriram um pouco.)

(Sr. Paulo Henrique: É, se entreabriram.)

(Sr. Guerreiro Dantas.: Isso depende também um pouco da posição da máquina.)

Da posição em que a pessoa fotografa, agora, de qualquer maneira a questão do dente é sobretudo digna de atenção o seguinte: não, eu ia dizer que se vêem os dentes de baixo, não se vêem não, só se vê o de cima.

Mas eu acho assombrosas essas fotografias, não sei se vocês…

(Sr. –: Muito bonitas.)

Mas acho assombrosas!

(Sr. Paulo Henrique: Aquele padre que foi guardião dessa Sagrada Imagem por uns dez, ou quinze anos.)

Sei e que estava sob os cuidados dele quando houve a lacrimação, não foi isso?

(Sr. Paulo Henrique: Sim, ele tem vários sanguíneos que colocava nas mãos dela quando ela lacrimejava.)

E que não quis nos dar, não é?

(Sr. Paulo Henrique: Não [eu ?] porque está proibido.)

É uma coisa… [falta uma palavra].

(Sr. Paulo Henrique: Ele foi à sede, quando viu a foto da Sagrada Imagem se comoveu e disse: ela não tinha os dentes.)

Ah! Interessante.

(Dr. Edwaldo Marques: Na foto lateral em que aparece uma lágrima na ponta do nariz, aparecem os dentes, mas não como nessas.)

(Sr. Paulo Henrique: O tal padre não pode dizer nada sobre a lacrimação, etc., está proibido.)

(Sr. Guerreiro: Essa é muito impressionante foto.)

Das três a mais impressionante é sem duvida essa…

(…)

(Sr. Paulo Henrique: O olhar…)

Tudo, tudo!

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza ?]: Qualquer coisa de Nosso Senhor no Horto, o abandono.)

É, é isso!

* Não se pode deixar de chamar de milagre a mudança de fisionomia

Aliás, no total, essa também documenta mais, o que eu acho que não se pode deixar de chamar de milagre, que são as mudanças de fisionomia. Porque uma imagem de madeira não tem essas expressões.

(Dr. Edwaldo Marques: Tem gente que fala em mudança de ângulo, incidência de luz, etc., mas é pegar qualquer imagem e fotografar do jeito que quiser que não dá isso.)

Exatamente.

(Sr. Guerreiro: Pode haver mudança, mas como é que aqui é tão notória.)

Exatamente.

(Sr. Paulo Henrique: E quase do mesmo ângulo.)

E depois, Paulo Henrique, tem o seguinte: é que assim, esta diferença… nenhuma imagem dá. Olha aqui, você quer ver a prova considere essa…

(…)

que eu acho expressão bem real, mas muito menos do que as outras, como é que esta imagem podia dar nisso…

(…)

(Dr. Edwaldo Marques: Depois há períodos em que se pode fotografar do jeito que quiser e não dá isso.)

Também, exatamente, ela se recolhe.

Não, eu acho simplesmente um assombro, mas um assombro!

(Sr. Paulo Henrique: Está muito consternada.)

Muito, muito. Agora, indiscutivelmente a mais angustiada é essa…

(…)

Essa…

(…)

muito tristonha, essa…

(…)

me parece estar na ponta de um raciocínio, como quem diz: “Você não se dá conta…”, como quem acaba de demonstrar o perigo e pergunta: “Você não se dá conta?!”.

(Sr. Paulo Henrique: Diz quase em prantos.)

Quase em prantos.

(Dr. Edwaldo Marques: Penetra muito na alma.)

Muito, enormemente!

Agora, esta aqui…

(…)

* O estado de coma em que se encontra a humanidade e que começou com a aceitação da “Bagarre Azul”

é uma tristeza que nem sei o que dizer, não tem jeito. Mas são inteiramente proporcionais ao que foi dito hoje à tarde a respeito do estado — você diz bem — do estado de coma da humanidade, está em estado de coma.

(Sr. Paulo Henrique: Por uma ação preternatural culposa nossa.)

Culposa, culposa! E que a meu ver começou com a Bagarre Azul, dentro do Grupo foi. A Bagarre Azul envolve uma espécie de preguiça do indivíduo [de] dizer não para o mundo e tomar uma posição diferente. Não é só isso, mas há muito disso. E é esta preguiça de ser outrem é que entrou ao inacreditável.

(Sr. Paulo Henrique: Aquilo que o senhor dizia de Pilatos, na Via Sacra, o medo de dizer não, de ser diferente dos outros.)

É tal qual, é aquilo, é de ser outrem! Ser tomado assim…

(…)

exatamente a capa, o estandarte e tudo quanto símbolo da TFP diz: “Nós somos outro!”, mas eles não querem ser outros.

* O distanciamento dos membros do Grupo em relação ao Sr. Dr. Plinio que faz com que suas palavras não tenham eco interno

(Sr. Paulo Henrique: E isso pode ir mais longe, chega um dia em que o senhor diz uma coisa e entendemos outra, aí vai ser um caos. Chegará a essa possibilidade?)

Acho que possível é, não quero dizer que seja certo, mas que possível é.

(Sr. Guerreiro: Possibilidade nessa ou naquela ocasião?)

É, mas uma possibilidade que não seja muito rara.

(Dr. Edwaldo Marques: Algo disso se passou com os Apóstolos. Nosso Senhor dizia uma coisa eles entendiam outra.)

Sobretudo o que tem é o seguinte: é um ficar longínquo, — nesse ponto é que a coisa foi muito simbólica — ficar longínquo de maneira tal, que por mais que eu diga ou fale aquilo não tem eco interno.

(Dr. Edwaldo Marques: Maior empenho o senhor não podia deitar.)

Não, não podia! Ainda que eu gritasse não era possível. Havia, naturalmente culpa do mal hábito, do mal hábito no modo de assistir as reuniões. O Leôncio tinha uma parte de razão, quer dizer, se os… [falta uma palavra] …tivessem circulação… [falta uma palavra] …na reunião a coisa correria de outra maneira… [falta uma palavra].

(Sr. Guerreiro: Ficou mais claro qual é o problema não havendo os “ohs!”?)

Ficou mais claro. E de algum lado o demônio se descobriu. Por exemplo, uma coisa, eu não quis dizer lá porque o assunto é…

(…)

vamos sentar meus caros.

(Sr. –: Não, está bem.)

É sumamente desagradável.

(Sr. Paulo Henrique: Não, está muito bem aqui.)

Não, mas eu não acredito que se possa conversar uma conversa inteira ajoelhado.

(Sr. Paulo Henrique: Mas está muito bem, não sei se os outros se sentem igualmente bem?)

(Sr. Guerreiro: Eu pelo menos não tenho vontade de me levantar agora.)

Mas meu Edwaldo, senta aí então você!

(Dr. Edwaldo Marques: Não me ajoelho por causa de meu joelho.)

Pois então, senta aí, Fiúza, você também, para fazermos uma roda.

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza ?]: Obrigado… [falta uma palavra].)

Não, mas isso é um modo de conversar tão insólito.

(Sr. Paulo Henrique: Acho que assim tem menor distância.)

(Sr. Guerreiro: Recompensa um pouco as distâncias de hoje à tarde.)

Ahahah!”.

* A atitude pífia dos membros do Grupo diante das abominações da revista “Veja”

Mas, eu por exemplo, quando eu falei daquelas abominações da revista “Veja”, se eu tivesse dito que um menino pregou uma mentirinha tipo pecado venial, a reação teria sido a mesma no auditório.

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza ?]: Uma coisa nunca imaginada de o senhor ter que começar a reunião dizendo uma coisa daquela.)

É inimaginável!

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza ?]: De nunca se pensar.)

Nunca pensar, nunca pensar! Eu, aliás, hesitei não pouco antes de dizer, mas pensei: “É preciso atravessar o Rubicon e dizer, porque eles precisam tomar em consideração aonde é que se caiu”.

Uma revista e uma enciclopédia tratarem daquilo, uma revista que circula nas casas de família, etc., livremente como vocês sabem perfeitamente, é o inimaginável! Mas o inimaginável! Um homem que saísse, não sei, à rua totalmente nu, eu acho que não daria escândalo maior do que esse, é o inimaginável, estritamente inimaginável!

Está bem, o efeito que isso causou lá foi de um eco remoto. Se eu tivesse dito: “Uma revista da Pérsia acaba de publicar uma coisa assim, a repercussão teria sido essa. Eu não quis repetir, mas foi isso”.

* A atitude de indiferença ostensiva dos mais velhos durante a reunião do Sr. Rodrigues

(Sr. Paulo Henrique: O fundo de quadro da reunião de Dr. Rodrigues, ontem, também de assustar.)

De assustar, mas nem sei o que dizer! Não sei o que dizer. Mas de fato, também é preciso dizer: provou uns “ohzinhos” emocionais, mas as pessoas não saíram do estado de espírito que costumam estar, isso não saíram. Sem falar que da parte de vários mais velhos houve uma indiferença affichée, ostensiva. Por isso, que no fim eu disse aquela história que não eram charlatões, que representava a moda, etc., porque o que estava no ar é: “O Rodrigues é imaginativo, ele se deixa influenciar pelo Plinio e foi parar numa reunião de médicos gagás, isso existe em toda parte do mundo”. Mas depois que eu pus aquilo em relevo eles não mudaram de atitude não. Quer dizer, não era por isso.

(Dr. Edwaldo Marques: Como aquela história do Padre Charbonneau, questão do matrimônio e amor, etc., chegou agora na cúpula da Estrutura. O senhor comentava isso há anos atrás, mil vezes.)

É, mas nada, não tem nada, o que [é] que tem!

* Ao par de uma perseguição religiosa que começa graças que Nossa Senhora vem dando com vistas ao requinte

Depois é o começo de perseguição religiosa, porque você está vendo bem que o futuro que vem para nós é deles dizerem que somos gagás e soltarem perseguição religiosa.

(Sr. Paulo Henrique: E nos mandarem para hospícios e nos submeterem a aquelas experiências.)

É, exatamente. E dão drogas, dão tudo mais.

(Dr. Edwaldo Marques: Passar pelas salas eróticas.)

É. Exatamente. E nós não vemos que tem aí a possibilidade de fazer o papel de São Tomás de Aquino, pegar uma brasa e sair correndo atrás. Quer dizer, ou é interferência angélica ou é nada. E há uma coisa mais terrível, é que o jogo das circunstâncias é tal, que de um lado isto é assim e de outro lado vão nos sendo dado graças que nos convidam ao requinte. Vocês veja, por exemplo, essa conversa. O modo pelo qual…

(…)

* A Revolução tendencial “A” que prepara para a Yoga e o dissolver‑se no nirvana

.isso conduz, portanto, a pessoa… a prática Yoga tem o seguinte sentido: nesta vida levar uma vida que individualiza o menos possível. E por práticas Yogas que desindividualizam nesta vida, preparar‑se para dissolver‑se no nirvana, no pam, quando morrer. Isto é a prática Yoga. Esta gente não acredita nisso e até acho que nunca pensou nisso, mas eles são apetentes disso. Quer dizer, essa idéia toda de panteísmo, etc., nunca lhes passou pela cabeça, mas é mais profundo do que uma doutrina, é uma Revolução tendencial “A”; vai mais fundo do mais fundo da cascata dos erros do homem. E que de repente num ato de preguiça se afirma. No fundo é.

(Sr. Paulo Henrique: Há dois anos atrás o príncipe Charles dizia que a dificuldade que tinha era de não ser igual a todo mundo. Tenho a impressão que é bem isso.)

É bem exatamente isso. Agora, ele tem a preguiça de ser príncipe e nós em grau muito maior. Os homens contemporâneos têm preguiça de serem eles mesmos. Não é portanto, a preguiça de não ser contrário, os que são pró onda, cada um tem preguiça de diferenciar‑se do outro.

(Sr. Paulo Henrique: Nós na participação com o “Thau” dourado teríamos que nos dar conta dele e nos diferenciarmos?)

É.

* Exercícios imundos para quebrar a barreira da alteridade

Não sei se notam o seguinte: eu não quis comentar ontem, aliás, essas coisas são tão desagradáveis, tão imundas que não vale a pena comentar, mas aquele exercício a que o Rodrigues aludiu, das pessoas estarem se lambendo e cheirando, aquilo é para quebrar a barreira da alteridade.

(Dr. Edwaldo Marques: E aquilo é amostra!)

É uma pequena amostra.

Aquele exercício anda para um lado e para o outro, sem se olharem é…

(Sr. Guerreiro: Sem se olhar?)

Vocês deveriam, eu disse ao Luizinho, vocês deveriam fazer o mesmo, mas vocês deveriam ouvir essa conferência do Rodrigues ou ler, porque ela é muito importante.

A sessão médica começava assim, primeiro isso: num teatro. Por que [é] que aquilo tinha que se realizar num teatro? Com aquele pingo de gente?! Podia realizar‑se numa sala qualquer. Não, num teatro, com todo mundo no palco, meio visto por expectadores que não estavam lá, criando… Não sei se vocês têm idéia, de uma coisa que se representa num teatro sem público, dá a você uma impressão de uma alteridade irreal em relação ao público que não existe ali, desloca alguma coisa.

(Sr. Paulo Henrique: Observação muito interessante.)

(Sr. Guerreiro: E numa sala não se daria isso, não seria possível.)

Não seria, não se faria.

(Dr. Edwaldo Marques: E não era para ficar ninguém na platéia.)

Não, os que ficaram estavam em atitude de fronda.

Vocês já imaginaram, por exemplo, se nós tivéssemos aqui conversando no palco de um teatro, a primeira idéia seria: vamos a alguma sala aí da administração, qualquer coisa, porque ficamos mais à vontade. Num palco de teatro, com todas as cortinas levantadas, etc., etc., como é que você pode… Não é possível.

(Dr. Edwaldo Marques: Por mais que tivesse certeza de não ter ninguém ouvindo.)

Por mais! Ainda que estivessem trancadas todas as portas!

Sobretudo toda cadeira insinua‑nos a idéia de uma pessoa invisível que está sentada lá. Isso é assim. Você vai por exemplo, andar num corredor no fundo do qual está uma cadeira olhando para quem vem, posta ali naturalmente, para descansar quem entra andando ou para ficar esperando junto à porta no fundo do corredor, qualquer coisa; você tem a impressão de que alguém invisível está sentado te olhando. Quem é feito para estar naquela cadeira, trono vazio, por exemplo, a gente tem a impressão que vê o ocupante do trono lá.

Agora imaginem um teatro todo vazio, num auditório. Agora começa a andar lá, de um lado para outro, todos sem se olharem. E de repente começam a se olhar assim: eu olho para você, assim…

(…)

e te analiso, você fica com a cara impávida. Depois você começa a me analisar a mim mesmo. Não sei se percebem…

(Sr. Paulo Henrique: Lá ele falava que eles paravam de repente também. Vi assim um sobrinho fazendo isso diante de uma televisão, fica com a mão, um passo quase levantado e olhando para a tela da televisão. O pai dele, meu irmão, disse: “Olha, isso para mim, esse programa, não quer dizer nada, mas esse menino não, fica aí uma hora, duas, assim parado”.)

Mas o pai não se alarma vendo que o filho toma uma atitude tão anormal?

(Sr. Paulo Henrique: Não, disse que não deixa muito tempo… mas que outros pais quando querem dar castigo ao filho ligam a televisão e dizem: “Fica lá, não me amola!”.)

Bem! Depois começa a cena imunda do cheira‑cheira, do lambe‑lambe e daí para fora.

Bom! Você vai analisar aquilo tudo, não há um ponto onde você não tenha um quebrar de alteridade praticado. Mas veja bem, praticado gostosamente, o sujeito se liberta do próprio eu imbricando‑se assim nos outros. Esse é o objetivo. Os outros pensam que isso tem sensualidade, — pelo meio tem! — mas é uma sensualidade usada para quebrar a barreira do…

(…)

(Sr. Paulo Henrique: Cursilhos já aplica coisas assim.)

Tudo isso, Comunidade de Base, tudo, caminha para isso.

(…)

* A graça da reunião quando foi desenvolvida a teoria da preguiça de ser outrem

a graça esteve nos quinze minutos finais em que foi desenvolvida a teoria da preguiça de ser outrem, de um ser outro em relação ao outro. Foi a partir disso que a graça da reunião se manifestou. Como é que essa graça foi recebida?

Começa que ela não é uma graça para ser recebida só na hora, mas é toda uma visão das coisas que tem que mudar.

Vai mudar? Eu não tenho certeza disso.

Então, como é que nós vamos lutar? Como é que nós vamos corresponder a essa graça? Como é que nós não vamos corresponder? Não sabe nada!

(Dr. Edwaldo Marques: Uma imagem de um filme muito antigo: incêndio no museu de cera. Todas aquelas figuras muito individualizadas, roupas próprias, etc., e com o calor do fogo as fisionomias começam a derreter‑se e vai no chão se fundindo tudo numa cera só.)

Olha, não podia ser melhor, a metáfora não poderia ser melhor! É perfeita, é impressionante, é inteiramente adequada!

(Sr. Guerreiro Dantas: Qual o caminho para daí tirarmos o proveito necessário?)

E urgente, hein!

(…)

* Esse fenômeno se passa em tais meandros da almas que é preciso redobrar a devoção a Nossa Senhora para encontrar solução

(Sr. Guerreiro:…e urgente. Como deveria ser o movimento das almas diante disso para tirar o proveito?)

Eu gostaria muito de dar uma resposta tranqüilizante, mas eu tenho que dar uma resposta objetiva: isso se passa em tais meandros da alma, aceitação ou recusa disso, em tais meandros, que eu nem sei como responder a essa pergunta. É a tal zona interna da alma, São Paulo fala da junção entre o espírito e a alma, a gente não sabe o que dizer. E é aí que se dá isso. E o jeito, para encontrar um encaminhamento, é redobrar a devoção a Nossa Senhora, pedir para… Porque nesses momentos age Ela, age a graça, age Ela.

(Sr. Guerreiro: E também algumas almas com tato especial para agir nesse meandro…)

Isso, tudo mais. Mas não se sabe, homem! São tantas coisas que eu não sei o que dizer.

* Constatar que essa situação já se instalou dentro do Grupo é um fato excepcionalmente importante

Mas eu acho que se deu hoje um fato excepcionalmente importante da vida do Grupo. Não foi propriamente, — hein! — uma previsão, foi uma constatação. Porque isso não é prever, quando as coisas chegam a esse ponto é constatar que elas estão morrendo. É um diagnóstico de uma situação, é a definição de uma situação que já se instalou, porque esses fatos todos são tais que não tem por onde escapar.

Agora, como dar‑se conta, como ser fiel, como… Eu também… eu realmente não sei o que dizer. Começa por aí que eu não sei o que que vai acontecer.

(Sr. Guerreiro: Fora ou dentro do Grupo?)

Fora, quiçá dentro também, eu não sei! Porque se essa graça for mal recebida, que estalidos e desarticulações pode haver?!

(Dr. Edwaldo Marques: Não há precedente na História.)

Não há. Uma pessoa que na dobra de uma curva de repente constata, dar‑se isso! Isso é uma vida singularíssima.

(Sr. Paulo Henrique: Com os Apóstolos não se deu algo assim? Dormiram, São Pedro negou, São João fugiu…)

(Sr. Guerreiro: Me desculpe, mas com os Apóstolos a gente transfere a questão para tão distante, tem tantos meandros aqui, quem sabe o senhor aprofundar um pouco mais de como são esses meandros da psicologia do homem do século XX.)

* Ao sair da reunião não se pensará mais no tema…

Olha aqui, em concreto, o que [é] que aconteceu — filmando em câmara lenta — com todos os que participaram da reunião e que vai acontecer depois dessa conversa. É que nós ficamos diante de um panorama nebulosíssimo e ao pé do muro, numa ordem de assuntos nos quais nós não temos o hábito de pensar, devíamos ter, mas não temos. Resultado: é que nós conversamos um pouco e não sai nada.

Daqui há pouco encerramos a reunião, vocês tomam o elevador e já ao sair daqui da sala já um pouco vocês ficam dépaysé, ficam expatriados do tema. O elevador corre docinho ao longo daqueles eixos, vocês descem, alguém abre a porta, vocês estão na rua, está a cidade de São Paulo dormindo, está a vida de todos os dias.

O normal, pela aparente esterilidade de qualquer reflexão sobre isso, pela indecifrabilidade do assunto, é pensar em outra coisa. E poderia acontecer que vocês dois, por exemplo, voltassem para o êremo pensando sobre coisas diferentes. Poderia perfeitamente acontecer, conversando sobre outras coisas. Ou então conversando um pouco sobre isso, depois muda o tema, acontece uma coisa qualquer na rua, encontram um poste caído, uma arvore caída, comentam e vai por aí.

Quando vocês chegarem à hora de dormir vocês já não estão mais pensando nisso.

Agora, o que fazer? Ficar pensando nisso inutilmente, até a hora de dormir?

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza]: O demônio por intermédio da Estrutura está arregimentando todos que pertencem a ele,… [falta alguma palavra] …tem para com ele.

E ou a gente se decide inteiramente de nosso lado, ou vai para o lado dele e nos piores horrores e a curto prazo.)

É, o lógico, mas Nossa Senhora tem empregado nisso tantas misericórdias, que eu não tenho certeza desse curto prazo.

É incrível! Mas é assim, o que [é] que eu posso fazer?! Seria o procedimento de acordo com a economia comum da graça, com a lógica ordinária das coisas seria isso. Mas não tenho certeza.

(Dr. Edwaldo Marques: O demônio já tem um enclave dentro de cada um?)

Já, já tem, “ohhh!”. Não! É o caso de perguntar se Nossa Senhora tem o enclave dentro de cada um!

(Sr. Guerreiro: Mas chega a esse ponto?)

Meu filho, não tenha muita ilusão!!

(Sr. Guerreiro: Com o grosso do Grupo o senhor acha que estamos nesse pé?)

Acho que Nossa Senhora certamente tem um enclave, mas…

(Sr. Guerreiro: É uma cabanazinha?)

Com muitos do Grupo, meu filho, o que [é] que resta?

* Na falta de reatividade diante das ignomínias está a vidoca

Basta pensar na falta de reatividade diante destas ignomínias que eu mencionei, que eu não preciso dizer mais nada.

(Dr. Edwaldo Marques: E gente feita para lutar contra isso!)

É, e depois isso são abominações de não sei o que dizer! E, no entanto: “Ãh, ãh, ãh!’, mas então isso agora pode tornar‑se uma coisa… é verdade, pode tornar‑se comum”.

Agora, não se iluda sobre o seguinte: isso não quer dizer que essas abominações tenham cidadania em nós, é a mania do relógio, do cadarço do sapato, do eu‑eu‑eu! Da “vidóca”, é que tem.

(Sr. Guerreiro: É por aí…)

Por aí chega a essa preguiça, esse “evanescimento”.

Mas a coisa vai muito fundo em nós, hein! Vai muito fundo!

(Sr. Guerreiro: Acho que o senhor deveria tratar com mais freqüência desses temas na Reunião de Recortes, porque a nossa geração foi formada numa visão RCR política, ora com a guerra psicológica revolucionária a coisa é outra.)

(Sr. Paulo Henrique: Concordo com o que o Sr. Guerreiro diz, mas acho que para que nós aprendamos é preciso haver essa relação de distância aqui, na posição em que estamos, caso contrário esse vidro… porque esses temas que o Sr. Guerreiro pede o senhor já trata há anos.

Tenho a impressão que essa assimilação se daria a esse nível de proximidade.)

(Sr. Guerreiro: Sim, sim!)

(Sr. Paulo Henrique: Como os “enjolras” procedem. A gente sente, não sei se os senhores…)

* O cuidado em não martelar muito sobre o assunto devido à despreparação interna e à falta de condições nervosas

(Sr. Guerreiro: Exatamente, aquela cadeira lá, a três metros do senhor, é um quilômetro! Como as coisas estão correndo, uma cadeira a três metros do senhor parece um quilômetro.)

Há o seguinte: é que eu só poderei desenvolver esse tema na medida em que os fatos dêem ocasião, esse tema não pega se for desenvolvido na pura doutrina, com base nas meras constatações que nós fizemos hoje à tarde, é preciso que os fatos vão dando ocasião senão o tema não pega. E não só os fatos vão dando ocasião, mas vão dando o ângulo debaixo do qual eu poderia ir considerando. E preciso agir com certo cuidado, porque a nossa despreparação é tal, que eu não sei se eu martelar muito sobre esse tema, se entre os que tomarem a sério, todos têm condições nervosas para agüentar o panorama. Não tenho certeza. Se tomando em consideração a variedade de pessoas que legitimamente existe dentro do Grupo e dos antecedentes de cada um, enfim tudo mais; se eu conseguir aquilo que eu acho necessário conseguir as pessoas agüentam? E não é só “enjolras” não, é gente madura. Vocês percorram, eu não quero mencionar nomes, mas vocês vão percorrendo o catálogo e vocês vão vendo.

* Depois da reunião de hoje fica criada condições para uma alternativa: modorra‑pânico

Quer dizer, como é que a Providência vai dar fatos que vão maturando a pessoa de maneira tal que a pessoa agüente um panorama que é urgente que ela saiba. Porque a partir do momento em que eu fiz a reunião de hoje à tarde, eu era obrigado a fazer essa reunião, eu não podia deixar de fazer o que eu fiz, quer dizer, meter uma pedrada na cabine de vidro. Mas a partir do momento que eu fiz, de fato eu criei condições para uma alternativa: modorra—pânico.

(Sr. Guerreiro: O senhor não criou, os fatos criaram.)

Os fatos criaram, mas a alternativa entrou agora pelos olhos a dentro.

E se eu pegar alguns modorrentos pelo pescoço dizer: “Olha aqui, olhe por aqui, eu estou agarrando”, acontece que eles se tomam de pânico.

* Analizando os fatos com cuidado para ver se a Providência dispõe as coisas de maneira a continuar tratando do assunto

(Sr. Guerreiro Dantas: E na “Bagarre” não vão se tomar de pânico?)

É verdade, mas na medida em que… eu devo analisar os fatos com muito cuidado para ver se a Providência não vai pôr solicitamente uma disposição, para ver como a coisa se move. Eu vou dar um exemplo a vocês:

Esses problemas me passaram pela cabeça entre a reunião e agora à noite que eu me despedi do João Clá, mais de uma vez meu veio à cabeça como vai ser o “Jour le Jour” amanhã, e se ele vai tratar disso no “Jour le Jour” amanhã. Não sei! Como é que ele vai tratar? Não sei. Como é que isso vai repercutir com “enjolras” da Saúde? Não sei. Nem posso tomar nenhuma medida, vocês sentem o artificial de eu mandar ele tratar, e sentem o artificial de eu proibir a ele que trate. É um exemplo. Um de vocês me aconselharia que eu mandasse ele tratar disso? Não aconselharia. Me aconselharia que eu proibisse? Não aconselharia. Quer dizer, é deixar rolar na cabeça dele porque eu não posso fazer outra coisa. Pode ser que ele amanhã não diga uma palavra.

O fato é que eu me perguntei se para a reunião de agora à noite, no Auditório São Miguel, me perguntariam alguma coisa sobre isso. Não perguntaram, eu dissertei sobre outro tema muito bom que eles me propuseram, propuseram um tema esplêndido, eu tentei dissertar sobre esse tema, mas não tratei da questão. Pode ser que amanhã nasçam, nos “Jour le Jours”, circunstâncias que me dêem oportunidade de tratar, de tal maneira tudo isso é imprevisto, notícia de jornal… Quer dizer, eu mesmo estou arrastado pela voragem dos fatos.

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas o senhor pensa sobre essa voragem?)

Penso.

(Sr. Guerreiro Dantas: E dela o senhor tira resultantes?)

E essa vai condicionar a formação que eu vou dar a vocês, essas resultantes é que condicionarão o tipo de reuniões e de formação e tudo que eu possa dar.

(Dr. Edwaldo Marques: O senhor está na posição de quem tem que escolher o remédio, porque o remédio pode ser muito forte. Agora, acho que os “enjolras” têm muito menos possibilidades de [engagazar ??] do que os mais velhos…)

[Risos]

(Dr. Edwaldo Marques: Mas é isso! Porque eles estão muito voltados para o senhor, eles têm o embasamento da coisa. Uma constatação prática, percentualmente os mais velhos [engagazaram ??] muito mais que os “enjolras”.)

Muito mais!!

(Dr. Edwaldo Marques: Os “enjolras” têm alguns problemas físicos por causa de problemas nervosos, mas do lado psíquico não. E os mais velhos estouravam por aí.)

É fora de dúvida.

* A maneira com que os membros da reunião se deixaram tomar pelo assunto

Eu receio que esteja ficando um pouco tarde, mas diga, vamos ver a última… Por exemplo, aqui, eu sei que eu dizer agora que receio que está ficando um pouco tarde é um pouco desconcertante. Mas o que posso fazer?! Eu não sei se vocês notam que vocês estão muito mais tomados pelo assunto agora do que à tarde, sem comparação.

(Sr. Paulo Henrique: A tarde foi o susto.)

Mas agora o assunto está começando a arranhar a perna. E vocês estão mais tomados pelo assunto agora, há pouco aconteceu uma coisa que nunca aconteceu desde que essa reunião existe, vocês não se deram conta; todos começaram a falar simultaneamente. Deram‑se conta, há pouco, não?

(Sr. Paulo Henrique: Creio que sim.)

Nunca aconteceu desde que essa reunião existe, vocês estão dando mais importância do que se fosse declarada a guerra, agora.

(Sr. Paulo Henrique: Há mais comunicabilidade.)

Muito. Mas por quê? Porque pega dentro, a guerra é um fato externo, de qualquer maneira, é isso, até certo ponto, atinge um fato interno. É fora de dúvida.

(…)

tem que ser tratada nessa perspectiva desde que haja ocasião. Haverá ocasião?

(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor não poderia de vez em quando…)

Reunir vocês?

(Sr. Guerreiro Dantas: Tratar de questões estratosféricas.)

Você se dá conta de que eu não posso dar um passo sem que as mil e tantas pessoas que constituem a TFP, vejam? E uma enxurrada de gente já queria saber que reunião é, “tá, tá, tá”, e pedir para comparecer!

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas que o senhor está tratando de problemas espirituais de cinco, seis…)

É, “eu também tenho problema espiritual, qual é esse problema espiritual que está tratando lá?”.

(Sr. Guerreiro: Mas então não se caminha.)

Ahahah!”. A ocasião dará jeito, mas é confiar na Providência.

(…)

Eu te arranjo uma coleção dessa, você quer?

(Sr. Guerreiro Dantas: Muito, gostaria muito!)

Notinha, se até quarta‑feira você não receber você me telefona reclamando.

(Sr. Paulo Henrique: O senhor já mandou três dessas para Roma.)

Não, mas eu arranjo uma coleção para você.

(Sr. Paulo Henrique: Ficará como…)

Lembrança da conversa, inclusive. Por exemplo, essa conversa você poderá contar ao N. F. [Nelson Fragelli?] algo que impressione muito, como poderá não contar nada, como é que ele vai elucubrar tudo isso não sei. Caio, é muito possível que você tenha ocasião de falar com Caio Vidigal Xavier e Pedro Paulo, como é que eles vão elucubrar tudo? Ninguém sabe. Tudo isso agora começa uma vida própria…

(Sr. Paulo Henrique: É um pouco difícil de transmitir…)

É.

(Sr. Guerreiro: Há necessidade de…)

Essa conversa dessa noite por exemplo, eu não estou dizendo que não transmitam, não faço o mínimo segredo disso, eu acho que não se deve transmitir para o povo comum do Grupo, isso não se deve, mas fora disso… que vocês conversaram o tempo inteiro ajoelhados, e que chegou… eles vão pensar que foi um Tabor, que foi não sei o que…

(Sr. Guerreiro: Foi mesmo!)

(Sr. Paulo Henrique: Podemos dizer que foi.)

Mas você pode dizer isso para eles, a reação qual é: “Por que não me convidam sábado à noite?”. Primeira coisa. “No próximo sábado vai ter outro Tabor, eu quero estar lá”. É a reação imediata.

(Sr. Paulo Henrique: Camaldulense…)

Que quando não era camaldulense podia vir aqui, você faz idéia G. L. [Gonzalo Larraín], F. L. [Fernando Larraín?], sozinhos na cela… O G. L. [Gonzalo Larraín] a essa hora sentou na cama e está rugindo no quarto dele.

(Sr. Guerreiro Dantas: É aflitiva a situação, porque nós sentimos a distonia com o senhor.)

(Sr. Fernando Antúnez: “Ahahah!”)

(Sr. Guerreiro Dantas: Das duas uma: ou na “Bagarre” teremos mais tempo ou menos tempo.)

Também podem relâmpagos iluminar o horizonte.

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas uma coisa é o relâmpago vir do céu e iluminar a gente, outra coisa é o senhor iluminar diretamente, “ahahah!”.

Não sei se o senhor compreende como isso é muito diferente.)

É diferente. Nesse seu estertor que é de algum modo comum aos outros, já expia um tanto das faltas anteriores.

Isso não tem alguma coisa de expiatório?

* Se houvessem tomado direito a comissão de Opinião Pública estariam melhores preparados para a atual situação

(Sr. Guerreiro Dantas: Se o senhor aceitasse como tal, a mim me daria um certo alívio.)

Meu filho, eu não estou querendo dizer, mas digo, se vocês tivessem tomado direito a comissão de Opinião Pública [Comissão “B”], vocês não estavam preparados para tudo isso?

[Silêncio]

Como é que tomaram?

[Silêncio]

Ao menos sirva de penitência, eu compreendo bem, eu vejo bem toda a situação, participo dela, me compadeço, vejo bem, mas na realidade o que [é] que foi feito daquilo tudo? Aquilo tudo dirigia‑se a vocês mais do que ninguém, — aliás, daqui há pouco eu digo uma outra palavrinha a esse respeito — dirigia‑se a vocês mais do que ninguém para estarem prontos a esse respeito.

(Sr. Guerreiro Dantas: É, isso é bem assim…)

Queria muito que naquela comissão tivessem entrado: Péricles, P. H., Lana. Também não entraram.

(Sr. Paulo Henrique: O “mea culpa”, naquela ocasião o senhor fez referência a isso, mas não ouvimos, naquele tempo a voz do senhor já estava distante, não chegou a nossos ouvidos.)

É, quinhentas caixas de vidro. Toda a evolução de vocês no Grupo teria sido diferente se também tivessem participado daquela comissão. Inteiramente diferente!!

* O estertor que isso provoca é um estertor orto‑psíquico

(Sr. Guerreiro Dantas: Me vem essa preocupação, cometemos as indiferenças contra o senhor, depois os anos vão passando…)

Eu me pergunto se esse estertor que isso provoca, que é o primeiro sintoma que está nascendo na reunião de hoje à tarde, se esse estertor não é um estertor ultra orto‑psíquico, com tudo quanto ele tem de um tanto desvairante. Quer dizer, não merecemos! E o culpado que merece e agüenta a sua culpa de algum modo não se encaminha para a emenda? É claro. É preciso começar por reconhecer. Essa é a pura verdade.

* Entender o que esse estertor tem de axiológico, e que limpa a alma e purifica

(Sr. M. F. [Marcos Fiúza]: Mas nessa espera não pode entrar acomodação.)

Não acomodação, mas também não desespero, que é axiológico que esteja acontecendo isto, até o que não fosse isso não seria axiológico.

Vamos dizer uma coisa assim: a TFP pode ser comparada, remotamente, indiretamente, ao povo eleito andando no meio do deserto. Então eu tomo em cima da cabeça toda espécie de punição, recebo bem, ainda peço perdão para Nossa Senhora, etc., etc… E é Desastre, é o Estrondo e é tudo quanto vocês vêem, só o caso da França o que foi… um tormento que eu não sei dizer. Bem! Vocês não calculam o que foi!

Agora, não é natural que vocês também têm que estertorar um tanto? Quer dizer, vocês não tiveram dúvida axiológica com nada do que me aconteceu, e vão ter porque metem a ponta do dedo dentro da fogueira! Isso é a ponta do dedo. Quer dizer, é eqüitativo isso?

(Sr. Paulo Henrique: Se queremos ser um com o senhor…)

E, depois, quand même, não se dará o caso de que alguns tenham mais culpa do que eu?

(Sr. Paulo Henrique: Isso nem entra em cogitação!)

Então, eu flamo inteiro na fogueira, isso não cria problema para ninguém, agora o outro queima a ponta do dedo e pula! Entenda bem que é preciso sofrer! O que [é] que a gente pode fazer?!

(Sr. Paulo Henrique: Compreender que isso faz parte da axiologia, é penitencial.)

Penitencial!! E, depois outra coisa, que limpa a alma, se a pessoa aceita isto limpa a alma, que limpa, que purifica, que queima, que humilha, que nos reduz as nossas proporções, etc., etc… E deve ser!!

Meus caros, eu gostaria tanto de continuar falando, é uma reunião, a de hoje à noite, memorável e que nós tivemos, mas… não tem remédio.

(Dr. Edwaldo Marques: Hoje é dia de São Rafael.)

Mas hoje domingo ou hoje sábado?

(Dr. Edwaldo Marques: Sábado.)

É! Teria gostado de saber.

(Dr. Edwaldo Marques: Ele é padroeiro do profetismo.)

Não sabia, que curioso! Ah! Porque ele guiou Tobias, com certeza.

* “O que eu sofro nenhum de vocês imagina!”

(Sr. Guerreiro Dantas: Num certo momento gostaria de esclarecer a questão da fogueira, o senhor está inteiramente na fogueira e nós quando colocamos um dedo estertoramos.)

Meu filho, o que eu sofro você não imagina!!! Eu sei que eu pareço uma pessoa bem disposta e animada, graças a Deus, e sou uma pessoa animada. Mas o que eu sofro nenhum de vocês imagina!!! O que é? E um pouco que pensasse dava para imaginar.

(Dr. Edwaldo Marques: O sentido da palavra holocausto é que a vítima queimava inteira.)

Eu flamo! Nossa Senhora me ajuda ainda a animar os outros, mas eu flamo! Será que sou só eu?… Por quê?…

(Sr. Paulo Henrique: Não podemos vigiar uma hora com o senhor, não podemos ser “Cirineus” e aliviar um pouco dessa cruz…)

Aí que está, aí que está! “Não…

(…)

Meus caros, vamos rezar a oração.

Ave Maria Filia Dilecta Dei Patris…

[Jaculatórias e oração de restauração]

Bom, meus caros, então arranjar uma coleção para o Guerreiro e outra para o Paulo Henrique, aos outros aos pouquinhos vou arranjando também.

(Sr. Guerreiro Dantas: A reunião teve como pretexto exatamente a coleção das novas fotografias da Sagrada Imagem.)

Foi, é isso.

(Sr. Paulo Henrique: O senhor trouxe de propósito para ver se nos movia, não?)

Eu trouxe porque estava lá e não há ocasião que eu não queira aproveitar para…

Bem, meus caros, surgite! E me manda vir a cadeira.

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