Conversa de Sábado à Noite ─ 17/1/81 . 9 de 9

Conversa de Sábado à Noite ─ 17/1/81

Pode acontecer que a Providência designe certas pessoas para serem emblemáticas da ordem * O Sr. Dr. Plinio era um homem muito emblemático, exceto para os tiroleses * Os mistérios de ordem natural e sobrenatural pelo qual o nome do Sr. Dr. Plinio, pronunciado, produz mal-estar nos maus * Mistério pelo qual, homens que não conhecem o Sr. Dr. Plinio, ao ouvirem seu nome se contraem, nunca mais o esquecem e o odeiam sem saber por quê * Ação que uma reunião do Sr. Dr. Plinio pode exercer sobre certos personagens que nem mesmo sabem de sua realização * Conclusão: odeiam ao Sr. Dr. Plinio por que ele é um homem emblemático * Odeiam igualmente ao 1º andar porque lá existe uma vitória emblemática sobre a Revolução

Meus caros da rua Alagoas, Salve Maria!

[Risos]

Então, vamos conversar na presença dos enjolras e, conforme as modulações da conversa, com os enjolras. Qual é o tema que introduzem, qual é o assunto que levantam, que a é a questão que suscitam?

(Sr. –: Reunião de hoje à tarde, “Bucko”…)

Aliás, o Dr. M. objeta bem que a pronúncia “Bucko” que adotei por simplificação não é do nome dele, é Bucksco. Eu fiquei com preguiça de estar vendo aquelas consoantes eslavas do nome, e simplifiquei Bucko.

(Sr. J. Clá: A gente vê que a reunião terminou onde quase deveria ter começado outra. O Senhor terminou falando do grande embate que deve se dar a propósito da Fé Católica. Um só homem desde que seja inteiramente pleno, pode derrotar a obra de Satanás e pode fazer com que a face da Terra seja renovada. Se o senhor pudesse falar um pouco dessa Fé Católica. Também a proibição que o senhor deu ao Sr. Paulo Henrique de usar o nome do senhor senão estouraria a sala de imprensa…)

Isso é positivo.

(Sr. J. Clá: O senhor podia também mostrar um pouco a força desse nome? Está só baseada na Fé Católica a força do nome ou em outras coisas mais que o senhor não disse?)

* A noção de ordem e desordem está ligada à própria natureza do homem; vendo um exército desfilar ele pode ter esta noção de ordem

O tema é um tema que é carregado de enigmas e de aspectos que é muito difícil estar-se destrinchando, de tal maneira é complexa a realidade dentro da qual nós nos movemos. Mas há alguma coisa que está ligada à própria natureza do homem, que é a noção de ordem e de desordem.

Junto com a noção de ordem e desordem, a noção de reto e de torto, que mexe completamente com a alma humana, no que ela tem de mais central.

Vou mostrar isso da seguinte maneira: imagine que a gente veja, por exemplo um exército que marcha. Imaginem, por exemplo o exército de Luís XIV marchando ao som do hino de Noailles. Os senhores sabem que é a nossa música e nosso hino. E, com bandeiras desfraldadas, cavalaria, dragões, etc., acho que deveria vir antes a infantaria, não sei bem, depois a raquítica, mas vistosa e ordenada artilharia do tempo, etc., etc., o exército todo marcha.

Não é possível ao homem, vendo isto no seu conjunto, não sentir um primeiro impacto e esse primeiro impacto se traduz nele na impressão de ordem. É uma multidão de pessoas que estão andando ordenadamente, uma grande ordem de conjunto que é constituída por ordens particulares. As várias armas, artilharia, cavalaria, infantaria, separadas umas das outras, e, internamente, ordem em cada uma; depois, cada regimento, ordem de novo; cada homem, ordem de novo.

Desse cúmulo de ordem resulta uma impressão de que há uma ordem para todo o exército que é parecida com a ordem que deveria reinar em todas as coisas. E, no mais fundo do fundo desse choque saudável que se tem, é a idéia de ordem universal. [Ela] vem muito no fundo, muito vaga, muito pouco definida, mas muito alta e é o elemento mais ativo da impressão ─ não quero falar do conceito de ordem ─ mas da impressão de ordem que se tem nesse momento. É exatamente essa idéia: ordem deve haver em tudo; ordem é isto; oh ordem!

* Diante da idéia de que deve existir uma ordem universal, o homem não poder ser neutro: ou é consonante ou dissonante com essa ordem

O homem sente, portanto, no elemento mais sensível de sua própria alma, ele sente que deve haver uma ordem para tudo, e que ele ou é consonante ou é dissonante com essa ordem, mas ele não pode ser neutro em face dela. Ou ele anda com ela e ela o protege, ou ele a agride e ela o liquida.

Nos nossos impressos havia, não sei se ainda há hoje, uma frase de Santo Agostinho, muito bonita: “Serva ordinem et ordo servabit te.” Proteja a ordem e a ordem te protejerá. Esta sensação profunda de ordem toca o homem.

Essa sensação é quase co-idêntica com a sensação do nosso próprio ser. Porque eu sou, eu peço com toda a força do meu ser, e se for necessário exijo que as coisas sejam conforme a ordem interna minha. Desde que eu me ponha em ordem comigo, eu estou numa ordem implícita com todos os outros seres ordenados, e somos todos aliados.

Desde que eu esteja em desordem, sou um expulso da ordem de todas as coisas, não tem conversa. Mais embotadamente ou menos, melhor ou pior, a gente explicitando, cada um de nós percebe que no fundo de sua própria alma existe isso. Isso não tem por onde escapar.

Donde esta impressão de ordem ser enormemente dinâmica, enormemente ativa e sensível nas últimas pontas das últimas coisas.

Estou falando aqui da ordem material. O próprio exército que marcha, o que os nossos sentidos pegam é a ordem material.

Mas, no caso do exército, [é] um exemplo muito bom, porque a ordem material reflete no próprio exército uma ordem espiritual. A gente percebe ali obediência e autoridade que ordenam aquilo tudo, e tem o consenso de todos de fazerem o que o chefe quer, porque todos querem a mesma coisa e a vontade do chefe é o meio para realizar o que todos querem. De maneira que o marechal manda, a tropa executa. A própria ordenação do espírito humano gaudet, se alegra com isso, se rejubila com isso.

* Quando o homem é sensível à idéia de ordem, ele ama tudo quanto é ordenado como os pulmões necessitam de ar

Acontece que ─ para trabalhar só em função da idéia de ordem ─ a gente vê que o homem, quando é sensível retamente à idéia de ordem, ele ama com uma espécie de… como os pulmões querem ar, ele ama tudo quanto é ordenado.

De outro lado, e por isso mesmo, ele sente e percebe tudo o que é ordenado e ele se sente aliado e sócio de tudo quanto é ordenado. E se forma nele uma espécie de santo egoísmo, por onde ele é aliado de todas as ordens e, por assim dizer, se sente no direito a que tudo o que há de ordenado o apóie.

Naquele brado de São Luís Grignion, ele repete na “Oração Abrasada”: “Se alguém é do Senhor, que se ligue a mim”. É por Deus, é claro; é por Nossa Senhora. Mas entra, está engajado ali secundariamente o princípio: “Eu sou ordenado, todos os da ordem sois um comigo”.

E o indivíduo fica mais interesseiro a favor da ordem do que a favor de si mesmo. Ele compreende que lhe cortem um membro, que lhe furem um olho, que lhe tirem a vida, ele não compreende que se viole a ordem porque ele morrer, para ele é muito menos do que ele entrar em conflito com a ordem. Entrar em conflito com a ordem, para ele é uma uma espécie de realização do inferno, é uma gota do fogo do inferno que cai nele, não pode tolerar, não tolera.

* O pecado de Revolução é a posição de alma de um indivíduo que pecou tanto, que toda as formas de ordem lhe são aborrecidas; ele quer o caos

Mas, assim, devendo ser a inocência posta em ordem de batalha, é exatamente o contrário do pecado. E, sobretudo, especificamente o pecado de Revolução. O pecado de Revolução, direta e linearmente é o contrário, é a posição de alma de um indivíduo que pecou tanto e tanto que, todas as formas de ordem lhe são aborrecidas. E ele detesta a ordem enquanto ordem. Ele quer o caos, a desordem, a bagunça, porque são caos.

E todas as susceptibilidades, todo o interesse, toda coisa que o homem de ordem, o varão de ordem tem por si, o varão do caos tem por si.

Então, tomem, por exemplo, uma pessoa moderna e que gosta do estilo dito de Brasília, por exemplo. Essa pessoa não caberia durante uma hora dentro do Mont Saint Michel, por exemplo, não suportaria, odiaria. Em sentido contrário, a pessoa que gosta do Mont Saint Michel considera um pesadelo ir a Brasília.

Alguém poderia me objetar: “Mas eu conheço fulano que gosta de ambas as coisas”. Eu diria: “É verdade, eu também conheço, a gente pode sustentar que os dois olhos humanos convergem para ver de certo modo, mas eu conheço vesgos. Isso não invalida o princípio de que os olhos humanos funcionam assim, aquele é vesgo.

Assim é com o princípio da ordem e da desordem. Se alguém é vesgo, é por própria conta, não tem nada que ver conosco.

* A sensibilidade que o “varão da ordem” tem a favor da ordem e o “homem da desordem” a favor da desordem atinge mistérios insondáveis

Isso chega a mistérios tais, a sensibilidade do varão de ordem à favor da ordem e do varão de desordem ─ varão não ─ do homem de desordem a favor da desordem, chega a tal ponto que atinge uns mistérios insondáveis.

Eu estava comentando com o João, quando vínhamos chegando aqui no Êremo, o seguinte fato: Os senhores sabem bem que temos um parecer escrito ─ no dorso de uma fotografia, com eremitas deste Êremo aqui no claustro ─, temos o parecer de um grande canonista espanhol ─ os melhores canonistas, ou quase todos os melhores canonistas do mundo hoje são espanhóis, têm uma grande autoridade ─, de um grande canonista espanhol mostrando que, de acordo com a lei da Igreja é inteiramente legítimo os senhores usarem esse hábito. Os senhores sabem que nós consultamos oficiais do Exército para saber se os calçados que os senhores usam, se são paramilitares ou não são. Disseram que não. Estamos, portanto, estribados na lei.

Se não tivéssemos o parecer desses canonistas e não tivéssemos a opinião dos militares, do mesmo modo estaríamos na lei. Nós ignoraríamos que estávamos na lei, mas a lei está lá, mas do mesmo modo estaríamos na lei.

* O fator misterioso pelo qual podemos usar hábito pelas ruas e não nos mafiam mesmo sem conhecer os pareceres que existem em nosso favor

Agora, vejam o que é a desordem. Se nós ignorássemos isso, como os senhores aparecem de hábito com freqüência no Auditório São Miguel ─ não adianta dizer que aparecem à noite porque qualquer um daqueles apartamentos vizinhos vêem, depois aquela luz do pátio se acende várias vezes ─, os senhores são vistos, param o automóvel, são vistos de todos os modos. Se nós não soubéssemos que estamos na lei, o número de máfias que haveria seria incontável.

Como sabemos que estamos na lei, alguém de lá, alguém contém o movimento das máfias contra nós e não sai máfia nenhuma.

Aqui, essa vizinhança sabe que os senhores usam hábitos. É só olhar para o automóvel que entra, que sai, quando vão para a reunião, e mil outras circunstâncias, sabem que os senhores usam hábito. Essa vegetação que veda aqui, esse toldo de lona que põem ─ fazem bem pôr, por outras razões, eu quero até que ponham ─, mas eles sabem que os senhores usam hábito. Como os senhores têm defesa, eles ficam quietos. Se não tivessem, eles falariam. E, outra coisa, intervinha a Cúria, intervinha a Região Militar, saía qualquer coisa.

O que é que leva uma Da. Maricota qualquer que mora num prédio de apartamentos vizinho lá, ou um Sr. Belduegas qualquer que mora por aqui, a ficarem quietos e não ficariam se não fosse isso? O que é que eles sentem?

O Sr. MN, freqüentemente desce até o hall de nosso apartamento. Às vezes ele vem para a reunião ─ pega o automóvel para vir à reunião ─ passam automóveis na frente da rua Alagoas, nada. Se nós não soubéssemos disso, paravam, caçoavam, davam risada.

Como é que se faz isso? Que relação de causa e efeito? Como são todas as concatenações de causa e efeito para partir desses pareceres e influenciar milhões de pessoas que não conhecem esses pareceres?

* Qual é mecanismo de causa e efeito pelo qual suportam nossas obras mas não nossos símbolos?

Assim também o ódio contra nosso estandarte, contra nossas capas, contra nossas insígnias. Os senhores conhecem o caso do Uruguai. O governador B. proibiu o uso de nossos estandartes, insígnias etc., na rua e proibiu as campanhas do Grupo. O Grupo conseguiu autorização para fazer campanha mas não com insígnias. Quer dizer, temem mais que a insígnia apareça do que se divulgue, por exemplo, como o “Show Tupamaro”. Aquele livro é um livro sulfúrico, é um livro explosivo, não sei se notaram, depois que saiu aquele livro, não se falou mais de Tupamaro, é como se não tivesse mais existido. Peguem jornais do tempo, gotejam propaganda dos Tupamaros. Agora não falam mais.

Bem, o livro pode circular. Estandarte, capa não podem. Mais ainda, a simples Cruz de Santiago, como distintivo não pode. Chile a mesma coisa. Governo P., eminentemente “contra-revolucionário” como os senhores sabem, ele proíbe. Temos escrito carta, temos feito tudo, não pode!

Agora, qual é o mecanismo de causa e efeito sobre milhões, para que eles suportem uma coisa e não suportem a outra? Dir-se-ia o contrário, que eles teriam medo do que está escrito, do que está falado, e não teriam medo do símbolo. Teriam ódio de uma coisa que mostra que eles são farsantes, que é escrito contra eles.

Não. O ódio maior deles é contra o símbolo. Por quê? Como é esse mecanismo de relações de causa e efeito?

Alguém me dirá: “Mas, Dr. Plinio, é evidente, é a Revolução”. Não. Em parte são, mas estão longe de explicar tudo. A Da. Maricota e o Sr. Belduegas não recebem uma palavra oculta de alguém para ficarem quietos, porque então a Revolução teria que avisar a cidade inteira. Isso não funciona assim. Os mais entrosados… etc., mas os outros? Como é que pode ser uma coisa dessa?

* O mecanismo do “feeling” do ódio e da desordem e do “feeling” do amor à ordem

É a psicologia, o feeling do ódio e da desordem. E a psicologia e o feeling do amor à ordem; feeling do amor e da ordem. São tais que percebem coisas que nós não percebemos, percebem coisas subconscientes das quais não temos idéia e que se passam em nós, e nós também somos assim.

Muitas coisas em nós, nós gostamos e muitas outras não gostamos, nós mesmos não sabemos porque, mas isso que eu chamaria mecanismo, esse mecanismo em nós atua da mesma maneira.

Não sei se estou pondo bem as analogias e semelhanças, se estão bem postas.

Nós saberemos isso no Céu, no intercâmbio das almas bem-aventuradas, a gente conhece tudo isto, conhece até os últimos pormenores e se deleita, frui-os e também no ódio ao inferno a gente frui. Mas, frui o ódio.

Por exemplo, dizer como diz o nosso grande Cornélio a Lapide, que Deus insulta o demônio, os senhores sabem que todo ato de Deus tem um alcance infinito, um peso infinito, porque Ele mesmo é infinito. Podem imaginar aquela cólera de Deus atirando insulto ao demônio, e o demônio todo vibrando humilhado, esmagado por causa disso? É uma coisa do outro mundo!

Mas, que mostra como o universo é percorrido por atos de amor e de ódio, de seres superiores a nós. Deus Nosso Senhor infinitamente, mas, os anjos que se odeiam, os bons odeiam os maus, os maus odeiam os bons. Os precitos que são as almas dos condenados no inferno, que odeiam tudo quanto é bom, as almas dos justos que odeiam o mal. Tudo isso constitui um entrelaçamento, um relacionamento onde, talvez, misteriosamente, rios de ódio à ordem e rios de amor à ordem; os rios de amor à ordem se entrecruzam e formam um só rio, e os rios de ódio à ordem se entrecruzam e fazem outro rio.

* Pode acontecer que a Providência designe certas pessoas para serem emblemáticas da ordem

Então pode acontecer que a Providência designe certas pessoas para serem emblemáticas da ordem. Um deles foi Carlos Magno. Carlos Magno era um emblema da ordem.

Nem sempre a pessoa muito emblemática da ordem aparece como tal aos olhos dos homens. Para dizer tudo numa palavra só, Nossa Senhora. Nossa Senhora, enquanto Nosso Senhor esteve na Terra, os homens perceberam pouco o que Ela era. Entretanto não tem o que dizer.

Quer dizer, não se pode dizer necessariamente mais emblemático, mais santo; menos emblemático, menos santo. Mas há pessoas emblemáticas da ordem.

* O Sr. Dr. Plinio é um homem muito emblemático, exceto para os “tiroleses”

Acontece que, disso eu tenho consciência que Nossa Senhora obteve, a Providência dispôs as coisas de maneira que eu sei que sou muito emblemático. Quer dizer, de tal maneira, de todos os lados, e a todos os propósitos saem de todas as formas manifestações disso que eu só conheço uma exceção a isto, de uma categoria de gente para quem não sou emblemático: é para o “tirolês”.

Há uma coisa característica no “tirolês”: é que eu não sou emblemático. Mas o mal para ele também não tem emblemas e ele não vê os emblemas do mal no mundo moderno, ele está na Bagarre azul. E um dos sintomas da Bagarre azul é a cegueira para os emblemas. O “bagarre azul” só vê o estilo [alta do milho?] com seus sorrisos estúpidos, de falsificação. Não vê outra coisa.

* O mistérios de ordem natural e sobrenatural pelo qual o nome do Sr. Dr. Plinio, pronunciado, produz mal-estar nos maus

Bem, a partir desse ponto, pode acontecer que, por um mecanismo como o que acabamos de descrever ─ dos nossos pareceres e da Da. Maricota ou do Sr. Belduegas ─, pode aparecer ─ por um mecanismo análogo ─, meu nome ficar de tal maneira carregado para a sensibilidade dos maus que, pronunciado, dá mal-estar. Entra nos tais mistérios da ordem natural e, às vezes, da ordem sobrenatural, que a gente não sabe como explicar. Mas, que não só existem, mas fazem parte do suco da realidade. A realidade mais nobre muitas vezes está nessa zona. E ninguém conhece a realidade que conhece sem saber que, por cima dela, flutuando, como uma vaporosidade, está a realidade que não conhece.

Não sei se querem que repita minha frase ou se está claro?

* Uma “vaporosidade” que está acima da realidade e que exerce uma influência misteriosa sobre as pessoas e as move em determinadas direções

Eu estou dizendo que nós conhecemos essa realidade que todo mundo conhece: da Da. Maricota, do Sr. Belduegas.

Bom, na realidade nós não conhecemos se não tomarmos em consideração que paira acima dela, como uma “vaporosidade”, acima desta realidade, como uma “vaporosidade” misteriosa, a realidade desses contatos, dessas influências, desses relacionamentos que acabo de descrever.

Se a gente fosse entrar agora em casa do Sr. Belduegas, ele deve estar ressonando na cama dele, não sei, vou imaginá-lo prosaicamente, enrolado num lençol, metido num pijama, bermudas e com os pés de fora do lençol. A gente olha e diz: “Aqui é a casa do Sr. Belduegas, o quarto do Sr. Belduegas, [fecha?] a porta, banal, baixa de nível.

A Da. Maricota, a essa hora, vamos dizer que esteja com insônia e tomando um remédio para dormir, sexagenária, vestida de pijama cor azul clarinho, bestinha, tomando remédio, bebendo um copo de água e depois se deitando. “Vamos ver se durmo assim, rezemos para São Roque”.

Quem olha para aquilo e diz: “Falta aqui qualquer coisa de superior, é a pura realidade palpável”. Eu digo: “Meu caro, pura realidade palpável não é, tanto é que eles não fazem máfia contra nós porque nós temos documentos lá dentro. Por detrás da banalidade, qual é vaporosidade misteriosa que envolve o Sr. Belduegas e Da. Maricota? E quantos Belduegas e Maricotas há por uma cidade de dez milhões de habitantes?”

* Mistério pelo qual, homens que não conhecem ao Sr. Dr. Plinio, ao ouvir seu nome se contraem, nunca mais o esquecem e odeiam sem o saber.

Quer dizer, que mistérios da alma humana, da vida, e da transvida, pairam em torno de nós? Como é bobo o homem que não percebe isso e que não age em função também disto!

Então, é razoável que eu ache que algum jornalista da Malásia, outro do Alaska, e outro de [Jandernagor?] ─ é na Índia ─, não meu M? Portanto, não tão longe do Alaska, eu deveria escolher outra cidade, a cidade do Cabo, onde está meu JR, que presentes ali, pronunciando meu nome, os jornalistas que ouviram falar tiveram uma contração. E os que não ouviram, sentiram essa contração. Compreenderam ali, pelo ódio que os tele-emissores internos sentiram quando meu nome foi pronunciado, eles tenham feito rumor juntos sem saberem por quê. É a realidade.

Mas, mais. Depois não esquecem esse nome, ainda que sejam malaios, não esquecem esse nome, e odeiam com ódio inteiro sem saber por quê.

* Ação que uma reunião do Sr. Dr. Plinio pode exercer sobre certos personagens que nem mesmo sabem de sua realização

Há nomes que se carregam assim de coisas. E é muito interessante nós falarmos disso numa reunião assim, porque eu tenho a impressão de que, o que está se passando aqui, vibra não só no bairro, mas chega às Maricotas e Belduegas. Haverá no bairro de Higienópolis muito rabino que está se revirando na cama e que não consegue dormir, não sabe por quê.

É possível que amanhã cedo, algum dos mentores de D.A. acorde e também, sem saber por quê, diga: “Alguma coisa de mais enérgico temos que fazer contra a gente do Plinio”. Não sabem por quê. É por causa dessa reunião que houve.

Eu considero que isto é assim, e, por esta forma, respondo à pergunta do meu João.

* Conclusão: odeiam ao Sr. Dr. Plinio porque ele é um homem emblemático

(Sr. J. Clá: Preâmbulo.)

Preâmbulo não! O senhor me perguntou por que me odeiam tanto. Razão: sou emblemático, e a emblematicidade se difunde desta maneira. É muito lógica essa resposta.

(Sr. J. Clá: Tem mil desdobramentos.)

Ahahah!

(…)

* Odeiam igualmente ao 1º andar porque lá existe uma vitória emblemática sobre a Revolução

(Sr. –: Porque tanto ódio contra as coisas que de algum modo estão ligadas ao senhor? Por exemplo, o 1º andar?)

Aqui o senhor faz uma pergunta [que] está dentro do tema, mas é um pouco diversa. Vou responder, mas é um pouco diversa. A pergunta [é a] seguinte: tomado emblema e emblema ─ porque ambas são coisas emblemáticas: Um emblema, quadro dela ─ desperta mais ódio do que outro emblema: salões dela?

Para elucidar o tema emblema, está muito bem, mas estou pondo em ordem para poder dar uma resposta adequada.

(…)

dá então ódio que uma pessoa tão alheia ao espírito do tempo, tenha de tal maneira sido poupada pela tempestade, que tivesse vivido debaixo dessa redoma que resistia. Era uma redoma de cristal que resistia a tiro de canhão.

Ali existe, em nível inteiramente privado, ao menos à primeira vista, inteiramente privado, existe uma vitória emblemática sobre a Revolução. E, hoje ainda, não se gosta que aquilo seja meu, não se gosta.

* Onde e em que condições gostariam que o Sr. Dr. vivesse

O que gostariam era que eu morasse num apartamentozinho com um quarto de dormir e uma sala de estar no bairro de Tiradentes, por exemplo. Aí ótimo, enquanto não fosse para um asilo como um inválido, isso então melhor.

Há uns asilos ao nível do chão e perpendiculares, onde mais ainda gostariam de me pôr. E, por estes mistérios singulares da alma humana, até lados ruins de pessoas boas, fremem com isso. E, nesse sentido, é mais emblemático da vitória alcançada a redoma do que a flor que a redoma preservou.

E aí minha resposta ao meu caro João, que não pode dizer que estou fora do tema.

Bem, meus caros ouvintes e interlocutores da Rua Alagoas, entre os quais, honoris causa, está meu João… Diga meu caro Edwaldo.

(Dr. Edwaldo: Como o senhor disse na reunião de Recortes, estão jogando um peso enorme na “jogada-Polônia”. Como estarão sentindo essa entrada no jogo, do anjo demolidor?

É difícil responder…

(…)

[Orações finais]

Eu costumo dar a mão aos meus interlocutores do sábado. Vou fazer a mesma coisa hoje. E, para apertar a mão de todos, eu chamo os Srs. FT, WD e Z.

Bem, meus caros, como eu gostaria de cumprimentá-los um por um! Meu caro G, chegou a ver essa caixa? Por indústrias do João, contém o xale que figura no quadrinho e algumas pedras semipreciosas lindíssimas que ele arranjou aí para colocar na caixa.

Agora, vamos nos levantar e andar. Monseigneur, en avant! Se eu estivesse só eu oscularia, não quero dizer que prestei ato de culto. Apenas saudades filial.

(Sr. –: A gente fecha os olhos.)

Não, não! Lembrem-se do que falei, Sr. Belduegas e Da. Maricota gostariam…

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