Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1 Andar) – 3/1/1981 – [AC IV – 81/01.04] – p. 8 de 8

Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1 Andar) — 3/1/1981 — [AC IV — 81/01.04]

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O grande benefício que o Sr. Dr. Plinio recebeu por ter conhecido o afeto e o desprendimento da Sra. Da. Lucilia * A graça em conhecer a Sra. Da. Lucilia: compreender os frutos da Fé Católica numa alma seriamente católica * Sem graças especiais não se conhece quem foi a Sra. Da. Lucilia

Índice

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* Comentários sobre a impressão que deu quando um raio de sol iluminou o Quadrinho durante a “RR”

e com isso não é difícil fazer um bom Santo do Dia, a coisa corre, portanto.

(Major Poli: … a minha impressão com aquele raio de sol que bateu no Quadrinho, hoje na Reunião de Recortes, é de que queria dizer que o ano vai ser duro, ruim, mas quem está voltado para ela a coisa está garantida. Isso para quem está bom; para quem está ruim, não importo muito. [Se?] iluminar‑se pelo Quadrinho a coisa está garantida. É essa a impressão do senhor?)

Mamãe naturalmente participa de mim, e pelo hábito de analisar subestimativamente o que me diz respeito, nem me passou pela cabeça esta possibilidade no que diz respeito ao quadro dela, pelo mesmo hábito.

(Dr. Edwaldo Marques: Eu acho que está muito relacionado com o que o senhor disse do “ainda é tempo”.)

A que altura eu falei do “ainda é tempo”, foi depois, não é?

(Dr. Edwaldo Marques: No final da Reunião de Recortes, o senhor disse que era tempo, mas que frisava muito o “ainda”.)

(Sr. Fernando Antúnez: O Quadrinho iluminou‑se na análise do alardo, da certeza da vitória.)

Agora vamos analisar as coisas com uma afetuosa frieza de espírito…

(Major Poli: O senhor gostaria de saber como o raio de luz evoluiu?)

Quero, mas quero saber como nasceu. Quer dizer, você…

(…)

que mora lá, como que é lá, poderia dizer: é costumeiro entrar um raio de sol naquela hora, daquele jeito, etc., naquele quadro, nesta época do ano?

(Sr. Guerreiro Dantas: O raio de sol pode entrar, mas não me lembro de alguém ter falado que tenha acontecido.)

(Dr. Edwaldo Marques: Mas o Quadrinho não estava na posição fixa, habitual.)

Vocês procuram ver algo de não comum, não no sol que entrou, mas no fato do Quadrinho estar no sol naquela ocasião?

(Sr. Fernando Antúnez: Sim, porque ninguém escolheu aquele lugar para o Quadrinho com essa intenção e o sol bateu.)

(Dr. Edwaldo Marques: Quando começou a iluminar a fronte estava em sombras ainda, depois quando o M. P. chamou a atenção, estava de chamar a atenção.)

Quando o M. P. chamou estava intensamente iluminado.

(Dr. Edwaldo Marques: É, e destacava‑se muito.)

(Major Poli: Quando o senhor começou a reunião o Quadrinho estava iluminado até a altura dos olhos e ela estava muito comunicativa. Então o senhor foi desenvolvendo o tema do Alardo, eu esperei uma oportunidade para entrar, foi quando o senhor deu uma pausa no final de uma frase — parece que era do Alardo e certeza da vitória — então pedi a palavra e avisei.

Nesta hora o Quadrinho estava intensamente iluminando e só o Quadrinho num raio de luz exato. Então o senhor olhou, olhou bem. Eu também esperei um pouco para ver se alguém mais velho se levantava antes. Bem, o senhor olhou e fez uma consideração…)

Uma consideração de fundo evasiva.

(Major Poli: É, dizendo que não devia chamar a atenção de um auditório brasileiro.)

Isso de gracejo.

(Major Poli: É curioso que ficou bem nítido alguns instantes, mas foi rapidamente desvanecendo, depois deixou o quadro numa certa penumbra.)

(Sr. Fernando Antúnez: Mas não saiu do lugar a luz, ela foi se apagando.)

(Major Poli: E ficou uma pequena sombra no cabelo.)

É, o cabelo é um pouquinho ondeando na frente e na parte da depressão era um pouco mais escuro.

(Major Poli: Ali ficou uma pequena sombra, o mais foi desvanecendo, desvanecendo assim como quem dissesse: “agora que já dei a minha mensagem, vamos deixar o que meu filho faz para não dissipar demais a reunião.)

(Sr. M. F.: A impressão que me ficou é que esse ano será o ano dela, ela vai proteger especialmente o Grupo.)

(Major Poli: Tive essa impressão fortíssima. Fiquei consoladíssimo!)

Hahaha!”, estou vendo, graças a Nossa Senhora.

(Sr. Guerreiro Dantas: Não vi o raio de sol, infelizmente, mas quando o M. P. falou, fiquei muito impressionado, poque no primeiro dia e segundo rezei muito diante da foto do Quadrinho que temos lá no Êremo de Elias, e ela estava impressionantemente comunicativa, e parecia dizer o quanto há para destacar na ligação com ela e que devia aumentar a devoção particular a ela.

E isso no começo do ano, me veio a impressão de que o Sr. M. F. [ou M. P. ?] acaba de dizer: “olha, esse ano há algo que tem que mudar, tem que crescer, tem que aumentar por muitos lados”. No fundo também dizia: “veja a possibilidade que tenho de formas de socorro, de ajuda, de proteção”. Mas tudo isso com aquela discrição, aquela afabilidade. Então quando o Major Poli me contou fiquei muito contente, porque foi mais uma confirmação daquela impressão que tive.)

(Dr. Edwaldo Marques: O curioso é que outro sinal que houve com ela foi também um raio de sol, na missa de sétimo dia.)

(Major Poli: Em Jasna Gora todos relacionaram com isso.)

(Sr. Fiuzza: O curioso é que quando o senhor ganhou o Quadrinho de presente, o senhor estava terminando uma reunião com o Dr. Edwaldo Marques e eu com o…)

(…)

(Dr. Edwaldo Marques: … não era dos hábitos dele fazer isso.)

Sobretudo se ele [Fernando Furquim de Almeida Filho] tivesse a idéia de veneração com que eu acolheria o Quadrinho.

Ele apresentou com se fosse um presente de lo último. Eu ouvi dizer que ele disse que o Quadrinho mudou de aspecto quando ele [me] mostrou.

(Dr. Edwaldo Marques: Ele disse… eu voltei com ele e ele disse isso.)

Ah!, na volta ele disse, é?

(Dr. Edwaldo Marques: Disse. Ele disse que tinha havido uma mudança no Quadrinho.)

Mas ele não era levado a dar a isso um caráter miraculoso nem nada?

(Dr. Edwaldo Marques: Ele estava muito perplexo.)

Ele é, aliás, uma pessoa muito perplexitável. Ele foi…

(Sr. M. F.: Ele tirou o Quadrinho muito sem jeito, pedindo que o senhor desculpasse…)

É, mais como quem diz: “eu tenho que dar satisfação ao Buzzarello”.

(Sr. Guerreiro Dantas: Os quadros maiores, fotos, que foram tirados do Quadrinho também são impressionantemente comunicativos.)

* O Sr. Dr. Plinio confessa não ter percebido nenhuma expressão especial no Quadrinho

É uma coisa curiosa, mas minha impressão eu tenho as fotografias do Quadrinho muito em vista quando vou ao São Bento, porque na minha sala lá tem em frente, por assim dizer, uma fotografia. Naturalmente eu levanto os olhos e vejo a fotografia e rezo uma coisa e outra. Depois vejo de cá e de lá a fotografia.

E eu tenho a impressão — agora não me repitam isso que estou dizendo, podem dizer só ao João Clá — no que diz respeito ao quadro hoje quando olhei, naturalmente gostei muito de olhar, mas não percebi uma expressão especial. E a idéia que o M. P. está levantando agora não me passou pelo espírito à tarde.

(Dr. Edwaldo Marques: O ângulo donde o senhor estava era muito ruim.)

Acredito bem, eu tive essa impressão também, eu via bem o quadro inteiro, mas não era o ângulo favorável, tinha inteiramente essa impressão.

Mas eu tive que ter…

(…)

* O grande benefício que o Sr. Dr. Plinio recebeu por ter conhecido o afeto e o desprendimento da Sra. Da. Lucilia

é um benefício profundíssimo que recebi dela e não sei o que seria de mim, — naturalmente Nossa Senhora é minha Mãe e Ela haveria de prover por mim, mas fora disso eu não sei o que seria de mim — se não tivesse recebido esse benefício, mas é acreditar — por ter conhecido a ela — que é possível o grau de afeto e dedicação que ela tinha. O grau também de desprendimento de alma e de voltar‑se da alma para as coisas superiores que ela tinha.

Porque quem conheceu essas duas coisas tem certo meio de subir com sua alma ad majora. E também fica com a convicção de que desde que um outro ame verdadeiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora, é capaz de uma dedicação como ela teve. E é capaz de um afeto com ela teve.

Porque a coisa mais anti‑axiológica do mundo é imaginar que o mundo é irremediavelmente constituído pelos egoistarrões que nós somos. E isso cria, se a alma chega a acreditar nesse erro — o erro está no adversário “irremediavelmente”, porque o resto é uma grande verdade evidente, mas evidente — se a gente acredita que isto é irremediável, a vida toma uma amargura e toma uma carga consigo de decepção e de non sense de uma brutalidade que a gente não sabe o que dizer.

Mas não sabe o que dizer! Aí há um poeta latino, Lucano, que diz: “homo, homine lupus”. É isso. A gente só pode ver nos outros um lobo, inclusive porque só se sente lobo em relação aos outros. É isso e não pode deixar de ser.

* A graça em conhecer a Sra. Da. Lucilia: compreender os frutos da Fé Católica numa alma seriamente católica

Ora, sem esse ponto de partida, eu não acredito que a pessoa possa compreender bem a Igreja Católica. Porque a Igreja é foco disso! Estava na alma dela porque ela era católica e, na medida em que ela era católica, mas o foco disso é a Igreja Católica. E toda a beleza da Igreja, todas as coisas da Igreja que eu costumo realçar, etc., inclusive, “tal enquanto tal”, não se compreendem a não ser vendo que a graça trabalha continuamente nesse sentido, e que a alguns ela conquista e dá essa posição de alma.

(Dr. Edwaldo Marques: …para o mundo de hoje tinha que ser uma experiência prática, como que apalpar em alguém e no senhor, porque ler vida de santo a mais extraordinária não basta.)

Não, porque há certas coisas que a doutrina não dá. Por exemplo, você fala o que é afeto materno, pela doutrina é fácil: é o afeto que a mãe tem a seu filho, está acabado!

Mas qual é esse afeto? Se você não conheceu uma mãe modelar como é que você sabe qual é esse afeto?… Bom, cada um tem ou teve a senhora sua mãe, não tem dúvida, mas fez bem não considerar isso apenas no âmbito pessoal, mas considerar no âmbito geral.

E, eu noto isto, exatamente, que todas as pessoas que se dizem beneficiadas por ela, no fundo são beneficiadas por esta graça: compreenderem o que é que a Fé Católica pode por dentro de uma alma, quando essa alma é seriamente católica. Que é o que havia na alma dela.

E eu creio que isso tira ruindades de dentro da alma, tira… eu posso me imaginar como que eu seria se eu não tivesse conhecido a ela, eu posso imaginar outros. É verdade, eu volto a dizer, que Nossa Senhora provê a cada um segundo as suas vias, e me deu por meio dela graças que os outros podem receber sem ser por meio dela, mas eu me pergunto se as graças que eu recebi nesse sentido não foram maiores de que de vários outros. De tal maneira isso me tocou.

* Descrevendo os traços mais marcantes da fisionomia da Sra. Dra. Lucilia desde o Quadrinho

Depois há um misto de carinho… como não se sabe exprimir, somado a uma dedicação sem limites que é a marca da autenticidade do carinho, onde a gente nota a dedicação. Mas, ao par disso, uma seriedade doce, afável, mas séria, e uma tristeza que me lembra uma frase que li há pouco tempo de um sujeito aí e que diz o seguinte: “a felicidade fica mais próxima da tristeza do que da alegria”. Parece uma frase maluca porque essa pessoa hoje identifica alegria com felicidade….

(…)

* Sem graças especiais não se conhece quem a Sra. Da. Lucilia foi

Isso é muito ele. “Hiiii”, a mais não poder! Ela tinha um certo constrangimento — sistema antigo — por não ter almoço e jantar para… Mas ela tinha, mas ela possuía… a felicidade que vocês podem ver aí no Quadrinho, mas com uma tristeza grave, afetuosa, resignada que não há o que saiba descrever; eu não sei descrever. Se não houvesse graças assim especiais eu acho que não se saberia como ela foi nem quem ela foi. Não se teria idéia.

(Dr. Edwaldo Marques: A paz de alma que ela comunica…)

Uma paz, depois um asseio de alma, porque o asseio de alma aqui é extremo! A gente até leva o Fernando Antúnez a sorrir quando se fala disso, porque tal é o asseio de alma, é extraordinário!

(Sr. Guerreiro Dantas: …quando a conheci e a ouvi, uma voz tão cheia de modulações…)

Isso, muito, muito, muito, mas não assim gritantes não, muito discretas em torno…

(Sr. Guerreiro Dantas: Muito discretas…)

(Sr. Fiuzza: Pena não ter gravado a voz dela.)

Pois é, não sei que idéia foi essa! Não sei o que eu daria para poder ouvir a voz dela. Não sei o que daria! Ouvir uma vez ela me dizer: “Filhão!”. Não sei o que daria!

(Dr. Edwaldo Marques: O Sr.Fernando Antúnez não estava aqui, senão teria gravado.)

É, ele entraria na sala dizendo: “pode gravar?”. Ela diria: “o que é isso que o senhor está dizendo?”. Ela não sabia bem o que era gravador, ouviu, hahaha!. Uma idéia vaga.

(Sr. Guerreiro Dantas: Mas a voz dela… não me esqueço mais. E o Quadrinho pela fisionomia diz tudo o que se ouvia.)

* O afeto e o respeito para com o interlocutor

É. E a carga de afeto e de respeito que ela punha para com o interlocutor. Porque ela era de uma índole não só afetiva, mas respeitosa. Ela considerava muito qualquer pessoa. E falava de um modo a deixar a pessoa bem, introduzir bem, qualquer que fosse o nível da pessoa ela sabia tratar de maneira a pôr a pessoa bem, como eu nunca vi ninguém.

você falou do modulado, é interessante isso — alguns de vocês falaram com ela — muito modulado sem nunca sair de um timbre normal, ela não gritava nunca, nunca era difícil de ouvir, mas dentro do timbre normal, tantas modulações como eu não sei o que dizer.

(Sr. Guerreiro Dantas: Sem nenhuma estridência.)

* Voz clara e impostada; a maneira antiga de convidar para jantar

Não, nada, nada, nada! Nada de murmúrio também, voz muito clara, muito bem impostada.

(Major Poli: …hoje me encontrei com o Fidelis que me disse que uma vez falou com a Sra. Da. Lucilia e eu estava presente. Ela passou pelo corredor e perguntou: “mas os senhores estão bem servidos, bem atendidos?”)

Isso é muito ela. “Hiii”, a mais não poder! Ela possuía um certo constrangimento — o sistema antigo — por não ter almoço e jantar para servir para todo o mundo. Ela percebia mais ou menos que não tinha, mas não conhecia o sistema de vida moderna e que isso não se leva em consideração.

Sistema antigo de São Paulo: chega em casa na hora do almoço, jantar, convida: “vamos almoçar, vamos jantar”.

Então ela às vezes pedia desculpas: “sabe, estou doente assim, minha casa não está bem montada, mas eu gostaria tanto, etc., etc”. Era o modo de ser dela.

(Major Poli: Lembro‑me que ela uma vez ficou preocupada, era tarde, dizia: “vamos ver o jantar dos senhores”. Pediu à empregada que a levasse até a cozinha para ver…)

Aquela empregada não entendia ela para nada.

(Major Poli: Dissemos então que não se incomodasse, ela insistia: “leve‑me lá!”. Daí ela sentiu que as coisas tinham mudado, mas ficou com certo pesar. Pesar muito respeitoso.)

* Mansidão de ovelha

E sem um comentário. Um silêncio sem amargura. É silêncio de ovelha que recebe uma pancada ou a quem se corta o caminho, não diz nada, toma mansamente o caminho para outro lado sem dizer mais nada.

(Sr. Guerreiro Dantas: Uma coisa que me impressionava era o brilho do olhar dela. Era tão forte o brilho que eu a primeira vez que vi pensei logo que era uma pessoa inteligentíssima. Uma claridade tão forte.)

É verdade.

(Sr. Guerreiro Dantas: Tanta força que a pessoa ao vê‑la, ficava meio parada e tinha tendência de colocar assim um pé atrás para considerar a cena que estava vendo, a figura.)

Mas é mesmo!

(Sr. Guerreiro Dantas: E uma vez conversando com o Sr. G. L. [Gregório López?] e ele me dizia: “ela me assustou no primeiro momento que a olhei, tamanha a seriedade”. Eu não me assustei, mas fiquei surpreendido com a luz do olhar dela. Agora, essa luz, claridade firme, forte…)

Muito discreto também. Ela não tinha o olhar assanhado, nada disso. É o que está aqui.

(Sr. Guerreiro Dantas: Não, não, não! Aquela foto em que ela está num auditório assistindo uma conferência, uma luz tão clara, definida e marcante, que até hoje não consegui penetrar na razão de ser disso, porque seria assim… Donde viria isso? Por que é assim?)

* Um olhar matizado como a voz, análogo ao da avó paterna

Ela era constituída de maneira que fazia com o olhar o que ela fazia com a voz. O olhar dela era enormemente matizado. E ela tinha expressões de afeto, de carinho, de reflexão, uma porção de expressões ela tinha, que eram expressões assim que variavam, tinham todas as doçuras; como de vez em quando ela queria saber, ela perguntava, sem nada de bruto nem nada de cortante, mas ela queria saber.

Eu encontro esse tipo de olhar dela, eu encontro uma certa analogia com uma pessoa de quem ela descende e que foi, ao que me parece muito boa, que é a mãe do pai dela. O olhar tem alguma coisa do olhar dela, de certos olhares dela, a fixidez e a seriedade, tem alguma coisa de certos olhares dela. Certos momentos dela olhar de frente e considerar, tinha algo disso.

Mas isso é um dos olhares. No fundo, é um olhar que está pensativo. Está tirando uma fotografia, ela sabe que está sendo fotografada, está até tomando atitude perante o fotógrafo, mas o espírito dela está em outra coisa, enormemente maior do que a fotografia em que ela está pensando.

* O vôo de alma que se percebe pelo olhar

Ali, por exemplo, você vê uma intensidade de pensamento, uma capacidade de concentrar atenção em pontos impalpáveis e intangíveis que é extraordinária. Dentro do porte de uma senhora, digo, dentro do porte intelectual de uma senhora média — é o que ela tinha — em certa zona da alma dela, no que toca com certeza à piedade e às coisas sobrenaturais, nesse sentido ela tinha um vôo de alma muito grande e muito bonito.

Tudo quanto ela dizia, aliás, era tudo medido, lógico e calmo, muito, muito!

(Sr. Guerreiro Dantas: Essa claridade então…)

É bem a palavra claridade, era uma espécie de lumen de lucidez, de luz interior, que ela possuía, e que sob outras formas se sentia na presença dela, em muitas ocasiões, etc., sentia‑se isso assim.

(Sr. Guerreiro Dantas: Se percebia muito isso na menina dos olhos dela.)

É isso, é isso!

(…)

A coisa está a pique de passar, mas não considero radicalmente irremediável, no seguinte sentido: eu acho que ainda alguma coisa se poderá talvez fazer. Eu duvido muito de que isso não seja um mero adiamento. Que depois a evolução das mesmas pessoas, dentro de algum tempo dá nisso.

(Major Poli: E cada vez menos possibilidade de resgatá‑las.)

Exatamente. Cada vez menos.

(Sr. Guerreiro Dantas: O senhor chegou a falar que essa situação transposta, não teríamos nem voz nem vez. Donde se diria o seguinte, que…)

(…)

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