Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) –
14/6/1980 – Sábado [RSN 009 e AC III 80/06.07-08] –
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Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar) — 14/6/1980 — Sábado [RSN 009 e AC III 80/06.07-08]
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O mundo se divide em áreas de cultura, civilização e relações,
formando matizes, vivendo numa inter-relação que aos olhos de Deus está num constante reluzir, e faz daquela área de relações humanas um todo * Discernir o movimento geral é muito mais nobre do que ver as partes * Há certas realidades, evocadas por figuras simbólicas, que as palavras não conseguem exprimir * O mundo dos símbolos é um pouco o prenúncio do Céu empíreo na terra * O não viver nessa clave dos símbolos dá toda espécie de desencaixes, nervosismos e desesperos * Se entrássemos na clave dos símbolos e irradiássemos essa mentalidade, o trabalho do demônio mantenedor se tornaria impossível * Os temas mitos e os temas metas * O nosso choque com o catacumbalismo é que este afirma que a era dos mitos passou e entrou a era das metas
* Dificuldades para a compreensão das metáforas na Reunião de Recortes
… bem pego, par aonde vai é o Grand‑Retour. Bem pego é para onde vai. Portanto, uma coisa de um alcance, uma importância…
(Sr. Átila: Há pessoas que viram o mar, mas têm dificuldade de chegar até ele. Outras nem viram o mar ainda. Então a dificuldade está em primeiro ver o mar.)
Claro, claro, em conseguir acertar a vista para ver o mar. E esta é a dificuldade prévia.
Quer dizer, muita gente que está lá, eu acho que está no seguinte estado de espírito: eles sentem o vazio que deixou na alma a extirpação disto, mas ainda não chegam a reconstituir a figura do que eles extirparam.
Mas a questão é que o sentir o vazio, com um bom desenvolvimento, é o grosso das condições necessárias. Porque o indivíduo sentindo o vazio, ele acaba recompondo a coisa. O difícil é quando ele está tão cego, que ele não sente o vazio e até tem birra da idéia de sentir o vazio, de que existe esse vazio. Porque há os que não sentem o vazio e há outros que, a gente falando, ficam até embirrados.
(…)
… falando diretamente, pessoalmente, etc., mas não vou cortar o caminho por causa disso. Terei todas as paciências, atenções, tudo que eu possa saber e que eu seja ajudado a ter, eu terei. Mas não vou emperrar a caminhada geral por causa disso, até lá não vai. Ou, se for, é de vez em quando, num ponto, mas com muito cuidado. Fora disso não vai.
Agora, a dificuldade que eu me pergunto se se porá ou não é a seguinte: por exemplo, aquela imagem, se a gente for tomar em termos do MNF, for tomar a questão da França de champanhe, viver dentro do champanhe, o Saint-Simon dentro do champanhe, aquela imagem até que ponto é válida para muitos, até que ponto é válida para todos?
Primeiro, ao ler o Saint-Simon. Quer dizer, eles verão o Saint-Simon assim?
Agora, segunda pergunta, que também tem muito grande alcance, eles verão assim a champanhe?
(Sr. Átila: [ …] Em vez de eles irem à fonte, não vão.)
É verdade. Usando eu ali uma metáfora com coisas que eles não conhecem, você acha que eles chegam a pegar algo?
(Sr. Fernando Antúnez: Sim, sim.)
(Sr. Átila: Ninguém vai ler…)
Ah não, ninguém vai ler o Saint-Simon, isto é certo.
Eu acho outra coisa: alguns são capazes de se porem a ler Saint-Simon para ver como é à vista disto.
* Como simbolizar a impressão causada pelo aparecimento da Margareth Tatcher na Inglaterra
Mas eu acho que é fácil, apesar de tudo, a gente arranjar uma simbologia, uma terminologia, é mais delicado fazer sentir os acontecimentos contemporâneos.
(Sr. Guerreiro: É mais delicado fazer sentir?…)
Os acontecimentos contemporâneos.
Por exemplo, aquela Margareth Tatcher, que é presidente do Conselho de Ministros da Inglaterra, como eu simbolizaria a impressão que me causa o fato de sobre a Inglaterra podre — de fato, não em ruínas materiais, mas em ruínas de poder político, de poder econômico, de prestígio, etc. — aparecer uma mulher daquelas que é robustamente conservadora, quer dizer, é conservadora com firmeza, com ufania de ser conservadora, com ares de um conservantismo moço, empreendedor e desinibido. E ainda que ela faça um governo com concessões socialistas, alguém já me disse que ela já fez concessões socialistas, ainda que ela os faça, o fato psicológico fica que para a maior parte dessas pessoas o jeito dela impressiona mais de modo desfavorável à Revolução do que as concessões socialistas podem impressionar de modo favorável.
Então, independente disto, ela tem o jeito dela e o jeito dela projeta uma certa imagem.
Bem. essa é uma pergunta, um ponto de partida para uma pergunta para uma pergunta que estaria muito mais na linha do que eu falei hoje, do que analisar — o que nós faríamos numa Reunião de Recortes comum — um decreto dela qualquer socialista para concluir que ela é falsa-direita.
Porque, que ela é falsa direita nós já sabemos, porque basta existir e ser da direita para saber que é falsa-direita. Ela não teria chegado a este cargo se não fosse falsa-direita. Portanto, para nós isto não dá nada de novo. Seria uma coisa boa para um novato, para o tempo que nós éramos novos na Reunião de Recortes essas era notícias que tinham sua importância. Mas para nós hoje é uma confirmação do que estava ultraprevisto, sabido, analisado, não é matéria que dê vida a uma Reunião de Recortes.
Agora, uma pergunta destas pode dar ponto de partida no seguinte ponto — vamos tentar fazer a pergunta: se puseram a ela lá fazendo esse papel, é porque existe uma apetência disto que se trata de satisfazer e de desviar, satisfazer e aniquilar.
Bem, como é que se explica que na Inglaterra, arfando com todas as asmas, bronquites e pneumonias que se possa imaginar, apareça este sintoma de saúde? E agora vem a pergunta: que colorido tem esse sintoma de saúde, a que formas sensíveis corresponde? Pergunta mais alta: qual é esse matiz da alma inglesa que ainda resiste? Pergunta mais alta: como é que esse matiz se compões dentro de todo o jogo de matiz nesta matéria do mundo contemporâneo? Pergunta ainda mais alta: na transesfera, na presença de Deus o que é que isto significa como luta entre anjos e demônios?
Quer dizer, aí seria simplificadamente o roteiro da pergunta. Mas essas perguntas seriam muito mais importante do que as perguntas que os jornais dão. Muito mais importante.
Bem, isto visto de um lado. A gente poderia ver ainda mais alto.
Dado a Bagarre como está, o século XX como ele é neste seu declínio, o jogo das almas e dos matizes nesse declínio, esse episódio que papel representa na transesfera como supremo jogo e com que figuras imponderáveis exprimir isto?
(Sr. Poli: O senhor poderia repetir esta última impostação?)
É o seguinte: dado não mais o jogo de matiz do mundo atual, mas na história geral da Revolução como ela está, nas linhas gerais — você imagine um sismógrafo da Revolução que vai registrando os abalos, etc. — qual é o significado que tem este sintoma? Sintoma como fato atual e fato futuro? Com repercussão, inclusive na transesfera?
* O mundo se divide em áreas de cultura, civilização e relações, formando matizes, vivendo numa inter-relação que aos olhos de Deus está num constante reluzir, e faz daquela área de relações humanas um todo
E isto é que uma vez eu tive uma conversa com o Caio, foi pouco antes de ele partir para a Europa, em que eu mostrei para ele que este era o sentido último. Mas eu pus com outras figuras, em outros tons e outros propósitos, atendendo à psicologia do Caio e a questões que ele pôs. Ele pôs questões que corriam mais na linha seguinte… ele não me fez assim a pergunta com este pontiagudo com que vou formular, ele fez a pergunta muito filialmente, muito amistosamente, eu vou fazer a pergunta pontiaguda. A pergunta acaba sendo esta: se a vida espiritual é admitida como deve ser, como centro do acontecer humano, porque são as nossas relações homem-Deus, então não seria preciso fazer uma Reunião de Recortes que tivesse como centro o discernimento das vidas espirituais tomadas em seu conjunto?
Aí é preciso dar à palavra “vida espiritual” o sentido largo que nós estamos dando e aí responder pela afirmativa.
Mas então essa influência da transesfera como resultante de um dinamismo de almas, etc., paira sobre a coisa como o arco-íris paira sobre o panorama e ficou valendo como arco-íris na nossa linguagem na correspondência dele.
Uma seria uma concepção arco-íris, se quiser, da História, das situações, etc.
(Sr. Fernando Antúnez: Poderia falar um pouquinho sobre arco-íris?)
Posso se me lembrarem, porque a coisa leva um pouquinho de tempo. Se me lembrarem logo depois das orações feito à Sagrada Imagem, com muito gosto.
Mas uma imagem um pouco diferente que serve melhor à amplidão do tema — o arco-íris valia muito para aquela ocasião, aquela temática como foi abordada, etc. — tem o seguinte:
O mundo não se divide propriamente em continentes. Ele se divide em áreas de cultura, de civilização e de relações. De maneira que, por exemplo, vamos dizer, a distância que, por exemplo, vai do Chile à China é muito maior do ponto de vista psy do que do ponto de vista geográfico. Olha que do ponto de vista geográfico é imensa, são duas partes do Pacífico. China e México podia ser também, são duas partes do Pacífico. Mas a diferença de polos mentais, etc., faz com que o Chile viva da transvida psicológica da Europa, e vamos dizer que chegue a ter relações até com os Urais, pode de proche en proche, pode ter relações até com os Urais. Não tem com a China, é outro mundo.
E formam assim zonas de convívio de almas ou enormes sociedades de almas feitas de um mundo de matizes ainda quando as sociedades funcionem bem. Não vamos imaginar funcionando mal por enquanto.
Ainda funcionando bem, forma um mundo de matizes, ou um mundo de cores se quiser, que estão constantemente numa certa variedade de matizes, ora mais claro, ora para mais escuro. E estão vivendo numa inter-relação tal que o florescimento de uma cor não pode deixar de produzir um efeito favorável ao florescimento de todas as outras cores. Eu não quero dizer decisivo, eu quero dizer favorável. Como também o fenecimento de uma cor produz um efeito análogo a todas as outras cores. Não é decisivo, mas é desfavorável.
E isso aos olhos de Deus está constantemente num reluzir, num acender e apagar, que faz daquela área da relações humanas um todo, que é como se fosse um pequeno universo, e não tão pequeno universo.
Agora, nesse todo e à vista da conduta desse todo, no qual também a ação da graça e do demônio tem a importância que nós sabemos, é a vista deste inter-relacionamento que os anjos e santos pedem. Os demônios, a seu modo, não são capazes de uma oração, mas eles fazem desafios a Deus, pedem coisas a Deus, Deus tem relação com eles. Essa idéia de um muro de silêncio completo entre Deus e o demônio é expressamente contrário à Escritura.
Por exemplo, aqueles demônios que atormentavam não sei quem lá na Terra Santa e que Nosso Senhor expulsou, pediram para entrar numa vara de porcos que estava lá e foram correndo para dentro do lago.
Quer dizer, eles fizeram um pedido e foram atendidos no pedido deles. O demônio fez um desafio a Deus a respeito de Job e daí para a frente.
Então há a outros títulos sobre esse jogo de cores um inter-relacionamento de outros fatores, e é esse conjunto que Nossa Senhora como Imperatriz do universo julga e governa, como representativa ou expressiva dos maiores esplendores que Deus quer fazer conhecer aos homens, porque é na sua maior justiça e ao mesmo tempo na sua maior misericórdia que Ela atua e governa, representando não o que há de mais perfeito em Deus, porque em Deus tudo é igualmente perfeito, mas o que d’Ele Ele quer apresentar de mais perfeito aos homens, Ele apresenta por meio d’Ela. Esta seria a idéia para exprimir.
* Discernir o movimento geral é muito mais nobre do que ver as partes
Agora, dentro de cada coisa destas nós somos um alvéolo, mas não somos alvéolos iguais. Uns podem ter uma influência decisiva na colmeia inteira, outros pelo contrário podem não ter. E há duas espécies de influências aí: é a influência dos homens que se destacam da massa e por isto a levam, e dos homens que têm uma tal homogeneidade com a massa que, por fazerem parte dela requintadamente, a levam. Estes não se destacam dela, a requintam, mas ficam dentro dela e exercem sobre ela uma força horizontal, enquanto os outros podem exercer uma força perpendicular.
(Sr. Poli: Essas duas posições são legítimas.)
São, são. Podem ser usadas para o bem ou para o mal, mas são, igualmente nobres. Mas são legítimas.
E eu acho que neste jogo de coloridos, o homem também tem meios de conhecer através de certos sintomas. É uma consonância dele com o que Deus conhece, que dá a ele umas certas noções a respeito do curso das coisas, que não são revelações. Podem ser facilitadas pelo discernimento dos espíritos.
Eu tenho a impressão que a mais nobre forma de discernimento dos espíritos não é discernir o espírito neste ou naquele, é discernir este movimento geral, esta situação geral, porque ver o todo é muito mais nobre do que ver a parte. Então esta é a forma mais nobre de discernimento dos espíritos, seria essa.
* Há certas realidades, evocadas por figuras simbólicas, que as palavras não conseguem exprimir
Agora, como é que isso se apresenta à mente humana?
Vamos dizer, por exemplo, que eu veja a Sagrada Imagem. A noção que eu tenho de imagem se completa quando no meu espírito vem a palavra “imagem”. Se bem que eu não a pronuncie, a palavra me é necessária para acabar a noção interna. Ou se ela não é necessária — eu acho que é, mas se ela não é —, ela é pelo menos tão conveniente, que um homem que não conhecesse nenhuma palavra, eu acho que ficava muito prejudicado na formação de suas próprias noções.
Agora, este gênero de conhecimento, por que palavra interna o homem a traduz?
Como a Revolução interrompeu toda interlocução sobre esse conhecimento, relegado ao canto como nós vimos hoje à tarde, não há palavras sensíveis, palavras dizíveis, articuláveis, que exprimam esse conhecimento. Mas ainda que existissem, elas não seriam suficientes para exprimir esse conhecimento. Elas são muito convenientes, talvez necessárias, mas não são suficientes.
(Sr. Átila: Para exprimir não, para evocar sim.)
Exatamente. Conforme se der o sentido a cada palavra, eu chamaria evocar mais manifestar a semelhança e definir, o exprimir mais o dar a definição ou quase isso.
(Sr. Átila: Por exemplo, a Oração da Restauração não define a zona que ela atinge, mas evoca.)
Evoca, exatamente. Ela evoca, ela não exprime.
Então, o espírito humano quando tem alguma noção dessas, escolhe símbolos mais ou menos felizes ou mais ou menos apropriados, mais ou menos ricos, mais ou menos profundos, depende aí de cada um, que evocam aquilo. E ainda que houvesse uma palavra para exprimir o que o símbolo evoca, sem o símbolo a percepção disto não estava perfeita. O que é diferente do meramente conceptual da mente humana, que a palavra…
(…)
(Dr. Edwaldo: O símbolo diz muito mais do que a palavra.)
Diz muito mais do que a palavra.
Engraçado o seguinte: que a palavra é muito mais uma moeda corrente, e o símbolo às vezes fica na intimidade mental de um homem para todo o sempre, mas de fato o símbolo é mais próximo da realidade do que a palavra por vários aspectos.
(Sr. Átila: O senhor chama símbolo um objeto concreto ou uma coisa que se imagina?)
Uma coisa que se imagina. O símbolo é designável por palavras, mas oque o símbolo significa não é exprimível por palavras.
Por exemplo, eu fiz um exercício disto intencional à tarde. Aquela imagem das massas de vento coloridas se conformando à maneira do estandarte, só me serviu para dizer uma porção de coisas que as palavras expressas não disseram. Introduziu porque disse uma porção de coisas que a simples palavra expressa não seria capaz de dizer.
Eu até fiz isso: eu primeiro exprimi através do estandarte o que a palavra pode dizer, e depois a mesma coisa eu evoquei pela figura já imaginária das massas de vento coloridas. Mas dei muito mais realidade a uma certa coisa por meio disso que é inexistente, as massas de vento coloridas, do que referindo-me às coisas existentes, que são os estandartes, movimento dos estandartes.
(Sr. Fernando Antúnez: Quando o senhor falou das massas de vento coloridas entrou uma graça.)
A graça visita estas coisas freqüentemente. Foi uma graça que fez sentir em que clave eu estava querendo falar, e ajudou a interpretação do resto, porque é a elevação para dentro de uma clave.
* O mundo dos símbolos é um pouco o prenúncio do Céu empíreo na terra
Agora, eu acho que com critério, sem megalice, quer dizer, sem pátio — em última análise é onde eu quero chegar — e com o respeito devido a esses temas, porque tratar esses temas de chanchada, etc., toca no tomar o santo nome de Deus em vão. Porque são temas que de um modo tão augusto falam de Deus, que roça no tomar o nome d’Ele em vão fazer brincadeira a esse respeito, dar apelido a um indivíduo a esse respeito, ou tratar da coisa para se exibir e não com verdadeiro desejo de a conhecer. Tudo isto eu creio que toca no segundo mandamento.
(Sr. Átila: Sobretudo quando são os medíocres que começam a falar, como se estivessem vendo.)
Infelizmente é verdade, infelizmente é verdade. Eu vou te dizer: o mais quadrado dos quadrados não ofende o tema como o zurro de um ridículo… não ofende não está bem, não atrapalha a exposição de uma tema como o zurro de um medíocre.
(Sr. Átila: E eles a primeira coisa que fazem é entrar no partido certo.)
Isto é certo, são as habilidades da mediocridade.
(Sr. Átila: …)
Eu tenho a certeza que há uma porção de medíocres que já estão arranjando um jeito de bancar o planador nesses céus. Isto eu tenho certeza.
Agora, eu volto a dizer que tenho a certeza, que aproveitando bem as ocasiões, as horas da graça, etc., nós podemos, com o auxílio de Nossa Senhora, fazer disto um habitat comum do nosso espírito e um terreno da nossa convivência. E até pregar muitas surpresas a muita gente, porque nesse clima se revelará uma coisa curiosa: que muitos sujeitos que passam por quadrados ou por bobos — o quadrado não é o bobo, são coisas distintas —, o são por superação. Porque eles vivem com o espírito tão posto nessa esfera, que eles ficam meio gauches para tratar da esfera inferior. Então o medíocre que se sente por algum lado surpassé ri dele: “Olha como ele pega torto no garfo”. Mas ele de fato pegou torto no garfo porque estava fazendo uma alta cogitação.
E é a hora de Marta chamar Maria de ociosa.
Tudo isto tem muitas nuances, tem muitas…
Depois, o político. O político acaba sendo muito mais o que vê essa zona e percebe o que está se passando, do que o que acompanha minuciosamente o plano do Maluf para fundar uma capital para São Paulo ou não. São coisas diferentes.
A tabela da classificação dos espíritos corrente, comum, precisaria passar por umas retificações. E nós passando a ser os únicos que conversam e vivem nesta clave, isto seria para nós muito mais autenticamente um êremo e uma camáldula, do que um êremo e uma camáldula materiais. Mas eu digo mais: esse mundo dos símbolos assim é um pouco do prenúncio do Céu empíreo na terra.
Note que não é diretamente o sétimo Céu, é o Céu empíreo.
E se a Igreja é a maior figura do sétimo Céu, a Cristandade é a melhor figura do Céu empíreo, e nós somos os habitantes e os filhos da Igreja, os habitantes e soldados da Cristandade. É evidente. E haveria aí toda uma…
Agora, se essa graça nos tocar, não só o relacionamento entre nós muda muito, porque acaba o resto sendo totalmente secundário, mas dá-se uma outra coisa. É que os outros sentirão em nós essa transformação que houve, porque isto traz uma transformação.
* O não viver nessa clave dos símbolos dá toda espécie de desencaixes, nervosismos e desesperos
(Sr. Fernando Antúnez: …)
Eu conheço por experiência própria o mal-estar de uma alma cheia de coisas destas não tendo a quem comunicá-las. Agora, vocês conhecem uma outra forma de mal-estar: é ter a alma cheia de coisas destas, muitas vezes alguns não terão com quem comunicar (isto é mais ou menos o meu caso), outros não, sentem uma porção de coisas destas por nascer dentro da alma, que morrem antes de ter tido nascimento, que formam figuras imprecisas, que gemem dentro da alma sem ter nascido e que formam o mal-estar que haveria na terra se ela tivesse mil raízes crescendo, mas que não sobem. Seria uma convulsão naquela superfície da terra a mais desagradável de imaginar, que se possa imaginar.
E eu creio que uma parte do nervosismo de hoje vem disso. Vem de desordens na alma posta por esse engarrafamento posto pela Revolução.
(Sr. Átila: O senhor não deve ter ido muito a cinema.)
Naqueles infelizes tempos fui muito, naqueles tempos vão longe…
(Sr. Átila: […] Prisioneiros dentro de uma masmorra de onde se ouvem sairem gemidos.)
É exatamente como eu acho que o fenômeno deve ser descrito e que me parece discernir de vez em quando, com algumas sensações, por exemplo, de não se encaixar em nada. Porque realmente uma pessoa que está reduzida a um suplício assim, o encaixe verdadeiro não encontra em nada. Porque ou o encaixe se dá nesta zona, ou não há encaixe.
O que é encaixe?
“Fulano é meu amigo, tem relações muito cordiais comigo”.
Mas em que superfície se dá essa cordialidade? É uma coisa tal que não é nada!
(Dr. Edwaldo: Frustração e angústia permanente.)
Exatamente.
Eu ouvi você dizer uma coisa… a gente não ouvindo bem, às vezes sai coisa engraçada. Eu ouvi você dizer o que teria sido um erro horroroso e fiquei assustado: a solução é a música. Eu pensei: “Puxa, mas ele está nessa base?” [Risos]
Embora esses melomaníacos de hoje procurem um pouco a saída na música, mas de fato seria uma jogada tão errada ir por aí, que era de dar susto, tinha que começar toda a conversa de novo.
Bom, tocando a coisa para a frente, com isto que você diz, não pode deixar de dar de vez em quando paroxismos de desespero: “Eu não sinto para o que é que eu sirvo, no que é que me encaixo, o que eu sou”, etc.
E eu tenho a impressão que sopram dois demônios — aí já é o mundo negro, é o mundo que não tem direito de existir oficialmente, mas que é o que é mais freqüente hoje, porque é o estado habitual das almas. De vez em quando vem o demônio da depressão e outras vezes vem o demônio da torcida: “Agora vou encontrar uma fórmula que resolve tudo nesse cárcere imenso onde se move figuras indefinidas. Se eu conseguir, por exemplo, agora o cargo de diretor do observatório astronômico, eu vou poder ver no céu estas coisas assim e resolve todo o problema”.
Então a torcida para resolver o problema, com uma torcida somada de todos os encarcerados para poder sair do cárcere. Ao cabo de cinco dias o observatório não resolveu, o sujeito abandona o cargo, zupa o observatório, não sei o que ele faz, faz uma loucura qualquer.
(Dr. Edwaldo: Existe uma doença que é isso, psicose-maníaco-depressiva. A pessoa está numa fase maníaca de excitação e procurando algo nessa linha, ou então está numa baixa profunda…)
Eu já tenho ouvido falar em maníaco-depressivo, mas tinha interpretado mal a fórmula. Mas eu vejo bem que ela é muito adequada, com o sentido que ela tem é muito adequada para isso. A torcida-depressão, mas feita pelo demônio. Aí o resto.
E se quiserem chegar bem até o fim, eu digo o seguinte: esta situação torna…
(…)
… quer arranjar um jeito por onde por uma deterioração moral profunda — eu digo moral, mas incluo mental — o sujeito caia tanto e tanto, que ele fica insensível até mesmo a essa condição.
Porque os piores estertores do homem nestas condições ainda são vidas, porque o estertora quem é vivo. Mas há uma adaptação a essa condição que é morte, que é irrealizável pelo espírito humano sem uma ação preternatural. E a gente vê que onde o demônio mantenedor procura colocar o dedo dele é evitar que esta situação produzida por ele leve à explosão que ele não quer.
Mas quando nós queremos a Bagarre, é porque nós sentimos que assim não vai e que a coisa tem que explodir. É fatal, não tem conversa, isto é assim.
Isto levaria a um problema que interessa muito pouco a vocês, de maneira que eu aludo apenas a eles, é o seguinte: …
(…)
… ele odiava porque ele tinha algo cuja ressurreição ele queria evitar, ou ele odiava por odiar.
* Se entrássemos na clave dos símbolos e irradiássemos essa mentalidade, o trabalho do demônio mantenedor se tornaria impossível
(Sr. Átila: …)
O indiferente não odeia.
Quer dizer, a pergunta interessa para perguntar como revirar, se é que um homem desses revira, como ele se conduzirá na Bagarre, desde que nós imaginemos uma TFP renovada por esse sopro e vivendo nessa clave, como ele se portaria?
Eu termino aqui porque parece que o Guerreiro quer dizer uma palavrinha, mas notem bem: a força de impacto nossa consiste no fato de que eles imaginam que nós vivemos nessa clave mais do que vivemos.
Você disse “que bárbaro”, porque você sentiu que é verdade. É evidente.
E quanto mais nós vivermos nessa clave, mais eles compreendem que nós temos sobre eles um impacto tremendo. A nossa vitória consiste em entrarmos nessa clave por inteiro. Não há outro caminho.
Por exemplo, eu dou incomparavelmente mais importância a essa conversa do que à campanha de difusão do livro I, à qual eu dou tanta importância. Mas incomparavelmente, é até meio fora de clave, fora de clave.
(Dr. Átila: O livro é muito feito disso.)
É isso.
Agora, se com tão pouca base na realidade ele irradia tanto, eu pergunto como é que ele pode irradiar se nós entramos inteiramente nessa realidade? É uma coisa difícil de calcular.
E aí nós podemos nos perguntar, com todo fundamento, se o nós irradiarmos essa mentalidade inteiramente, não torna ela assim irreversível a obra do demônio mantenedor. Própria e diretamente seria isso.
(Sr. Átila: O problema está sendo de “pray war”.)
A pray war é um dos gomos da fruta, porque é uma coisa mais alta. É a oração, mas entendida essa oração como sendo este viver na presença de Deus, porque isto é o viver na presença de Deus. Eu acho que se pode demonstrar doutrinariamente que viver assim é levar vida de oração. É propriamente praticar dentro dessa escola toda a tese de D. Chautard “A Alma de Todo Apostolado”, porque isto é pray no melhor sentido da palavra, eu acho que nós estamos rezando. Nós rezamos hoje à tarde durante a reunião e estamos rezando agora. E na medida em que nós possuirmos esta vida, nós produziremos efeitos maravilhosos da vida interior que D. Chautard descreve tão bem.
Bem, a oração, a súplica é indispensável para isto, é evidente. Se quiserem, por algum lado é a espinha dorsal disto, etc. Enfim, aqui está a Sagrada Imagem. Mas é esta guerra assim que tornará o trabalho do demônio mantenedor impossível, é uma guerra entre aspas que tornará o trabalho do demônio mantenedor impossível.
Neste sentido, a graça de hoje, seguida da graça desta conversa que mostra até que ponto é possível entre nós conversar sobre isto, de fato pode abrir uma era nova para a vida do Grupo. Ou por outra, o Grupo passa da pré-história para a história.
(Sr. Átila: …)
Mas o problema é preparar condições prévias, para muitos de nós que estamos amortecidos nisto podermos acompanhar o assunto. É este o problema.
(Sr. Átila: …)
Seria, seria.
Até me passa pela cabeça uma coisa que seria como exercício… Não se pode fazer aqui à noite, mas eventualmente. É muito mafiável, o inconveniente é esse, do contrário seria um exercício para o qual haveria no momento todas as condições para se fazer um desenvolvimento destes. É o seguinte:
Eu creio que todos os que estão aqui se lembram que quando eu fui almoçar na “Folha” a primeira vez, um almoço em particular, quando eu disse ao Frias que nós aspirávamos a ser, de momento, uma componente da sociedade atual, ele me disse: “Eu não esperava isso. Eu achava que vocês queriam tomar o poder”.
Agora, o que é que há para o Frias achar que nós podemos ambicionar isso?
O que há nesse sentido, eu também tenho sentido reações de alguns outros nesta idéia, nesta linha, uns pressentimentos nessa linha.
Agora, de momento há três ou quatro…
(…)
… tem uma meta indispensável: é saber se no momento presente o livro I produz efeito e que efeito sobre quem. E isto se passa muito mais na linha dos recortes propriamente ditos e dos fatos, etc. É indispensável, não se navega sem isso.
* Os temas mitos e os temas metas
Agora, outra questão é o tema mito, que são as questões que decidem por décadas, não passo-a-passo. Isto seria… enfim, seria muito bom.
Mas dar com tanta naturalidade, que no começo de dar uma reunião dessas, até me ocorre de dá-la talvez sem gravador.
(Sr. Átila: Amanhã…)
É possível, é possível. Eu leio alguns recortes da semana, de modo inteiramente natural, alguns recortes na linha meta, depois digo: “Agora vou tratar de tal questão, pará-papá-papá. Acabou, está terminada a reunião”. E nós teríamos feito o primeiro vôo dentro dos céus do mito. Aí nós passamos um telegrama, um grafonema para o Carlos em Caracas dizendo…
(Sr. Carlos Antúnez: Quem viu, viu; quem não viu, não viu) [Risos]
Ahahaha!
(…)
… com providências dessa natureza, das quais eu gosto muito para os temas meta, mas não para os temas mitos. Os temas mitos se difundem como o imperialismo da mancha de azeite, dos odores. Vai…
(Sr. –: Mas não cercear como está cerceada a coisa.)
O que você quereria propriamente era outra coisa. Era que eu interviesse no campo meta para que os homens que se movem no campo meta não atrapalhassem a expansão do mito. E eu tenho a impressão que, à maneira excepcional, de vez em quando se pode fazer uma coisa assim, mas que a força do mito consiste em derrubar estas coisas sem que a gente tenha que dar um peteleco.
Que é, meu major? Pode me crer, eu sou muito amigo dos petelecos, e mais ainda…
(…)
… ele de fato confessa que entrou no seu outono. Quando ele está na sua primavera, ele não precisa pintar de amarelo as folhas para que elas sequem. A primavera está mal escolhida. Quando ele entra no outono ele não precisa pintar de amarelo as folhas para que elas sequem. Há um jogo geral de circunstâncias que seca as folhas e elas ficam amarelas. Na linha climatérica algo de supremo se passou.
Assim também a entrada dos mitos e o declínio ou ocaso dos mitos.
Neste sentido, eu devo dizer que acho a Inquisição uma coisa indispensável, mas uma coisa que se tiver que se hipertrofiar é um sintoma da fraqueza e de morte. Câmara de recuperação.
* O nosso choque com o catacumbalismo é que este afirma que a era dos mitos passou e entrou a era das metas
Para terminar, eu queria dizer o seguinte: deturpa e conspurca esta doutrina o catacumbalismo, que dá a entender que a era dos mitos passou e entrou a era das metas. Em uma futura era os mitos voltarão e que durante esse tempo os cultores do mito terão que viver na catacumba.
(Sr. Átila: É o miserabilismo dos mitos.)
É o miserabilismo dos mitos, exatamente. E nós achamos o contrário, que com a Redenção infinitamente preciosa de Nosso Senhor, acabou a era das meras metas e que Ele ficou pairando como uma realidade absoluta, eterna e incomovível, até o fim do mundo e por todos os séculos dos séculos. Portanto, admitir essa rotação da mitologia era admitir um sentido bissexto da Redenção para o grosso dos homens e, portanto, não pode ser aceito.
E, propriamente, eu encontro agora o ponto onde nós entramos em choque com o catacumbalismo. É esse.
(Sr. Guerreiro: E tem que ser cada vez mais alto, cada vez mais alto.)
Cada vez mais alto. É o contrário: quanto mais — como Nosso Senhor na Paixão — desfigurado mais sublime.
Nós comentávamos no automóvel aquelas palavras d’Ele no fim: “Deus, Deus meus quare me reliquisti”. É o expirar, mas com uma beleza nesta ordem… E depois “et inclinatus capitae, flavit espiritus — tendo inclinado a cabeça deitou o seu espírito”. Silêncio… augusto… divino… não se tem o que dizer. Depois esse “Deus, Deus meus”… a gente não tem uma… a gente se arrepia logo de cara e de uma vez.
Mas quando o homem-Deus disse isso, virem me contar que há ciclos em que a humanidade sai desta luz!… São João diz o contrário: as trevas não conseguiram circunscrever, não conseguiram abarcar a luz, não serviu de campânula em cima da luz. Agora, como que vem com esta história?
Aqui está o nosso irredutível anticatacumbalismo, antimozarabismo e tudo o mais que queiram.
(Dr. Edwaldo: Ainda nas catacumbas o espírito tinha que ser este.)
Claro, mas é claro. Eles viviam na esperança. Mais ainda: o número crescente de pessoas que entrava, apesar das perseguições, era o sinal de que a luz estava esmagando as trevas, é uma coisa completamente diversa.
Meus caros, o que nós podemos fazer?
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