Conversa
de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar - 1:15 h.) –
30/6/1979 – Sábado [Jaqueta AC – 404]
(Datilografado por: Flavio Lorente) – p.
Conversa de Sábado à Noite (Alagoas, 1º andar - 1:15 h.) — 30/6/1979 — Sábado [Jaqueta AC — 404] (Datilografado por: Flavio Lorente)
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...aí o que [é] que é amor e o que [é] que é ódio!? Porque quando cai, exatamente do nosso lado... [trecho apagado no microfilme] ...amor, mas que é?
Agora, é curioso o seguinte: na medida em que nós nos convencermos mais da tese de hoje à tarde — [Reunião de Recortes] — mais nós teremos homogeneidades um com os outros, porque a nossa heterogeneidade nasce de pedúnculos que cada um tem nessa ilusão. E que faz com que naturalmente não tope com o outro!
E isso por assim dizer, encapsula todas debaixo do manto de Nossa Senhora. Pareceu-me de um alcance extraordinário. O problema é conseguir que o nosso José Lúcio obtenha toda aquela documentação e ver se a gente faz um verdadeiro serviço de detectar toda espécie de dados.
É preciso organizar com base nesse recorte — [notícia a respeito dos crimes nos meios familiares dos Estados Unidos] — uma verdadeira burocracia, quer dizer, até se for possível haver gente especial que escreva cartas, etc., fazer uma caçada!
(Sr. –: No Japão está havendo uma crise de suicídios de crianças.)
É verdade, lembre-me. Eu mandei para o arquivo geral...
([Sr. Átila Sinke Guimarães comentou que se continuar assim o mundo se autodestrói. Aí é Deus que se ri deles e deixa que se destruam friamente, implosivamente. Mas o demônio ri de nós porque nós ficamos de braços cruzados vendo o próprio demônio castigar o mundo até que bate um sininho e começa o Reino de Maria.])
([Sr. Fernando Antúnez Aldunate dizia que não se pode considerar castigo de Deus para o mundo isto, porque isto eles querem e o castigo tem que ser indesejável.])
Aqui é verdade até certo ponto. Porque quando a pessoa é levada por punição a desejar o seu próprio mal e se aniquila a si mesma, o querer o seu próprio mal é um castigo metafisicamente, ontologicamente contra ela própria. E isso é um castigo. É mais ou menos como, por exemplo, certos tipos a quem Deus permite, para castigá-lo, que ele fique masoquista. Eles querem apanhar, mas aquelas palmas que eles levam é um castigo que...
Mas no seu caso — [Átila Guimarães] — tem pressupostos de bom-senso e por causa disso um pressuposto não exato, que é que essa ordem de coisas, por ser a extinção da família, etc., representa a implosão que nós pensamos.
São dois pressupostos: um é esse. Outro vou tratar daqui a pouco.
Quanto à implosão, a questão é propriamente diferente. O demônio deve perguntar-se... ele deve saber... vamos dizer a coisa assim: que pela superioridade da natureza angélica que ele possui sobre a natureza humana, ele tem um poder sobre a natureza humana estando ele presente, por onde ele pode conseguir que os homens convivam e existam de um modo contraditório com a própria natureza. Isso porque ele está ali presente.
Então, vamos dizer, uma desgraça coletiva onde 50 milhões de pessoas se matariam no sistema que você está descrevendo, ele pode perfeitamente criar condições por onde essas pessoas não queiram matar-se, porque ele comunica um certo deleite preternatural que leva as pessoas a querer continuar a gozar. E para isto organiza uma vida que seria inviável, a não ser em vista desse estímulo interno e desse deleite com que ele entra.
Então a questão se desloca para esse lado:
1º) se ele podendo liquidar a humanidade preferiria estabelecer o reino sobre ela. Descrito o reino dele como acabo de descrever, quer dizer, uma coisa que se mantém contra toda a ordem natural pela ação da presença dele. Se… [trecho apagado no microfilme] …se isto é o que é ad maiorem Dei injuriam. Ou:
[2º)] permitir que a humanidade se destrua.
Então eu creio que se é verdade que ad maiorem Dei injuriam é melhor que a humanidade subsista, pelo menos por mais algum tempo. Então eu creio que ele prepara um reino artificial com todas as possibilidades de que as pessoas até se matem. Mas em que por abismos insuspeitáveis a coisa vai rolando e caindo até pontos que a gente ainda não supõe. Porque ninguém pode imaginar bem até que ponto vai o poder dele e ele nesse caso gostaria de chegar até o limite do próprio poder para injuriar a Deus.
Outro dado é o seguinte: nós temos falado muito de sorriso de Yalta e de enervação — no sentido de extirpação do nervo — da cólera humana, etc. Mas porque não se pode tratar de tudo ao mesmo tempo, eu não tenho dito uma coisa que é verdadeira que é a seguinte: sempre que no homem se faz oblação de um movimento de alma natural e legítimo, esse movimento de alma de fato é colado na aparência, na realidade ele vai se acumulando. E esses sorrisos de… [trecho apagado no microfilme] …das cordialidades farisaicas, etc., acumulam cargas de ódio fenomenais, sedentas de descarregarem na primeira ocasião.
Então, por exemplo, a douceur de vivre anterior à Revolução Francesa — que tinha muito do artificial, de pagão e muito irreal —, ela foi acumulando os ódios que explodiram na Revolução Francesa. Quer dizer, nesses ódios nasceram em grande parte daquela douceur: gentileza pra cá, salamaleque pra lá, não sei mais o quê! Chega em determinado momento o precito mete um murro na mesa, dá um pontapé no lustre e liquida tudo.
De maneira que nós temos aqui uma carga de ódio que vai crescendo até o inimaginável. De que, aliás, tivemos na reunião de hoje à tarde uma expressão característica.
Agora, dentro dessa situação, admitido que o demônio queira chegar até os confins do seu próprio poder para desafiar a Deus, o problema é saber até que ponto Deus permitirá que ele chegue nessa trajetória. Porque é certo… [há um borrão de tinta na página microfilmada] …em certo momento lhe cortará o passo. E que, nesse… [há um borrão de tinta na página microfilmada] …passo, a vingança de Deus não é uma autodestruição, mas… [há um borrão de tinta na página microfilmada] …coisa mais profunda, que é um castigo mais terrível do que o que você imaginou e que seria um castigo próprio a um pecado… [trecho apagado no microfilme] …que é um pecado da adoração de demônio. Então, seria propriamente o esmagamento imaginado.
É certo que se ele chegasse no extremo limite do seu poder, ele próprio se esmagaria a si mesmo.
(Sr. –: Pareceria que Deus está deixando o demônio cavalgar a vontade, porque vai se sumir a si mesmo. Quando chega ao termo, destrói-se, como um incêndio.)
É. Isto seria uma obra de Deus se Ele tivesse disposto a permitir o extermínio da humanidade.
Agora, eu creio que Ele tendo suscitado justos que não estão de acordo com isso, e que resistem. Ele, por aí, prova que Ele não quer consentir por hora nesse extermínio da humanidade e que, portanto, haverá um determinado momento em que Ele de fato quererá o caminho. Quer dizer, eu acho que nós impedimos, pelo fato de sermos…
(…)
…é preciso tomar em consideração algumas coisas…
(…)
…o mundo vai ser um episódio da vida terrena, para eles, não vai ser um episódio em que entre de permeio a vida eterna. E eles são co-juízes com Deus e é um título muito especial. Isso, aliás, está em São Tomás, etc. E isto explica que os justos prefigurativos do fim do mundo, de fato vençam e reinem. Quer dizer, lutem, vençam e reinem.
Eu diria o seguinte:
Há uns dez anos atrás, mais ou menos, eu dizia: “Prova-prova de que vem a Bagarre nós só temos as profecias de Fátima. O resto são argumentos de probabilidade magníficos, muito impressionantes, etc., mas [eles] não são uma prova. Prova-prova é Fátima!”.
Agora, nós entendíamos como Bagarre a aniquilação do adversário, mas entendíamos…
(…)
…na vinculação com nossa participação. A promessa de Fátima não contém a promessa de nossa participação. Pelo que se conhece.
(Sr. –: Walsh diz que Jacinta ficava longo tempo pensando e perguntada dizia: “Eu gosto de pensar neles. Gosto muito de pensar neles e no papel que eles terão”.)
A verdade… [trecho apagado no microfilme] …o seguinte que você diz isso, eu li e não me lembrei de pensar em nós. Mas é impressionante. Aliás, é muito oportuno lembrar, e eu gostaria que você me lembrasse de conversar com o [BM – Borelli Machado?] para incluir isso nas próximas edições daquele folheto de Fátima. Porque isso somado às revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso tem uma importância muito ponderável, de um lado.
Agora, eu queria virar a coisa de outro lado. Eu estava dizendo, então, que a certeza de nossa participação vem de que o nosso papel se tornou com o tempo muito definido do que era há dez anos. E eu digo isso aí não só pela nossa ação externa, mas pelo que tem sido as graças do MNF, de nossas conversas. São graças tão manifestamente graças e que acumularam um tal valor de coisas, que não é possível que isso seja destinado a desaparecer como uma água que entra pela areia [a que é?] [em] um rio que se torna subterrâneo. Não é possível! E que caracteriza, portanto, a nossa luta e nossa missão, mas esta missão cumprida tem como postulado que nós co-lutamos, co-julgamos, co-reinemos.
(Sr. –: A promessa da imortalidade da Igreja não pede que Ela, sendo viva, tendo energia, combata e suplante o mal?)
É, mas aí se podia fazer uma objeção dentro da lógica da problemática posta pelo Átila. É que nós seríamos fiéis e num canto rezando muito direitinhos até a hora de sair com o turíbulo. Por que [é] que a promessa da indefectibilidade inclui algo mais do que o turíbulo?
(…)
…é o princípio axiológico que propriamente inclui isto…
(…)
Eu vou dar [numa?] [uma] comparação inteiramente diversa, mas que pega muito:
Vocês imaginem que por uma razão qualquer, Nossa Senhora desse… [trecho apagado no microfilme] …a mim, pessoalmente, na ordem da Contra-Revolução um grande triunfo. Eu não teria a consciência em paz enquanto não tivesse associado vocês a esse triunfo. Eu julgaria cometer uma vilania, uma… não teria minha consciência em paz, nem meu — para usar uma expressão um pouco romântica — coração não estaria em paz também, enquanto eu não tivesse associado.
(Sr. –: Consciência?)
Consciência no seguinte sentido: seja como for, se pensasse a meu respeito o que se quiser pensar, acabou sendo que pelo mínimo, do mínimo, do mínimo a TFP foi no caminho algo como Verônica foi para Nosso Senhor. E isso Ele premia. Isso é o mínimo!
Agora, isso se aplica também a Nossa Senhora conosco. Quer dizer, que o princípio axiológico dentro de nós brame por uma participação nessa luta e esse bramido se transforma em confiança. Porque eu sempre pratiquei, desde que eu li a primeira vez “O Livro da Confiança”… eu comecei a entrever e depois a ver de modo inteiramente claro o seguinte: tudo aquilo que em mim atormenta o princípio axiológico tem um convite a uma confiança em algo de sobrenatural que preservará aquilo. E propriamente o creme da confiança é confiar na axiologia. Isto não está no livro da confiança, mas o próprio “Livro da Confiança” não se explicaria sem esse pressuposto, seria sentimentalismo.
(Sr. –: Seria uma confiança particular, individual.)
É, exatamente, não é numa causa e depois não é para pessoas com vocação muito definida, mas é para pessoas colocadas no regime comum da Providência.
Então, tudo aquilo que eu imaginando o que aconteça me perturbe e me tire a alegria de ter a axiologia realizada, tudo isto eu devo achar o seguinte: que me acontecerá de um modo diferente, mas acontecerá. Ou qualquer outra coisa. Mas que acontecerá. Mas alguma coisa não pode deixar de acontecer de um determinado modo. E essa é uma.
(…)
…seria preciso uma forma de dedicação e de colaboração que Deus pedisse a nós, onde nós entrássemos de fato com tudo. E que esta forma de luta na guerra psicológica revolucionária não pede. Donde acaba sendo que ela pede os quem… [trecho apagado no microfilme] …o …[trecho apagado no microfilme] …que se pode pedir a um burguês. Enquanto a graça pede a nós uma entrega muito maior do que essa. Uma oblação muito maior, muito mais atuosa, muito mais cooperativa, muito mais participativa do que aquilo que acaba sendo pedido.
Portanto, a vitória que vem depois é uma vitória muito menos autêntica, porque a verdadeira substância da vitória está em premiar tudo quanto se deu. Não está apenas na plenitude do fruto alcançado, mas está também na plenitude dos sacrifícios feitos. Aquele princípio do Corneille: “On vaincre sains peril, on trionfe sains gloire”, teria a sua aplicação aqui.
(Sr. –: Os maiores perigos hoje são de anjo ou burguês!)
Não pense que eu ponho uma visão nacionalista no que eu vou dizer: não são perigos de herói!
Agora, acaba sendo o seguinte: eu creio, como você, que nós passamos um período que se podia chamar o risco de anjo. Que [são] uma forma de tormento de alma de todos os modos, porque nós temos passado…
(…)
…mas que a um tal alto grau de luta exige axiologicamente que todos as formas de luta participem dessa luta. E que todas as formas de dedicação, todas as formas de empenho, todas as formas também de utilização da própria capacidade, sejam empregadas nessa luta; porque, como ela é uma luta de ideais supremos e uma luta de uma desproporção suprema e de uma coragem suprema, ela deve mover o homem inteiro. E é esta a razão pela qual eu axiologicamente acho que essa luta tomará também outras proporções.
Pode-se objetar: mas por que razão veio todo esse non sense anterior?
Porque tudo aquilo que é feito com base na Fé desafia o improvável, inverossímil e até o absurdo. De maneira que está na ordem natural das coisas, na ordem própria da Fé e está até na ordem da axiologia enquanto vista a axiologia a serviço da Fé, e não no curso natural das coisas. Ser provado pelo inverossímil dos absurdos. E triunfar da careta da sua própria catástrofe. Isto faz parte da axiologia.
O que me leva a achar também que pelo menos para alguns de nós, talvez — não tenho certeza nenhuma — a parte pior da Bagarre já passou. Não porque não venha muita outra coisa, mas porque o pior de tudo foi isso. De tal maneira isso é um tormento além de todo tormento. Se um anjo pudesse ser atormentado, [esese??] [isso] seria tormento do anjo. Se se pudesse conceber um tormento angélico… e de algum modo à axiologia quebrada, espatifada é o tormento do demônio e condizente com a natureza espiritual dele.
Mas eu concordo quanto com você de que estaria fora do quadro geral esse modo de coisas que eu tiro daí a razão de que não haverá.
(Sr. –: Por que o senhor não conclui que uma vez que a Providência encetou este caminho — as implosões — [que] vai assim até o fim?)
Não. Exatamente eu acho que não vai chegar porque é necessário o holocausto total. É necessária a dedicação total. E que, portanto, não pode chegar. É uma coisa de uma ordem diferente.
Por exemplo, para me exprimir de um modo diferente, mas eu acabo me exprimindo, as Cruzadas foram…
(…)
…e só poderia ser furado vendo um lance assim. E aqui a contradição se dissolve completamente.
Depois outra coisa: quem é a gente curável?
Porque nós estamos cercados de gente incurável até nesse caso!
(…)
…e o fim do mundo via acabar… [ilegível] …juízo eu tenho a impressão que a Bagarre seria lógico que acabasse com uma espécie de juízo. E que ou pôr meio do símbolo, ou de revelações, ou de outra via qualquer, Nossa Senhora nos fizesse compreender todo o jogo da Revolução e da Contra-Revolução até nos imponderáveis históricos que só por revelações se poderia saber.
Quer dizer, pode-se imaginar que Nossa Senhora nos faça conhecer o jogo todo da Revolução e da Contra-Revolução do qual tomamos parte, além do que…
(…)
[Ilegível] …a Idade Média nunca teria sido ela mesma se não tivesse havido as Cruzadas. E se as Cruzadas não tivessem sucedido a um tropel de vitórias de Maomé verdadeiramente incrível, por onde a Cristandade ficasse por um fio. Então todas as universidades, toda a glória da Idade Média não seria glória se não tivesse havido as Cruzadas. Podia ter corporações, podia ter cidades livres, podia ter o que quisesse, não seria a glória se não houvesse as Cruzadas.
Isso supunha uma marcha oblíqua de Deus que deixou o maometanismo, por exemplo, tomar conta da Espanha como tomou. Uma coisa incrível! Satânica! Aquele negócio como os maometanos tomaram conta da Espanha.
Supunha coisas dessas em que Deus parece cruzar os braços para depois agir. Mas, isto está na prova específica da axiologia como está na prova específica do homem que deve viver de Fé e da Fé que move as montanhas. Quer dizer, no fundo não pode faltar. Essa é a minha convicção.
De maneira que se Nossa Senhora dispusesse outra coisa, bem entendido, eu me submeto, mas eu teria a sensação interna de que não foi dado por inteiro e não foi cumprido por inteiro.
Mas também uma outra coisa que era preciso estabelecer aqui que eu falei há pouco. O demônio está estabelecendo [o] reino dele — as coisas dele são todas feitas de mentira, mas ele é assim — na Terra com um misto de uma cacofonia do outro mundo encoberta por uma sinfonia do arco-da-velha! E há uma espécie de paz — havia muito mais na Bagarre Azul, mas há restos de Bagarre Azul e qualquer coisa desse gênero que ele põe — que Deus não pode permitir que o mundo acabe sem que isso seja estraçalhado. E sem que no curso da História a essa sinfonia suceda uma cacofonia. Deus não pode permitir! Seria uma vitória dele sobre Deus que ele conseguisse fazer acabar o mundo dentro da sinfonia.
(Sr. –: Mesmo que isso destruísse a ele?)
Mesmo! Mesmo porque essa sinfonia é em si mesma um ultraje a Deus. Ela tem uma realidade ontológica, ela tem uma existência própria que não bastaria destruir o demônio, era preciso que na História dos homens essa sinfonia fosse destruída. Fosse substituída por uma cacofonia.
(…)
(Sr. –: A crise da família nos Estados Unidos, Japão, Suécia é sinfonia dele?)
São aspectos cacofônicos da sinfonia dele.
A sinfonia dele é o imprimir às coisas um sorriso “yaltiano” por onde o mundo termine exterminando-se sorridentemente como a França e a Alemanha estão fazendo. Essa é a sinfonia dele.
Agora, essa sinfonia não pode consumar a sua obra sem ser destruída.
(Sr. –: Nos Estados Unidos as famílias estão se destruindo na faca, no crime e na bofetada!)
Há crime dentro de uma atmosfera… é “paradoxal-yaltiano”.
(Sr. –: Mas o demônio está levando na cabeça com esses crimes? Porque se dizia que Deus está contente!)
A justiça de Deus resplandece com isso. Isso é certo! Mas você deve distinguir a justiça de Deus da glória de Deus. Essa forma incompleta da glória de Deus. Nem todos os atos de justiça têm toda a proporção da glória de Deus. A glória de Deus não alcança o seu êxito com o plano do demônio chegando a destruir a humanidade de acordo com o método que o demônio desejou e que é o tal método implosivo. E método implosivo-sinfônico. É contra a glória de Deus que esse plano se realize. Posta a Redenção é contra a glória de Deus.
(Sr. –: O fato de lutarmos nessa guerra [p-r??] [nós?] dará de no futuro termos meios de impedir isto novamente.)
Isso é inteiramente certo que Deus tirará esta vantagem também do que está acontecendo. Mas esta não é a razão mais profunda de Deus na ação. A razão mais profunda de Deus na ação é a vingança da glória d’Ele contra a intenção do demônio.
Essa é uma vantagem pedagógica, preciosa, etc., mas a vingança de Deus é outra.
(…)
…revoltou-se contra Ele lançando homens. Ele lança homens para esmagar o demônio. O que [se vê] já no primeiro combate no Céu: o demônio se revoltou e levou uma terça parte das legiões celestes. Deus poderia por uma ordem d’Ele [ter] lançado Satanás no abismo, mas não foi o que Ele fez. Ele suscitou os anjos fiéis e deu ao Príncipe dos anjos fiéis a missão de com esses anjos fiéis eles jogarem Satanás no abismo. Porque numa luta, sobretudo entre os anjos, Ele quis vencer fazendo vencer os anjos bons contra os anjos ruins.
E, na luta que é, sobretudo uma luta entre homens — não é, sobretudo uma luta entre anjos, mas é, sobretudo uma luta entre homens —, Ele quer vencer fazendo vencer os homens bons sobre os homens ruins. Porque está na natureza da luta que está engajada. Ontologicamente tem que ser.
Eu creio sem poder fazer uma afirmação inteira — eu precisaria pensar um pouco mais, não me pus ainda o problema —, mas a julgar simplesmente pelos dados que eu tenho no espírito nesse momento, os últimos homens fiéis seriam de uma necessidade ontológica. E a própria indefectibilidade da Igreja seria de uma necessidade ontológica à vista do fato de ter havido a Redenção. Por que Ele tendo lutado por meio dos homens, entre os homens, numa luta que é de homens! É necessário que homens vençam. Vençam — isso eu disse há pouco; é uma mera repetição — por meio de uma luta que abranja todas as formas de lutas possíveis.
Por exemplo, a expulsão de Satanás no Céu não houve um simples decreto de expulsão. Mas a Escritura diz: “proelio magno factum est in caelo”. [“et factum est proelium in caelo Michahel et angeli eius proeliabantur cum dracone et draco pugnabat et angeli eius.” (Apoc. 12, 7.)]. Deu-se uma grande batalha no Céu. E, em conseqüência dessa batalha eles foram expulsos.
A expulsão fazendo os fiéis encontrarem dificuldades e dificuldades que têm a essência de uma batalha. Nunca se concebeu essa luta dos anjos bons com os ruins com o raciocinar ou uma coisa assim. Mas é algo por onde uma força angélica vergou outra força angélica naquilo que é a essência da batalha, que é a confrontação e a quebra de uma parte pela outra. Na medida que se pode dizer isso de espíritos. [Foi] a destruição!
Eu sou levado no momento a achar — estou gostando muito da conversa exatamente porque ela leva a esses problemas novos com panorâmicas novas e hipóteses novas — que é certo que a maior razão que nós temos para aceitar que foram anjos que venceram anjos é a Fé. Mas, que de fato a axiologia já provaria isto…
(…)
A questão é que a Fé revelada vale mais que a Fé axiológica. Mas a axiologia provaria: tendo ficado anjos fiéis era necessário que Deus vencesse os anjos infiéis pelos fiéis e que fosse, de fato, uma batalha. Sem isso não haveria a proporção com a revolta.
Aprofundando mais: os anjos não tiveram com Deus uma atitude “concordatária”, não é por meio de um acordo. Mas na medida que a ordem real, metafísica das coisas permitia, eles agrediam a Deus. E, essa agressão operada contra Deus tinha que ser liquidada por meio de uma contra-agressão.
Eu exprimo o meu pensamento de um outro modo: …
(…)
…na Terra, na Terra será punida. É aquele princípio de Nosso Senhor no Evangelho: “Quem com gládio fere, com gládio será ferido”. Esse princípio se aplica aqui.
Olha que vocês poderiam dizer o seguinte: o sentenciado sofre mais no Inferno do que na Terra. E um homem deitado naquela roda de esquartejamento ele sofre menos do que no Inferno. Então, sujeitar esse homem a essa forma de tormento demorada é para ele… [trecho apagado no microfilme] …o tormento dele. Porque é adiar a hora em que ele deve ir para o Inferno! E, portanto é uma espécie de ato de clemência para com ele. Então seria mais inteligente executá-lo logo para que ele caísse nas mãos de Satanás imediatamente.
Pois bem, isso não é verdade, porque esta vida terrena tem uma espécie de realidade própria que não se confunde com a realidade celeste. E, de um modo geral a justiça pede a aplicação e a liquidação na Terra! No tormento, na tortura da outra parte.
Eu gosto muito de ter explicitado isso, porque me parece indispensável.
(Sr. –: Quando o homem foi expulso do Paraíso apareceu Nossa Senhora que esmagaria o demônio aqui na Terra.)
O [chá?] da questão está em ser na Terra. Nossa Senhora esmaga no mundo para sempre, mas faz parte do esmagamento d’Ela que Ela esmague os sequazes dele nessa vida.
Isso pode ter exceções: quer dizer, o sujeito que foi pecador, mas vive muito feliz, etc. Mas, essa não é a regra geral. E nos castigos dos indivíduos há exceções, nos castigos dos povos não, porque o castigo do povo é nessa Terra.
(Sr. –: Isso será pago aqui!)
Aqui. E só pode ser pela mão de homens. Tem que ser pela mão de homens, porque como foram homens que pecaram, são homens que têm que ser os que castigam. É uma proporcionalidade adequada.
Eu dou um exemplo que exprime bem o meu pensamento: nós não poderíamos admitir que duravelmente os carrascos de uma nação fossem estrangeiros. Uma vez que os filhos da nação pecaram é mais excelente que os filhos da nação castiguem. Compreende-se a título de exceção que num lugar qualquer tenham contratado um carrasco estrangeiro, não percamos nosso tempo. Mas o princípio é este
Compreender-se-ia até o seguinte: num país onde houvesse uma raça muito vil, por exemplo, os ciganos, esses fossem… — entre esses —, escolhessem os carrascos do país. Mas [são] os ciganos enquanto habitando aquela sociedade humana e formando com ela de algum modo um todo. Então se compreenderia. Mas, uma coisa inteiramente alienígena e extrínseca não. O quem “com o ferro fere, com o ferro será ferido” exprime um pensamento metafísico mais alto: o castigo tem que ser proporcionado ao crime, o instrumento do castigo tem que ser proporcionado ao instrumento do crime, e que o ministro do castigo tem que ser proporcionado ao criminoso, à pessoa do criminoso.
Por exemplo, se compreenderia que num país aristocrático o carrasco do nobre fosse mais vil que o carrasco do plebeu. Uma coisa que se compreenderia porque o nobre aviltando-se peca mais e poder-se-ia compreender que fosse tomado nas galés um tipo para executá-lo e que depois recebesse um regime de liberdade vigiada, qualquer coisa assim porque livrou o país desse inimigo capital. É mais infamante, então é mais próprio para o nobre que se tornou infame.
(…)
…uma punição para a Revolução que consistisse nessa delinqüência da alta eliminação, mas em que, por exemplo, o corpo não sofresse. Imaginem que a justiça está satisfeita com isso seria imaginar um Inferno em que o corpo não padecesse, mas só a alma. Não é verdade. O corpo tem que padecer no Inferno porque ele participou do pecado como de um todo.
E, portanto, não era possível que a Bagarre se fizesse sem padecimentos físicos. Ela não seria uma punição séria, nem idônea sem isso.
Aqui eu encontro ainda uma outra razão mais interna, mais cogente, mais metafísica para tornar necessária essa punição. É nela que eu me sinto mais desafogado, porque é uma coisa curiosa: as não explicitações disso produzem como que falta de ar. Mais desafogado embora ache que ainda o fundo não foi dito. Foram ditas coisas muito boas, elucidativas, mas que ainda há mais para dizer na linha metafísica para justificar inteiramente isso.
(Sr. –: A punição tem que ser pública.)
Muito pública! Tem que ser de uma notoriedade assombrosa e o castigo puramente espiritual não têm para nós, que não somos anjos, a notoriedade suficiente. É preciso que os olhos tenham visto e os ouvidos tenham ouvido para que a notoriedade seja suficiente.
Nisso se funda, então, a nossa certeza dessa reta de chegada.
(Sr. –: Terremoto na China, de 1975, matou 750 mil pessoas.)
Isto seria um castigo que se pode dar a uma cidade pagã, por exemplo, Visúvio (Pompéia).
A uma cidade revolucionária o castigo não pode ser só esse. Pode-se conceber que algumas cidades revolucionárias pereçam só assim, mas o conjunto do mundo da Revolução não, porque os homens devem ser ministros desse castigo.
Por exemplo, em Pompéia, com as lavas se tem à impressão de que houve um pouco disso no seguinte: todos se viram perecer, uns aos outros, e se viram estertorar uns aos outros. E nisto houve uma espécie de castigo de tormento coletivo…
…a coisa tem intrinsecamente uma necessidade de derrota. O por onde “A” oposto a “B”, vendo: “O ‘B’ me sobrepujou”. Tem uma necessidade disto.
Meus caros, vamos dormir.
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Alagoas, 1º andar