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(Texto sin revisión definitiva con los microfilmes)

Conversa de Sábado à Noite1 — 19/11/1977 [RSN 011]

Por não querer romper com o mundo nem receber o ódio universal, quase todos os filhos do Senhor Doutor Plinio ficam apenas no começo da união de almas com ele - Cada um deveria ser a realização separada de um dos modos de ser dele * A mesma relação de hostilidade do mau para o bom, a seu modo, existe também do menos bom para o melhor - O Senhor Doutor Plinio recebe bem elogios ocos, para não apagar a chama que ainda fumega * Por não ter feito comparações, o Senhor Doutor Plinio tem dificuldade de descrever sua união da alma com a Senhora Dona Lucilia - A harmonia dos estados de espírito dela, com as compreensíveis decalagens, passou inteira para ele

Índice

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* Por não querer romper com o mundo nem receber o ódio universal, quase todos os filhos do Senhor Doutor Plinio ficam apenas no começo da união de almas com ele - Cada um deveria ser a realização separada de um dos modos de ser dele

Para dizer a coisa sem nenhum “luizquatorzianismo”, mas bem pão-pão, queijo-queijo, eu olhava em torno de mim e percebia que muitas daquelas pessoas que tinham sido chamadas etc., etc., tinham alguma coisa na alma capaz de entrar em consonância comigo. E, portanto, capaz de pensar como eu, e capaz de serem pessoas que me acompanhassem na caminhada.

Mas, eu percebi também que, tomado o que havia na cabeça deles, ou se estabeleceria um click de união comigo, que eu não sabia como era, ou essas pessoas, apesar do que tinham, nunca seriam inteiramente como deveriam ser. E que, portanto, não adiantava eu imaginar esses ou aqueles varões, porque a questão era outra, era imaginar este ou aquele click. Aqui está o fundo da coisa.

(Sr. –: O Senhor nunca se deteve em sonhos)

Nunca. Mas eu tinha a idéia de que, verificado esse click, cada um desses varões seria como que a realização separada de mim de um dos meus modos de ser, em profunda consonância comigo.

Bem, eu percebo que no Grupo houve um começo de click com quase todos. Mas com quase todos o começo de click ficou no começo. E que há da parte de quase todos um passo a dar para a aceitação desse click e que esse passo causa uma constrição que eu não sei bem de que natureza é, mas que eu percebo que tem relação íntima com o seguinte. É que a pessoa percebe que dando esse passo, dá-se por detrás dela um outro click, mas esse negativo. Ela rompe completamente com todo mundo e fica exposta ao ódio universal. E isso a pessoa não tem coragem.

(Sr. –: Esse romper com todo mundo granjearia o quê?)

É qualquer coisa que há em mim e que todo mundo percebe, por onde há uma torrente, um dilúvio de ódio em pé contra mim, que não se [manifesta?] e que [jugula?] uma torrente talvez maior de simpatias acovardadas, que fazem coro com o berreiro do ódio, por falta de coragem. Agora, isso representa um estar posto à margem do gênero humano duríssimo, e que causa nas pessoas verdadeiro pavor. …

(…)

de uma obra que está pelo meio e no meio da qual nasceram carrascais, nasceu vegetação, nasceu qualquer coisa. …

(…)

em que a pessoa deseja estar aberta para o momento em que nós nos encontramos. Guardar esses momentos, lembrar desses momentos, porque é aí que a charada da vida espiritual tem uma solução. Porque a vida espiritual comum acaba sendo uma charada.

Eu, pegar qualquer um dos que estão aqui, todos os que estão aqui, mais ou menos eu repassei segundo o método tradicional …

(…)

na linha do Primeiro Mandamento é esse encontro de alma que eu acho que forma, exatamente, uma relação de alma à maneira da relação de alma como se descreve entre anjos e anjos. E que tem seu paradigma mais alto, sem dúvida nenhuma, na relação de alma no Verbo Encarnado entre a natureza humana e a natureza divina, passando por Nossa Senhora. Mas no fundo o ponto é esse.

* A mesma relação de hostilidade do mau para o bom, a seu modo, existe também do menos bom para o melhor - O Senhor Doutor Plinio recebe bem elogios ocos, para não apagar a chama que ainda fumega

Eu dizia outro dia que a relação má, de hostilidade, de desconfiança etc., que existia do mau para o bom, existe a seu modo do menos bom para com o melhor. De maneira que, quando a gente se coloca completamente na posição do bom, é o ódio de todas as formas residuais de mal que sobe até nós, não sob a forma de um ódio atual. Por exemplo, graças Deus, nenhum de vocês está me odiando, mas é de uma facilidade em odiar-me desde que eu não calcule a palavra exata, não tenha o agrado certo, não tenha a atenção precisa etc., etc., etc. Há facilidade…[vira a fita]

(Sr. –: Isso explica muita coisa, quando o Senhor diz que está isolado etc. )

É, isso é assim. E pode ser por um ato de hostilidade, mas pode ser também, de repente, por um desinteresse. Acabou. E às vezes é pior, é mais difícil de reverter do que a hostilidade. Ahhh! Está acabado. O que, bem entendido, não é incompatível com as formas externas mais protuberantes de enlevo etc., etc. Mesmo as fórmulas, uma carta dizendo isto, aquilo, aquilo outro. Não é incompatível.

(Sr. –: Não entra hipocrisia na coisa?)

Se entra, é muito mais para consigo mesmo do que para comigo. É a pessoa que não tem coragem de dizer para si mesmo que consentiu em um desses estados de espírito, então mantém as fórmulas exteriores, talvez de medo da abjurgatório da consciência.

(Sr. –: Elogios da boca para fora. Purgatório…)

Il y-en-a. Mais ainda. Esse elogio tem que ser recebido com paciência, com bondade, embora a gente note que é oco, porque ele é o último alento às vezes de uma coisa que ainda existe. Então a gente deve receber bem, deve animar, deve ajeitar, deve soprar, deve estimular para ver se a lâmpada que ainda fumega se reascende. Isso é assim sem tirar nem pôr.

[Frase sem sentido:] Agora, sentir esse isolamento assim, até a gente se habituar inteiramente com ele… Mais ainda, até a gente viver de tal maneira daquele passado-esperança que a gente não tem [necessidade], para seu perfeito equilíbrio afetivo, não se tornar um calvinista hirto, seco e vingativo; nem também um bobório que vive mendigando amizade. Para tomar bem a posição é difícil. …

(…)

* Por não ter feito comparações, o Senhor Doutor Plinio tem dificuldade de descrever sua união da alma com a Senhora Dona Lucilia - A harmonia dos estados de espírito dela, com as compreensíveis decalagens, passou inteira para ele

(Sr. –: Se o Senhor pudesse descrever um pouco essa união de almas)

Eu tenho alguma dificuldade em descrever, vou procurar descrever para fazer a sua vontade. A dificuldade vem pela razão seguinte. Se bem que eu tivesse por ela tudo quanto você sabe, de um lado; e se bem que também de outro lado fosse verdade que eu vejo que ela me era muito unida; eu de um lado notava que ela era uma pessoa como ninguém, mas de outro lado, para não estar fazendo comparações e tendo idéia de que ela e eu éramos pessoas como todo mundo, eu não cheguei a fazer a diferença entre a relação de alma entre ela e eu, e a relação de alma de outras pessoas, que só depois da morte dela eu vim a analisar mais.

(…)

não é que quando eu me lembro dela mais moça, toda a personalidade dela fosse tomada por esse ponto mais alto. Esse ponto mais alto tomava largas camadas da personalidade dela, desde que eu me lembro dela, mas não a personalidade toda. De vez em quando tinha umas escapatórias para alguns lados em que entrava até em dissonância comigo e via a alma dela se tornar muito mais diáfana a esse ponto alto do que fora no início.

Vocês acharão talvez irreverente esse modo tão estrito de ter analisado a ela, com lupa, mas eu não sei ver as coisas de outra maneira. Se é para ver a verdade, ponhamos a lupa e olhemos, não há outro jeito de fazer as coisas. “Vamos lá! Toca para frente, é assim! E minha mãe é o que for, agora aqui eu quero ver e quero tirar a limpo. Vamos ver.” Não sei fazer de outra maneira.

Mas neste ponto eu percebo que havia uma elevação, uma harmonia de estados de espírito — todos os estados de espíritos dela — uns como os outros, na medida em que estavam nessa clave. E era a grande maioria que estava nessa clave, certamente os mais importantes, os decisivos. Uma harmonia, uma presença de um unum no maior variado, e uma doçura, uma abertura, uma nobreza, uma coisa que eu percebo que minha alma tomou como o próprio espelho da realidade e procurou haurir como quem respira assim um bom ar.

De maneira que eu posso dizer que, com as compreensíveis decalagens, do mais alto que era ela para mim, com as compreensíveis decalagens, isto passou por inteiro para mim. E eu sinto, neste sentido, que o espírito dela vive no fundo de minha alma. O espírito dela quer dizer a mentalidade dela. …

[ND: O restante da reunião não foi microfilmada.]



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1) Em várias partes dessa reunião os pensamentos são muito estanques. Parece não terem sido registradas todas as intervenções dos participantes. Parece também ter havido adaptações na linguagem do Senhor Doutor Plinio. Fica-se com a impressão de que certos trechos são relatos resumidos e não transcrição ipsis verbis.