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(IHS) p.
EVP – sem data – 1976
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Título da reunião: O maior obstáculo à medievalização no Grupo
Local da reunião: Data da reunião: 1976
Copiador: Data da datilografia:
Extraído do microfilme pela Comissão Plinio Corrêa de Oliveira em: 16/6/95
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Nas pessoas chamadas a representar grandes papéis na História, há uma tendência a serem o contrário do que pede sua missão * Na corte de Luís XIV, a náusea de ser nobre conduz à trivialidade e à obscenidade * Há em nossos dias uma aversão à maturidade que degenera num horror à "Bagarre" * A falta de seriedade em não querer ser maduro, é um pecado contra o arquétipo e nos impede de ser o que deveríamos ser * A mania de viver de emoções faz parte desta imaturidade e é pior do que a queda na impureza * Essa imaturidade é o maior obstáculo para a "medievalização" e para a obediência
* Nas pessoas chamadas a representar grandes papéis na História, há uma tendência a serem o contrário do que pede sua missão
Há pessoas que são chamadas a representar certo papel que é como uma forma que elas recebem da tradição. Mas elas, embora compreendam que devam representar esse papel de vez em quando, compreendem que isso exige uma porção de esforços que elas não estão dispostas a fazer estavelmente.
Como receberam essa forma desde bem crianças, a segunda natureza muitas vezes lhes faz ter saudades dessa forma. Eles então se metem na forma, e a realizam bem. Mas o mais das vezes, a natureza má deles lhes dá fobia dessa forma. Eles saem então da forma e ficam uma coisa completamente desconformada, desconjuntada, etc..
Quando elas estão bem desconformadas, nota-se nelas, no fundo, um risco que é da forma. De vez em quando esse risco se dilata e toma conta da pessoa, de vez em quando se atenua e fica do tamanho de uma teia de aranha. O resto é inconformidade absoluta.
Aí nós temos que o arquétipo – ele representa de algum modo um arquétipo na hora em que ele entra na forma – há uma evasão do arquétipo que vai ruindo ao anti-tipo nas horas em que ele fica com preguiça de usar a forma dele.
E eu formo a idéia de que a Civilização Medieval, muito mais do que romanos, gregos e qualquer outra coisa, produziu formas para todo o mundo, para todas as classes sociais, para todas as nações, para todas as funções, etc., produziu formas. E formas tão possantes, que o mundo só aos poucos foi se liberando dessas formas.
Então, todos os homens do passado usavam uma forma. Mas quando eles eram contra-revolucionários com nostalgia para fugir da própria forma e representar o anti-tipo, a forma era algo à maneira do arquétipo. Quando revolucionário e na medida que o eram, eles tinham vontade de fugir disso e bancar o anti-tipo.
E, cada vez mais, foi se estabelecendo uma incompatibilidade entre esses revolucionários anti-tipo e a forma tipo dentro da qual ele deveria viver, mas à maneira de um divórcio que uma geração foi tornando mais acentuada do que a outra. Ainda sobra algo dessa forma.
Agora, ao que é que corresponde – aqui está a coisa – ao que corresponde bem esse anti-tipo?
Ele não corresponde propriamente à posição de uma pessoa que, por mais deteriorado que se apresente às vezes, ainda corresponde mais ou menos à idéia de homem sério. Homem sério, não prodigiosamente sério, mas homem que trata das coisas como é normal que elas sejam tratadas. E para quem recebeu esta forma, a maneira de fugir da forma não é propriamente esta.
Vou dar uma idéia com um fato histórico:
* Na corte de Luís XIV, a náusea de ser nobre conduz à trivialidade e à obscenidade
[Resumo: A MMe. de Motheville, dama de honra de Ana d'Áustria, conta em suas memórias que, estando o Duque de Orlèans e Mazzarino em briga de morte, Ana d'Áustria organizou uma festa na véspera do dia de Reis e convida o Gastão de Orlèans para ela. Parece que ela não estava presente ao jantar, mas Luís XIV estava. Saiu na festa uma conversarada com brincadeiras e folias e com tais obscenidades na mesa, que julgaram conveniente fazer [sair] o rei, que era o centro da conversa, para a brincadeirada continuar.
Mas a brincadeira não era a brincadeira do homem adulto que brinca sobre a obscenidade, mas era infantilidade de corre-corre pela sala, cócegas, coisas dessas, com obscenidades pelo meio, de tal maneira que julgaram que Luís XIV deveria sair da sala pois não se julgaram no direito de lesar com esse atentado a Inocência do jovem rei.]
Vem aqui uma espécie de náusea não só de ser nobre, não só de ser clérigo, não só de ser nada, mas uma náusea de ser homem.
Não de ser do sexo masculino, mas de ser adulto e de ter que agir com o compassado, com o razoável, com o criterioso próprio de um adulto normal, de um farmacêutico que está vendendo droga no balcão da farmácia.
O gosto da folia pela folia debandada, e a la infantilidade – no pior sentido da palavra – tomando conta das pessoas completamente, e provisoriamente fazendo cessar de um modo completo os ódios, as querelas, também as solidariedades para cair numa espécie de mundo do vácuo, um mundo irreal no qual todos eram um só e em que todas as divisões e tudo desapareciam, e em que todo mundo só queria saber da patuscada solta.
Isso não é narrado nas memórias, mas estaria nessa linha, por exemplo, pegar um quadro de Rembrandt e derramar molho de peixe em cima, e todo mundo morrendo de dar risada, depois um outro sair solto de tapinhas atrás do outro, etc., seria inteiramente o normal. E uma espécie de desafogo, depois do que, desafobados, cada um voltaria ao seu papel, se sentaria em torno de uma mesa e tocavam para a frente. Inclusive fariam uma Revolução, um golpe de Estado, se matavam, se fosse preciso, mas eles tinham tido esta forma de desafogo.
(Sr. ...: Uma sessão maçônica ilustra muito isso.)
* Há em nossos dias uma aversão à maturidade que degenera num horror à "Bagarre"
Aí nós percebemos bem que faz parte da forma do homem, faz parte até do arquétipo do homem, nos vários níveis, começar por ser homem. Ser homem, ser adulto, ser sério... faz parte dessa arquetipia de que o Anjo está na ponta – ser homem à maneira dele, ser adulto à maneira dele – mas o rés do chão, até o porão, os alicerces, eu quero dizer, deste edifício estão aqui.
E é uma coisa engraçada que eu percebi em várias ocasiões de minha vida, personagens muito sérios e muito importantes, inteiramente sérios, representando às escondidinhas coisas dessas. O que me faria desconfiar do seguinte: que isso, nas rodas de iniciações maçônicas, é muito mais geral do que a gente pensa. Exerce uma atração muito maior do que a gente pensa. E que um dos ódios mais vitais contra nós é perceber que não fazemos nenhuma concessão a isso, e que nossa intimidade é a desta reunião.
(Sr. ...: Quando fazem isso, sentem muita solidariedade entre si. Um só homem, mesma raça, mesmo gênero.)
Isso, exatamente, a mesma estirpe. Se quiserem, a mesma família. E nós, com a nossa perpétua seriedade, compassada, séria, por onde esta reunião nós chamamos de intimidade. Nós estamos em toda intimidade, e isso eles não podem admitir.
E há aqui uma qualquer coisa para a gente generalizar a suspeita que, por exemplo, se estende ao seguinte: eu tenho a impressão de que hoje em dia fora de nossa roda é só duas ou três pessoas – inclusive senhoras – estarem bem íntimas e juntas, que a coisa deriva para isso: brincadeirada piada e chiste, mas que já não são inteiramente de adulto, já tende para a criançada, para a patuscada de criança. E que vão ser cada vez mais assim, e que é o viver, o escapulir para um mundo irreal, um mundo gratuitamente fantasioso, à maneira de um mundo de drogado ou à maneira de uma espécie de droga na qual a pessoa se perde completamente, e na qual nós não podemos pura e simplesmente imaginar, por exemplo, São Pio X, cujo retrato está ali.
E que, assim como há entre homens, há entre senhoras, já é o que separa, em menino, o ultramontanável do não ultramontanável. Porque o menino ultramontano não tem a tendência a ser menino como o revolucionário o é.
A forma de brincar do menino revolucionário estimulada por todas as escolas possíveis que nós podemos imaginar, é de lançar o menino no gosto que fará com que ele não queira vir a ser homem, não queira vir a ser maduro. Ele olha o caminho para a maturidade quase como um maduro olha o caminho para a morte. Ele quer é a pataquada de criança que um menino contra-revolucionário não tem.
Quer dizer, portanto, vem da raiz da educação e vai se prolongando, prolongando a mais não poder.
Aquilo que eu falei na reunião de sábado do soldadinho de chumbo no fundo é alguma concessão a este estado de espírito. Por algum lado ou por outro, eu não sei qual é, pratica uma concessão, opera uma concessão em relação a este estado de espírito. E isto forma – para o que existe de concessivo dentro de nós – forma uma espécie de limo revolucionário na alma do contra-revolucionário que, então, por exemplo, tem horror à Bagarre, não só porque a Bagarre vai tirar a "nhonhozeira" e ele não pode ir para casa sossegado como vai agora, mas é sobretudo porque a Bagarre, com sua imensa seriedade, obrigá-lo-á a ser sério e ser homem, quando ele, absolutamente, naquelas proporções não quer ser.
E eu acho que se deveria procurar a origem da fobia da Bagarre e a origem de não querer prestar atenção nas reuniões inteiras, a origem da não tomar a sério a Vocação... e mil e mil moleiras que em nós existem, deveria se procurar nesse substractum que subsiste, e que é o tomar tudo a la criançada, na brincadeira, etc..
O pânico de muitos do Grupo, quando eram rapazes, de ficarem adultos, era para não entrar na linha do tipo, de arquétipo, porque esta é ainda uma maneira da gente seguir o próprio arquétipo...
(...)
... agora, o que é um ponto muito importante aqui, não é a Loja Maçônica. Ela é indispensável para esclarecer completamente, mas o problema atual que nós corremos é a razão das nossas recusas em face da Vocação.
(Sr. ...: O carnaval é muito isso: a pessoa por 3 dias sair de si.)
* A falta de seriedade em não querer ser maduro, é um pecado contra o arquétipo e nos impede de ser o que deveríamos ser
Muito. E fazer coisas de doido. E esta má tendência que explode. E o que é mais curioso é o seguinte, não é propriamente tudo no Carnaval, porque há um Carnaval do maravilhoso... O mau carnaval é esse, bancar a criança.
Por exemplo, a Galerie des Glaces tão, tão... havia carnaval do outro mundo em que o rei aparecia fantasiado.
Eu já lhes contei o fato de Napoleão, pouco antes de ser coroado imperador, vestido de negro e tocando tambor, pulando pelo meio da sala.
São as horas em que eles são verdadeiramente eles. Ele não era verdadeiramente ele na hora do sol de Austerlitz, ele era verdadeiramente ele nessa hora.
Então, há qualquer coisa em nós para estudar a esse respeito, que vem – eu volto a dizer – da péssima educação. A noção de criança, é de um tipo que já vai fazendo concessões a isso em menininho, quando, ser menino não é isso... e daí para fora, mil coisas.
(Sr. ...: Saint Simon conta que uma das coisas que Luís XIV fazia era se entreter com a Duquesa de Borgonha-Savoia, que era casada com o neto dele. É criancice segurar no queixo, fazer gracinhas, etc..)
O mais engraçado é que se você vai a Catarina Emmerick ver qual é o gênero de graça que Eva achava na serpente, era esse.
E, nos restaurantes, nos círculos mundanos, só a presença do membro do Grupo talha o ambiente. Só o fazer o "Nome do Padre" estraga o restaurante.
Mais ainda, a presença do cooperador com capa, irrita por causa disso...
(...)
... pensarem para a próxima reunião ou não, em exames de consciência, reflexões etc. que pudessem ajudar para este ponto, porque este é a inimica vis para a medievalização. Quer dizer, essa pequena exposição que eu fiz tem muita relação com o problema da medievalização enquanto contrário dela, e a força que obsta a que nos medievalizemos.
A falta de seriedade pode se manifestar de outras maneiras como a dissipação, dispersão, etc., mas esta é mais característica enquanto uma forma nova, ainda não estudada por nós. É definida, assim, a "tentação do soldadinho de chumbo", o pecado contra o arquétipo enquanto sendo adulto.
(Sr. ...: Debochado é melhor que soldadinho de chumbo, não?)
É melhor, porque não conspurca algo que o soldadinho de chumbo ainda tem de bom e mais bem lixado.
* A mania de viver de emoções faz parte desta imaturidade e é pior do que a queda na impureza
Querem ver uma coisa que, em nós, participa desse pecado?
É a mania das emoções, porque o varão quer transcender a emoção porque quer ter a visão real e lúcida da coisa. O menino, no mau sentido da palavra, quer viver de emoção.
A queda na impureza é tudo quanto nós sabemos, não adianta dizer mais nada. Mas esse tipo de queda que eu estou falando, é uma espécie de quintessência da queda contra a pureza porque o indivíduo peca contra a própria dignidade de homem enquanto homem, e de ser racional enquanto racional. Ele abdica da condição de ser racional para assumir as irracionalidades e extravagâncias que o pecado original pôs na criança e que esta não teria sem o pecado original.
Por exemplo, o Menino Jesus não teve, Nossa Senhora não teve. Isso jamais seria suficiente acentuar.
* Essa imaturidade é o maior obstáculo para a "medievalização" e para a obediência
E aqui eu volto a dizer, como obstáculo à medievalização eu me pergunto se nós não tocamos no obstáculo mais sensível, mais vivo, mais ativo. Eu acho que é esse. Como também, nas oposições que nós encontramos contra nós, eu me pergunto se não tocamos no banco profundo das oposições mais carregadas de eletricidade, de ódio, etc..
(...)
... por exemplo, eu volto a dizer, seguisse a condição ao mesmo tempo tão íntima, tão à vontade com que nós estamos conversando entre nós. As brincadeiras boas, amáveis, etc., que se pode fazer, que fazem parte da douceur de vivre, mas impregnadas de uma seriedade que não é de nenhum modo esse espírito de deboche.
Então, para a reaquisição da Inocência Primeva, não há sem isso.
Nas distrações da douceur de vivre, sem cair em chanchada, a pessoa tem os desafogos razoáveis, inteiramente, plenamente. Mas é uma coisa inteiramente diferente disto que nós estamos falando.
Agora, isso pode ser apresentado também como o maior obstáculo ao voto de obediência, porque o voto de obediência é dentro dessa bondade, dessa aprazibilidade, etc., a seriedade contínua. Querer ser adulto.
O não querer fazer o voto de obediência é de algum modo fugir para esse estado de espírito. De uma forma ou outra, é fugir para esse estado de espírito.
(...)
Isso já vem de longe, não se sabe até onde chegou. Talleyrand deve ter tido coisas dessas, Luís XV...
(...)
É escuro como tudo. E o pior não é o Dr. Fausto que vende a alma ao demônio para estar na corte do Príncipe de Parma, mas é o Dr. Fausto que para ser palhaço, se mancomuna com o demônio para voltar a ser criança no pior sentido da palavra.
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