Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 17/12/1969 – 4ª-feira – p. 4 de 4

Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 17/12/1969 — 4ª-feira

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Carmelitas: amar as cerimônias da Igreja e sofrer pelos que lutam.



...17 de dezembro é o segundo dia da Novena do Santo Natal. Ofereceram-me o seguinte trecho para ser comentado:



Santa Teresa tinha o cuidado especial de inspirar às suas filhas o espírito de cada festa do ano litúrgico, identificando-se às intenções da Igreja para seguir, mistério por mistério, a vida do Salvador, de sua Mãe Santíssima, ou dos bem-aventurados. A doce piedade para com todos os membros da Igreja do céu, Santa Teresa unia um devotamento sem limites para com a Igreja que sofre e combate sobre a terra. Sabe-se que ela introduziu tanto rigor em suas Constituições, se ela introduziu tanto rigor em suas Constituições foi para colocar ao serviço da Igreja Militante mais abundantes recursos. E nessa perspectiva das necessidades atuais da Igreja Militante, ela incitava em suas filhas o fervor nos diversos mistérios litúrgicos. Tal era seu amor a Igreja e a compreensão profunda que tinha de cada uma das suas cerimônias que dizia às suas monjas: Eu daria a minha vida pela mais pequena das cerimônias da Igreja”.



À margem das considerações do Santo Natal que eu vou fazer agora, eu acho importante notar esse amor de Santa Teresa de Jesus às cerimônias da Igreja. Evidentemente, era um amor à cerimônia da Igreja porque são da Igreja. Mas era também um amor às cerimônias porque são cerimônias da Igreja, quer dizer, também à cerimônia enquanto cerimônia.

Quer dizer, o ato no qual a pessoa, ou um conjunto, ou o padre, ou um conjunto de sacerdotes e pessoas executam ritos sagrados, falam, movem-se, etc., etc., esse conjunto de atos é indispensável ao culto. E enquanto tal podem exprimir muito da alma da Igreja para os fiéis. Porque em todas as épocas de civilização verdadeira, os homens exprimiram seus sentimentos, suas convicções por meio de cerimônias.

E nunca houve idéia verdadeiramente florescente, instituição verdadeiramente pujante, que não se cercasse de todo um cerimonial. É assim que nós vemos que há um cerimonial diplomático, há um cerimonial militar, há um cerimonial social, e nas épocas de decadência, esses cerimoniais decaem também, de maneira tal que tudo entra numa espécie de relaxamento.

Foi por causa disso, por exemplo, que o João Goulart planejou de fazer um decreto-lei, que felizmente não saiu, abolindo os cerimoniais da marinha, que exprimem o espírito da guerra e o espírito enquanto vivido no mar, exprime magnificamente e constitui um elemento indispensável para o florescimento do verdadeiro espírito da marinha de guerra.

Bem, assim como todas as cerimônias exprimem o seu espírito, todas as instituições, através de cerimônias na própria vida de família bem ordenada há uma parte de cerimônia que dá a essa vida muito calor, assim também a Igreja tem suas cerimônias próprias, e que lhe exprimem o espírito. E como o espírito da Igreja é o próprio Espírito Santo, através da consideração das cerimônias da Igreja, existe a possibilidade de receber do Divino Espírito Santo muitas graças.

Então, a alma verdadeiramente recolhida, compreendendo o tesouro que há nisso, de fato é sôfrega das cerimônias da Igreja. E por isso Santa Teresa, a Grande, dizia que ela daria a sua vida para assistir a menor das cerimônias da Igreja. Altamente compreensível e muito cheio de ensinamento para nós.

Mas nossa atenção deve fixar-se especialmente na parte de cima. E é que Santa Teresa de Jesus instituiu a Ordem do Carmo como uma Ordem de oração e de penitência. Ela instituiu é modo de dizer. Ela reformou para que voltasse a ser uma verdadeira Ordem de oração e de penitência. E que ela tinha um intuito ao agir assim.

E era a consideração de que a Igreja é a Igreja Militante; que a Igreja está nesta terra, portanto, para lutar, está continuamente assaltada pelos seus adversários e está continuamente em luta com o adversário. Quer dizer, ela também retribui os golpes que ela recebe e ela esmaga o adversário. Ela é dirigida nessa luta por Nossa Senhora, da qual está dito que ela sozinha esmagou as heresias em todo o universo.

Nessas condições, as freiras carmelitas aparentemente se retiram da luta, mas na realidade é para lutar mais ainda. Elas levam uma vida de oração e de penitência, rezando pela Igreja Militante, para conseguir que Nossa Senhora aplaque a sua cólera em relação aos homens e castigue os inimigos da Igreja. E o desejo contínuo de uma carmelita pode, nesse sentido, se resumir naquela invocação que se encontra na Ladainha das Rogações: Ut inimicus Santae Matris Eclesiae humilare dignere, te rogamus audi nos – que vós vos digneis humilhar os inimigos da Santa Igreja, nós vos rogamos, ouvi-nos.

Esse desejo contínuo a carmelita apresenta a Deus por meio das orações. E como a oração dos homens pela misericórdia de Deus tem grande valor, e como toda freira é uma esposa de Jesus Cristo e a oração da esposa tem grande valor junto ao esposo, como a carmelita é consagrada especialmente a Nossa Senhora e a oração apresentada por Nossa Senhora é, por excelência, a oração grata a Nosso Senhor Jesus Cristo, acontece que o poder da oração das carmelitas tem, evidentemente, maior significado.

Ao par disso, nós devemos considerar que existe também o poder da penitência. A carmelita leva uma vida reclusa, ela leva uma vida de mortificação; todos os seus atos são marcados pela idéia de oferecer sofrimentos pela Igreja Católica. E esses sofrimentos aplacam a cólera de Deus, e o inocente sofrendo pelo culpado, obtém que o culpado não seja fulminado com a cólera de Deus.

E por essa forma, então, Deus se sente mais propenso a glorificar a sua Igreja para bem da Igreja e para bem de todo gênero humano. Nós, então, vemos como esse espírito de união com a Igreja deve ser intenso na verdadeira carmelita e como o tinha intenso Santa Teresa de Jesus.

Nessas condições nós devemos também entender que deve estar o grupo em todos os dias da vida, especialmente nessa novena que antecede o Natal. Em todos os dias da vida porque o grupo tem sua razão de ser no serviço da Igreja. Se nós nos preocupamos com assuntos de ordem cívica é porque esses assuntos importam no serviço da Igreja; importam em promover a civilização cristã a qual é o ambiente natural para a expansão da atividade da Igreja.

É o fruto natural da Igreja, próprio e característico da Igreja. Nós devemos, portanto, ter os olhos postos nas necessidades da Igreja e nas necessidades da Igreja no mundo inteiro. Eu dizia outro dia que o verdadeiro zelo pela Igreja é assim. O indivíduo de pouco zelo pela Igreja, ocupa-se apenas pelos interesses da Igreja que ele vê. O indivíduo de um pouco mais zelo pela Igreja, ocupa-se não com os interesses da Igreja que estão no âmbito de seu movimento pessoal, mas com aqueles que estão no âmbito de sua região e de seu país.

O indivíduo de inteiro zelo pela Igreja, ocupa-se com a Igreja universal. E para ele, o interesse da Igreja na Turquia, na China, não sei, no Vietnã ou no Alasca, são coisas que ele toma profunda e inteiramente a peito, porque a Igreja Católica por toda parte é a mesma, é o Corpo Místico de Cristo, e ele é filho da Igreja Universal. Nós devemos pensar nisso nessa véspera de Natal. Em que termos?

Costuma-se dizer, entre os que se preocupam com a teologia da história que o mundo nunca tinha caído tão baixo como estava antes da vinda de Nosso Senhor; que havia um deperecimento e um desgaste de todos os valores; que na terra ninguém mais seguia aquelas vagas tradições de retidão original, que ainda restavam pelo gênero humano. A Sinagoga estava pervertida. Na face da terra tudo estava péssimo.

E Nossa Senhora se afligia extraordinariamente com isso. Por isto ela rezou e por meio da oração dela ela antecipou a vinda do Messias. Quer dizer, a oração dela obteve a derrocada de todo o mundo antigo, com seus crimes, os seus pecados, e a instauração do mundo novo, que é o mundo de Jesus Cristo.

Nossa Senhora conhecia a situação da humanidade inteira, gemia por essa situação e obteve o remédio. Nós devemos pensar, portanto, que o Santo Natal é, nesse sentido, um fruto do zelo de Nossa Senhora pelas condições do mundo naquele tempo.

Ora, as condições do mundo hoje em dia, debaixo de um certo ponto de vista, são piores do que naquele tempo. E universais também. E nós, então, na véspera do Santo Natal, devemos pedir uma segunda vinda de Cristo. Evidentemente, não se trata de uma vinda como foi a primeira, quer dizer, a vinda dele pessoalmente, pela Encarnação. Nós não somos milenaristas.

Mas nós devemos pedir que por uma efusão particularmente ampla de graças, a presença de Cristo na terra se torne muito mais atuante, muito mais marcante. E que por essa forma Nosso Senhor alcance uma grande vitória sobre o mundo, como alcançou naquele tempo. Quer dizer, nós, quando rezamos as Antífonas do Advento, então se pede: Vem, ó Salvador, vem ó Emanuel, vem ó Esperado de todas as gentes, nós devemos pedir a mesma coisa.

Não quanto a presença própria e física de Cristo, que dá-se na Eucaristia, e não se dará de outra maneira a não ser no fim do mundo, mas a presença dele pela graça. Que a graça dele venha e que se torne muito mais presente na terra e que obtenha uma grande vitória. É para essa vitória que nós devemos ter os olhos atentos na preparação do Natal.

Esquematizando, então, o santo do dia, nós poderíamos dizer que ele se dividiu em duas partes:

A primeira parte foi um comentário sobre as cerimônias da Igreja. Tese: Segundo o consenso universal todas as instituições pujantes exprimem seu espírito através de instituições. Exemplo: Forças Armadas, diplomacia, etc.

Ora, a Igreja é uma instituição pujante e que usa também meios naturais para falar aos homens; meios sensíveis. Logo, o cerimonial da Igreja é o modo pelo qual a Igreja nos torna presente o seu espírito.

Entretanto, o espírito da Igreja não é algo de natural: é sobrenatural. É o Espírito Santo que nos fala pela Igreja. Então, os cerimoniais da Igreja são veículos da graça do Espírito Santo. Nós conhecemos a Igreja através de seus cerimoniais. Devemos amá-los extremamente. Isso é a primeira parte do santo do dia.

A segunda parte do santo do dia é um comentário de Santa Teresa:

Parte A – a função da carmelita: oração, penitência pela Igreja Universal.

Parte B – nós devemos também nós lutar, rezar, sofrer pela Igreja Universal.

Parte C – relação com o Natal: o mais esplêndido dos triunfos de Deus na terra foi antecipado pelos rogos de Maria, à vista da extrema decadência da humanidade de então. Devemos pedir a Nossa Senhora uma nova vinda de Cristo à vista da situação extremamente degradada do mundo atual.

Explicação: Não se trata de uma vinda como Cristo terá no fim do mundo, mas uma presença particularmente rica pela graça.

Essa é a intenção com que nós devemos nos preparar para o Natal.

Auditório da Santa Sabedoria