Santo
do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 16/12/1969 –
3ª-feira – p.
Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 16/12/1969 — 3ª-feira
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Necessidade de penitência como preparação para o Natal.
O santo do dia deveria ter uma palavra sobre o assunto. Embora uma palavra rápida, por causa da hora que já vai adiantada. O material que foi preparado para isso é um comentário de D. Lefêvre, da Missa Quotidiano e Vesperal. E o texto é o seguinte:
“A alegria de possuir em breve a Nosso Senhor Jesus Cristo é uma das notas dominantes do Advento. No começo, contida, logo dá-se livre curso chegando à exaltação do Natal. A idéia da purificação das almas que está intimamente ligada, é claro, à da volta de Cristo, encontra-se nessa época em cada página do breviário e do missal. Os hinos, a escolha dos Salmos, a pregação dos Profetas e do Precursor, as orações dos quatro domingos, o versículo tantas vezes repetido... Tornai retos os seus caminhos, falam da necessidade de preparar as almas para a vinda do Salvador. Na Idade Média prescreveu-se o jejum durante o Advento, chamado a Quaresma do Natal; velavam-se as imagens como no tempo da Paixão; ainda hoje são usados paramentos roxos, símbolos da Penitência”.
Houve uma tal decadência do mundo a partir da Idade Média que a Igreja foi obrigada a condescender com muitas fraquezas humanas que não eram diretamente pecados, com o qual ela não pode pactuar de nenhum modo, mas para se tornar habitável pelos homens entre os quais as verdades tinham diminuído. Mas realmente, bem pensadas as coisas, se há uma plenitude de razão para que a Semana Santa seja precedida de quarenta dias de penitência, há também altíssimas razões, uma conveniência extraordinária, para que o Natal seja procedido de penitência.
Para induzir o povo de Israel à penitência, o Senhor mandou o maior dos profetas, São João Batista, exatamente para endireitar os caminhos para Nosso Senhor passar. Que não eram, evidentemente, os caminhos materiais, mas eram os caminhos da alma, para que as almas das pessoas que constituíam o povo de Israel, ficassem endireitadas, ficassem preparadas, fossem tornadas retas para ouvir a palavra do Deus Encarnado, que deveria vir à terra.
E ele pregou exatamente o jejum e a penitência, como condição para que Nosso Senhor fosse bem recebido. Assim, portanto, é da maior vantagem, da maior conveniência, da maior propriedade, que o Natal seja precedido de uma longa penitência. Penitência essa que torna, que conserva, que era uma verdadeira Quaresma no tempo do Advento no tempo da Idade Média, e que depois foi se afrouxando pela fraqueza dos homens.
Mas a Igreja, que sempre afirma o princípio, mesmo quando ela condescende com alguma coisa por necessidade pastoral, conservou os paramentos roxos, conservou também toda uma liturgia com textos penitenciais, preparando-nos exatamente para essa penitencia. Qual é a penitência que nós devemos fazer, que nós devemos considerar na ocasião do Natal, qual é a graça que nós devemos pedir por ocasião do Natal?
Nós devemos considerar o seguinte: que Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite de Natal, se tornou, enfim, nasceu com o intuito de tornar-se conhecido pelos homens e de levar os homens a Deus; de disseminar a virtude na terra, fundar a Igreja Católica, que era o seu instrumento para a disseminação da virtude e para o combate do mal.
Em conseqüência nós devemos nos preparar para a festa de Natal certos do ardente desejo, permanente e contínuo de Nosso Senhor, de reconduzir todos os homens novamente à vida eterna, salvar toda a humanidade, de renovar todas as condições espirituais do mundo, para facilitar para o mundo o caminho do céu. É por causa disso que no Natal nós celebramos a festa do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao mesmo tempo – e todas as almas que acompanham o Natal com piedade, tem meios para perceber isso – há ao mesmo tempo uma espécie de sensação em todo mundo, e é uma sensação que, ao meu ver, sem o sobrenatural não existiria, há uma sensação, há uma sensação de renovação, e esperança, de grande perdão.
É impossível que na noite de Natal todos os senhores não sintam que o Céu se torna mais próximo da terra; que todos os senhores não sintam que há como que uma anistia, que há como que um imenso perdão para os homens. Nosso Senhor faz como que tabula rasa do passado e aparece para os homens pecadores como Menino; pequeno, frágil, portanto, não propenso ao castigo, mas pelo contrário propenso ao sorriso, propenso ao perdão, propenso ao sorriso, ou melhor, propenso à misericórdia; como menino que nos convida a nos enternecer a propósito dele; a termos compaixão dele e nos prometendo assim a compaixão dele para conosco.
E uma sensação de que todo um passado errado tem oportunidade de se por em dia, que toda uma vida torta tem ocasião de se endireitar; e que há graças de suavidade, graças de doçura, a graça de bondade para todas as almas que se apresentam, que se aproximam do Presépio nessa ocasião.
Nós devemos, portanto, para nos preparar, colocar isso diante dos nossos olhos: por pior que seja a situação do mundo, por mais triste que seja a situação da Igreja nós, ao menos na nossa vida espiritual individual, nós temos essa possibilidade: de receber por ocasião do Natal, um grande perdão, uma grande anistia, uma grande renovação de todas as condições de nossa vida espiritual, a abertura de uma era nova para nossa vida espiritual, desde que nós participemos do Natal santamente e com boas disposições.
E nós, então, desde hoje, devemos nos preparar para essa disposição de alma. E o modo que nós temos de nos preparar para isso consistem, primeiro de tudo, em recorrer a Nossa Senhora. Porque como Nossa Senhora é Medianeira necessária, por vontade de Deus, de todas as graças, e como todas as nossas orações só chegam a Nosso Senhor Jesus Cristo por meio dEla; e todos os atendimentos só baixam de Nosso Senhor Jesus Cristo pra nós por meio dEla, a primeira coisa que devemos fazer é voltar os olhos a Ela.
E pedir a Ela que prepara a nossa alma para o Natal. Prepare nossa alma pela confiança, prepare nossa alma fazendo-nos prelibar essa suavidade extraordinária do Natal, prepare nossa alma fazendo com que nós compreendamos que um passado ruim, de infidelidade, de incorrespondências, pode ser alcançado, pode ser recuperado por um grande perdão da noite de Natal. Que virão graças extraordinárias, graças não merecidas, e que essas graças vão retificar a nossa vida.
Quer dizer, Nossa Senhora é que nos deve preparar essas graças, para receber essas graças, para corresponder a essas graças. É com esse espírito que nós nos devemos voltar para Nossa Senhora.
O Evangelho nos conta que São João Batista estremeceu de gáudio quando ele ouviu a voz de Nossa Senhora. Ela preparou, portanto, para Cristo, aquele que era chamado a preparar todos os homens para Cristo. Aí nós compreendemos como uma palavra de Nossa Senhora como santifica. Vamos pedir, então, a ela que fale no interior de nossas almas, e que ela prepare as nossas almas para o santo Natal, segundo essas disposições.
E uma atmosfera de penitência, de recolhimento, de contrição de nossos pecados, de compreensão, de misericórdia do perdão que nós precisamos, que nós vamos receber pelo favor dela. Isso seria a nossa primeira meditação sobre a noite de Natal. Um pouco tumultuada pela multidão dos bilhetes, mas eu creio que talvez eu dando um pouco o esquema, possa facilitar a compreensão.
Então o esquema é o seguinte – eu tenho má memória, de maneira que não me lembro bem exatamente da ordem em que eu expus as coisas, por causa exatamente dos bilhetes, que me perturbaram –, mas o esquema é: 1) Na consideração de D. Guéranger sobre a liturgia, a liturgia do Advento, eu ressaltei a importância do aspecto quaresmal do Advento.
Depois eu mostrei como era próprio que uma Quaresma precedesse o Natal – a Quaresma do Advento – como há uma Quaresma de penitência precedendo a Semana Santa.
Agora, por que é próprio? Porque se trata da vinda de Nosso Senhor, e as almas têm que estar preparadas para essa vinda.
Depois eu mostrei que é só por uma condescendência para com os homens que a Igreja afrouxou – os homens decadentes e post-medievais – que a Igreja afrouxou as obrigações do Natal, dessa Quaresma. Mas que a liturgia está impregnada dessa reminiscência quaresmal.
Depois, então, eu insisti sobre a noção de como era adequada a Quaresma para o Advento, lembrando que São João Batista foi o pregador de uma imensa quaresma para preparar os homens para a vinda de Nosso Senhor.
Bom, em toda essa primeira parte eu mostrei que nós devemos nos preparar. Agora na segunda parte eu mostrei no que consiste a preparação. Eu primeiro mostrei, vamos dizer na parte 2, vamos dizer A, 2ª se quiserem, eu mostrei que todos os tesouros de misericórdia, de graça, com que Nosso Senhor Jesus Cristo renova as vidas espirituais por ocasião da Quaresma, para prepará-las para o Natal, que é uma grande anistia, um grande perdão, uma grande misericórdia.
Depois, a parte 2 B, eu mostrei como é que nós devemos nos preparar para isso: é voltando os olhos a Nossa Senhora, medianeira de todas as graças.
2 C – Pedindo o que a Nossa Senhora? Pedindo que ela nos conceda um conhecimento de nossos pecados, compunção, desejo de emenda, confiança de sermos perdoados. Isso, muito resumidamente, é a meditação de hoje.
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