Santo do dia ─ 24/09/69 ─ 4ª feira . 5 de 5

Santo do dia ─ 24/09/69 ─ 4ª feira

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Deus não é obrigado a nos dar sempre o melhor”. A recusa em alugar o prédio do Coração de Maria e o apartamento da Rua Dória de Barros * Trecho de Santo Agostinho sobre as virtudes de Nossa Senhora * O Senhor Doutor Plinio aplica a virgindade e a maternalidade de Nossa Senhora à Santa Igreja * O amor ou a repulsa às verdades da Fé determina a salvação ou condenação eterna dos indivíduos, mesmo dos que não conheceram a Igreja * A infabilidade papal, a Eucaristia, o sacramento da Penitência, três aspectos da beleza da Igreja

* “Deus não é obrigado a nos dar sempre o melhor”. A recusa em alugar o prédio do Coração de Maria e o apartamento da Rua Dória de Barros

da recusa oficial dos padres do Coração de Maria à nossa proposta de locação do prédio. Nós esperávamos que Nossa Senhora das Mercês nos concedesse essa mercê e nós tivemos uma recusa em vez da graça pedida.

Isso me fez lembrar que quando nós tínhamos sede na rua Vieira de Carvalho e o grupo era ainda bem menor do que é hoje, existia a Martim mas não existia sequer a Aureliano, ou começava apenas a existir algo que veio a ser depois a Aureliano, nós tivemos oportunidade de alugar um apartamento que nos parecia então magnífico, num edifício Dória de Barros, que eu creio que vários dos senhores conhecem, é na esquina da Avenida Angélica com a rua Jaguaribe.

Dr. José Fernando, Dr. Paulo, Dr. Eduardo, outros se lembrarão, Dr. Arnaldo ─ todo o trabalho, todo o empenho ─ que nós tivemos em alugar o edifício Dória de Barros.

Rezamos e fizemos promessas etc., etc., e queríamos um contrato longo, porque achávamos que lá devíamos ficar muito tempo, talvez até a Bagarre.

Bem, o grupo depois cresceu tanto que para nós teria sido um abacaxi o edifício Dória de Barros, porque seria impossível levar para cima, de elevador, todo mundo que começou a comparecer no santo do dia, um ano, talvez, depois, de nós termos querido locar aquele edifício. De maneira que aquilo que para nós, naquele tempo, pareceu um desapontamento, veio a constituir depois uma expressão de solicitude materna de Nossa Senhora. O que que pode ser melhor do que o Coração de Maria? Eu também não o sei. Mas Nossa Senhora dirá, de algum modo nós haveremos de descobrir de que maneira é.

Entretanto, há um princípio que eu gostaria de lembrar: é que Deus não é obrigado a nos dar sempre o melhor. Ás vezes para provar a nossa confiança nEle, Ele nos dá o menos bom para fazer com que saibamos dobrar a cabeça diante d’Ele, e saibamos compreender a nossa condição de súditos.

Ele às vezes nos dá o menos bom. De maneira que também não vamos ficar aqui num otimismo um pouco atontado, ou um pouco abobado. Não é nem isso. Nós de Deus devemos esperar tudo, compreendendo que mesmo o menos bom, quando nos vem das mãos de d’Ele é muito bom. E que se Ele não quer nos dar senão o menos bom, para nós esse menos bom é o que aceitamos como sendo o melhor. Isso é que sobretudo nós devemos ter em linha de conta.

É um trecho de Santo Agostinho; a respeito, a propósito da festa de Nossa Senhora das Mercês:

* Trecho de Santo Agostinho sobre as virtudes de Nossa Senhora

O Maria, cumpristes perfeitamente a vontade do Pai Celeste. Vossa maior honra, vossa maior felicidade não foi de ter sido a Mãe, mas a discípula de Cristo. Bem-aventurada sois por terdes ouvido o Verbo de Deus e conservado em vosso coração. Vós guardastes a verdade de Cristo em vossa inteligência, mais ainda que sua carne em vosso seio. Não se saberia comparar-vos às mulheres do Antigo Testamento, a Ana, a Suzana. A que alturas não Vos elevastes acima delas? Aqui ainda não falamos na santa virgindade, mas vossas outras virtudes, ó Maria, há no mundo alguém que as ignore?

Para exemplo e ensinamento para todas as mulheres convém somente não esquecer vossa santa e admirável modéstia.

Eu preciso lembrar sempre aos senhores que modéstia, dentro da doutrina católica, não é estar de olhos baixos, apagados, sumido.

Modéstia é uma coisa diferente: é ter bons modos, boas maneiras, maneiras dignas, de acordo com a virtude cristã.

Vós fostes julgada digna de conceber o filho do Altíssimo e, entretanto, permanecestes a mais humilde de todas as criaturas; porque fizestes sem cessar a vontade de Deus, sois segundo a carne e o espírito, a Mãe de Cristo, sua Mãe e sua irmã, mulher única, mãe e virgem, e vós o sois corporalmente e espiritualmente.

Mãe de nosso chefe, que é o Salvador, vós sois também e perfeitamente mãe de todos os membros de Cristo, porque cooperastes, por vossa caridade, para o nascimento dos fiéis na Igreja.

Única entre todas as mulheres sois, ainda uma vez, mãe e virgem. Mãe de Cristo e virgem de Cristo. Foi por vós, ó Mãe do Senhor, que a dignidade virginal começou sobre a terra. Por Vós, ó Maria, que merecestes ter um filho, mas que o merecestes sem deixar de ser virgem. Para honra do Salvador Jesus o pecado não se aproximou de Vós. Sabemos que para vencer o pecado e o vencer inteiramente foi dado graça abundante àquela que foi digna de conceber e de cuidar do impecável.

A beleza e a dignidade da terra sois Vós, ó Virgem, que fostes sem cessar a figura da Santa Igreja. Por uma mulher, a morte; por uma mulher, a vida.

E essa última sois Vós, ó Mãe de Deus.

* O Senhor Doutor Plinio aplica a virgindade e a maternalidade de Nossa Senhora à Santa Igreja

É um lindo trecho de Santo Agostinho mas, como de costume, num estilo não inteiramente acessível a minha dileta “geração nova”.

Mas também é muito ingrato a gente dessorar Santo Agostinho, tirando o pensamento dele de dentro das palavras majestosas que ele colocou.

De maneira que me parece que seria suficiente, para nós aqui tirarmos, compreendermos um pouco a frase final dele, quando ele falou que Nossa Senhora é a imagem perfeita da Igreja Católica, a figura da Santa Igreja, nós compreendermos até que ponto e em que sentido a Igreja é virgem e a Igreja é mãe. E de que maneira a Igreja, por sua vez, é a imagem de Nossa Senhora.

A Igreja é virgem nesse sentido da palavra de que ela é de uma santidade absoluta e não tem nenhuma forma de condescendência nem com o erro nem com o mal. De maneira tal que qualquer mácula nela não existe. Ela é portanto, intacta como uma virgem.

Agora, ela é mãe porque todos os homens nascem para a vida espiritual de dentro da Igreja. Eles nascem, eles são engendrados pela Igreja.

Se não fosse a Igreja nenhum homem poderia salvar-se. E ela procede como mãe em relação aos filhos, mas ela os nutre com os Sacramentos da vida sobrenatural da graça, ela os ensina por meio do Magistério infalível; ela os guia por meio da autoridade da hierarquia eclesiástica, de maneira tal que ele exerce, em relação a cada homem, a cada um dos católicos, todos os ofícios e todos os misteres que a Mãe exerce em relação ao filho.

E o que há de bonito nela é que se pode dizer dela, como de Nossa Senhora, que ninguém é mais virgem do que a Igreja, mas ninguém é mais mãe do que a Igreja.

Porque em todas as instituições da terra, ou em todas as mães da terra, ninguém teve uma maternidade mais copiosa do que a Igreja Católica.

Desde o momento em que ela foi fundada, até o fim do mundo, todos os homens que se salvarem serão gerados nela e serão gerados por ela e ela é que levará até à vida eterna.

* O amor ou a repulsa às verdades da Fé determina a salvação ou condenação eterna dos indivíduos, mesmo dos que não conheceram a Igreja

Acontece naturalmente que haverá pessoas que se salvarão sem serem católicas. São as pessoas que não tiveram oportunidade de conhecer a Igreja Católica. São as pessoas que não tendo essa oportunidade, porque viveram em regiões longínquas, porque nunca ouviram falar da Igreja etc., não puderam adivinhar que a Igreja Católica existia.

Mas São Tomás de Aquino diz que antes dessas pessoas morrerem, elas recebem uma revelação de um Anjo que lhes dá os mistérios essenciais da Fé e que elas no último momento, são convidadas a crer ou a recusar.

Se elas crêem, elas se salvam. Se elas recusam, elas não se salvam. Mas no fim da vida, no último instante, segundo a doutrina de São Tomás de Aquino, as pessoas penetram na Igreja, senão pelo batismo da água, pelo batismo de desejo.

De maneira que todos acabam pertencendo à Igreja católica, todos aqueles que de fato se salvam.

Aqui os senhores têm bem alguma coisa que nos diz respeito e profundamente: os senhores vêem como Santo Tomás de Aquino concebe o papel da fé na salvação e o papel, da Igreja para cada católico.

Os senhores estão vendo: a alma está nos últimos transes; talvez até numa situação em que ela está dada por morta, o homem está dado por morto por todos os circunstantes.

Mas vem um Anjo e revela as verdades essenciais da Fé, aquelas verdades sem as quais ninguém se pode salvar. E naquele momento a pessoa é levada a dar um ato de amor àquilo e tem para isso as graças suficientes.

Mas é natural, é compreensível que em virtude de seus vícios, em vez de um ato de amor tenha um ato de ódio. Se ela amar se salvará, se ela odiar ela se perderá.

Aí os senhores estão compreendendo como o amor a Deus, o amor a Igreja Católica preside a todas as virtudes, é a fonte de todas as virtudes.

Quem olha e ama, esse se salva, porque esse depois pratica a virtude. Quem não olha ou quem olha e não ama, quem desvia os olhos, esse se perde, porque esse cortou com a raiz de todas as virtudes.

Aqui está também nossa posição. Quantas e quantas vezes eu ouço lamentações desse, daquele, que tem dificuldade em tocar a vida espiritual, que tem dificuldade em perseverar na prática dos Mandamentos, ou pelo menos dificuldade em progredir na vida espiritual.

A solução qual é? Uma das muitas soluções ─ porque a Igreja é a cidade da salvação onde para tudo há muitas soluções ─ uma das muitas soluções é exatamente aumentar nossa fé; é aumentar o nosso amor à Igreja Católica.

Aumentando esse amor, a nossa determinação para praticar o bem aumenta também; o nosso ódio ao mal aumenta também.

E muitas vezes as pessoas não têm suficiente ódio ao mal, porque no fundo não têm suficiente amor a Igreja nem suficiente ódio aquilo que se opõe à Igreja.

De maneira que então temos aqui um pensamento final. A Igreja é a figura de Nossa Senhora. Ela é resplandecente e bela na terra, nós devemos procurar amá-la para nós nos prepararmos para amar Nossa Senhora no Céu.

Ter os olhos fechados para todas as misérias presentes da Igreja e pensar na Igreja eterna, na Igreja imutável que não se identifica com essas misérias e que nós devemos amar acima de todas as coisas no mundo. A Igreja na sua hierarquia, nos seus mil aspectos verdadeiramente divinos.

* A infabilidade papal, a Eucaristia, o sacramento da Penitência, três aspectos da beleza da Igreja

Por exemplo, em tudo quanto há de belo, para só falar em três coisas, na infalibilidade papal; na figura de um homem infalível, governando todo o universo e ensinando a todo o universo o caminho da verdade. E de um governo que não é um governo temporal, mas um governo do espírito.

Nunca se concebeu, em matéria de governo, algo de tão belo, algo de tão nobre quanto isso. Considerar, de outro lado, a Eucaristia. Deus verdadeiramente presente, realmente presente entre nós, embora oculto misteriosamante pela espécies eucarísticas; e essa possibilidade do homem ter com Deus um convívio tão íntimo e até insondável.

Deus entra nesse homem e como que faz um com esse homem. Pode-se imaginar uma coisa mais bonita do que o Todo Poderoso condescender em ter tal familiaridade com cada um dos homens que Ele criou?

O sacramento da Penitência. Os senhores podem imaginar que inferno seria o mundo sem o confessionário? Se nós não pudéssemos nos abrir sobre os nossos pecados? e não tivéssemos a certeza do perdão? Que horror seria a incerteza sobre se Deus nos perdoou ou não! Se nós estamos em estado de graça ou não etc., etc.

Que obra prima de sabedoria existe no confessionário, o segredo do confessionário não ser traído! Não adianta quererem desfigurar a Igreja. Quanto mais desfiguram a Igreja, mais ela é bela.

Os senhores querem ver? Nessa época de decadência clerical, não é uma coisa espantosa que, precisamente agora ainda o segredo do confessionário seja tão mantido?

Esse segredo não fica ainda mais evidentemente miraculoso? Que de dentro dos pântanos do progressismo nós não vemos, apesar de tudo, sair um raio de luz da Igreja?

Aí nós compreendemos quão bela a Igreja e quão digna de amor.

Quando nós pensarmos em tudo isso, encontraremos mais resolução para combater os nosso pecados e para praticar a virtude.

Que Nossa Senhora nos ajude a isso.

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