Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 2/4/1969 – 4ª-feira – p. 7 de 7

Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 2/4/1969 — 4ª-feira

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os trechos entre colchetes e com “?”: são do original datilografado, muitas vezes riscados;

os trechos apenas entre colchetes: são sugestões ou possíveis alterações do corretor.]

A Agonia no Horto: luta moral e pavor na previsão da Paixão. Todo homem tem medo da dor física e da dor moral. Nosso Senhor considerou de frente a Paixão. Não é coragem ignorar as provações. Necessidade da graça para enfrentar a dor. Pedir coragem para enfrentar a “Bagarre”. Nosso Senhor censura o sono dos Apóstolos. Pensar em si é dormir quando a Igreja está sofrendo. O beijo imundo da História.

Evangelho da Paixão – IV. Agonia no Horto

A narração da Agonia no Horto * Luta moral e pavor na previsão da Paixão * Todo homem tem medo, seja da dor física, seja da dor moral * Nosso Senhor considerou de frente a Paixão, com a determinação de se conformar com a vontade divina * Não encontrou apoio humano, mas um Anjo O confortou * Não é verdadeira coragem fechar os olhos para as provações * Para enfrentar a dor, é indispensável o auxílio da graça * Pedir coragem na “Bagarre”, pelos méritos da Agonia no Horto * O sono dos Apóstolos é censurado por Nosso Senhor * Dar atenção à nossa pessoinha, é dormir quando a Igreja está sofrendo * O beijo imundo da História

* A narração da Agonia no Horto

O trecho que me indicaram para comentar, do Evangelho [de?] hoje, é o [do] Getsêmani. Eu estou seguindo o texto da “Concordância dos Santos Evangelhos”, de Dom Duarte:

Depois dessas palavras, tendo recitado o hino de ação de graças, subiu Jesus com os discípulos além da torrente do Cedron. Dirigindo-se para o Monte das Oliveiras, [como costumavam], chegaram a um lugar chamado Getsêmani, onde havia um jardim, em que entrou com seus discípulos.

Chegando a esse lugar, disse-lhes Jesus: “Sentai-vos aqui enquanto vou ali fazer oração. Orai também para que não entreis em tentação”. Depois, tomando consigo a Pedro, [Tiago e João, os dois filhos de Zebedeu?] [e aos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João], começou a sentir pavor e angústia e caiu em tristeza e abatimento. “Minha alma está triste até a morte — lhes disse Ele —; ficai aqui e velai comigo.”

Adiantando-se uns poucos passos, afastou-Se deles à distância de um tiro de pedra, prostrou-Se com a face no chão e começou a orar para que, se fosse possível, se afastasse d’Ele, aquela hora: “Meu Pai — dizia ele — se é possível, afastai de mim esse cálice. Todavia, faça-se a vossa vontade e não a minha”.

Voltando aos discípulos, encontrou-os dormindo, acabrunhados pela tristeza, e disse a Pedro: “Simão, tu dormes? Assim, não pudeste velar uma hora comigo? Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Afastou-Se de novo e orou pela segunda vez, dizendo: “Meu Pai, se não pode passar esse cálice sem que Eu o beba, faça-se a vossa vontade”. Voltou ainda e encontrou-os outra vez dormindo, porque tinham os olhos pesados e não sabiam o que Lhe responder.

Tendo-os deixado, foi de novo e orou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. E tendo caído em agonia, multiplicava as orações. Sobreveio-Lhe então um suor como de gotas de sangue, que corriam até o chão. Mas apareceu-Lhe um Anjo do Céu, que O confortou. Levantando-Se da oração, terceira vez voltou aos seus discípulos e lhes disse: “Dormi agora e descansai. Eis que chegou a hora em que Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos. Está próximo aquele que Me há de entregar”.

Falava ainda Jesus quando chegou Judas Iscariotes, um dos doze, pois o traidor conhecia o lugar, porque aí vira muitas vezes Jesus com seus discípulos.

* Luta moral e pavor na previsão da Paixão

Os senhores estão vendo que o total da narração abrange a enorme luta moral que Nosso Senhor Jesus Cristo teve na previsão de sua Paixão. Ele enfrentou os maiores tormentos espirituais que um homem pode enfrentar nessa ocasião, e ao lado dos tormentos espirituais, tormentos físicos verdadeiramente indizíveis. E como acontece [com?] [a] toda pessoa, quando vai se aproximando dela a hora da dor, ela se sente angustiada e ela tem pavor. E assim também Ele que, ao par de ser verdadeiro Deus, era verdadeiro homem, sentindo aproximar-se d’Ele aquele colosso, aquele mundo de dores que Ele devia sofrer, Ele começou a sentir pavor. Então, nós vemos aí todas as manifestações do medo que se levantam dentro d’Ele.

A gente poderia perguntar como é que Nosso Senhor Jesus Cristo teve medo. O medo passa por ser uma fraqueza, passa por ser uma debilidade. Era ridículo ter medo. Um homem forte não sente medo; assim se pensa habitualmente. A prova disso é que os heróis de cinema não sentem medo. Os heróis de televisão não sentem medo. Então, muita gente pensa que ninguém tem medo, ou que pelo menos o homem, verdadeiramente vigoroso, não tem medo. Nós vemos que há exemplos de homens sem medo, admiráveis, na história da Igreja, santos que enfrentaram as situações mais terríveis sem medo, que enfrentaram os martírios mais horríveis, dando glória a Deus e manifestando-se alegres por causa da morte que iam sofrer.

* Todo homem tem medo, seja da dor física, seja da dor moral

Pois bem, Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o próprio Autor da santidade, Ele, que sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é a própria santidade — porque Deus é a santidade —, Ele, entretanto, quis sentir medo. E Ele quis que todos os homens, até o fim do mundo, soubessem que Ele sentiu medo.

Como é que esse medo n’Ele não foi uma imperfeição? Como é que esse medo n’Ele não foi uma fraqueza? Pelo contrário, foi uma perfeição. Porque se é verdade que muitos santos, aliviados por graças extraordinárias do Espírito Santo, sentem até consolação na hora do tormento, é mais verdade ainda que, sem uma graça especial, o homem colocado em face da dor, seja dor física, seja dor moral, o homem normal tem medo. E que sem uma graça especial, só o tonto não tem medo, só o cretino não tem medo.

Os senhores imaginem um homem que sabe que vai ser crucificado, um homem que sabe que, antes de sua crucifixão, vai passar por todos os tormentos anteriores que se possam imaginar. É possível, sem uma graça especial, é possível esse homem enfrentar todos esses tormentos sem sentir terror? Esse seria um degenerado, no qual o instinto de conservação não teria nenhum vigor, nenhuma força, estaria deteriorado.

Também na alma. A alma tem um certo medo do sofrimento que ela vai ter. Todo ser ama seu próprio ser. A alma se ama a si própria, e diante do pavor dos males que podem desabar diante dela, no normal é que ela sinta medo. E não é mais santo aquele que não sente medo, do que aquele que sente medo. Pelo contrário, pode haver mais mérito, pode haver mais virtude em sentir o medo e [em] superá-lo, do que caminhar para um perigo sem medo, ainda que seja um destemor de caráter sobrenatural.

* Nosso Senhor considerou de frente a Paixão, com a determinação de se conformar com a vontade divina

Bem, Nosso Senhor Jesus Cristo, para o conforto de todas as almas que houvessem de sentir medo até o fim do mundo, Ele não quis ser confortado durante sua Agonia no Horto por algo que Lhe desse essa força. Ele quis passar pelas humilhações do medo. E nós O vemos então, considerando de frente aquilo por que devia passar, analisando tudo, pesando ponto por ponto, e fazendo o ato de conformidade com a vontade divina, mais sublime que se possa imaginar: é de quem diz: “Eu prevejo tudo, Eu avalio tudo, Eu sei tudo, de antemão pondero tudo. Tudo isso posto, meu ser inteiro estremece de horror. Eu até suo sangue de terror [do?] [com o] que vai acontecer. Eu vos peço, ó meu Deus, se for possível, [afastai?] [afaste-se] de Mim o vosso cálice. Mas se vossa vontade soberana for de que Eu passe por [isso?] [isto], Eu aceito. Eu não recuo diante do meu caminho. Eu vou para frente, porque quero fazer aquilo que Vós quereis”.

Aqui nós vemos a suprema determinação de Nosso Senhor Jesus Cristo, profundamente séria, profundamente verdadeira, profundamente eficaz, porque Ele fez aquilo que Ele quis. Ele quis padecer e, de fato, padeceu, e padeceu tudo quanto estava diante d’Ele. Ele, entretanto, como os senhores estão vendo, [Ele] várias vezes teve medo. O tempo inteiro de sua Agonia, Ele teve medo. Chegou um momento em que Ele esteve prostrado de medo, mas a sua vontade não hesitou uma só vez. Não teve uma vacilação: “Aquilo que é a vontade do Padre Eterno, Eu farei, custe o que custar, seja como for”.

* Não encontrou apoio humano, mas um Anjo O confortou

Se nós percebemos que Ele esteve como que esmagado pela dor, nós percebemos que a dor foi tanta, que na sua humanidade santíssima Ele não tinha como que meios para enfrentar aquilo que Ele deveria enfrentar. E, então, Ele poderia [ter se?] [se ter] perguntado a Si próprio: “Como vou agüentar? Como vou vencer essa dificuldade?” E a resposta foi dada pela própria Providência: depois de Ele ter procurado três vezes o apoio moral, a consolação dos discípulos sonolentos, veio um Anjo e O confortou. Onde tudo tinha faltado a Ele, até a fidelidade daqueles que Lhe eram mais fiéis, ali, entretanto, a Providência não faltou. E veio um Anjo e O confortou, [quer dizer, Lhe deu forças]. Isso é apresentado, em geral, como um Anjo que aparece com um cálice que Ele bebe e [que] Lhe dá forças. Então, com essas forças que vieram no último momento da Agonia, vieram no instante em que o inimigo vinha se assenhorear d’Ele, em que os tormentos morais d’Ele estavam no auge, com esse momento Ele caminhou para os discípulos e disse: “Agora, não dormi. Vêm aqui os traidores, vem aqui o traidor, o filho da perdição, [e?] vêm Me pegar”. E Ele aponta um contraste que nós daqui a pouco vamos analisar.

Os senhores estão vendo o que isso é. É que daqueles a quem Nosso Senhor verdadeiramente ama, Ele muitas vezes permite, para esses, que o tormento chegue até o último ponto e que tudo pareça perdido. Para Nosso Senhor, debaixo de um certo ponto de vista, a considerar as coisas apenas na sua humanidade santíssima, tudo esteve perdido. Ele rezou, Ele se conformou o tempo inteiro com a vontade divina, mas Ele estava prostrado diante do sofrimento. E os homens não O atenderam. E a sua Mãe Santíssima, por um desígnio misterioso da Providência, estava longe d’Ele. [E] então, Ele sofreu inteiramente [sozinho?] [só], mas Ele não recuou. O Anjo veio e O confortou.

* Não é verdadeira coragem fechar os olhos para as provações

Quantas vezes, na nossa vida espiritual, nós temos situações assim. A bem dizer, meus caros, se formos considerar com seriedade a vida humana, a vida humana inteira é isso. De começo a fim, ela é isso. O tempo inteiro, em grau maior ou menor, o homem tem diante de si tormentos que o esperam. E a verdadeira coragem não consiste em fechar os olhos para esses riscos, nem para essas provações, nem para esses tormentos, mas consiste em olhar de frente.

Realmente, existe tal perigo. Realmente, existe tal outro. E existe tal outro. Eu não fecharei meus olhos para isso. Eu olharei. Mas [eu] deitarei sobre esses perigos os olhos do homem confiante, que ainda que a dor o possa esmagar, entretanto sabe que, no momento dado, a Providência virá e o auxiliará. E por isso caminha de encontro à possível dor como Nosso Senhor caminhou para a Cruz, sem um passo para trás, sem uma vacilação, sem um momento de debilidade. Mas, já que é preciso levar a cruz até o alto do Calvário e morrer, leva-se a cruz até o alto do Calvário e morre-se no alto do Calvário. Para isso virá um Anjo nos confortar.

* Para enfrentar a dor, é indispensável o auxílio da graça

Quantas vezes, em nossa vida, nós nos deparamos com sacrifícios que julgamos que não teremos forças para cumprir, para realizar. A resposta é: não teremos mesmo. Porque Nosso Senhor era Deus e homem, e na sua humanidade era perfeitíssimo e santíssimo. Nós, o que somos? Nós não somos nada. Nós não valemos nada. Fomos concebidos no pecado original, estamos carregados de outros pecados. Então, como podemos esperar enfrentar a dor? Pelo auxílio da graça, pelo recurso a Nossa Senhora. Olhemos a nossa dor de frente e caminhemos, calmamente, rumo a ela, porque Nossa Senhora nos ajudará. É isso o que devemos fazer.

Quantas vezes, nas ocasiões difíceis da vida do Grupo eu noto, num ou noutro daqueles que me ajudam, um certo agastamento. Quando eu começo a prever: “É possível que se realize tal coisa; e depois é possível que se realize tal outra, e depois tal outra. E é preciso tomar cuidados e providências com tal outra, e calafetar tal perigo assim”. E eu noto em alguns de meus colaboradores, uma espécie de extenuação, como quem diz: “Mas se é para olhar tudo, eu não agüento”. Eu digo: “Meu caro, não deixe de olhar tudo. Calafete os rombos do navio. Tome as providências para que o perigo não venha. Mas olhe para tudo, olhe com confiança, [que] Nossa Senhora ajudará”. Isso é que nós devemos considerar [nesse?] [neste] exemplo sublime que Nosso Senhor nos dá.

* Pedir coragem na “Bagarre”, pelos méritos da Agonia no Horto

Quando vierem os dias da “Bagarre”, os senhores não tenham ilusão. Eu não estou certo [de] que [alguém?] [algum] que chega para mim e diz que não tem medo da “Bagarre”, é necessariamente o que vai ser mais corajoso na “Bagarre”. Eu não estou certo disso. Eu acho que bem pode acontecer que almas que têm medo da “Bagarre”, mas que têm o espírito sobrenatural, na hora da “Bagarre” tenham coragem.

Mas se na “Bagarre” houver muito sofrimento, lembremo-nos de Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. E peçamos a Ele, pelos méritos daquele episódio da vida d’Ele, que Ele nos dê coragem na nossa vida. Cada passo da Paixão de Nosso Senhor traz méritos especiais. A Agonia no Horto é a sua Paixão moral. Ela traz, sobretudo, méritos especiais para aqueles que têm dores de caráter moral, têm sofrimentos de caráter moral. Nós devemos pedir a Ele que, pelos méritos de sua Agonia, nos dê essa coragem moral sublime, que pode ser um pálido reflexo da coragem de que Ele nos deu exemplo.

* O sono dos Apóstolos é censurado por Nosso Senhor

Agora, é interessante a atitude d’Ele com os discípulos. [Vejam] o que Ele diz aos discípulos:

Minha Alma está triste até a morte. Ficai aqui e velai comigo.”

Ele diz que a alma está triste até a morte. Qualquer um se comoveria. O que é que os discípulos fazem? Dormem. E dormem de tal maneira que, quando Ele os acordava, diz o Evangelho [aqui] mais adiante que eles nem sabiam o que dizer. [Quer dizer], estavam, ao mesmo tempo, tão confusos, tão opressos, que nem sabiam o que dizer. Nosso Senhor, no fim, lhes faz a censura. E essa censura merece nossa meditação:

Dormi agora e descansai. Eis que chegou a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos, está próximo aquele que Me há de entregar.”

[Quer dizer], por que isso: “Dormi agora, e descansai”? Quer dizer: “Vós dormistes. [Estamos agora?] [Agora estamos] na hora extrema. Não adianta mais vos acordar. A vigília que Eu vos pedi não tem razão de ser. [Durmam], já que dormiram até aqui, durmam [dormi]. Já que descansaram até aqui, descansem [descançai]. A vossa hora passou. A hora de Me consolar, a hora de rezar Comigo, essa hora passou sem que vós aproveitásseis. Do mundo inteiro virão almas para este jardim, para se compadecerem Comigo do meu tormento, do meu sofrimento. Mas vós estáveis dormindo. E ficará dito para todo o sempre que vós estáveis dormindo nesta hora. Vós [deixastes?] [deixais] passar isso. Eu vos perdoarei, mas essa hora passou”.

Agora, Ele faz um contraste entre o sono dos Apóstolos e o que se passa. Diz Ele, palavras textuais:

Eis que chega a hora…”

E agora [vem] o contraste pungente, Ele resume tudo quanto vai acontecer:

“…o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.”

É o horror dos horrores. O Filho de Deus, Deus, Ele mesmo, vai ser entregue. E vai ser entregue nas mãos de quem? Vai ser entregue nas mãos dos pecadores. O pecado vai ter uma vitória temporária sobre o Filho de Deus. “Vós não estáveis ao meu lado nessa hora. Se Eu tivesse precisado de vós para lutar, vós não teríeis lutado. Vós não fostes nada. Isso [aconteceu,] e vós não tivestes zelo. Vós não fizestes nada.”

* Dar atenção à nossa pessoinha, é dormir quando a Igreja está sofrendo

E eu digo que nós estamos nessa hora. Se a Igreja fosse mortal, Ela já teria morrido, ou estaria morrendo agora. Mas tudo, exceto a morte, a Igreja Católica está sofrendo. Tudo, exceto a morte. E nós podemos dizer que está na hora em que os pecadores deitam a mão n’Ela para lhe dar as últimas bofetadas e impor a Ela as últimas humilhações. Nós, como passamos essa hora? Dormindo? Os senhores dirão: “Não, Doutor Plinio, nós não dormimos mais do que o senhor, sete horas, oito por dia”. É bem verdade. Mas isso não é o dormir. O problema é outro. Nessa hora nós estamos lembrados da Igreja?

Dormir, para nós, é estar prestando atenção na nossa pessoinha. Eu, eu, eu, eu, eu. Minhas coisinhas, minhas manias, meus confortos, minhas comodidades, minhas ambições, meu amor-próprio, meu dinheiro: isso é [o?] que vale. Isso é dormir, nessa hora da Igreja, é dormir. Quando Nossa Senhora nos pede a todos nós, que lutemos e reajamos, estar preocupados permanentemente com isso, isso é dormir. E os pecadores estão no ponto de acabar de infligir os últimos tormentos ao Filho do Homem.

* O beijo imundo da História

Há mais uma frase e essa frase eu leio sem comentários. A hora não estaria inteiramente descrita se fossem só os pecadores deitarem [a mão?] [as mãos] no Filho do Homem. Quando começa a falar da prisão, o Evangelho diz:

Falava ainda Jesus, quando chegou Judas Iscariotes, um dos doze, pois o traidor conhecia o lugar, porque aí vira muitas vezes Jesus com os seus discípulos.

Nosso Senhor avisou a eles, tão à última hora, que quando Ele acabava de falar estavam chegando os traidores, estavam chegando os algozes, [os pecadores]. Mas com os pecadores vinha um. Vinha o “mercador péssimo”. Vinha aquele para quem era melhor não ter nascido. Vinha o traidor. Quer dizer, vinha o pecado na sua expressão mais asquerosa. E para começar a Paixão por um beijo. O beijo imundo da História.

[Está bom,] saibam procurar onde está essa traição, e compreendam a hora que passa. Vamos pedir a Nossa Senhora que nos dê a graça de não imitar os Apóstolos. E nessa hora em que Nosso Senhor sofre o que sofre, saibamos sofrer com Ele.

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Auditório da Santa Sabedoria