Santo
do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 17/3/1969 –
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Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 17/3/1969 — 2ª-feira
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Considerações preliminares sobre o apostolado nos colégios — São Pacômio e o combate à pretensão
O monge das duas esteiras; sua vaidade e a penitência recebida de São Pacômio * Pequenos fatos podem ser indícios de estados espirituais muito ruins; o que diria o espírito liberal * O amor-próprio é vivaz e precisa ser domado * É preciso saber interpretar especialmente os pequenos indícios de mal
Disseram-me que hoje há PN e que seria, portanto, preferível adiar as perguntas a respeito dos colégios, etc., para outra noite. Eu pergunto apenas se aqueles que vão viajar querem fazer sobre a questão dos colégios e do apostolado no colégio alguma pergunta. Aí eu atenderia, do contrário eu passarei a dar a ficha do Santo do Dia comum.
Há alguém que vai… Abel.
(Sr. Abel de Oliveira Campos Filho: A questão do nível de pessoas para fazer aquele tipo de apostolado que o senhor descreveu…)
Da questão do nível de pessoas?
(Sr. Abel: Exato, do nível de idade.)
Ah! de idade, é.
(Sr. Abel: O senhor falou o seguinte: seria para rapazes de ginásio e… e colegial.)
É.
(Sr. Abel: Agora, digamos assim, a média dos rapazes hoje, de colegial, digamos assim, pessoas de dezessete, dezoito anos, entraria nessa… nessa… digamos nesse esquema?)
É, nesse panorama, não é?
(Sr. Abel: Nesse panorama.)
* Os alunos mais moços são mais borbulhantes que os mais velhos
Quer dizer, o curso secundário, no tempo em que eu participava dele, alcançava a pessoa até aos dezesseis, dezessete anos, mais ou menos, e até essa idade, vamos dizer, nessa idade esse fenômeno era menos vivo, menos borbulhante do que entre os mais moços — porque naturalmente tudo vai ficando menos borbulhante quando se passa de menino para moço —, mas não era menos profundo, era feito com menos tumulto, mas não com menos profundidade. De maneira que para meu tempo isto ainda valia. Mesmo se no curso secundário houvesse algum mais atrasado, de dezoito anos, ainda valia, não é?
No meu tempo não havia o segundo ciclo. O primeiro ciclo tinha cinco anos, não é? De maneira que eu sou propenso a achar, por analogia, que com essas ressalvas vale para hoje também. Mas, evidentemente, certeza inteira eu não tenho, depende um pouco da observação dos senhores.
Mais alguma pergunta, meus caros? Não havendo, vamos ver então o Santo do Dia. Amanhã tratarei de uma matéria mais extensa.
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Deram-me para comentar o “Exercício da Perfeição e Virtudes Cristãs” do Padre Afonso Rodrigues, da Companhia de Jesus:
* O monge das duas esteiras; sua vaidade e a penitência recebida de São Pacômio
Conta Sírio, que estando o grande Pacômio sentado em certo lugar do mosteiro com outros frades graves, um dos monges trouxe duas esteiras pequenas, que tinha feito [n]aquele dia, e as pôs junto à sua cela, defronte onde estava São Pacômio, de sorte que ele as pudesse ver, imaginando que ele havia de louvar a diligência e cuidado, porque a Regra somente mandava a cada um fazer diariamente uma esteira, e ele tinha feito duas. Como o santo entendeu que o monge tinha feito aquilo por vaidade, disse suspirando e com grande sentimento aos padres que estavam com ele: ”Vede este irmão que trabalhou desde a manhã até à noite, e todo o trabalho ofereceu ao demônio, amando mais a estimação dos homens do que a glória de Deus”.
Chamou-o, deu-lhe uma áspera repreensão e mandou-lhe uma penitência: que quando se juntassem os monges a ter oração, fosse lá com suas duas esteiras às costas e dissesse em voz alta: “Padres e irmãos meus, por amor do Senhor, peço que todos roguem a Deus por este pecador miserável, que tenha misericórdia de mim, porque estimei mais estas duas pequenas esteiras que o Reino dos Céus”. Mandou-lhe mais: que quando os monges fossem jantar, estivesse do mesmo modo no refeitório, com as duas esteiras às costas, todo o tempo que durasse a refeição. Não parou aqui a penitência.
Sabia fazer as coisas São Pacômio, hein? Bem:
Depois de feito isto, manda que o fechem numa cela e que ninguém o visite, senão que esteja nela por espaço de cinco meses, jejuando a pão e água e que ali sozinho faça cada dia duas esteiras, de sorte que ninguém o veja.
Deste exemplo, podemos também tirar para nosso aproveitamento, quão grandes penitências davam aqueles padres antigos por culpas leves, e a humildade e paciência com que os súditos as recebiam e se aproveitavam delas.
* Pequenos fatos podem ser indícios de estados espirituais muito ruins; o que diria o espírito liberal
Eu acho que a principal coisa aqui, para nosso interesse, não é propriamente essa, mas é como São Pacômio nos mostra que, às vezes, pequenos fatos inocentes dão a entender, são indícios de estados espirituais muito ruins, e que, portanto, é preciso atender aos pequenos fatos também como interpretação das situações espirituais importantes. O espírito liberal diria o seguinte: “Ora, este bom São Pacômio, que homem exagerado… Que importância tem fazer duas esteiras em vez de uma? Isso não é nada, isso não significa coisa nenhuma. Coitado! ele trabalhou um pouco mais, vamos dizer que ele tenha tido um pouco de vaidade; não é uma vaidade legítima. Ele não trabalhou mais [?]. Não é justo que o homem tenha, no meio das desolações do claustro, a pequena alegria de mostrar que sabe fazer um pouco melhor as esteiras, um pouco mais depressa do que os seus irmãos de hábito? Então, isto é uma tal catástrofe que vale a pena encher esse pobre coitado de vergonhas e de penitências por uma coisa tão pequena?”
Isto diria o espírito liberal. O que [é] que nós respondemos a esta invectiva do espírito liberal? Nós respondemos o seguinte: não é o fazer a esteira em si, mas é que o fazer a esteira indica a presença e a vivacidade de um defeito. Esse defeito, pelo menos de nome, nos é muito conhecido: é a pretensão.
(Sr. Carlos Antúnez: Doutor Plinio, o que es esteira?)
Esteira? Como traduzir para o castelhano, esteira?
(Sr. –: Tapete de palha?)
É um tapis de palha, trançado.
Bem, então, a vaidade dele de mostrar que ele sabia fazer duas esteiras, o jeitinho ardiloso de pôr na frente da cela de São Pacômio para ver se São Pacômio louvava, portanto, uma vaidade que se transforma em senso de propaganda, não é? E, depois, propaganda com arzinho humilde: é ele que deixou as esteirinhas dele na entrada da cela. Não é que ele tenha querido mostrar, porque ele é muito humilde, quer dizer, ele mostra que além de saber fazer bem esteiras, [ele?] é humilde também. Precisamente [é] o que ele não é.
* O amor-próprio é vivaz e precisa ser domado
Esta arte da propaganda em benefício de si mesmo, que denuncia o amor-próprio, denuncia uma coisa que de si mesma é muito viva, porque não há amor-próprio que não seja vivaz. Falar em amor-próprio vivaz eu acho que é um dos mais cruéis pleonasmos que há, porque o amor-próprio de si é vivaz, em todo homem ele reage com um impulso extraordinário, e se o homem solta um pouquinho — quer dizer, que está uma fera dentro do homem —, solta.
É um pouco como se de repente um de nós estivesse aqui e no meio dos ruídos mil, que têm durante o dia a Rua Pará e todo o Bairro de Higienópolis, um dos ruídos fosse um rugido de leão… Um leão! Outro diz: “Ora, tenha paciência, no meio de rugidos de caminhão, de carroça de lixo, de tanta coisa, você lá dá importância a um rugidinho de leão!” Espera um pouco: se fosse só rugir não era nada, mas onde está o leão? Se o leão está solto, esse rugido me incomoda muito mais do que [o] de dez mil máquinas!
Essa esteira era um rugido de um leão, esse leão é o amor-próprio de cada um. São Pacômio domou o leão. Aqui está a filosofia do caso.
* É preciso saber interpretar especialmente os pequenos indícios de mal
Então, o que [é] que nós devemos pensar? Nós devemos pensar que nós devemos saber, através dos pequenos indícios, interpretar o que nos vai de mau na alma ou o que nos vai de bom, com mais atenção no que vai de mau, porque o que vai de bom, nós percebemos.
Bem, nós devemos, além disso, saber interpretar o que vai de bom e de mau nos outros, e o que vai de mau e de bom no ambiente que nos rodeia, no curso das coisas, na marcha da civilização, na decadência dos costumes. Os pequenos indícios nos fazem ver viva a “RCR” Aqui está a grande lição de São Pacômio.
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Auditório da Santa Sabedoria