Santo
do Dia (Auditório da Santa Sabedoria ) – 4/3/1969 –
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Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria ) — 4/3/1969 — 3ª-feira
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“Fatos, acontecimentos, princípios”
... que é uma revista muito “sabonete”, muito boboca que eu assino porque algumas coisas dentro dela se pesca de interessante depois no fim publica uma seção de pensamentos e às vezes são pensamentos muitos comuns e uma vez ou outra aparece um pensamento interessante. Dessa vez apareceu um pensamento de Julio Romain que diz tão bem algo que nos convém e que convém sobretudo para o paulista, que vale a pena ouvir a leitura. É o seguinte:
O paulista muito atolado na sua vida concreta e deformado pela modernidade da vida concreta. Diz o seguinte:
“Os espíritos de escol discutem com interesse sobre idéias, os espíritos medianos”
Mas o mediano aqui não é pejorativo.
“... discutem com interesse sobre os acontecimentos, os espíritos medíocres discutem com interesse sobre as pessoas.”
Eu acho que é uma coisa esplêndida. É, não sei se queriam um comentário, eu estou achando que não. Eu não sei se os senhores notam bem, cansados assim a esta hora, a distinção que vai entre acontecimentos e fatos. O fato, sobretudo do no francês – essa distinção é mais sensível – o fato não é um acontecimento. Por exemplo, não sei, um fato, é um fato que eu fiz sobre o [menu?] fizeram sobre a cebola num domingo em casa. Não é um acontecimento, porque acontecimento é um fato importante, é um fato relevante, cheio de significado, gerado por causas profundas e fecundo em conseqüências, isto é um acontecimento. O fato é um fatinho, não é isso? Eu creio que o Julio Romain poderia ter dito que as pessoas medíocres gostam de discutir sobre os fatos e as pessoas e é a conversinha caseira, no que ela tem de mais banal, nas casas, na grade maioria das casas hoje [conversam?] sobre os fatos e as pessoas, ao menos as casas que eu conheço. Eu não tenho o prazer de conhecer a casa da maioria dos senhores, de maneira que eu acredito que nas casas dos senhores não sejam, mas nas casas que eu conheço não tem exceção. Haverá entre as casas que os senhores conhecem exceções honrosas de estilo, mas nas que eu conheço não tem. A conversa é isso: “Sabe que eu encontrei hoje o fulano? Ah é, como é que ele vai? Estava mais saudável.” O outro diz: é verdade, ele costuma fazer tal compra em tal bairro, porque faz mais barato. Ah! Soube que em tal lugar a compra é mais barata?”
Lá vai por aí, por altos e baixos as pessoas. Bem, agora, discutir sobre acontecimentos por que que é mais alto do que discutir sobre os fatos?
É porque o acontecimento vem cheio, vem túmido de idéias. O acontecimento não é um principio, mas o acontecimento põe sempre em jogo os princípios. Os senhores me apresentam qualquer acontecimento, por exemplo, as eleições do Chile são acontecimentos não é um fatinho é um acontecimento. Mas os senhores estão vendo quantos princípios entram em jogo para a gente apreciar este fato, este acontecimento. E então os senhores compreendem que é preciso estar mais intelectualizado, ter o espírito mais próximo do que é elevado para gostar de discutir os acontecimentos. Bem, em última análise vem naturalmente gostar de discutir os princípios, … as idéias, o que há de mais elevado na cogitação da mente humana. Nós poderíamos acrescentar algo a isto? Eu creio que sim e é o seguinte: o que o maior cretino, o maior medíocre não é o medíocre que só discute pessoas e fatinhos, o maior medíocre… vamos… eu me exprimo mal, está na mesma linha da mediocridade o espírito, o individuo que nunca discute pessoas ou fatinhos porque as pessoas que nunca discute pessoas ou fatinhos porque as pessoas e os fatinhos fazem parte da vida cotidiana e é preciso estar a par deles, do contrário a gente não tem os pés no chão e não sabe o que acontece. Portanto é preciso prestar atenção nas pessoas, é preciso estar no corrente dos fatinhos, é preciso ter a vista toda nas mãos. Mas isto é um interesse minor, é um interesse pequeno. Bem. Os acontecimentos a gente deve… um homem que só cuide de idéias e nunca cuide acontecimentos é um homem vazio quanto a um homem que cuida dos acontecimentos e nunca cuida de fatos. O que é… o importante é que o homem cuide de idéias, a luz das idéias analise os acontecimentos, e, depois de conhecer bem as idéias e os acontecimentos, saiba ver a importância doutrinaria das pessoinhas e dos fatinhos. Então este tem a cabeça completamente equipada. Bom, agora virando a coisa do outro lado. Há três formas de genialidades porque existem pessoas geniais no ver o conteúdo psicológico e doutrinário dos fatinhos e das pessoinhas.. por exemplo, um colosso [nesse matéria?] é o Saint [Simon?], sobre o qual já amanha à noite eu faça uma conferência a pedido do Viano. Bem. Do Viano e dos nossos bons chilenos. Bom. Ele é um gênio porque ele numa reverencia, na forma de uma cadeira, num sorriso, numa inclinação de cabeça do rei, num olhar que um financista deu para um magistrado ele discerne mil coisas, mil coisas que dizem a respeito a instituições e que conferem o caráter de micro-acontecimentos a fatos nos quais eu um bobo viria apenas fatos banais. É uma coisa muito engraçada que Saint Simon escreveu as memórias dele simultaneamente como um sujeito chamado Danjeau, Marquis do de Donjeau. Esse Marques de Donjeau era casado, era um… ele era um nobre mas era de um nobrezinha recente e enriquecida se era casado com uma sobrinha e Madamme de Montenon da Marquesa de Montenon que era a esposa morgamática do Rei. Bom, ele estava portanto muito bem colocado para observar a Corte de dentro e ver bem as coisas que se passaram. Ele escreveu um diário muito maior do que o de Saint Simon que eu até tinha vontade de ler mas eu não encontro porque, ou me engano ou teve uma edição só. Mas é uma coisa enorme, são quarenta volumes, qualquer coisa assim. Ele conta todos os fatinhos sem nenhum comentário. Hoje aconteceu isto, aquilo, aquilo, aquilo outro, é uma crônica, seca que interessa nos historiadores. O Saint Simon o que que fez? Utilizou-se das memórias do Danjeau para completar as recordações dele e fé uma síntese em oito volumes dos quarenta uma coisa cintilante!genial da terceira pista. Bem. A segunda pista quem sabe comentar bem é o Joseph de Maistre. Joseph de Maistre tinha esta crônica de saber perceber bem a arquitetura dos acontecimentos. Como é que os grandes acontecimentos formavam um edifício de linhas sublimes mais belas do que qualquer arquitetura que se tenha construído e que é a História, que a História é uma arquitetura, ela tem sua harmonia interna. Ele sabia ver a harmonia interna dos acontecimentos e sabia ver a harmonia até das cacofonias da Historia. Na visão do Joseph de Maistre a Historia é uma espécie de síntese, de Joseph de Maistre a História é uma espécie de síntese, de sinfonia grandiosa, inclusive com grandes catástrofes sonoras os que em que as musicas o as notas parecem se decompor e ruir no chão esparrachadas, depois vem novamente um principio de ordem que vai reunindo as sonoridades dispersas e que constitui uma outra ordem histórica. Eu estou lendo um trabalho do [Gomide?] em que ele tem uma coisa muito interessante sobre a essa arquitetura de História e em que ele mostra Nossa Senhora como Aquela por excelência que conhece as várias idades da História e me veio a idéia a invocação, invocação a Nossa Senhora que seria Nossa Senhora das Idades ou Nossa Senhora da Historia, que é extremamente Nossa Senhora como Rainha do Mundo, dirigindo a História e formando esta arquitetura da História que é uma coisa maravilhosa, que dá o mais alto sentido para o qual tendem as reuniões de recortes.
As reuniões de recortes seria modestas tentativas de análises dos acontecimentos. Para cima da análise dos acontecimentos está exatamente a metafísica e a teologia, que dão os princípios que estão para além do material, que dizem respeito ao espírito, que dizem respeito a Deus, que é eterno e imutável. E aí nós temos uma pequena teoria dos valores da cultura assim acumuladas a propósito de um pensamento de Julio Romain. Eu quis dar isto hoje para eu poder dispor desta revista. Se o Sr. José Fernando pudesse me lembrar então de comentar este recorte amanhã, essa nota amanhã, eu comentaria com prazer, e eu viria as noticias de dias para não ter que voltar depois à mesa. Dr. Borelli.
(Dr. Borelli: Não sei se o senhor se lembra o comentário de Tallerand quando ele… quando lhe contaram a morte de Napoleão, como um grande acontecimento, etc. )
Como foi mesmo? Eu tenho uma vaga idéia.
(Dr.Borelli: Ele disse: Isto não é um acontecimento, é um fato.)
[Risadas no auditório]
Está acabado, não é? Está acabado, não esta, não está? Aí os senhores percebem o espírito francês, ouviu? Porque nenhum de nós aqui descende de francês, de maneira que nenhum tem razão de ficar sentido quando eu elogio assim o espírito francês. Agora, me digam os senhores se pode mais sinteticamente dizer uma coisa brilhantíssima, porque isto é brilhantíssimo, não é? É substancialmente – eu vou tomar o chá aí em baixo – isto não é um acontecimento é um fato também – é brilhantíssimo, e é numa palavra, não é? Está dito tudo. Bom.
(Dr. Eduardo: …)
Como é?
(Dr. Eduardo:… )
Ce ne pás um veemant e.. un fait.
Deve ter sido esta fórmula.
(Dr. Eduardo:… francês tem [anis?]… )
Ah, tem, tem, depois é preciso pintar aquela cara, do Talerrand, porque isto dito na cara do Talerrand é… tem, tem uma circulação que nas nossas pobres caras não tem, é uma coisa fantástica, não é? Bem. Meus caros, os senhores da esquerda, notícias do dia?
[Notícias do Sr. Christian Vargas.]
(Dr. Borelli: O senhor deu Saint Simon como exemplo dos fatinhos, das psicologias, etc.]
Isso.
(Dr. Borelli: O senhor teria algum exemplo a dar …[ilegível]… )
Ah, o perpétuo, eterno, imutável São Tomás, não é? Definitivo, não é? Bem.
(Dr. Eduardo: Dr. Plínio! )
Pois não.
(Dr. Eduardo: Agora a vocação do Grupo são três coisas, não é? )
A vocação do Grupo é das três coisas mas com uma certa ênfase sobre os acontecimentos.
(Dr. Eduardo: Por que isto? )
Porque compete a nós exatamente… nós nascemos numa transição de uma idade para outra, nós proclamamos no declínio e um idade a morte dela e nós… em torno de nós Nossa Senhora suscita sementes que nós devemos cultivar e organizar da época futura, e como modeladores da opinião pública nós devemos ser os artífices da História.
(Dr. Eduardo: O MNF não é mais alto do que isto, ou ele serve a isto? )
No MNF é algo a mais do que isto, mas concebido e descoberto em função disto. Se qualquer um de nós do MNF nos… se tivesse metido a fazer pura teologia ou pura filosofia sem ser em função dos acontecimentos não teria nada de original do que o MNF tem no terreno da filosofia e da teologia. Pode ser um pouco decepcionante mas não é, porque eu não reputo que o MNF não seja uma coisa excelente no terreno da teologia e da filosofia, até é uma grande coisa, mas é um… algo… é uma espécie de cêntuplo que nos foi dado de acréscimo porque procuramos o fato e não o terreno, o acontecimento, quer dizer, e não o terreno teoricamente mais alto para nos afirmarmos mais alto. Bom.
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