Santo
do dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 20/12/1968 –
6ª-feira – p.
Santo do dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 20/12/1968 — 6ª-feira
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Dom João d’Áustria – Lepanto
A ficha avulsa são palavras de D. João d’Áustria antes da partida da batalha de Lepanto.
7 de outubro de 15711. A armada está mais ou menos pronta. D. João quer percorrer rapidamente as linhas para completar a preparação ao combate e animar os combatentes. Sobe em sua fragata, sem armas. Na mão um crucifixo de marfim. Ele limita, entretanto, sua visita ao corpo da ala direita. D. Luís de Requesens, o grande comandante de Castela, seu imediato, visitará a ala esquerda.
Quer dizer, ele limita a visita a uma ala e D. Luís de Requesens, seu imediato, visita a outra ala.
D. João passa diante de Veniero, velho capitão veneziano, que se apruma orgulhosamente, já todo equipado na proa do navio. D. João faz-lhe uma saudação amável. Depois dirige-se às tripulações:
“Este é o dia no qual a Cristandade deve mostrar seu poder para extinguir esta seita maldita e conseguir uma vitória sem precedentes. É pela vontade de Deus que viestes todos e vos reunistes para castigar o ódio e a maldade desses cães bárbaros. Todo mundo deve cumprir seu dever. Colocai toda vossa esperança no Deus dos exércitos, que rege e governa todo o mundo e o universo”. E terminando:
“Lembrai-vos que combateis pela fé; nenhum poltrão ganhará o Céu”. Segundo uma testemunha ocular, Brandônio, ele pronunciou essas palavras com graça e amabilidade tão grandes que não houve quem não se admirasse de sua resolução e coragem e procurasse igualar-se a ele, mostrando uma fisionomia também segura e grande vontade de combater. De todas as amuradas, onde soldados e marinheiros se comprimem, as aclamações lhe respondem. Ele tinha levado grande quantidade de medalhas e escapulários e rosários. Logo, nada mais possuía. Tiraram-lhe até o chapéu e as luvas. Foi com a cabeça descoberta e as mãos nuas que ele voltou à nau real para revestir-se de sua armadura.
A cena é uma verdadeira beleza. Vai haver a batalha de Lepanto, os senhores entenderam bem, e ele, então, se dirige aos soldados.
Primeiro ele encontra o comandante da esquadra veneziana, que integrava a total esquadra católica, e encontrando o velho na proa do navio, o velho se apruma e ele saúda o velho amavelmente. Depois, então, ele se dirige aos soldados e tem essa oração que os senhores viram.
Essa oração vale por um exercício espiritual. Eram homens que sabiam que estavam a ponto de morrer. Todos aqueles que estavam lá, todos sabiam que, de um momento para outro, podiam estar com o crânio fendido e jogados na água; a água salgada lhes entrando pelo crânio e saindo pelo nariz. Quer dizer, era a hora da morte.
E ele, então, tem um discurso de acordo com as circunstâncias. Um discurso com pensamentos:
Primeiro pensamento: é preciso exterminar essa raça maldita dos inimigos da fé Católica, Apostólica, Romana, esses cães bárbaros, como ele diz muito bem.
Uma pessoa poderia dizer:
— Dr. Plinio, terá sido bem ele chamar essa gente de cães bárbaros? Não seria mais elegante, não seria mais delicado, não seria mais próprio de um príncipe, em vez de usar uma expressão tão baixa, dizer: “o adversário está à nossa vista?”
Isso seria próprio de um idiota, não seria próprio de um príncipe. Porque se os homens eram cães e eram bárbaros, e exatamente há uma mentira e um insulto a Deus de, quando a gente está diante de um cão bárbaro, dizer: “esta ovelhinha aqui”, ou então dizer: “esse digno inimigo que está aqui”.
São cães bárbaros, a gente chama de cães bárbaros. E o vocabulário pesado um homem não deve evitá-lo, nas circunstâncias que o recomendam; o vocabulário porco, nunca.
Pesado — isso não tem nada de porco nem de imoral — pesado certaemnte. Vocabulário pesado, no duro.
Chamou de cães bárbaros, era como ele devia chamar. Provavelmente ele não teria as bênçãos de Deus se não tivesse atirado esse insulto ao adversário. Não teria estimulado os outros, se não tivesse atirado esse insulto ao adversário.
Bom, agora, ele, depois de dirigir essas palavras, os marinheiros de toda parte aplaudem e ele começa a fazer distribuição de um mundo de escapulários, de rosários e medalhas, que ele tinha levado. Os senhores estão vendo o sentido profundamente católico dessa luta.
Onde é que está, hoje em dia, o almirante que leva escapulários e medalhas para distribuir entre os seus marinheiros? Foi-se, infelizmente, o tempo, mas o tempo virá.
Alegrem-se, levantem a cabeça, porque o dia não está tão longe, o da nossa libertação.
Bem, agora, acontece que o pessoal, tomado de admiração diante da distinção, da grandeza, da graça — aqui não quer dizer gracioso no sentido comum da palavra, mas é da leveza, do donaire com que ele falou — foi2 tomar os objetos dele um a um.
Acabaram tirando as luvas, tirando o chapéu, tirando as penas e ele se deixou depenar.
É uma alta consciência do que vale um general, do que vale um comandante de esquadra. Realmente, um objeto de general, e de um general assim ainda mais, de um príncipe da Casa d’Áustria, isso vale um colosso e estimulam os soldados.
Quer dizer ele voltou, ele voltou com as mãos vazias: nem luvas, nem chapéu, nem nada. Aí ele foi para sua nau capitânia, vestir-se para a guerra. Quer dizer vestir-se para a morte, e para matar sobretudo. Tinha começado a batalha de Lepanto.
Os senhores estão vendo que tinha começado lindamente; era digno do que se lhe seguiu depois.
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1 Na imagem, por engano consta: 1751.
2 No microfilme consta: “foram”, mas o sujeito é “o pessoal”.
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