Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) – 22/11/1968 – 6ª-feira [SD 332] – p. 3 de 3

Santo do Dia (Auditório da Santa Sabedoria) — 22/11/1968 — 6ª-feira [SD 332]

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* Agravamento da situação internacional * Defecção no Vietnan, guerrilha na Coréia * Vácuo ocidental no Índico e presença russa no Mediterrâneo * Invasão da Chescolováquia, rachadura na NATO... * Compor mosaico da situação para prever * O melhor do comentário político é a previsão * Quem prevê adquire prestígio * Variedade jornalística arejada com assuntos internacionais

* Agravamento da situação internacional

Eu queria fazer aos senhores, hoje, um rápido comentário a respeito desses meus dois últimos artigos na “Folha”. Os senhores devem saber que nas reuniões de sábado, eu, ultimamente, nas duas ou três últimas reuniões também, eu tenho insistido muito sobre certos sintomas de agravamento da situação internacional. Eu creio que aqui também cheguei a comentar com os senhores no que consistia em essência esse agravamento.

* Defecção no Vietnan, guerrilha na Coréia

Ele era antes de tudo uma tensão, uma flexão do Vietnã que está sendo obrigado a se entregar, praticamente, pelos Estados Unidos, de um modo gradual; ao mesmo tempo um começo de guerrilhas na Coréia. Quer dizer, na hora em que os Estados Unidos cedem o Vietnã por amor da paz, os russos fazem um novo Vietnã na Coréia, quer dizer, o ultraje dos ultrajes.

* Vácuo ocidental no Índico e presença russa no Mediterrâneo

O abandono pelos ingleses do Oceano Índico. Sendo que a marinha norte-americana, que não é capaz de dar cabo do Vietnã, não ter força, portanto, para cobrir o Oceano Índico. Por outro lado, concentração de navios cada vez maior, russos no Mediterrâneo. O Bósforo, tendo ficado um estreito praticamente inteiramente franqueado aos russos. Uma aliança já velha e bem conhecida das alianças árabes do norte da África e a Síria com a Rússia ameaçando o Estreito de Suez. A partir do momento em que a esquadra russa do Mediterrâneo conseguir varar o Suez, ela tem o Oceano Índico na mão.

Por outro lado, há uma propaganda que vem da RAU, da República Árabe Unida, e sopra por todo o mundo maometano, propaganda essa que é “comunistóide”, que abala os países do Oceano Índico, que são em grande número maometanos.

* Invasão da Chescolováquia, rachadura na NATO…

Por fim, nós temos a invasão da Checoslováquia, a organização das tropas russas à pequena distância das alemãs; a fuga dos capitães alemães, que procuram já outros lugares para se colocar, na previsão de uma invasão. E a deserção de De Gaulle, que é um aliado incerto da NATO; portanto, uma trinca na NATO. Se os senhores — a NATO quer dizer a aliança de todos os ocidentais — se os senhores somam a isto que o De Gaulle entregou a base de Melza Kibir no Norte da África para os argelinos, que são evidentemente aliados dos russos; se os senhores tomam em consideração que peritos alemães já andaram viajando para a Espanha para oferecer apoio da Alemanha para defender a Espanha no caso de um ataque russo; os senhores estão compreendendo que o poderio dos Estados Unidos no mundo está caindo enormemente e que em contraste, o poderio russo está subindo enormemente. Esses fatos até o começo desta semana eram fatos que se coligiam à maneira de mosaico.

* Compor mosaico da situação para prever

A gente tomando várias notícias de jornal e um observador constituindo um quadro com essas notícias, via facilmente que era essa a situação. Mas, nós não encontrávamos notícias internacionais apresentando o quadro. Era preciso que o leitor fizesse o mosaico. A notícia internacional não dava o mosaico, dava apenas as pedrinhas esparsas.

Bem, eu tinha a certeza que mais cedo ou mais tarde — eu tinha, qualquer um tinha, desde que fizesse o mosaico teria a certeza — de que mais cedo o mais tarde pela importância do fato seria impossível às agências mundiais ocultarem o que vinha se passando, porque a coisa é tal que tem que ser noticiada.

* O melhor do comentário político é a previsão

Bem, eu então fiz dois artigos noticiando o fato, antes das agências internacionais e dos grandes acontecimentos mundiais noticiarem a coisa, porque com isto jornalisticamente falando começava a firmar uma nota de previdência; o melhor do comentário político não é a análise — de certo tipo de comentário político — não é a análise doutrinária que vai até o fundo, mas é a previsão. Quer dizer, um comentário político vale, ou porque ele analisa doutrinariamente algo até o fundo, ou porque ele prevê; fora disso o comentário político não tem sentido; é um puro fait divers, sem interesse maior.

* Quem prevê adquire prestígio

Bem, nós temos em alguns artigos procurado fazer uma análise de fatos da atualidade que vão até o fundo. Era bom que fizéssemos alguns artigos como previsão. Para quê? Para que o prestígio decorrente da previsão acertada refluísse sobre a TFP, quer dizer, que percebessem que o Presidente da TFP prevê acontecimentos que depois se realizam, o que é a nota do bom jornalista. É claro que não basta este fato para ficar uma renomeada assente de previsão, é preciso que haja vários fatos destes; um tem que ser o primeiro; esse foi o primeiro, foi a primeira previsão que licito, foi possível fazer através da “Folha”. Como graças à “RCR” não nos é tão difícil fazer várias previsões, me parece que é interessante de vez em quando fazer umas previsões, porque assim fica o artigo que dá com a bola no gol — para usar uma expressão péssima, mas enfim que exprime bem o meu pensamento no momento — que dá certo na coisa e prestigia a coluna que foi confiada à TFP. Isto é o comentário de que agora é oportuno, mas que seria inoportuno antes dos fatos começarem a confirmar.

Que fatos confirmaram? Houve uma reunião da NATO, agora na Europa, seguida de um grande noticiário em que tudo isto foi exposto, tratado, foram aceitas providências espetaculares à vista desse perigo. É bem evidente, naturalmente, que a previsão está confirmada. Além disso, houve comentaristas internacionais que também trataram da coisa nessa base, mostrando como o poderio russo está crescendo etc., etc. Quer dizer, a coisa está ultraconfirmada agora.

* Variedade jornalística arejada com assuntos internacionais

Então, o nosso objetivo é, de uma linha sempre de ataque à Revolução, mostrar aptidões jornalísticas variadas e temas variados, não ficar perpetuamente dentro do tema nacional. Há certos gêneros de jornalistas que só tratam de tema nacional; isso é evidentemente uma coisa que asfixia. Eu acho que [se] eu tivesse jornais só para ler notícias nacionais, eu acabava perdendo o ar, não é? Bem, é bom tratar de assuntos internacionais em que a circulação do ar é maior, não é? E aqui está, então, o conjunto dos objetivos que temos em vista.

Não sei se me tornei claro ou se alguns dos senhores querem me perguntar algo dentro disso, muito sumariamente? Algum dos senhores querem me perguntar algo sobre isso?

Se não há o que perguntar, eu creio que nós podemos passar ao Santo do Dia.

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