Santo
do Dia (Auditório Santa Sabedoria) – 26/7/1968 –
6ª Feira [SD 246] – p.
Santo do Dia (Auditório Santa Sabedoria) — 26/7/1968 — 6ª Feira [SD 246]
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Um cristão que cortou a própria língua com os dentes e cuspiu-a sobre a mulher que o provocava * Deus poderia ter dado àquele cristão outra graça para livrá-lo da situação, mas preferiu permiti-lo mutilar-se, com todas as conseqüências que daquele ato adviriam * O exemplo daquele cristão serve para aumentar em nós o amor à virtude e o horror ao pecado * Quem é escolhido por Deus para sofrer desprezos por Ele, recebe uma força particular do agrado d’Ele * Honra: respeitabilidade que se tem com um indivíduo virtuoso; glória: forma de notoriedade, esplendor, que cerca quem pratica uma ação insigne, iminente * A honra e a glória de Deus moram nos que são perseguidos; descansam com o espírito daqueles que são perseguidos
* Um cristão que cortou a própria língua com os dentes e cuspiu-a sobre a mulher que o provocava
O Martirológio diz que ele condenou Nestório, bispo de Constantinopla, e destroçou Pelágio. Convocou contra o mesmo Nestório o Concílio Ecumênico de Éfeso.
É festa dos Santos Mártires da Tebaida, dos quais o Martirológio Romano diz o seguinte:
Um desses cristãos foi brandamente ligado sobre uma alcaia de flores. Chegou-se-lhe então uma desavergonhada rameira para provocá-lo à luxúria. Ele porém cortou com os dentes a própria língua e cuspiu-a na face da sedutora.
(…)
… no século V representa para São Celestino Papa a mesma coisa do que se alguém, por exemplo, derrotasse a Rússia e a China. Quer dizer, dois inimigos mortais da Igreja Católica, irreconciliáveis com a Igreja e pseudo-brigados entre si, que o mesmo papa condenou e destroçou.
Os senhores vêem a glória desse pontificado e como um santo pode ser um grande batalhador, pode ser um grande lutador. Porque evidentemente sem um grande espírito de polêmica e de luta, não se vencem adversários dessa categoria.
A respeito dos mártires da Tebaida, este mártir Santo Inácio de Loyola faz a respeito dele — eu já não me lembro bem se é Santo Inácio ou meu caro Pinamonte, comentador de Santo Inácio — um comentário magnífico, mostrando até onde pode ir a correspondência à graça e a força de vontade.
* Deus poderia ter dado àquele cristão outra graça para livrá-lo da situação, mas preferiu permiti-lo mutilar-se, com todas as conseqüências que daquele ato adviriam
E do lado teológico o fato é realmente belíssimo.
Os senhores vejam como a coisa foi feita. Esse rapaz foi deitado sobre um leito de flores, em condições portanto muito agradáveis para o corpo, onde tudo seduzia os sentidos e seduzia a imaginação. E aproximou-se dele uma mulher que o induzia a pecado. Ele, amarrado, não tinha outra reação. Então ele sentiu que se ele não tivesse um ato de recusa enorme contra ela, e se ele não provocasse em si uma dor violenta que à maneira de penitência extinguisse os impulsos que nele estava despertando esta presença impura, que ele cairia em pecado. Então ele teve a graça não de resistir à sedução sem praticar esse ato heróico, mas de praticar esse ato heróico para resistir à sedução.
Deus tem seus caminhos. Poderia ter dado a ele a graça de se manifestar indiferente, sobrepairar a isto. Poderia ter dado a ele a graça de entrar num êxtase nesta hora, não notar absolutamente o que estava se passando em torno dele. Mas Deus quis dele outra coisa, deu-lhe uma graça diferente: a graça de fazer o necessário para vencer em si mesmo uma sedução tremenda que nele desabrochava.
Então ele fez esse ato heróico. Ato heróico muito menos pela dor que ele sentiu, do que pelo prejuízo que isto ia lhe trazer a vida inteira.
Os senhores podem compreender o que significa uma pessoa que fica com grande parte de sua língua cortada. A elocução é eliminada ou pelo menos muito imperfeita, quase inaudível, e de outro lado há todas as dificuldades de alimentação ligadas a isto, e que são intuitivas. Pois bem, ele não hesitou: antes isso do que pecar.
E eu não me lembro bem se é Santo Inácio ou se é o Pinamonte que coloca o problema: quantas e quantas vezes nos é tão fácil resistir à sedução do pecado, e entretanto nós não fazemos para evitar o pecado muito menos do que fez esse jovem, este mártir heróico, que realmente chegou a este ponto para evitar o pecado.
* O exemplo daquele cristão serve para aumentar em nós o amor à virtude e o horror ao pecado
Então isto serve para aumentar em nós o senso do valor da virtude e do horror que se deve ter ao vício. Nós compreendemos melhor — de um modo vivo, não de um modo puramente teórico, mas de um modo vivo — todo horror que se deve ter ao pecado, todo amor que se deve ter à virtude. É, portanto, um verdadeiro ensinamento que está contido na vida deste santo.
* Quem é escolhido por Deus para sofrer desprezos por Ele, recebe uma força particular do agrado d’Ele
A seção de Santo do Dia reuniu alguns pensamentos, algumas expressões de alguns santos, sobre a excelência do padecer pelo amor de Deus.
São Pedro teve esta frase:
Se vos afrontarem ou desprezarem por amor de Cristo, sereis bem-aventurados, porque o que é de honra, glória e virtudes de Deus em vós, ora e descansa com o seu espírito.
É uma coisa muito bonita isto aí, para aqueles que são obrigados como nós a estar lutando continuamente contra os inimigos da Fé.
Os senhores estão vendo bem o pensamento que é. Lutar contra os inimigos da Fé e vencê-los, sair da luta honrosamente e aplaudido por todos é uma coisa meritória, mas é maior, debaixo de certo ponto de vista, o mérito de lutar e de ser vaiado, de ser criticado, de ser odiado por todos, porque este que é escolhido por Deus para sofrer este desprezo, recebe com isto uma força particular do agrado de Deus.
Para compreender esse pensamento, nós devemos tomar em consideração que não cai — disse Nosso Senhor — um fio de cabelo de nossa cabeça, não cai um passarinho de uma árvore, sem que Deus saiba disto e sem que isto esteja nos desígnios d’Ele. E sempre se entendeu que sofrer por amor à Fé era uma honra, e que isto acontece àqueles a quem Deus ama muito, ainda que seja gratuitamente, e dos quais ele pede uma singular prova de amor.
Então, ser vaiado, ser debicado, ser odiado, ser caluniado, para usar o verbo de um português tão incorreto, mas caro a tantos amigos nossos presentes aqui, ser “mafiado” em honra da Fé, representa uma verdadeira glória, porque Deus escolheu especialmente aquele para ser perseguido por amor à fé.
É uma forma de martírio, se bem que seja um martírio incruento, é uma palma que se leva, e se bem que seja uma palma conquistada não com derramamento de sangue, mas é uma palma muitíssimo gloriosa.
A respeito desses São Pedro diz o seguinte: que quem é afrontado ou desprezado por amor de Cristo, é, primeiro, bem-aventurado, quer dizer, é um feliz, é um felizardo, não é quem tira uma loteria, não é que faz um grande negócio, é quem é perseguido por amor de Nosso Senhor. Agora, ele dá a razão, porque a honra, a glória e a força de Deus moram nele e descansam no espírito dele.
* Honra: respeitabilidade que se tem com um indivíduo virtuoso; glória: forma de notoriedade, esplendor, que cerca quem pratica uma ação insigne, iminente
A honra é aquela forma de respeitabilidade que se tem com um indivíduo virtuoso. A glória, é aquela forma de notoriedade, aquele esplendor que cerca o indivíduo que pratica uma ação insigne, uma ação eminente.
Então Deus é infinitamente honrado, Deus é infinitamente glorioso. A honra de Deus pousa sobre o varão perseguido por amor a Ele. A glória de Deus pousa no homem que aceita de ser perseguido por amor de Deus.
* A honra e a glória de Deus moram nos que são perseguidos; descansam com o espírito daqueles que são perseguidos
Depois diz ele:
A força de Deus pousa neste homem. A alma intrépida que resiste a todas as perseguições e que continua fiel a Nosso Senhor, apesar de todo o desprezo, nesta alma lateja a própria força de Deus, e a força de Deus se manifesta nele. Deus se afirma invencível nas criaturas que Ele torna invencíveis.
Os senhores estão vendo que esplêndido pensamento.
Agora uma coisa mais bonita. Diz o seguinte:
Todas essas coisas, a honra, glória e virtude de Deus, moram nos que são perseguidos e descansam com o espírito daquele que é perseguido.
Deus criou o mundo e no sétimo dia descansou na consideração daquilo que Ele tinha feito. Deus cria o varão perseguido, enche-o de graças para ser perseguido, faz dele não um lutador passivo, mas um batalhador que tendo a força de Deus, tem o melhor da força, que é a virtude da agressão pela causa justa, faz dele um guerreiro de Deus, e Deus descansa sobre ele, olhando-o e contemplando-o, porque ele é uma maravilha do universo. Varão fiel, no qual não há fraude, que foi amado por Deus, que foi amado por Nossa Senhora, que na hora da perseguição não traiu, correspondeu e enfrentou a prova que Nossa Senhora tinha disposto que ele sofresse. Os senhores compreendem a beleza disto.
Do alto da terra está o varão perseguido pela glória de Deus, achincalhado, pisado, repudiado, mas ele não se dobra, a sua combatividade não cessa nunca, a sua iniciativa na luta não vacila jamais. Ele pode estar calcado aos pés por todo mundo, mas do mais alto dos céus, Deus olha para ele, se debruça sobre ele e o contempla como uma obra-prima do seu amor. Vê nele uma realização de sua honra e de sua glória, uma manifestação de sua força, e Deus descansa nele como descansou considerando a beleza do universo que Ele tinha criado.
Esta é, meus caros coletores de assinaturas, a vossa glória nas ruas. Quando passam pessoas que dizem desaforos, quando passam pessoas que não vos compreendem, quando passam pessoas que viram o rosto, quando passam pessoas que vos olham com desdém, quando passa alguém que tem a audácia de vos ver trabalhando e de dizer, como eu já ouvi contar o caso, “vagabundo, vá trabalhar”, e aquele é com certeza é um vagabundo que não está trabalhando, quando isto acontece, vós deveis pensar o seguinte: que é preciso resistir com firmeza, varonilmente, com força, porque se vós o fizerdes, do alto do céu Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, os Anjos e os Santos vos contemplam a cada um de vós com embevecimento. Esta é a realidade sobrenatural e esplêndida da luta que vós conduzis pelas ruas de São Paulo e do Brasil inteiro pela Tradição, Família e Propriedade.
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